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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.12.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Nos anos pré-Internet, as mascotes de produto eram ferramentas de marketing tão ou mais importante do que são hoje em dia as redes sociais, sendo que qualquer marca orientada ao público jovem sabia que ter uma mascote apelativa e memorável era 'meio caminho andado' para conseguir a tão desejada conexão com o seu consumidor-alvo. Não era, portanto, de admirar que este tipo de personagem proliferasse nas prateleiras de lojas e supermercados um pouco por todo o País, aparecendo em caixas de produtos tão díspares quanto os cereais, os croissants com chocolate industriais, as bebidas com sabores, e até, por vezes, em produtos que em nada apelavam ao público infanto-juvenil, como no caso dos lendários 'Glutões' do detergente Presto.

Tendo em conta este paradigma, também não é de estranhar que, a dado ponto, as entidades institucionais tenham, também elas, procurado 'entrar na onda' das mascotes, como forma de sensibilizar as camadas populacionais mais jovens para a sua mensagem ou serviços – um desejo que ganhou ainda mais impulso às costas do sucesso de personagens como o Fibras (mascote da TV Cabo nos primórdios do serviço em Portugal) ou o ainda hoje relevante Gil, mascote da Expo '98. Foi o caso, por exemplo, da EDP, que em finais do século XX e inícios do seguinte procurou implementar o seu próprio representante animado, um ser andrógino com uma onda de cabelo azul e t-shirt amarelo-berrante, que mais parecia ter a ver com o mar do que com a energia, mas cujo nome não deixava margem para dúvidas. O Luzinha (que apenas se sabe ser do sexo masculinho graças à Prova do Luzinha, uma corrida de atletismo patrocinada pela EDP que marcou as últimas aparições do personagem) era mesmo a personificação da luz que a companhia eléctrica fazia chegar aos lares de todo o País, e a sua missão na vida era combater todos aqueles que procurassem extinguir ou dificultar a criação distribuição de energia eléctrica – isso, ou apenas surfar, tocar guitarra eléctrica enquanto saltava no sofá, fazer asa-delta, e ser, no geral, o personagem mais tipicamente 'anos 90' que imaginar se possa.

A impressão com que se ficava, de entre as duas detalhadas acima, dependia de qual dos dois veículos de divulgação do personagem se ficava a conhecer primeiro; isto porque, enquanto a banda desenhada das aventuras do personagem o pintava como um vingador da energia eléctrica, os dois anúncios produzidos pela EDP como complemento audio-visual da campanha deixavam a impressão oposta, transformando Luzinha numa mascote 'buéda radical' ao estilo do Poochie, dos Simpsons. E apesar de um destes anúncios se encontrar perdido nas areias do tempo (ou seja, não disponível no YouTube nem no Dailymotion), o segundo ainda pode ser visualizado no site de logotipo vermelho e branco – ou, alternativamente, clicando no vídeo que deixamos aqui abaixo. E acreditem – vale a pena gastar um minuto e meio a ver este clipe tão, mas tão '90s' que quase parece ser uma paródia da estética da altura. O facto de não ser – de ser, pelo contrário, uma coisa mesmo muito séria - diz muito acerca da mentalidade publicitária naquele virar de década, século e milénio.

Quem quiser perceber o que foi a cultura jovem dos anos 90 e 2000, tem aqui um muito bom resumo.

No fim de contas, e apesar de bem estruturado, muito bem animado e com uma música razoavelmente memorável e 'catchy', é fácil perceber porque é que este anúncio (e o seu 'irmão mais velho' menos 'radical') não fizeram história, e porque é que Luzinha não mereceu um lugar no panteão das mascotes, ao lado do Urso Tuli, do Tampinhas da Frisumo ou dos dois Capitães, Estrela e Iglo; o facto é que este tipo de iniciativa é 'topado' à distância pelo público-alvo, que cria quase de imediato aversão ao mesmo – um fenómeno, aliás, muito bem satirizado no referido episódio d''Os Simpsons' sobre a inclusão do cão Poochie no clássico desenho animado de Itchy e Scratchy, numa tentativa (falhada, claro) de modernizar aquilo que ninguém queria ver modernizado. No caso do Luzinha, o princípio foi o mesmo – a EDP é daquelas instituições que não precisava, de todo, de uma mascote, e a tentativa forçada de criar uma (e de a tornar popular junto do público-alvo através de uma imagética 'radical') só podia mesmo redundar num falhanço...

02.12.21

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

'O bom sabor da selva.'

Este é um 'daqueles' posts; aqueles que não começam com qualquer tipo de introdução ou contextualização, mas que arrancam da única maneira possível quando se fala do assunto em causa: com aquilo pelo qual o mesmo é mais lembrado hoje em dia. E no caso do Um Bongo, esse aspecto é mesmo, e definitivamente, a música e o 'slogan' do lendário anúncio televisivo, que muitos dos que nos lêem ainda serão decerto capazes de recitar (ou cantarolar) palavra por palavra. Ainda hoje um dos momentos maiores da publicidade em Portugal, o anúncio do Um Bongo é prova cabal do poder que uma boa campanha de 'marketing' verdadeiramente exerce sobre o destino de um produto.

Isto porque o Um Bongo, enquanto sumo, não se destacava particularmente da concorrência em nenhum aspecto. O sabor 'tutti-frutti' - a 'festa de oito frutos' de que fala o anùncio - era a sua característica mais distintiva, numa era em que tudo era laranja ou ananás (o próprio Um Bongo era também comercializado numa variante de laranja, bem menos popular do que a original), mas apesar de ser acima da média para um sumo de supermercado, a oferta da Libby's (mais conhecida, à época, como distribuidora do Lipton Ice Tea) não se podia exactamente considerar extraordinária; em suma, sem o anúncio, o Um Bongo era 'apenas' mais um bom sumo – tanto assim que, ainda hoje, a marca é sobretudo lembrada pela cantilena entoada pelos animais animados, sendo a nostalgia referente ao mesmo mais centrada na campanha publicitária do que propriamente no sabor.

E o alcance e influência dessa campanha não se ficou pelas vendas e criação de nostalgia pelo seu 'jingle'; no seu auge, nos anos 90, o Um Bongo era um dos principais patrocinadores do Jardim Zoológico de Lisboa, fazendo a óbvia conexão com a espécie de antílope do mesmo nome, bem como entre os elefantes e macacos animados que o representavam e aqueles, de carne e osso, que se podiam ver no Zoo. (Esta táctica era, aliás, também empregue por produtos como o Nesquik e o Tuli-Creme, que encontravam na publicidade em cartaz e patrocínio dos animais do Zoo uma oportnnidade de porem o seu produto à frente de um elevadíssimo número de crianças e, ao mesmo tempo, saírem 'bem na fotografia' por apadrinharem a conservação animal.)

Um_Bongo.png

Cinismos à parte, no entanto, a verdade é que o Um Bongo – que, aliás, ainda hoje existe, sendo agora produzido pela Sumol/Compal – foi um dos produtos alimentares mais marcantes dos 'nossos' anos 90, surgindo apenas atrás de clássicos como o Bollycao ou as batatas da Matutano (que, aliás, muitas vezes acompanhava) na lista dos mais lembrados pelos ex-'putos' daquela geração. No entanto, seria também desingénuo fingir que muitas dessas lembranças não estão ligadas ao seu mítico anúncio televisivo... 'Um Bongo, Um Bongo, o bom sabor da selva...!'

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