25.02.24
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Um dos elementos mais importantes em qualquer agremiação desportiva é a chamada 'mística' – o conjunto de valores que definem a ética profissional e desportiva da colectividade, e que se espera que os atletas da mesma sigam sempre que a representam. É, precisamente, este factor que torna tão crucial, em qualquer plantel de qualquer desporto, a presença de atletas que vejam no clube que representam a sua 'casa', ou o tenham como emblema de coração desde muito jovens, já que é, normalmente, sobre eles que recai a responsabilidade de transmitir a 'essência' do clube aos recém-chegados. O jogador de que falamos este Domingo, e que completa no dia da publicação deste 'post' cinquenta anos de idade, insere-se nessa mesma categoria, ao lado de nomes como Serifo, Kasongo, Aloísio ou o colega de equipa Martelinho, tendo sido uma das grandes figuras de um 'histórico' português da década de 90. Um verdadeiro 'Grande dos Pequenos', portanto, que muitos adeptos da época reconhecerão das páginas das icónicas cadernetas da Panini – ou, caso sejam adeptos do clube em casa, de o ver jogar em 'carne e osso'.
O central com a camisola que o notabilizou.
Falamos de Carlos Manuel de Oliveira Magalhães, mais conhecido pelo seu 'apelido' futebolístico, Litos, defesa-central que foi lenda do Boavista e, mais tarde, representou os espanhóis do Málaga, à época 'casa' para muitos nomes bem conhecidos dos meandros futebolísticos da viragem de Milénio, com destaque para os também ídolos Edgar e Duda. Natural do Porto e formado no clube ao serviço do qual se notabilizaria anos depois, seria, no entanto, no Campomaiorense que o central faria a sua estreia como sénior, por empréstimo do emblema axadrezado, na época de 1992/93. E a verdade é que, apesar da tenra idade (atributo que tende a jogar contra atletas defensivos, sobretudo numa posição-chave como a de central) Litos não demorou a estabelecer-se como figura importante do clube alentejano, pelo qual realizou cerca de três dezenas de partidas durante a temporada em causa.
Este início auspicioso não foi, no entanto, suficiente para convencer os responsáveis boavisteiros, e a época seguinte reservava novo empréstimo a Litos, desta feita para a zona da Grande Lisboa, para representar o Estoril-Praia. Infelizmente, este segundo empréstimo foi diametralmente oposto ao primeiro, com o central a participar em apenas cerca de metade dos jogos dos 'canarinhos' na campanha de 1993/94 – o que em nada ajudava à concretização do seu sonho de jogar pelo Boavista. Por sorte, o terceiro e último empréstimo da carreira do defesa voltou a correr-lhe bastante melhor, com Litos a estabelecer-se novamente como figura importante no Rio Ave, voltando a contabilizar mais de trinta partidas e, desta feita, fazendo o suficiente para justificar não só a sua inclusão no plantel axadrezado para a época de 1995/96, mas também diversas chamadas à Selecção sub-21, onde se tornou opção a partir de 1993.
E o mínimo que se pode dizer é que Litos não desperdiçou a sua oportunidade de finalmente viver o seu sonho, 'agarrando' o lugar com unhas e dentes e dando o mote para seis temporadas como opção quase indiscutível no seio do plantel axadrezado, culminadas com a inédita conquista do título de Campeão Nacional, na primeira temporada completa do Novo Milénio – campanha, aliás, em que Litos, por essa altura já com honras de capitão de equipa, teve papel determinante, formando um esteio defensivo de respeito com uma Cara (Des)conhecida prestes a rumar a mais altas glórias, Pedro Emanuel. Foi, também, durante este período que Litos teve a honra de representar a Selecção Nacional AA da fase Geração de Ouro, pela qual disputou um total de seis partidas entre 1999 e 2001.
As excelentes prestações durante a temporada do título, e o respeito e estatuto de que gozava entre jogadores e adeptos do Boavista, propiciaram mesmo o 'salto' internacional para Litos, que, no final da época em causa, assinava pelo emblema sul-espanhol que se viria a tornar a sua segunda 'casa'.
Ao serviço do Málaga, de Espanha.
Em Málaga, o central seria novamente opção indiscutível em quatro das cinco épocas que passou de azul e branco, encantando e conquistando os adeptos espanhóis da mesma forma que fizera com os do seu clube formador, em Portugal – pelo menos durante a primeira época, já que, nas seguintes, foi gradualmente perdendo preponderância, acabando por se desvincular do emblema aquando da descida à II Divisão espanhola, no Verão de 2006. Oportunidade perfeita para regressar a Portugal, onde rapidamente encontrou novo 'emprego' ao serviço de outro histórico, a Académica de Coimbra, pela qual militou duas épocas, tendo sido titular habitual na primeira e opção de banco esporadicamente utilizada na segunda, o que motivou nova 'aventura' pelo estrangeiro, desta vez ao serviço dos austríacos do Salzburgo; meia época sem qualquer presença no 'onze' levou, no entanto, a que Litos desse oficialmente por encerrada a carreira no final da temporada 2007/2008.
Em campo pela Académica.
Curiosamente, para um jogador com perfil de líder, Litos nunca se aventurou por cargos técnicos (não devendo ser confundido com o treinador e ex-jogador de alcunha semelhante, alguns anos mais velho, e que chegou a passar pelo Sporting) preferindo que o seu legado se resumisse aos feitos conseguidos dentro de campo. E a verdade é que, apesar dos poucos emblemas representados, o central podia, à data da sua reforma, gabar-se de ter sido Campeão Nacional, contra todos os prognósticos, e de ter partilhado o balneário com futuras 'lendas' como Nuno Gomes, Ricardo, Petit ou o referido Pedro Emanuel – um espólio honroso, e do qual o defesa se pode, com toda a justiça, orgulhar. Parabéns, e que conte muitos.