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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

22.03.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui sobejamente falámos da hegemonia que a Abril/Controljornal, com a sua licença para editar versões portuguesas das revistas Disney, conseguiu ter sobre as publicações infanto-juvenis da década de 90. De facto, em conjunto com as Bds da DC e Marvel lançadas pela mesma editora, os diversos títulos Disney representavam a esmagadora maioria da oferta nacional em termos de banda desenhada, sendo as poucas alternativas, normalmente, oriundas do estrangeiro, como ocorria com as revistas da Turma da Mônica ou mesmo outros títulos da própria Disney, como 'Urtigão' ou 'Zé Carioca.'

Perante tal estado de graça, não é de estranhar que a casa editorial se tenha sentido confiante o suficiente para tentar expandir o seu portefólio com ainda mais títulos – afinal, neste caso, a segmentação de mercado acabava por ter um impacto practicamente nulo. Foi esta a lógica por detrás do lançamento de várias edições especiais em número único (de algumas das quais já aqui falámos, e de outras falaremos no futuro) bem como de novas séries como 'Álbum Disney´ ou 'Série Ouro', também elas bem-sucedidas o suficiente para desfrutarem de uma 'vida útil' relativamente longeva.

Apesar deste 'toque de Midas', no entanto, a editora ia, paulatinamente, somando um ou outro falhanço à sua trajectória – títulos que, por uma razão ou outra, ficavam aquém do desejado em termos de repercussão, impacto e, claro, volumes de vendas, acabando por sair do mercado pela 'porta pequena'; é de um desses títulos – cuja publicação se encerrou há pouco mais de trinta anos, – que falaremos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Capa do primeiro e último números da revista.

A revista em causa chamou-se 'Top Disney', e marcou presença nas bancas portuguesas durante exactamente um ano, tendo o primeiro dos seus doze números de periodicidade mensal sido lançado a 28 de Janeiro de 1992, e o último a 26 de Janeiro de 1993. Tratava-se de um título com aproximadamente cem páginas, com lombada grossa, daqueles a meio caminho entre as publicações 'normais' da editora (que tinham cerca de setenta páginas) e a categoria de publicações mais caras e substanciais, onde se inseriam séries como 'Disney Especial' e 'Disney Aventura'; ao contrário destas, no entanto, o 'Top Disney' não tinha qualquer tema definido, tratando-se tão-sómente de mais um pretexto para publicar uma mistura de histórias protagonizadas pelos principais personagens da companhia, com especial foco nos inevitáveis Mickey, Pateta e Donald.

Talvez residisse aqui, aliás, o principal motivo para a curta vida do 'Top Disney', que – ao contrário dos 'Disney Especial' e 'Hiper Disney' – não oferecia nada que já não se pudesse encontrar nas revistas menos 'especiais' (e mais baratas) da Abril, sendo o único atractivo o maior número de páginas e, por conseguinte, de histórias; claramente, no entanto, tal não foi suficiente para manter a publicação 'à tona' para lá da marca do primeiro ano de vida – uma longevidade que até pode, à primeira vista, parecer honrosa, não fosse o facto de as restantes publicações da Abril (e restantes 'concorrentes' mencionadas mais acima) se terem mantido nas bancas, muitas vezes, durante décadas!

Ainda assim, e apesar de esta se saldar como uma experiência falhada por parte da Abril, vale ainda assim a pena recordar aquele que foi mais um dos muitos títulos de banda desenhada de qualidade acima da média de que as crianças portuguesas puderam desfrutar durante os anos 90, e do qual alguns exemplares ainda residirão certamente em sótãos e espaços de arrumação por esse País fora – como, aliás, sucede lá por casa...

