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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.02.25

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Quando se fala na Geração de Ouro do futebol nacional, a memória tende a relembrar fantasistas como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto, ou esteios defensivos como Paulo Sousa ou a dupla Fernando Couto e Jorge Costa: no entanto, como qualquer outra equipa, a referida Selecção contava também com uma série de 'coadjuvantes', cujo papel era mais discreto, mas não menos importante nas dinâmicas e organização da equipa. É, precisamente, a um desses jogadores – dono de uma carreira mais do que honrosa, mas significativamente menos lembrado que os seus colegas - que dedicaremos este Domingo Desportivo, no dia em que completa cinquenta e seis anos de idade.

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O jogador ao serviço de Portugal no Euro 2000.

Nascido em Joanesburgo, na África do Sul, Dimas Manuel Marques Teixeira – vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome próprio – voltaria ainda criança a Portugal, onde viria a explorar mais a fundo a sua apetência por futebol. E a verdade é que, apesar de um começo relativamente tardio – tinha já dezasseis anos quando iniciou a formação – o futuro internacional português foi ainda mais do que a tempo de transformar esse gosto numa carreira internacional, vivendo o sonho de muitos jovens ao estrear-se, aos dezoito anos, pela histórica Académica de Coimbra, onde fizera os seus dois únicos anos de formação. Curiosamente (ou talvez não) a tenra idade não impediu que Dimas se afirmasse como peça-chave do plantel dos Estudantes durante as três épocas que ali passou, sendo que apenas na última realizaria menos de trinta jogos, compensando este facto com um recorde de golos que vigoraria durante toda a sua carreira, marcando sete. Ao serviço da histórica agremiação, o defesa conseguiria ainda as primeiras internacionalizações jovens, representando a selecção Sub-21 por duas vezes e a Sub-23 por três.

Esta preponderância, aliada às boas exibições tanto no primeiro escalão como no secundário, após descida, não poderia deixar de atrair o interesse de outros emblemas, e, no início da época de 1990/91, Dimas faria a primeira de muitas transferências na sua carreira, mudando-se para os arredores de Lisboa para representar o Estrela da Amadora, finalista derrotado da Taça de Portugal poucas semanas antes. Ali, continuou a confirmar as boas indicações que deixara no seu clube de origem, com duas épocas em grande nível, sendo 'totalista' na primeira, com trinta e oito presenças, e peça importante na segunda, em que almejou vinte e oito. Sete golos no total das duas épocas (apenas menos um do que marcara em três épocas em Coimbra) punham o corolário nesta fase da carreira do jogador, que rapidamente se viu a rumar a ainda mais um histórico do futebol português, desta feita localizado mais a Norte.

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Com a camisola do Vitória SC.

De facto, a época de 1992/93 via Dimas surgir como nova adição ao plantel do Vitória de Guimarães, responsável por revelar para o futebol muitos e bons executantes, e onde o lateral-esquerdo somaria e seguiria na sua carreira, realizando mais duas épocas como titular quase indiscutível no flanco esquerdo, embora agora com menor veia goleadora, almejando apenas um golo no decurso dos dois anos que passou na Cidade-Berço. Ainda assim, nesta fase da carreira, e com apenas vinte e quatro anos, Dimas era já, mais do que uma promessa, uma certeza do futebol nacional da época, pelo que o 'salto' para um grande era já mais do que expectável – salto esse que viria a acontecer há pouco mais de trinta anos, no início da época de 1994, quando Dimas regressava a Lisboa, desta vez para equipar de vermelho, ao serviço do Benfica.

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No primeiro dos dois rivais da Segunda Circular que representou...

