30.06.23
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Apesar de ser a rainha inquestionável das longas-metragens infantis dos anos 90, a Disney não deixava de ter, na ponta final do século XX, 'concorrência' à altura neste campo – nomeadamente, da parte da Amblin Entertainment, de Spielberg e Don Bluth (sua concorrnte desde a década transacta), da recém-criada Dreamworks (que 'agitava as águas' com o excelente 'O Príncipe do Egipto'), e da Warner Brothers, que fazia por essa altura as suas primeiras tentativas de se estabelecer como criadora de filmes animados de grande orçamento. E apesar de este desiderato não ter sido inteiramente bem sucedido (no Novo Milénio, a companhia seria conhecida, sobretudo, com produtora de filmes animados com os super-heróis da DC, destinados ao mercado de vídeo e DVD) a divisão de animação da Warner não deixou de produzir pelo menos duas longas-metragens de considerável sucesso junto do público alvo. Da primeira, 'Space Jam', já aqui falámos anteriormente; agora, num fim-de-semana em que se assinalam os vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, chega a altura de dedicarmos algumas linhas à outra.
Capa do lançamento em DVD do filme.
Lançado nas salas de cinema lusitanas a 3 de Julho de 1998, 'A Espada Mágica' ('Quest for Camelot', no original) não disfarça as suas intenções de rivalizar com a Disney, que, nesse mesmo ano, lançaria o fabuloso épico de guerra 'Mulan'; pelo contrário, das personagens à história, formato musical e até ambientação, tudo neste filme é uma tentativa declarada de replicar a fórmula que, à época, tantos dividendos vinha rendendo à multi-nacional californiana. Senão veja-se: a trama segue uma humilde jovem camponesa da Inglaterra Arturiana, Kayley, que sonha ser cavaleira, mas encontra resistência por parte da sua família e comunidade, até um ataque à quinta da sua família por parte de um Cavaleiro da Távola Redonda renegado lhe dar a oportunidade de se tornar a heroína que sempre sonhou ser, e salvar não só a sua família, como todo o reino, tendo como aliados um eremita cego residente na floresta e um dragão de duas cabeças com as vozes de um elemento dos Monty Python e do Senhor Cabeça-de-Batata de 'Toy Story'. Junte-se a isto a presença de um vilão totalmente 'angular', cuja silhueta lembra tanto Radcliffe, de 'Pocahontas', como Jafar e até Frollo, e que conta com os habituais asseclas de teor cómico, e os vários interlúdios musicais (incluindo, claro, um logo na abertura do filme) e 'A Espada Mágica' quase podia fazer parte da lista de sucessos do chamado 'Renascimento Disney'.
Verdade seja dita, no entanto, esta 'cópia' é feita de forma bastante bem sucedida, ficando longe das produções barateiras que, no mesmo período, 'inundavam' o mercado caseiro com variações sobre os temas dos filmes da companhia do Rato Mickey, como forma de facturar sem grande esforço; pelo contrário, o orçamento disponível para este filme é evidente em todos os aspectos do mesmo, com um elenco original repleto de celebridades, personagens e canções cuidadas e memoráveis e até o uso ocasional de tecnologia CGI, como na cena inicial em torno da Távola Redonda.
A única pecha do filme acaba, assim, por ser o seu carácter declaradamente derivativo, o qual ajudou, ainda assim, a atrair às salas de cinema o público familiar (numa época em que era quase obrigatório ir ver cada novo filme de animação lançado em sala) mas rendeu postumamente ao filme o escárnio da Internet, para quem 'A Espada Mágica' se tornou - a par de 'As Aventuras de Zack e Chrysta na Floresta Tropical', outro filme que aqui terá paulatinamente o seu espaço – um dos alvos de crítica mais fáceis de toda a cultura nostálgica.
Quem não tenha tanto interesse em dissecar cada minúcia de um filme para criar interesse e provocar risos, no entanto, certamente achará que não era caso para tanto; 'A Espada Mágica' era, e continua a ser, um filme infantil perfeitamente aceitável (até acima da média) e envelheceu apenas um pouco menos bem do que os clássicos intemporais sugeridos na mesma época pela Disney. Como tal, aos vinte e cinco anos da sua estreia em Portugal, a grande aposta da Warner Brothers para fazer frente à 'casa' do Rato Mickey merece bem o mesmo tipo de homenagem que, logo nos primórdios deste nosso 'blog', prestámos aos referidos filmes, continuando a constituir uma excelente adição à ´rotação' de filmes infantis de qualquer lar de família nacional.