08.03.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Surgidas em Portugal ainda em meados do século XX, as revistas aos quadradinhos da Disney assumiram, durante as quatro décadas seguintes, um nível de preponderância e popularidade difícil de compreender por quem não tenha vivido em primeira mão o fenómeno. Primeiro importadas do Brasil, com diálogos a condizer, estas revistas revelaram-se de tal forma bem-sucedidas que, já na década de 80, os principais títulos passaram a desfrutar de uma edição cem por cento produzida em Portugal, e editada pelo 'ramo' nacional da casa editorial responsável pelos lançamentos brasileiros das revistas Disney e também da DC e Marvel, a Abril (mais tarde Abril/Controljornal); e, tendo-se estas novas edições nacionais revelado tão populares quanto as importadas, não foi de estranhar que, ao longo do quarto de século seguinte, a distribuidora apostasse em oferecer aos leitores a maior gama de títulos individuais possível, lançando nas bancas um sem-número de edições especiais complementares às suas colecções mensais. Uma dessas edições, 'SOS Titanic' – lançada em 1998 para explorar o sucesso do filme protagonizado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet – foi o tópico da nossa última Quarta aos Quadradinhos; agora, chega a hora de falar de outro número único e especial tematizado a bordo de um barco, mas cuja índole é bem diferente da do lançamento que anteriormente abordámos.

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Capas das duas edições nacionais da história, publicadas em 1987 (em cima) e 1992 (em baixo)

Falamos de 'Cristóvão Colombo e a Descoberta da América', uma história em três partes que vê Mickey e Pateta assumir o papel de Descobridores na famosa frota de naus que viria a atracar ao largo da costa dos Estados Unidos, no século XV, e que foi lançada, não uma, mas duas vezes em Portugal – primeiro como parte da colecção de Almanaques 'Edição Especial', em 1987, e cinco anos depois como título único, sem qualquer sub-denominação ou colecção associada. Em ambos os casos, o conteúdo é exactamente o mesmo, originalmente produzido em 1983 por Guido Martina e Giovan Battista Carpi - dois dos principais nomes dos 'famosos' estúdios italianos da Disney – e considerado um dos melhores trabalhos da dupla.

A razão de ser do referido relançamento (especialmente numa data tão próxima da da publicação original) não é, pois, clara, sendo provável que a Abril se encontrasse em fase de 'vacas magras' em termos de produções originais, ou que quisesse apenas 'apresentar' a bem cotada história a um novo público-alvo – afinal, cinco anos teriam sido suficientes para que pelo menos parte da demografia-alvo de leitores das revistas se tivesse renovado.

Fosse qual fosse a razão, a verdade é que qualquer das duas edições disponíveis justificava bem o dinheiro investido, oferecendo material de qualidade e que conseguia 'Disneyficar' o famoso acontecimento histórico sem desvirtuar factos ou perder a vertente didáctica – algo que, só por si, constitui um feito louvável, especialmente no campo da banda desenhada 'descartável'. E ainda que novos leitores a quem este texto tenha desperado o interesse devam ter consideráveis dificuldades em obter esta publicação especial, quem a teve na colecção e tem dela boas recordações certamente terá apreciado a pequena homenagem à mesma contida nestes poucos parágrafos.

22.02.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As revistas aos quadradinhos Disney viviam, durante os anos 90, um dos seus melhores momentos no mercado português, tanto no que tocava a níveis de vendas quanto de popularidade; assim, não era de todo de estranhar que a Abril/Controljornal (responsável pela edição dos títulos nacionais) procurasse não só diversificar cada vez mais a sua oferta, mas também tirar proveito de momentos culturais relevantes entre a demografia que as suas revistas visavam. E, no Portugal de inícios de 1998, um momento cultural sobrepunha-se a todos os outros junto do público mais jovem: a estreia do filme 'Titanic', quase imediatamente transformado num daqueles sucessos de bilheteira 'geracionais', e ainda hoje recordado por quem cresceu naqueles tempos pelo seu carácter polarizante. Assim, foi sem surpresas que a 'miudagem' lusitana de finais do século XX viu chegar às bancas, mais ou menos ao mesmo tempo que o filme com DiCaprio e Winslet, uma edição especial temática alusiva ao famoso navio, em cuja capa Mickey e Minnie replicavam a famosa pose do par romântico na proa do mesmo.

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Apesar do título e da capa algo 'enganosa', no entanto, 'SOS Titanic' não consiste, exactamente, de uma adaptação humorística e ajustada à realidade Disney do argumento do filme; ainda que a companhia (e, em especial, os estúdios italianos responsáveis pela maioria das BDs Disney saídas em território nacional à época) não fosse, de todo, estranha a este tipo de prática, desta feita, o caminho seguido foi um pouco diferente; a saber, ainda que a história única contida no volume estivesse directamente relacionada com o famoso navio, a mesma não tinha qualquer ligação à obra de James Cameron – talvez como forma de evitar dissabores ou encargos adicionais por parte dos criadores. De facto, apesar da alusão directa feita pelo desenho de capa e da utilização deliberada de Mickey e Minnie no lugar do icónico par romântico, o casal mais famoso da Disney nem sequer figura na trama, já que 'SOS Titanic' é uma história de Tio Patinhas, Donald e sobrinhos!