Em termos de notoriedade, o lateral-esquerdo atingiu aqui o ponto alto da sua carreira, sendo pedra basilar da equipa durante as duas temporadas e meia que ali passou (como, aliás, já vinha sendo seu apanágio) e completando quase uma centena de partidas de águia ao peito, durante as quais almejou cinco golos. Terá sido nesta fase do percurso de Dimas que o adepto 'comum', menos atento a equipas que não os três 'grandes', terá tomado conhecimento do lateral-esquerdo, não só pelas suas prestações no Campeonato Nacional da I Divisão como também pela presença na Selecção Nacional AA, com a qual disputou tanto a fase de apuramento para o Euro '96 como o próprio certame, sendo primeira opção para o 'seu' lado da defesa durante todo o torneio. Não é, pois, de admirar que, na temporada seguinte, o lateral tenha sido alvo de interesse internacional, e dado com naturalidade o segundo 'salto' do percurso de qualquer futebolista; o destino era Itália, onde Dimas iria representar o mais lendário clube da sua carreira – a Juventus.

E se a 'aventura' internacional tende a não correr bem a muitos futebolistas, tal não foi o caso com Dimas, que, apesar de nunca conseguir a titularidade absoluta como sucedera nos seus outros clubes, conseguiu ainda assim realizar mais de quatro dezenas de jogos com a camisola listrada da 'Vecchia Signora' antes de rumar à Turquia, para representar o Fenerbahce, enquanto jogador do qual voltaria a representar Portugal no seu segundo torneio internacional, o memorável Euro 2000, onde seria novamente titular na esquerda. Um ano e meio e menos de três dezenas de jogos depois, o lateral rumaria à Bélgica, onde jogaria durante seis meses, contabilizando treze aparições pelo Standard de Liège, antes de rumar novamente a Portugal, e a Lisboa, desta vez para jogar do outro lado da Segunda Circular, no grande rival do seu antigo clube.

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...e no segundo.

Se Dimas esperava relançar a carreira no Sporting recém-coroado Campeão Nacional após jejum de quase duas décadas, no entanto, tal plano saiu gorado após o defesa contrair uma lesão no joelho, que o levaria a perder definitivamente a luta pela ala esquerda com o colega de Selecção Rui Jorge. Ainda assim, duas partidas na sua segunda época (antes de rumar por empréstimo ao Marselha, onde realizaria apenas mais quatro) foram suficientes para dar a Dimas o título de campeão nacional, apesar do papel irrisório que desempenhara nessa conquista. Seria com essa conquista quase 'oferecida' que, no final da época de 2001/2002, Dimas encerraria uma carreira honrosa, que inscrevia o seu nome na lista dos maiores jogadores portugueses de sempre a nível interno.

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No breve período como treinador-adjunto.

Tal como muitos outro nomes que relembramos nestas páginas, no entanto, não terminava aí a carreira do agora ex-lateral no Mundo do futebol, já que Dimas tentaria uma transição para a carreira de adjunto, ao lado de José Morais. No entanto, a mesma não duraria mais do que uma época no Barnsley (que terminou com o duo despedido após despromoção) e dois períodos de poucos meses nos ucranianos do Karpaty Lviv e no Jeonbuk, da Coreia do Sul. Assim, é sobretudo pela sua capacidade física, disponibilidade e ritmo de jogo enquanto jogador de campo que o ex-internacional continua a ser lembrado, e é pela sua preponderância nessa capacidade que merece esta homenagem aquando do seu aniversário. Parabéns, e que conte ainda muitos.

25.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um dos elementos mais importantes em qualquer agremiação desportiva é a chamada 'mística' – o conjunto de valores que definem a ética profissional e desportiva da colectividade, e que se espera que os atletas da mesma sigam sempre que a representam. É, precisamente, este factor que torna tão crucial, em qualquer plantel de qualquer desporto, a presença de atletas que vejam no clube que representam a sua 'casa', ou o tenham como emblema de coração desde muito jovens, já que é, normalmente, sobre eles que recai a responsabilidade de transmitir a 'essência' do clube aos recém-chegados. O jogador de que falamos este Domingo, e que completa no dia da publicação deste 'post' cinquenta anos de idade, insere-se nessa mesma categoria, ao lado de nomes como Serifo, Kasongo, Aloísio ou o colega de equipa Martelinho, tendo sido uma das grandes figuras de um 'histórico' português da década de 90. Um verdadeiro 'Grande dos Pequenos', portanto, que muitos adeptos da época reconhecerão das páginas das icónicas cadernetas da Panini – ou, caso sejam adeptos do clube em casa, de o ver jogar em 'carne e osso'.

