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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

12.06.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Os anos finais do Segundo Milénio foram um período notoriamente inclemente para Portugal no que ao Festival da Eurovisão diz respeito, com o País a ser, inevitavelmente, eliminado da meia-final ou – na melhor das hipóteses – 'corrido' nos últimos lugares da tabela classificativa, com os já famosos 'null points'. No entanto, conforme recordámos aquando da nossa retrospectiva por alturas do Festival no ano transacto, houve, durante essa fase menos boa, duas excepções à regra (curiosamente, em anos consecutivos) que não só conseguiram boas classificações na Eurovisão, mas também tornar-se sucessos de vendas após o fim do mesmo. Um deles foi 'Chamar a Música', grande êxito da vencedora do 'Chuva de Estrelas', Sara Tavares; o outro, um ano antes, foi 'A Cidade Até Ser Dia', música-título e de apresentação do terceiro álbum de Anabela Vaz Pires, normalmente conhecida apenas pelo seu primeiro nome. E porque, aquando da Eurovisão deste ano, deixámos passar a oportunidade de falar deste 'megahit' que então completava trinta anos, vimos agora – cerca de um mês depois – falar daquele que foi um dos maiores êxitos do Verão de 1993, e da carreira da cantora ainda adolescente, mas já veterana, que o levou aos palcos internacionais.

De facto, o que muitos dos que trautearam e parodiaram esta música durante o seu momento de fama talvez nunca tenham sabido é que o tema em causa estava longe de representar a revelação daquela 'miúda' de dezasseis anos e 'carinha laroca'; pelo contrário, antes da exposição mediática granjeada pelo concurso europeu de música, a faixa era apenas mais um 'single' numa carreira que começara oito anos antes, e cujo primeiro registo, um LP-single intitulado 'Rock do Amor', havia sido lançado ainda antes de Anabela atingir a puberdade. Tão-pouco era esta a primeira aventura de Anabela pelos palcos internacionais, já que, quatro anos antes do festival em causa, já a menina de então apenas doze anos se havia sagrado vice-campeã no Festival de Música da UNICEF, do qual também traria um prémio especial relativo à melhor interpretação. Dois anos depois – em 1991, mesmo ano em que sai o disco de estreia – Anabela tem nova aventura internacional, ao participar, com apenas catorze anos, no Festival Internacional da Canção de Sopot, na Polónia.

Torna-se, pois, aparente que, apesar da tenra idade, a Anabela que traria honra a Portugal na Eurovisão pela primeira vez em várias décadas era tudo menos uma iniciante, tendo já passado, literalmente, metade da sua vida a cantar, ou em palco. Ainda assim, para muita gente, aquela omnipresente faixa 'europeia' foi mesmo o primeiro (e último) contacto com a jovem artista, que continua até hoje a ser um dos mais famosos 'one-hit wonders' da música portuguesa.

De facto, e curiosamente, seria noutro campo completamente distinto que Anabela se viria a consagrar – nomeadamente, no teatro de revista, onde se tornou uma das 'musas' do monopolista Filipe La Féria. A restante carreira da cantora seria, assim, passada a alternar entre estas duas paixões, tendo mesmo a música passado, a dada altura, para segundo plano – Anabela lançaria apenas mais dois álbuns nos anos noventa, antes de embarcar num hiato discográfico de cerca de uma década, tendo todo o seu foco passado a centrar-se no teatro.

Mesmo quando decide regressar às edições musicais, em 2005, a cantora deixa bem claro que não pretende seguir no mesmo registo dos seus anos de adolescência, optando por uma veia mais experimental em 'Aether', cujas faixas consistem de poemas da autoria de alguns dos maiores poetas portugueses. O álbum seguinte, lançado cinco anos depois, optaria por uma abordagem exactamente inversa, apresentado versões de músicas do chamado 'nacional-cançonetismo', num registo mais leve e popular; novo disco de originais, no entanto, só em 2015, já depois de Anabela ter sido uma das 'Vozes do Coração' na colecção homónima de discos lançada pelo Correio da Manhã dois anos antes. 'Casa Alegre' é, aliás, o último registo da cantora até à data, sendo que o foco de Anabela se encontra, presentemente, na família, tendo a mesma sido mãe pela primeira vez em 2017.