Desonestidades à parte, no entanto – até porque tais práticas não eram, de todo, incomuns no contexto do 'marketing' da época – a história homónima da publicação até se revela bastante interessante, com os eternos rivais Patinhas e Patacôncio a competir, primeiro para ver quem constrói mais rápido um navio de luxo, e depois quem consegue resgatar do fundo do Mar o verdadeiro Titanic. Uma trama que, curiosamente, mistura elementos reais ao universo de Patópolis, algo que as histórias da Disney faziam a espaços, utilizando a subsequente dissolução da fronteira entre o real e os 'quadradinhos' em favor do enredo imaginado. Uma estratégia inteligente, que tornava histórias como esta apelativas mesmo para quem não era fã do filme (que, conforme referimos mais acima, ainda era muita 'malta nova') e evitando a segmentização da demografia-alvo do lançamento.

Assim, não seria de estranhar que, à época, 'SOS Titanic' tivesse adqurido contornos de 'edição de coleccionador'; apesar de qualquer 'puto' daquele tempo saber que a esmagadora maioria das revistas Disney (bem como as da Marvel e DC, também da Abril) não tinham qualquer valor como objecto de colecção, volumes como este conseguiam, ainda assim, transmitir essa impressão, graças ao grafismo mais cuidado, maior número de páginas e carácter de 'número único'. E apesar desta, como a maioria das suas congéneres, ter entretanto caído no esquecimento, a data de lançamento e a ligação a 'Titanic' tornavam inevitável que a recordássemos nestas páginas nostálgicas, pouco mais de uma semana depois de termos falado do filme que a inspirou...

14.12.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Uma das nossas primeiras Quartas aos Quadradinhos versou sobre as bandas desenhadas Disney vendidas em catadupa no nosso País nos anos 80 e 90 pela editora Abril, mais tarde Abril-Controljornal; e se, sobretudo na 'nossa' década, muitos desses títulos eram traduzidos e adaptados em Portugal, também não deixa de ser verdade que um número significativamente maior continuava a ser importado do Brasil, à época uma verdadeira 'linha de montagem' de BD, e cujo idioma era suficientemente próximo do nosso para que não fosse necessária qualquer localização (sendo que algumas das localizações da Abril da época como as das revistas de super-heróis, retinham mesmo, famosamente, toques de 'brazuquês'), De entre estes últimos, um dos mais diferenciados, mais não fosse pelo tema, era a Edição Extra 'Natal Disney de Ouro', um especial dedicado a histórias natalícias publicado anualmente em Novembro-Dezembro pela Abril brasileira durante quase exactamente duas décadas, entre 1979 e 1998.

 

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A primeira e última edição da revista nos anos 90 (números 11 e 20, de 1990 e 1998, respectivamente).

Com um título que não deixa grande margem a interpretações, estes volumes eram precisamente aquilo que aparentavam ser – almanaques de histórias passadas, ora no Natal, ora pelo menos no Inverno, ou cuja temática se adequasse ao tema em causa. Mais surpreendente foi, mesmo, o facto de os editores responsáveis por compilar anualmente este número especial terem conseguido encontrar histórias tematicamente apropriadas em número suficiente para criar DEZANOVE números completos – embora, presumível e previsivelmente, tenha havido, ao longo dos anos, algumas repetições - e, até, criado histórias inéditas em exclusivo para a revista. Tendo em conta que a maioria dos outros números temáticos tinham direito a, no máximo, dois ou três volumes, não deixa também de ser impressionante que esta edição tenha saído sem falhas durante quase vinte anos, e apresentado sempre uma configuração de histórias diferente.

