17.10.23
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
As décadas de 80 e 90 foram palco de um estranho sub-género de concurso televisivo, em que as provas eram mais focadas na habilidade física do que intelectual, consistindo muitas vezes de corridas de obstáculos ou confrontos de cariz quasi-desportivo, cujo mais famoso exemplo são os icónicos 'Jogos Sem Fronteiras'. Já aqui falámos, numa ocasião anterior, de um desses programas, o mítico 'Jogo do Ganso', produzido em Espanha e transmitido pela TVI, e, em tempo, aqui falaremos dos referidos 'Jogos' e da variante japonesa, 'Takeshi's Castle', conhecido em Portugal pelo insólito título de 'Nunca Digas Banzai'; esta semana, no entanto, a nossa atenção recairá sobre a versão americana deste tipo de programa, que cativou a atenção dos jovens portugueses aquando da sua transmissão na SIC, há exactos trinta anos.
No ar nos seus EUA natais desde finais da década anterior, 'Gladiadores Americanos' tinha, já, o seu formato (um cruzamento entre o conceito dos supramencionados 'Jogos Sem Fronteiras' e a estética da luta-livre americana) mais do que bem definido quando, em 1993, atravessou o Atlântico para apresentar aos jovens lusitanos os 'guerreiros' titulares – todos musculados, com fatos de 'lycra' justos e nomes como Blade e Hawk, bem ao estilo do que faziam a WWF e WCW – e as mirabolantes provas a que os mesmos submetiam os concorrentes, algumas das quais (como a da 'justa' sobre plataformas oscilantes) chegaram a entrar no imaginário da cultura pop norte-americana.
A prova mais célebre do programa
E apesar de o programa não ter tido, em Portugal, o mesmo sucesso de que gozava no seu país natal (onde teve direito a seis temporadas, além de um breve retorno em 2008) o mesmo não deixou, ainda assim, de marcar época na TV portuguesa, muito graças ao comentário do icónico, inigualável e inconfundível Jorge Perestrelo – o qual, como Tarzan Taborda no programa da WWF transmitido pela RTP na mesma época, ajudava a dar um colorido especial à emissão, com o seu entusiasmo e expressões características.
Mesmo sem este 'bónus' acrescido da locução de Perestrelo, no entanto, 'Gladiadores Americanos' era tudo o que um jovem da altura poderia querer de um programa deste tipo, com provas frenéticas e fisicamente intensas, e personagens que simbolizavam o ideal de perfeição da época, e que ajudavam a disfarçar o facto de o próprio conceito do programa ser injusto; afinal, toda a competição se centrava em torno de disputas físicas entre jovens perfeitamente normais e atletas profissionais com físicos 'de ginásio', e a quem havia sido dito que não refreassem os seus esforços! Ainda assim, acabava sempre por haver quem se conseguisse superiorizar aos 'empregados' do programa, e almejar a tão cobiçada vitória final, num daqueles desfechos de 'David Contra Golias' que nunca deixam de ser satisfatórios.
Apesar desta junção de factores bem apelativos, no entanto, 'Gladiadores Americanos' nunca foi tão bem-sucedido que justificasse a produção de uma versão portuguesa, como havia já acontecido em outros países; no entanto, quem chegou a acompanhar aquela transmissão dobrada e adaptada dos primórdios da SIC certamente guardará, ainda hoje, a memória daqueles homens e mulheres musculosos a lutar com paus de borracha sobre uma plataforma oscilante, ao som da voz característica de Jorge Perestrelo...
Publicidade ao programa exibida na SIC à época da transmissão do mesmo.