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O central com a camisola que o notabilizou.

Falamos de Carlos Manuel de Oliveira Magalhães, mais conhecido pelo seu 'apelido' futebolístico, Litos, defesa-central que foi lenda do Boavista e, mais tarde, representou os espanhóis do Málaga, à época 'casa' para muitos nomes bem conhecidos dos meandros futebolísticos da viragem de Milénio, com destaque para os também ídolos Edgar e Duda. Natural do Porto e formado no clube ao serviço do qual se notabilizaria anos depois, seria, no entanto, no Campomaiorense que o central faria a sua estreia como sénior, por empréstimo do emblema axadrezado, na época de 1992/93. E a verdade é que, apesar da tenra idade (atributo que tende a jogar contra atletas defensivos, sobretudo numa posição-chave como a de central) Litos não demorou a estabelecer-se como figura importante do clube alentejano, pelo qual realizou cerca de três dezenas de partidas durante a temporada em causa.

Este início auspicioso não foi, no entanto, suficiente para convencer os responsáveis boavisteiros, e a época seguinte reservava novo empréstimo a Litos, desta feita para a zona da Grande Lisboa, para representar o Estoril-Praia. Infelizmente, este segundo empréstimo foi diametralmente oposto ao primeiro, com o central a participar em apenas cerca de metade dos jogos dos 'canarinhos' na campanha de 1993/94 – o que em nada ajudava à concretização do seu sonho de jogar pelo Boavista. Por sorte, o terceiro e último empréstimo da carreira do defesa voltou a correr-lhe bastante melhor, com Litos a estabelecer-se novamente como figura importante no Rio Ave, voltando a contabilizar mais de trinta partidas e, desta feita, fazendo o suficiente para justificar não só a sua inclusão no plantel axadrezado para a época de 1995/96, mas também diversas chamadas à Selecção sub-21, onde se tornou opção a partir de 1993.

E o mínimo que se pode dizer é que Litos não desperdiçou a sua oportunidade de finalmente viver o seu sonho, 'agarrando' o lugar com unhas e dentes e dando o mote para seis temporadas como opção quase indiscutível no seio do plantel axadrezado, culminadas com a inédita conquista do título de Campeão Nacional, na primeira temporada completa do Novo Milénio – campanha, aliás, em que Litos, por essa altura já com honras de capitão de equipa, teve papel determinante, formando um esteio defensivo de respeito com uma Cara (Des)conhecida prestes a rumar a mais altas glórias, Pedro Emanuel. Foi, também, durante este período que Litos teve a honra de representar a Selecção Nacional AA da fase Geração de Ouro, pela qual disputou um total de seis partidas entre 1999 e 2001.

As excelentes prestações durante a temporada do título, e o respeito e estatuto de que gozava entre jogadores e adeptos do Boavista, propiciaram mesmo o 'salto' internacional para Litos, que, no final da época em causa, assinava pelo emblema sul-espanhol que se viria a tornar a sua segunda 'casa'.

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Ao serviço do Málaga, de Espanha.

Em Málaga, o central seria novamente opção indiscutível em quatro das cinco épocas que passou de azul e branco, encantando e conquistando os adeptos espanhóis da mesma forma que fizera com os do seu clube formador, em Portugal – pelo menos durante a primeira época, já que, nas seguintes, foi gradualmente perdendo preponderância, acabando por se desvincular do emblema aquando da descida à II Divisão espanhola, no Verão de 2006. Oportunidade perfeita para regressar a Portugal, onde rapidamente encontrou novo 'emprego' ao serviço de outro histórico, a Académica de Coimbra, pela qual militou duas épocas, tendo sido titular habitual na primeira e opção de banco esporadicamente utilizada na segunda, o que motivou nova 'aventura' pelo estrangeiro, desta vez ao serviço dos austríacos do Salzburgo; meia época sem qualquer presença no 'onze' levou, no entanto, a que Litos desse oficialmente por encerrada a carreira no final da temporada 2007/2008.