Também impressionante era a apresentação do volume, que levava a sério a designação 'de Ouro' e apresentava letras douradas brilhantes no título, para além daquele papel especial que fazia revistas deste tipo parecerem sempre mais 'especiais' do que os vulgares Mickey e Pateta editados mensalmente; e porque 'os olhos também comem', é quase certo que esta apresentação cuidada terá sido um dos principais chamarizes desta BD junto do seu público-alvo, e ajudado a diferenciá-la de volumes como o Disney Especial 'Aventuras de Natal', editado na mesma época, mas de aspecto gráfico bem mais 'normal' para os padrões da Abril da época. Juntamente com a cuidada selecção de histórias e as sempre divertidas falas em português do Brasil, este foi um dos factores que contribuiu para tornar esta revista um clássico dos Natais da criançada portuguesa (e, sem dúvida, também brasileira) dos anos 80 e 90 - e, mais tarde, também dos 2010, década em que a revista voltou a surgir nas bancas, já com o novo 'look' típico dos produtos de BD contemporânea da Disney. Ao contrário da sua antecessora, no entanto, essa edição ficar-se-ia pelo Brasil, tendo Portugal editado os seus próprios números de Natal ao longo do século XXI; para quem leu e coleccionou aqueles números originais dos anos 80 e 90, no entanto, 'Natal Disney de Ouro' será, sem dúvida, a referência natalícia entre as BD's da Disney, merecendo bem ser recordada nesta época festiva.

 

14.07.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

As 'fanzines' – publicações criadas por e para fãs de determinado artista ou propriedade intelectual – eram, ainda, relativamente comuns nos anos 90, o mesmo podendo ser dito das revistas afiliadas a clubes de fãs oficiais, ou a clubes comerciais para jovens, bastando aqui lembrar a popular Revista Rik e Rok ou os fantásticos Almanaques Clube Caminho Fantástico. O que era significativamente menos comum era ver revistas deste tipo fazer a transição para o circuito de distribuição alargada e venda comercial – e, no entanto, foi isso mesmo que se passou com, não apenas uma, mas duas publicações deste tipo, em meados da década.

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Falamos das publicações oficiais dos Clubes Sega e Nintendo, que - como todos os outros aspectos relativos a estas duas instituições - partilhavam mais semelhanças do que diferenças, a começar no nome, que, em ambos os casos, seguia precisamente a mesma nomenclatura, juntando metade do nome da consola mais popular de cada companhia à época a um adjectivo indicativo de pujança e atitude dominadora - Mega Force no caso da Sega, Super Power no da Nintendo.

Também os conteúdos de ambas as revistas eram, previsivelmente, muito semelhantes, com cada uma a apresentar notícias, críticas e outros artigos relativos às últimas novidades lançadas por cada companhia, sendo que a Nintendo se limitou a manter a fórmula que já apresentava na sua publicação exclusiva para assinantes, embora agora com textos originais, por oposição a traduções do Francês. Até mesmo a editora era a mesma para ambas as publicações – no caso, a todo-poderosa Abril Jovem (mais tarde Abril Controljornal), à época a magnata das publicações temáticas em Portugal, quer se tratasse de banda desenhada ou de revistas especializadas, como as que abordamos neste post; com este facto em mente, não é de espantar que o formato de ambas as revistas fosse suficientemente aproximado para quase poder ser considerado idêntico.

Apesar de a Nintendo ter o benefício da experiência prévia, no entanto, no que toca a longevidade, foi a revista da Sega quem levou a melhor, tendo conseguido manter-se nas bancas dois anos, entre 1993 e 1995 – uma 'vida' curta, mas, ainda assim, duas vezes mais longa que a da sua congénere, que apareceu e se extinguiu no mesmo ano, 1994 (talvez por a Abril oferecer uma modalidade de assinatura anual, em exclusivo, a membros do Club Sega, os quais receberam ainda o primeiro número da revista de forma gratuita). Ainda assim, apesar da pouca longevidade (nenhuma das duas revistas viu dealbar a geração 32-bit) qualquer destas duas publicações terá, decerto, feito as delícias dos fãs dos videojogos de ambas as companhias, os quais talvez ainda guardem um ou outro exemplar algures na arrecadação dos pais...e que, não sendo esse o caso, sempre poderão recordar a infância clicando aqui ou aqui!

16.06.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer jovem interessado no coleccionismo de cartas, cromos ou autocolantes sabe o valor – efectivo ou atribuído – de um exemplar metalizado; mesmo em instâncias em que estas não são as peças mais difíceis de conseguir da colecção, há algo na aparência, brilho e 'efeito especial' de uma imagem deste tipo que a distingue, para melhor, de todas as outras, tornando-a inevitavelmente numa das mais cobiçadas de qualquer conjunto.

