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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos dos três volumes de 'Canções da Rua Sésamo', os quais se juntam às 'Canções do Lecas' aos LP's da Arca de Noé, ao disco dos Patinhos e aos dois álbuns do Batatoon no panteão de lançamentos infantis ligados a programas de televisão que se revelaram sucessos por direito próprio. Tal lista não estaria completa, no entanto, sem um outro álbum, que aproveitou em pleno a presença de um nome ligado à música para conseguir alguma tracção para além dos confins das composições para crianças, e penetrar na consciência popular portuguesa durante vários anos após o seu lançamento.

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Falamos, é claro, de 'Super Buereré', também frequentemente conhecido como 'Ana Malhoa e Hadrianno', o álbum 'oficial' do icónico programa infantil de Ediberto Lima, lançado em pleno auge do mesmo, em 1996, e que pôs todo um país a recitar as cinco vogais do alfabeto latino juntamente com a 'versão portuguesa' da musa infantil brasileira Xuxa, e com um homem vestido de gorila. E se, descrito assim, o disco pode parecer um grotesco sonho febril causado pelo abuso de substâncias psicotrópicas, a verdade é que, no contexto português de meados dos anos 90, o conceito por detrás do mesmo fazia todo o sentido, juntando duas das estrelas favoritas das crianças da época – e duas das principais figuras da SIC de Ediberto Lima – numa alegada colaboração que, de facto, se ficava pelo aspecto plástico, já que o macaco Hadrianno se limitava a dançar e posar para as fotos com Ana Malhoa, a quem cabia todo o trabalho de interpretação.

Assim, mais do que uma colaboração alusiva ao programa que lhe dá título, este acabava por ser, sobretudo, mais um álbum de Ana Malhoa, então prolífica no 'universo paralelo' da música 'pimba', com a principal diferença a residir no grau de visibilidade da cantora, que abria estas doze canções a um público bem mais vasto do que o habitual. E a verdade é que o 'esquema' de Ediberto Lima resultou em cheio, não havendo criança ou jovem da época que – de forma irónica ou sincera – não soubesse entoar a 'Canção do Hadrianno' e, sobretudo, 'Começar no A', um dos 'hinos' da primeira vaga de 'millennials' lusitanos, que decerto ainda conseguem recitar de cor a letra da autoria de Toy (outro ícone da música 'pimba'), e talvez até recriar a saltitante coreografia; já das outras dez faixas, pouco reza a História, apesar de terem, decerto, servido de forma perfeitamente aceitável a sua função de 'enchimento' em torno dos dois 'singles', perfazendo um álbum que grande parte das crianças daquele ano de 1996 terá, decerto, 'implorado' aos pais para ter.

De facto, tal foi a procura pelo CD que, meses depois, o mesmo era reeditado, com capa e grafismo diferentes, a ordem das faixas alterada, e menos quatro canções (entre elas os dois 'singles', aqui presentes apenas em formato 'karaoke') sob o nome 'Super Buereré Vol. 2' – embora, ao contrário do que acontecia com os supracitados LP's da Rua Sésamo e Arca de Noé, de 'segundo' só tivesse mesmo o nome. Uma jogada de 'marketing' perfeitamente descarada, mas que terá, ainda assim, chegado para satisfazer os desejos das crianças que não tinham posses para comprar um disco inteiro, e que conseguiam, graças a este lançamento, desfrutar ainda assim de um mini-álbum, ainda que sem os dois principais 'chamarizes' do disco original.

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A capa alternativa que disfarçava o disco original de 'Vol. 2.'...

Fosse qual fosse o formato, no entanto, é inegável que 'Ana Malhoa e Hadrianno – Super Buereré' merece lugar de destaque na discografia infanto-juvenil dos anos 90, tanto pelo sucesso de que o seu programa-base gozava como pelo impacto que teve entre a sua demografia-alvo no período de doze meses imediatamente após o seu lançamento. E se dúvidas restarem, não há senão que pedir a um português nascido na segunda metade dos anos 80 para entoar a canção do alfabeto do programa, e observar o que imediatamente acontece...

Os dois mega-sucessos retirados do álbum, e inesquecíveis para qualquer ex-criança dos anos 90.

 

12.12.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No ano passado, por esta altura, falámos da música de Natal dos Anjos, uma tentativa morta à nascença de criar um novo clássico natalício 'made in Portugal'; agora, um ano volvido, falamos de uma outra tentativa gorada, neste caso a de criar uma espécie de 'We Are The World' à portuguesa, protagonizado em 1996 por um colectivo composto por alguns dos maiores nomes da cena 'popularucha' nacional.

Nominalmente atribuído a José Malhoa, presumivelmente o 'cérebro' por detrás do projecto, 'Um Pedido de Natal' (assim se intitula o tema) é, no entanto, claramente um esforço conjunto por parte de uma equipa repleta de 'craques' do 'pimba' nacional, com destaque para o igualmente veterano Tony Carreira, para o grupo Broa de Mel e para a filha de Malhoa, Ana, então no esplendor da adolescência e no auge da popularidade enquanto apresentadora do mítico espaço infantil da SIC, Buereré. O resultado é uma balada típica do estilo musical em que se insere que, não fossem as referências ao Natal na letra, pouca associação teria com esta quadra – de facto, a instrumentação em si traz um toque mais latino do que propriamente invernal ou natalício.