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Em campo pela Académica.

Curiosamente, para um jogador com perfil de líder, Litos nunca se aventurou por cargos técnicos (não devendo ser confundido com o treinador e ex-jogador de alcunha semelhante, alguns anos mais velho, e que chegou a passar pelo Sporting) preferindo que o seu legado se resumisse aos feitos conseguidos dentro de campo. E a verdade é que, apesar dos poucos emblemas representados, o central podia, à data da sua reforma, gabar-se de ter sido Campeão Nacional, contra todos os prognósticos, e de ter partilhado o balneário com futuras 'lendas' como Nuno Gomes, Ricardo, Petit ou o referido Pedro Emanuel – um espólio honroso, e do qual o defesa se pode, com toda a justiça, orgulhar. Parabéns, e que conte muitos.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

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O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

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O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

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Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

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O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

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João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

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Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

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O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

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Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

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Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

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Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

26.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Regra geral, no futebol moderno, as posições defensivas tendem a ter menor projecção e atenção mediática do que as atacantes; ainda assim, um defesa de categoria acima da média é bem capaz de deixar memórias e saudades entre os adeptos dos clubes que o viram brilhar. É o caso, por exemplo, de nomes como John Terry, Carles Puyol ou Paolo Maldini, a nível internacional, ou, no campeonato português, de André Cruz, Paulo Madeira, Jorge Costa, Fernando Couto, Jorge Andrade ou Ricardo Carvalho, entre outros.

Numa categoria inferior à dos supracitados, mas ainda assim merecedor do título de 'histórico' do futebol português, encontra-se o jogador que homenageamos esta semana, no dia em que completa cinquenta e três anos; trata-se de R'Ched Mounir, central marroquino que se tornou presença frequente nas cadernetas da Panini da segunda metade dos anos 90 ao serviço da Académica e que, pelas várias épocas de serviços prestados à mesma, merece a nomeação como 'Grande dos Pequenos' do campeonato português.

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Contratado pelos 'Estudantes' ao Ittihad Tanger (onde já completava a sua terceira época) no início da temporada 1996/97, R'Ched Laroussi Mounir não tardou em afirmar-se como figura de proa do clube coimbrão, 'pegando de estaca' logo na primeira época, durante a qual participou em vinte e quatro dos jogos realizados pela Académica; nas temporadas seguintes, estes números seriam ainda mais expressivos, sendo apenas na sua última época de preto e branco (a primeira do Novo Milénio) que Mounir deixaria de ser titular quase indiscutível no esteio da defesa academista, tendo ainda assim logrado realizar quinze jogos (um pouco menos de metade do total do campeonato da época) antes de se despedir dos coimbrões e regressar ao clube que o vira 'nascer' para o desporto.

Duraria apenas uma época essa segunda estadia de Mounir em Marrocos , no entanto, sendo que a época 2002/2003 o veria regressar a Portugal, para representar outro 'histórico', o Leça de Serifo e companhia. Aí, o marroquino voltaria a ser titular e peça importante da estratégia do clube nortenho, naquela que seria a sua última temporada a um nível mais alto, já que as épocas seguintes o veriam 'cair' para os escalões amadores do futebol luso, ao serviço de emblemas como o Sertanense, Sourense (onde passou três épocas, o período mais longo ao serviço de um clube desde os tempos da Académica), Eirense, Nogueirense e Marmeleira, onde viria a 'pendurar as chuteiras' sem a pompa e circunstância de que muitos dos seus contemporâneos gozavam.

Ainda assim, as cinco épocas passadas em Coimbra, num dos períodos mais memoráveis dos 'Estudantes', bem como a sua presença não só nas referidas cadernetas de cromos como também em jogos como o 'Elifoot 2', fizeram do defesa marroquino um verdadeiro 'Grande dos Pequenos', bem merecedor desta pequena homenagem por alturas do seu quinquagésimo-terceiro aniversário. Parabéns, Mounir!

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