Em meados dos anos 90, a omnipresente editora Abril/Controljornal percebeu o valor deste fenómeno e resolveu capitalizar sobre o mesmo, através da criação de uma colecção constituída INTEIRAMENTE por autocolantes metalizados, e 'reforçados' com um efeito holográfico, para garantir que se tornavam apelativos junto do público-alvo.

Nasciam assim as Holoucuras, oferecidas como brinde com as revistas aos quadradinhos da Abril – quer da Marvel e DC, quer da Disney – durante um determinado período, por volta de 1996/97, e cujas saquetas amarelo-vivo traziam uma indicação relativa a um determinado número de pontos, que podiam ser coleccionados e trocados por prémios, ainda que a natureza dos ditos cujos se perca hoje nas brumas do tempo.


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Exemplo de uma publicação da editora com a saqueta de brinde.

A razão para esta falta de informação é, aliás, simples de explicar – fosse por que razão fosse, as Holoucuras não 'pegaram' como a Abril certamente esperava, constituindo hoje em dia apenas uma vaga lembrança remota na mente de quem, à época, lia os títulos de banda desenhada da editora; de resto, a colecção holográfica da Abril (por sinal, até bastante bem conseguida) não passa de mais uma de muitas tentativas falhadas de criar uma nova 'febre' de recreio, que se junta às suas congéneres como apenas mais uma nota de rodapé na História global da década de 90 em Portugal.

13.04.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

De inícios da década de 80 ao dealbar do novo milénio, a editora Abril Morumbi (mais tarde apenas Abril) foi sinónima com a publicação de banda desenhada Disney nas bancas portuguesas, sendo praticamente impossível encontrar um produto literário da companhia americana que não tivesse a chancela da casa luso-brasileira; mas enquanto que a maioria dos títulos lançados pela editora eram e continuam a ser fáceis de encontrar, um ou outro conseguiu, ainda assim, reter um estatuto obscuro o suficiente para, à entrada para a terceira década do século XX, poder ser considerado Esquecido Pela Net.

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Frente e verso da capa do álbum

É o caso do volume que hoje apresentamos, uma publicação de 1990 que leva o tão descritivo quanto anónimo título de 'Álbum Disney - Mickey' - uma designação genérica o suficiente para dificultar (e muito!) a procura de informação sobre ele na Internet, especialmente dada a quantidade de colecções diferentes lançadas ao longo dos anos, precisamente com o mesmo título, algumas das quais já aqui abordadas. Este 'Álbum Disney´ nada tem a ver com qualquer delas, sendo (tanto quanto podemos aferir) uma entidade única, e uma experiência nunca repetida pela Abril - o que talvez ajude a explicar o seu estatuto obscuro no panorama da banda desenhada nacional.

Seja qual for o motivo para a sua situação actual, o certo é que este álbum não merecia tal fado, dado tratar-se não só de uma experiência válida, mas também de uma aquisição indispensável para qualquer interessado na História da banda desenhada, tanto da Disney quanto em geral. Isto porque, ao contrário de outras edições especiais da Abril (como os álbuns criados em exclusivo para uma promoção da Nestlé) o livro não apresenta qualquer história (à época) contemporãnea do protagonista, assumindo, logo desde a capa, a sua intenção de servir como veiculo para a publicação em Portugal de histórias clássicas de Mickey e companhia - no verdadeiro sentido da palavra, já que a totalidade do material contido nas suas páginas foi publicado quase sessenta anos antes da edição do próprio álbum, na década de 1930!

De facto - de acordo com as curtas mas informativas notas presentes no início e a meio do livro - as quatro histórias (mais uma mão-cheia de 'tiras') que perfazem esta obscura publicação começaram por surgir, em formato serializado, nos jornais em que as histórias de Mickey eram publicadas, entre 1932 e 1938; e apesar de, aqui, surgirem em formato 'corrido', é ainda bastante evidente onde cada porção originalmente acabava.

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Uma página de 'O Covil de Wolf Barker', demonstrativa do estilo de Floyd Gottfredson (esquerda) e o frontispício e página de notas de 'Hoppy, o Canguru' (centro e direita).

