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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.10.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 1 de Outubro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos das adaptações em banda desenhada (ou novelas gráficas) de propriedades cinematográficas e televisivas norte-americanas, como 'Parque Jurássico', 'Jovem Indiana Jones' ou 'Batman Para Sempre'. E apesar de esta não ser uma prática corrente fora daquele continente e mercado, em meados dos anos 90, a Editorial Notícias arriscou lançar uma versão 'à portuguesa' do referido conceito, adaptando para 'quadradinhos' um filme que poucos esperariam ser alvo deste tratamento: 'Passagem Por Lisboa', a trama de espionagem 'de época' levada ao grande ecrã por Eduardo Geada, em 1994, e cujo público-alvo não se interceptava, exactamente, com o que lia revistas ou álbuns de banda desenhada. E porque, ao falarmos do filme, descurámos focar esta adaptação, nada melhor do que dedicar-lhe agora algumas linhas.

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A capa do álbum utilizava o cartaz do filme.

Infelizmente, há muito pouco a dizer sobre a BD de 'Passagem Por Lisboa', que as gerações 'X' e 'Millennial' votaram, praticamente, ao esquecimento (um pouco como o próprio filme). De facto, para lá da capa (copiada do cartaz do filme), do mês e ano de lançamento (Abril de 1994) e do nome dos autores (curiosamente, ambos chamados Paulo, no caso Paulo Pereira, responsável pelo argumento, e Paulo Silva, o ilustrador) é impossível encontrar qualquer informação ou fotografia respeitante a este álbum, tornando impossível elaborar sobre o estilo de desenhos que apresenta, ou sobre as técnicas empregues para adaptar à BD as técnicas narrativas cinematográficas do filme. Pedimos, pois, a qualquer leitor que possua informações sobre este livro (alô, Pedro Serra!) que nos ajude a 'completar' um pouco este 'post', o qual, para já, terá de ficar por aqui.

07.09.25

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 05 de Setembro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de, nos anos 90, a era de ouro do cinema português estar já a algumas décadas de distância, o período em causa não deixou ainda assim de contribuir com vários títulos para a lista de longas-metragens lusitanas contemporâneas. 'Adeus, Pai', 'Até Amanhã, Mário', 'Zona J' ou 'Pesadelo Cor-de-Rosa são apenas alguns dos principais destaques da década no tocante a produção cinematográfica, aos quais há ainda que juntar, por exemplo, o 'Hollywoodesco' filme de espionagem (!) realizado em 1994 por Eduardo Geada, e que poderá ser uma opção interessante para uma Sessão de Sexta mais voltada para a reconstituição histórica.

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Tirando partido do estatuto da capital portuguesa como território neutro durante a Segunda Guerra Mundial – o qual, por sua vez, a tornava 'porto seguro' para espiões, informadores e outros 'infiltrados' – Geada propõe-se contar a história da 'Passagem Por Lisboa' de vários personagens, de um francês misteriosamente assassinado a três descodificadores de mensagens alemãs, não esquecendo 'celebridades' como uma reconhecida actriz, um banqueiro ou o Duque de Windsor. Todos estes personagens se vêem, em maior ou menor escala, envolvidos não só no mistério da morte do francês, como também numa intriga de espionagem bem ao estilo dos filmes realizados na época em causa, e que Geada claramente procura homenagear e emular.

O resultado é um filme bem mais ambicioso do que seria necessário (no bom sentido) e que, com um orçamento e actores ao nível de produções análogas internacionais, poderia ter-se tornado um favorito 'de culto' para cinéfilos com interesse em filmes históricos. Isto porque, até mesmo com as limitações inerentes ao seu país de produção, 'Passagem Por Lisboa' faz por valer a descoberta, não só do filme, como também da igualmente 'esquecida' adaptação em banda desenhada, da qual aqui falaremos numa futura Quarta aos Quadradinhos. Até lá, valem estas breves linhas que, espera-se, possam ajudar a redescobrir um filme cuja maior pecha foi mesmo ter sido produzido no Portugal de finais do século XX...

27.07.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 27 de Julho de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

As sequelas e os 'remakes' de filmes de sucesso estão longe de ser novidade no Mundo movido a dinheiro de Hollywood. Menos comum, no entanto, é ver dois exemplos deste tipo de filme estrearem no mesmo fim de semana - e, no entanto, foi precisamente essa a situação verificada nos dias anteriores à data de edição deste 'post', que viram chegar aos cinemas uma nova tentativa de retratar o 'Quarteto Fantástico', e à Netflix uma continuação de 'O Demónio do Golfe', um dos maiores sucessos da filmografia de Adam Sandler. Nada melhor, pois, do que recordar neste 'post' os antecessores de ambos os filmes produzidos durante os anos 90, os quais tiveram destinos diametralmente opostos.