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Anabela na actualidade

Para a maioria da população portuguesa, no entanto – pelo menos para quem não aprecia 'revistas' – Anabela será, para sempre, aquela jovem de vestido branco-creme, cujo tema de participação na Eurovisão serviu de base, durante aquele ano, para um sem-número de paródias, anedotas, e outras criações do tipo hoje conhecido como 'meme'; a música, essa, continua a 'alojar-se' de imediato no cérebro de quem sequer ouse pensar nela, e, trinta anos após o seu lançamento e período de maior sucesso, continua a merecer o estatuto que granjeou como parte da cultura popular portuguesa moderna. 'Quaaando caaaaai a noooooite naaaa cidaaaaadeeee...'

16.05.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O festival Eurovisão é um daqueles programas de que ninguém admite gostar, mas que quase toda a gente vê, ou de que pelo menos se mantém a par. Apesar do carácter abertamente 'popularucho' da maioria das músicas (é de espantar que Portugal ainda não tenha concorrido com um qualquer artista 'pimba', pois não destoaria muito do teor geral das composições) o carácter competitivo da 'coisa' faz sempre saltar de dentro de cada espectador aquela costela de orgulho patriótico, que serve nem que seja para gritar contra a Espanha por não nos terem dado quaisquer pontos. Assim, e numa semana em que se vive, precisamente, o rescaldo da edição 2022 do festival, nada melhor do que recordar alguns dos mais emblemáticos representantes nacionais durante a época a que este blog diz respeito.

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Isto porque, apesar de a maioria das crianças e jovens da época recordar, hoje, sobretudo duas das dez músicas que Portugal levou à Eurovisão durante os anos 90, há mais algumas particularidades interessantes ligadas à participação do nosso País no referido festival no decurso daquela década – como, por exemplo, a particularidade de as cinco primeiras representantes terem sido do sexo feminino (aliás, sete dos dez artistas portugueses entre 1990 e 1999 eram mulheres), e as primeiras quatro, conhecidas apenas pelo primeiro nome; Nucha em 1990, Dulce em 1991, Dina em 1992 (esta, aparentemente, a favorita de J. K. Rowling) e a lendária Anabela em 1993.

...e agora também está nas vossas cabeças. De nada.

E já que falamos em Anabela, cabe mencionar que esta é uma das duas artistas anteriormente mencionadas, de que qualquer jovem da época se recorda, já que o seu 'A Cidade (Até Ser Dia)' (mais conhecido dentro de portas como 'Quando Cai A Noite Na Cidade') tornou-se um daqueles 'memes' musicais da era pré-'memes', entoados de forma exagerada em pátios de escolas e utilizados como 'punchline' de anedotas mais ou menos politicamente correctas.

O outro nome memorável é, claro, o de Sara Tavares, cuja interpretação de Whitney Houston no concurso Chuva de Estrelas (que paulatinamente aqui abordaremos) lhe valera a entrada no Festival da Canção português, competição que também viria a vencer com o seu 'Chamar a Música', mesmo tema apresentado na Europa, e que atingiria um honroso oitavo lugar, igualando a marca de Dulce e tornando-a a segunda melhor classificada portuguesa da década – melhor, só mesmo Lúcia Moniz (filha do lendário apresentador e músico Carlos Alberto Moniz, de 'A Casa do Tio Carlos' e 'Arca de Noé') que, em 1996, aos 19 anos, faria História ao conseguir a melhor classificação de sempre para Portugal até então (o sexto lugar, ainda hoje apenas superado pela vitória de Salvador Sobral, em 2017) e colocar o País na primeira meia-final da História da Eurovisão, onde se classificaria em 18º.

Aquele talento muito especial do nosso povo para passar do sublime ao ridículo manifestar-se-ia, no entanto, logo no ano seguinte, quando Célia Lawson e o seu 'Antes do Adeus' conseguiam a 'proeza' de granjear a Portugal o segundo (e, até hoje, último) 'nulle points' da sua História – uma humilhação que o País não sofria desde a 'Oração', de António Calvário, na primeiríssima edição do festival, trinta e três anos antes!

'Portugal...nul points!' GG, Célia...