Nada, no entanto, que diminua a experiência de ler estas 'pérolas', a maioria da autoria de Floyd Gottfredson, um dos mais lendários artistas dos primeiros tempos do estúdio, Da pura aventura de 'O Covil de Wolf Barker' (cujo enredo caberia perfeitamente numa revista Mickey dos anos 80 ou 90) à comédia de 'Os Sobrinhos do Mickey' e 'Hoppy, o Canguru' (ambos também adaptados para desenho animado) há neste livro material para satisfazer todos os gostos, sempre com o atractivo extra do contexto histórico, que torna a leitura ainda mais prazerosa para qualquer conhecedor de BD.

Fica, pois, claro, que este 'Álbum Disney' não merece, de todo, o esquecimento a que foi (seja pela sua raridade, pelo título excessivamente genérico, ou por qualquer outro motivo) vetado; e embora se afigure praticamente impossível encontrá-lo à venda hoje em dia, vale bem a pena a qualquer apreciador da era de ouro da banda desenhada Disney o esforço extra para tentar adquiri-lo - quanto mais não seja, pelo valor histórico que apresenta...

30.03.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Depois de, em edições passadas desta rubrica, termos falado das revistas de banda desenhada da série 'Os Dinossauros' e da Hanna-Barbera, chega agora, mais uma vez, a altura de nos debruçarmos sobre uma publicação tão esquecida que a maior dificuldade foi mesmo arranjar imagens para ilustrar este post (como sempre, obrigado, OLX!)

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Uma das únicas duas imagens disponíveis que permitem verificar a existência efectiva desta revista

E a verdade é que, tal como nos outros dois casos acima mencionados, esta não deixa de ser uma situação caricata, dado que a referida revista foi editada pela editora de BD em Portugal por excelência - a Abril Controljornal - e era baseada numa propriedade intelectual tão ou mais popular (e certamente mais perene) entre o público-alvo – no caso, os ainda hoje mega-populares Looney Tunes.

E no entanto, onde informações sobre as outras publicações de banda desenhada editadas na mesma altura pela Abril - sejam as revistas Disney ou as de super-heróis da Marvel e DC - são relativamente fáceis de encontrar, a existência da revista 'Bugs Bunny' (apenas uma de várias tentativas feitas através das décadas de trazer os personagens da Warner Brothers para o mundo dos quadradinhos, desta feita, presume-se, para aproveitar a popularidade renovada de que gozavam por ocasião do lançamento do filme 'Space Jam') apenas é corroborada, no omnisciente Google, pela sua aparição num ou outro leilão de BD's no referido OLX; de resto, a referida publicação bem podia não ser mais do que uma memória fabricada por este que vos escreve...

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A segunda e última imagem destas revistas existente na Internet, retirada do mesmo leilão que providenciou a anterior. Uma ressalva para a piada infame da capa da esquerda...

Não sendo esse o caso, no entanto, falemos um pouco da revista que levava o nome do eterno líder dos Looney Tunes (isto apesar de o foco ser irmamente distribuído entre todos os personagens). Tal como as referidas 'Dinossauros' e 'Hanna-Barbera' (ou ainda certas revistas e álbuns Disney) as mesmas mais não eram do que agregados de histórias publicadas na sua congénere norte-americana, devidamente traduzidas para português europeu contemporâneo, mas sem quaisquer outras alterações ao material original – o que não era, necessariamente, um defeito, já que as referidas histórias apresentavam arte bastante cuidada, digna do estatuto dos personagens, mesmo se os enredos (como, aliás, era costume nestas BD's 'menores') deixavam um pouco a desejar.

Sem ser tão memorável quanto as referidas revistas Disney, ou as de Mauricio de Sousa – estavam bastante mais próximas, em conceito como em temática e até execução, de 'Oh! Hanna-Barbera' e 'Flintstones' – a revista 'Bugs Bunny' afirmava-se, ainda assim, como uma fonte razoável de entretenimento para o seu público-alvo, o que torna ainda mais intrigante o completo esquecimento a que a mesma foi votada nas décadas subsequentes. Seja qual for o motivo, no entanto, não restam dúvidas – a edição portuguesa de 'Bugs Bunny' (pelo menos a da década de 90) entra direitinha na galeria das publicações 'Esquecidas Pela Net' que este blog tem feito questão de recuperar...