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Começando pelo 'Quarteto Fantástico' de Roger Corman, o filme de 1994 é, hoje em dia, infame entre cinéfilos fãs de banda desenhada de super-heróis. Isto porque a película – exibida uma única vez no cinema, na Alemanha, e surgida na Internet mais de um quarto de século após a sua produção – foi feita, apenas e tão somente, para que Corman pudesse reter os direitos sobre a franquia, não tendo o realizador qualquer intenção de levar o material às salas de cinema, ou mesmo ao circuito 'directo a vídeo'. Talvez resida aí a explicação para a falta de cuidados técnicos evidenciada em cada cena do filme – com particular expressão nos efeitos práticos – e para a escolha de actores desconhecidos para viverem tanto os quatro heróis como o seu inimigo Dr. Destino, personagem icónica para os leitores das BD originais.

A verdade, no entanto, é que, apesar destas falhas técnicas, o filme é bastante fiel ao material idealizado por Stan Lee, conseguindo capturar as personalidades dos membros do Quarteto (embora nem tanto a de Destino) e mostrando mesmo laivos de querer ser algo mais do que um esquema de evasão fiscal. Os actores, que desconheciam as verdadeiras intenções de Corman, têm também actuações passáveis no contexto de um filme de 'Série B', deixando a ideia que, com alguma dedicação e empenho, este pudesse ter sido um filme menor, mas de culto, entre os fãs de 'quadradinhos'.

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Num patamar diametralmente oposto está o filme de Sandler, não só lançado oficialmente em cinema (curiosamente, ao contrário da sequela) como considerado um dos grandes clássicos de Adam Sandler, um daqueles actores cujo estilo divide opiniões, mas não deixa ainda assim de encontrar o seu público-alvo. Nesta tentativa de parodiar o mais que batido formato das comédias desportivas (no caso com o golfe como modalidade de eleição) o seu habitual personagem simplório revela-se um 'génio' no tocante a colocar bolas brancas em buracos na relva, embarcando no habitual percurso delineado em filmes deste tipo, ao qual nem sequer falta um rival ciumento e sem escrúpulos que o herói deve derrotar no último buraco de um jogo para poder levar para casa o prémio e salvar a casa da sua avó.

Uma paródia declarada e descarada, portanto, mas ainda imbuída da sinceridade que diferenciava os primeiros filmes de Sandler dos que viria a realizar no auge da sua fama, tornando-o uma boa aposta para quem conseguir lidar com o tipo de actuação e situações típicas da obra do actor, ambas as quais se encontram em grande evidência neste filme. Já a sequela parece reunir menos consenso, podendo vir a tornar-se rapidamente 'apenas mais um' dos muitos filmes exclusivos para a Netflix lançados a cada ano – o que não invalida que, tal como no caso de 'Quarteto Fantástico', dediquemos algumas linhas ao seu antecessor, esse sim (e ao contrário do filme de Roger Corman) um verdadeiro clássico do seu estilo.

21.06.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Junho de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O início dos anos 90 viram ter lugar uma mudança de paradigma no tocante ao produto cinematográfico de Hollywood, em mais do que uma vertente. Para além das mudanças na apresentação e estética dos filmes considerados 'blockbusters', assistiu-se também a um influxo de realizadores estrangeiros – nomeadamente asiáticos e europeus – que trouxeram consigo as influências do cinema dos seus respectivos países e regiões, incorporando nos seus filmes elementos estilísticos e temáticos a que os espectadores norte-americanos não estavam necessariamente habituados, e estabelecendo assim uma reputação como criadores de 'cinema de autor' que, ao mesmo tempo, conseguia ser bem aceite pelas massas. E se John Woo e seus comparsas se centravam sobretudo no estilo, com recurso à câmara lenta e inclusão de simbologia visual, o contingente europeu preferia destacar-se pela inclusão de temáticas humanistas e filosóficas naquilo que, regra geral, seria apenas 'mais um' filme de acção ou suspense. Um dos melhores exemplos desta abordagem estreou nas salas de cinema nacionais há pouco mais de trinta anos (a 28 de Abril de 1995) e granjeou imediatamente o estatuto de obra de culto para amantes de 'thrillers' mais cerebrais e menos imediatistas.

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Falamos de 'Léon – O Profissional', o 'thriller' responsável por lançar em Hollywood não só os seus dois actores principais – o francês Jean Reno e uma jovem Natalie Portman, para quem este era o primeiro papel cinematográfico – como também o seu realizador, Luc Besson, que rapidamente ficaria conhecido como um dos melhores 'balanceadores' de estilo e conteúdo do período em causa. E a verdade é que essas qualidades ficam bem vincadas neste filme, que, apesar de longe dos excessos visuais de 'O Quinto Elemento' e outros filmes do realizador, tem um estilo visual próprio, que complementa uma trama centrada, não em tiros e cenas de acção, mas no relacionamento do titular assassino a soldo com a menina que resgata após a morte dos pais – um elemento que Reno e, sobretudo, Portman (em extraordinária actuação para uma criança de apenas 13 anos e sem qualquer experiência no ramo) conseguem transmitir de forma exímia, dando ao filme um 'centro' emocional que muitas outras obras do estilo nunca chegam a almejar.