Felizmente, as coisas não mais voltariam a correr tão mal a Portugal durante aquela década, mesmo que a 'façanha' de Lawson tenha lançado a piada recorrente de que Portugal fica sempre em último na Eurovisão – estereótipo a que nada ajudaram os dois períodos de quatro anos cada em que o País não conseguia a qualificação para o Festival, graças a apresentar representantes da categoria de Nonstop ou Homens da Luta (só mesmo Portugal para enviar uma banda abertamente de comédia como seu representante num festival internacional...) Felizmente, Salvador Sobral viria a salvar a 'honra do convento' em 2017 com a excelente 'Amar Pelos Dois' (uma música séria que, choque dos choques, foi levada a sério!), tornando-se o 'Éder da Eurovisão' e, como este, vendo o seu esforço ser tornado inglório por 'coisas' como 'Telemóveis' de Conan Osíris, porque claramente o nosso País dificilmente aprende...

Seja qual fôr o futuro de Portugal na Eurovisão, no entanto (e a música deste ano, posicionada dentro da média portuguesa no Festival, em 9º, leva a crer que o mesmo seja, no mínimo, honroso) para uma determinada geração de ex-crianças e jovens, esta competição estará, para sempre, associada a duas ou três músicas que, num tempo mais simples e inocente, chegaram a ser verdadeiros sucessos de Verão, e cujos refrões permanecem, ainda hoje, indelevelmente gravados na sua memória colectiva...

24.05.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E dado que desde o início desta rubrica temos vindo a falar sobretudo de movimentos e estilos musicais – quer nacionais, como o ‘pimba’, quer importados, no caso do europop ou do rock alternativo – nada mais justo do que abordarmos, esta semana, um movimento que teve um enorme ‘boom’ em território nacional precisamente nos anos 90.

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Falamos, é claro, do pop-rock, estilo que viu alguns dos seus principais representantes nacionais de décadas anteriores entrar em fases de declínio de carreira durante a última década do século XX (casos dos Xutos & Pontapés, GNR, Rui Veloso ou UHF, entre outros) mas assistiu ao nascimento e consolidação de popularidade de outros tantos artistas e colectivos, alguns dos quais relevantes ainda hoje, quase trinta anos após o seu aparecimento. Os anos 90 foram, por exemplo, a década dos Sitiados, Silence 4, Mão Morta, Ornatos Violeta, Pólo Norte, Rádio Macau, Três Tristes Tigres, Quinta do Bill, Pedro Abrunhosa, Clã ou The Gift, entre muitos outros - isto, claro, sem esquecer bandas que transitavam da década anterior ainda no auge da sua forma, como era o caso dos Delfins ou Madredeus. Um verdadeiro panteão de nomes sonantes da música portuguesa, que fazia as delícias de qualquer melómano adepto das vertentes mais melódicas da música ‘de guitarras’.

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Alguns dos muitos artistas pop-rock portugueses de finais do século XX

Um dado curioso é que muitos destes grupos contavam com vocalizações femininas, fossem principais ou secundárias. Clã, Três Tristes Tigres, Rádio Macau, Entre Aspas, The Gift e Madredeus contavam todos com vocalistas femininas, algumas delas figuras bem populares e influentes da cena musical da época, como Xana e Viviane; dos restantes, os Silence 4 também contavam com vozes de apoio femininas (numa dinâmica muito semelhante à dos Pixies, com as devidas distâncias) e os Sitiados tinham em Sandra Baptista a sua segunda figura central, embora esta última não cantasse. Isto sem esquecer, é claro, as duas finalistas do Festival da Canção mais famosas da era pré-Salvador Sobral: Sara Tavares e Anabela (a sério, conseguem nomear o finalista de algum ano sem ser 1993 e 1994?) Enfim, uma excelente representatividade para o sexo feminino, que conseguia tão ou mais sucesso que os grupos e artistas masculinos.

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Quem se lembra?

No cômputo geral, pois, os anos 90 não podem saldar-se como nada menos do que uma década fantástica para a música pop e rock portuguesa – quer em termos comerciais, quer criativos. Bebendo das bases cimentadas na década anterior, os artistas que entraram em voga durante os 90s viriam, eles próprios, a erigir muitas das fundações que informariam a música portuguesa na década seguinte, e um pouco até aos dias de hoje, tornando a última década do século XX uma das melhores de sempre para se ser fã de música em Portugal.

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