02.03.22

NOTA: Para celebrar a estreia, esta sexta-feira, do novo filme de Batman, todos os 'posts' desta semana serão dedicados ao Homem-Morcego.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As adaptações em texto de propriedades audio-visuais de sucesso – as chamadas novelizações ou serializações – não são, de todo, um fenómeno recente; pelo contrário, pode dizer-se que o verdadeiro auge deste tipo de obra ocorreu nos anos 80 e 90, altura em que praticamente todos os 'franchises' cinematográficos ou televisivos minimamente bem sucedidos eram alvo de adaptações literárias. De Indiana Jones a Street Fighter e até E.T – O Extraterrestre, eram inúmeros os exemplos de conversões de filme ou série televisiva para livro, normalmente com uma qualidade de escrita não mais do que aceitável, e sem grandes pretensões a serem mais do que uma fonte adicional de receitas para a propriedade que representavam.

Menos comuns, embora longe de inexistentes, eram as adaptações em banda desenhada. De facto, tirando as 'quadrinizações' dos filmes da Disney feitas pela americana 'Disney Adventures' e publicadas em Portugal pela revista Super Jovem, e mais tarde numa colecção de álbuns bilingues que já aqui abordámos, eram poucos ou quase nenhuns os filmes ou séries que tinham direito a adaptações em BD, e ainda menos as obras desse tipo que atravessavam o oceano até à Península Ibérica.

Talvez tenha sido precisamente por isso que a adaptação oficial em banda desenhada do terceiro longa-metragem de Batman, 'Batman Para Sempre' (a única das quatro realizadas para cada um dos filmes do herói a chegar às bancas portuguesas) se destacou de tal forma nas bancas de jornais à altura do seu lançamento; apesar de Portugal ser, tradicionalmente, um país com tradição de venda e compra de revistas aos quadradinhos (entre as quais várias do próprio Batman, bem como de outros super-heróis) este tipo de publicação era tudo menos familiar para o público-alvo das BD's da Marvel e DC em meados da década de 90 – um facto a que também ajudava a própria aparência e apresentação da revista, diametralmente oposta às publicações de super-heróis 'vulgares' que a Abril enviava para as bancas a cada quinze ou trinta dias.

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De facto, com o seu formato A4 – tipico dos 'comics' norte-americanos, mas reservado, na Europa, a publicações do tipo almanaque ou álbum – e papel brilhante e oleoso, a adaptação em BD de 'Batman Para Sempre' posicionava-se, desde logo, como uma edição 'de luxo', em contraste directo com os 'livros aos quadradinhos' de formato A5 e papel rugoso a que as crianças e jovens da época estavam habituados; os traços distintivos não se ficavam, no entanto, por aí, sendo que os próprios conteúdos da revista tinham uma toada algo mais adulta do que o habitual para os 'comics' da época, com um estilo gráfico sombrio e razoavelmente realista, fiel à atmosfera do filme de Schumacher (da responsabilidade dos experientes Michael Dutkiewicz e Scott Hanna, na altura dois dos principais artistas na folha salarial da DC), e que a posicionava mais perto das chamadas 'graphic novels' do que das revistas quinzenais ou mensais, justificando assim o preço ligeiramente mais 'puxado' de 380$00, o equivalente a EUR 1.90 actuais.

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Exemplo da arte gráfica do livro

A história, essa, era exactamente a mesma do próprio 'Batman Para Sempre', ou não se tratasse de uma adaptação oficial em BD. Apesar de algumas liberdades criativas – como mostrar um excerto do próprio guião na primeira página – o argumento de Dennis O'Neil segue fielmente o roteiro da obra de Schumacher, sem nunca tentar expandir sobre aquilo que o realizador mostrara, o que, dependendo da interpretação, tanto pode ser louvável como uma oportunidade falhada de mostrar os personagens e história de 'Para Sempre' de outros ângulos, enriquecendo assim a história do filme – uma táctica sobejamente utilizada pelas novelizações em prosa, mas de que a equipa responsável por esta transcrição para BD optou por não fazer uso.