Assim, e consistindo a parte musical da típica 'xaropada' processada, o principal interesse deste 'Pedido' reside na letra, a qual – apesar de simples e simplista, como é apanágio do estilo – não deixa de focar (e de forma surpreendentemente séria, ainda que superficial) uma temática importante, no caso, as separações forçadas entre familiares na noite de Natal, seja por obrigações laborais, desentendimentos pessoais, motivos de saúde (o tema viria, inclusivamente, a ser interpretado no 'Natal dos Hospitais'), ou simplesmente porque alguns dos membros do agregado se encontram em outra localidade ou até no estrangeiro. Uma temática bem relevante para o público-alvo da música (e do movimento 'pimba' em geral) e a que cada um dos intérpretes se entrega 'com tudo', em interpretações que ficam ali na divisória entre o emocional e o ridículo – como, aliás, viria a acontecer também com 'Mãe Querida', uma música de moldes muito semelhantes, mas alusiva ao Dia da Mãe, e que viria a tornar-se um sucesso 'viral' na era pré-Internet aquando do seu lançamento, dois anos mais tarde.

E ainda que (bem) menos lembrado do que esse clássico intemporal de meados dos 90, o 'Pedido' de José Malhoa e companhia não deixa de constituir uma tentativa honrada de gravar uma faixa em molde 'super-grupo', e apresenta muito daquele 'charme' típico do género; ou seja, sem fazer concorrência a 'A Todos Um Bom Natal', o facto é que há músicas bem piores para adicionar à 'playlist' natalícia nostálgica...

22.03.21

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Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E começamos essa nossa viagem musical pela década com um género que, não tendo surgido durante a mesma, se popularizou e ganhou uma denominação oficial naqueles anos. Falamos do estilo veiculado por nomes como Quim Barreiros, Emanuel (autor da música que deu nome ao género), Zé Cabra, Ágata, Romana ou Ruth Marlene – isto sem esquecer alguns representantes infantis, como o inesquecível Saúl Ricardo (hoje com 33 anos - já se sentem velhos?) ou a então teenager Ana Malhoa (cujo pai também tocava o mesmo estilo), ou ainda algumas ‘importações’, como Roberto Leal, Iran Costa ou Netinho.

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Alguns dos principais representantes masculinos do estilo

Pois é, hoje vamos falar da chamada música ‘pimba’ – ou, como era conhecida na época pré-Emanuel, música popular ou folclórica. Sim, aquele estilo que tirou a sua denominação da música ‘Pimba Pimba’, do referido Emanuel (a qual…já fazia tecnicamente parte do estilo…uh…Pimba-ception?) e que literalmente ‘roubava’ canções aos estilos equivalentes sul-americanos – nomeadamente o forró, o sertanejo, a llorona ou a música tipo mariachi – lhes reescrevia as letras (quando calhava…), e lhes adicionava umas belas batidas eletrónicas para fazer o povo todo saltar nas festas da aldeia. Hoje em dia, o ‘gamanço’ estende-se também a estilos como o funaná, a quizomba e o reggaeton, mostrando que a música pimba pode ser tão eclética quanto é foleira.

Quem, na altura, tinha menos de década e meia de vida, no entanto, não se importava muito com nada disso. O que interessava não era tanto a qualidade musical da coisa, como o facto de ser a – mexida, b – fácil de decorar e cantar e c – marota (o que, como se sabe, é fator decisivo para se gostar ainda mais de uma coisa aos 10 anos.) Esta combinação de fatores, mais a boa e velha exposição mediática (nos programas da tarde ou especiais de Verão), fazia com que qualquer criança conhecesse, pelo menos, os maiores hits do Emanuel e do Quim Barreiros, mais qualquer que fosse a música daquele mês ou daquele Verão (quem se lembra do ‘É o Bicho’, ‘O Tchan’, ‘Oh Mila’, e tantos outros desse tipo?) Pior – a maioria AINDA HOJE se lembra dessas músicas, feitas para serem descartáveis, mas que claramente falharam nessa sua missão.

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Nem é preciso pôr o vídeo - só de verem esta imagem, já estão a cantar, certo?

Escusado será dizer que muito poucos desses artistas sobrevivem até aos dias de hoje. Tirando os ‘dinossauros’ como Marco Paulo e Quim Barreiros, e aqueles que deixaram descendência (Mickael Carreira…medo!), a maioria já há muito que caiu na obscuridade – por muito que os seus maiores sucessos continuem a ser parte da consciência popular. Ainda assim, é interessante – mesmo que levemente deprimente – perceber o que as crianças dessa época ouviam, depois de saírem da fase Onda Choc / Ministars, mas antes de os seus gostos se virarem para estilos mais ‘a sério’.

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Três gerações de Malhoas, juntos em palco (e um belo pretexto para pôr uma foto da Ana no blog.)

E vocês? Quem era o vosso artista ou música pimba favoritos? (Não façam de conta que não ouviam. Não cola. Ouviam. Nem que fosse na escola.) Deixem a vossa confissão nos comentários!

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