Qualquer que seja a perspectiva sobre esta abordagem, no entanto, a verdade é que a adaptação em BD de 'Batman Para Sempre' justificava bem a compra – embora sobretudo como artigo de colecção, já que era extremamente improvável que alguém que não tivesse visto o filme se interessasse por algo deste tipo, e quem já conhecesse a história dificilmente estaria interessado em a reviver num formato gráfico. Ainda assim, foi louvável o esforço da DC em assegurar que esta adaptação correspondia aos padrões de qualidade das suas antecessoras, e que o seu público-alvo não dava o seu dinheiro por mal gasto; e nesse aspecto, pelo menos, pode considerar-se que a editora (e, por associação, a Abril-Controljornal) foi bastante bem sucedida, já que a adaptação em banda desenhada de 'Batman Para Sempre' é uma adição mais do que válida à colecção de qualquer entusiasta de Batman, ou de BD de super-heróis dos anos 90 em geral.

16.02.22

NOTA: Esta é a versão expandida deste post, que foi inicialmente publicado com bastante menos dados, e um texto mais vago. 

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Às vezes, há coisas assim. Uma editora quase monopolista de um determinado sector decide editar algo um pouco mais elaborado e sofisticado, de modo a assinalar um marco, e essa obra, em vez de se tornar um estandarte do seu catálogo, cai quase totalmente no esquecimento, largamente ofuscada na memória colectiva por edições bem mais corriqueiras e banais.

É, precisamente, essa a situação em que se encontram dois livros de capa dura lançados pela Editora Abril em 1992, em exclusivo para a Nestlé, presume-se como parte de uma qualquer promoção.

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E dizemos 'presume-se' porque, à parte UMA ÚNICA fotografia oriunda de um leilão actualmente activo no OLX, não existem quaisquer informações sobre estes dois livros na Net. Rigorosamente NADA. Se o volume centrado no Rato Mickey não sobrevivesse, ainda hoje, na estante lá de casa, não teríamos ficado a saber da sua existência, nem do contexto em que foi publicado. Assim sendo, podemos, pelo menos, falar – ainda que MUITO brevemente – sobre esse volume e o seu congénere, respeitante ao outro personagem principal das BD's Disney da época, o Pato Donald.

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As únicas informações sobre os volumes encontram-se na secção de detalhes técnicos no interior da primeira página

Tendo como título, tão-somente, o nome do personagem que focam (o que, convenhamos, também não ajuda à pesquisa) os mesmos apresentam capas que sugerem um clima de festa, com Donald e Mickey vestidos com roupas 'radicais', bem na moda para o período em causa, sobre um fundo de serpentinas. A apresentação é, aliás, toda ela luxuosa: tratam-se de álbuns de capa dura e lombada grossa, que, caso tivessem estado disponíveis nas bancas, teriam sem dúvida tido um preço de revenda elevado.

Os conteúdos, esses – pelo menos no respeitante ao volume constante da nossa colecção –pouco têm, infelizmente, de especial. Àparte a apresentação cuidada e o formato cartonado, de livro 'a sério', estas duas obras em nada diferem da comum revista de BD Disney comercializada pela própria Abril à época, podendo perfeitamente ter sido comercializados como um dos volumes do Hiper Disney ou Show Disney sem que se tivesse notado grande diferença. Isto porque nem as habituais secções inerentes a livros deste tipo – como resumos da história dos personagens, cronologias, etc. - se encontram presentes em qualquer dos dois tomos, que apresentam a primeira história logo a seguir à folha de capa, e a última logo antes da habitual folha em branco das costas – exactamente como se de uma publicação semanal normal se tratasse. O aspecto exterior tem, pois, uma função puramente estética, fazendo com que estes livros pareçam algo especial e exclusivo, e que valha a pena porfiar para conseguir no contexto desta promoção; e, nesse aspecto, há que admitir que os mesmos são bem sucedidos.

Quanto à raridade (ou não) das histórias incluídas em cada volume, não nos podemos, infelizmente, pronunciar – para nós, em criança, tratavam-se de escolhas perfeitamente vulgares, mas é bem possível que tal não seja, necessariamente, o caso, ganhando assim estes livos um atractivo adicional à aquisição. Sem esse chamariz, no entanto, a mesma apenas é justificada pelas capas muito bem conseguidas, e que sem dúvida se integram muito bem na colecção de qualquer aficionado de banda desenhada; de resto, não é difícil perceber porque, num Portugal que ainda compra, vende e troca em larga escala as revistas Disney publicadas pela Abril - especialmente as mais raras, como é o caso - estes dois volumes constituam, até agora, o melhor exemplo de um produto verdadeiramente Esquecido pela Net...

 

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