Não admira, pois, que 'Léon – O Profissional' seja ainda hoje alvo de elogios por parte da crítica especializada, e conste das listas de favoritos de muitos cinéfilos (nacionais e não só) com preferência por filmes com alguma 'substância' a ancorar os momentos de emoção e acção. Mais – nas três décadas subsequentes, o filme quase não 'envelheceu', quer do ponto de vista visual quer a nível do enredo e temáticas, continuando a constituir uma excelente base para uma Sessão de Sexta, e a justificar algumas breves linhas a seu respeito neste nosso 'blog' nostálgico.

12.05.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Qualquer melómano velho o suficiente para ter tido interesse em música em inícios dos anos 90 não hesitará em apontar essa época como a era do nascimento do 'rap' e 'hip-hop' em Portugal, pelo menos no que ao 'mainstream' diz respeito. De facto, a primeira metade da última década do século XX marcava o momento em que o estilo musical nascido e popularizado do outro lado do Oceano Atlântico na década anterior extravasava a presença maioritariamente 'clandestina' que marcava nos bairros periféricos das grandes cidades, e 'explodia' nos ouvidos de toda uma geração de jovens prontos a receberem e assimilarem aquelas palavras de ordem e crítica social em ritmo sincopado. O culminar desta ascensão do chamado 'hip-hop tuga' seria, claro, a colectânea 'Rapública', lançada em 1994 e que popularizaria nomes como Black Company ou o produtor, Boss AC; no entanto, logo nos primeiros meses da década, já um grupo de jovens da mesma zona na Margem Sul do rio Tejo se havia aventurado na organização do primeiro festival de 'rap' nacional. Entre eles, encontrava-se um MC em ascensão, e que em breve viria a deixar a sua marca no panorama do 'rap' nacional: o moçambicano Sergio Matsinhe, mais conhecido pelo 'nome de guerra' General D.

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Membro fundador dos supracitados Black Company (embora já não fosse a tempo de desfrutar dos benefícios trazidos pelo mega-sucesso 'Nadar') e envolvido em inúmeros outros projectos da cena à época, General D destacava-se pela 'africanidade' que injectava no seu 'rap'/'hip-hop', fosse no aspecto musical, fosse na grafia das letras ou mesmo na forma como as interpretava. Esta vertente algo mais original do que a média, bem como mais flexível e versátil, não tardou a colocá-lo no 'radar' de artistas mais comerciais, tendo a primeira gravação do jovem MC sido como convidado num tema dos Pop Dell'Arte, em 1990. Ainda antes de qualquer registo próprio, D surge também como um dos compositores e intérpretes da banda sonora de 'Até Amanhã, Mário', de 1993, um dos poucos filmes portugueses da época a granjear atenção por parte do público.

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Com tal nível de exposição mediática, o surgimento de registos próprios era inevitável, e, em 1994, General D lança mesmo o seu primeiro EP, o provocatoriamente intitulado 'PortuKKKal É Um Erro'. Esta denominação, aliada às letras críticas do racismo vigente na sociedade portuguesa, caíram como uma 'pedrada no charco' da bem-comportada cena musical nacional, e valeram a D a presença em muitas plataformas de debate público, para discutir os problemas vividos por imigrantes, retornados e seus descendentes no Portugal daquela época.

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Longe de 'descansar sobre os louros', no entanto, General D voltava ao 'ataque' menos de um ano depois, desta vez com um longa-duração, em conjunto com o grupo Os Karapinhas. O título 'Pé Na Tchôn, Karapinha Na Céu' deixa desde logo bem evidente a filosofia e atitude perante a vida de General D, embora se afirme como algo introspectivo e humilde face à barragem de ácidos comentários tecidos pelo MC nas suas letras. Um registo cáustico, mesmo para os padrões do 'hip-hop', e que posicionava General D como um dos principais 'activistas' da cena nacional, bem mais engajado e combativo do que os muito mais explicitamente comerciais Da Weasel, ou mesmo do que a maioria dos nomes presentes em 'Rapública'. O vídeo de 'Black Magic Woman' (que, ao contrário do que se possa pensar, não constitui uma versão da música dos Fleetwood Mac) estava também em alta rotação nos programas de 'videoclips' nacionais, cimentando o estatuto de Boss AC como uma das grandes 'esperanças' do 'rap' nacional, uma reputação que apenas aumentaria com participações em temas de Cool Hipnoise e Ithaka.

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O passo final na evolução de D seria, no entanto, dado apenas dois anos depois, em 'Kanimambo', o segundo (e, até hoje, último) álbum do MC. Agora acompanhado por colaboradores de luxo, como António Chainho ou o congénere brasileiro Gabriel o Pensador, o General debitava mais uma série de temas cáusticos (embora também mais trabalhados) que lhe permitiam continuar a 'somar e seguir' na cena. Uma bem-sucedida 'tournée' por Portugal, Espanha e França parecia anunciar a 'explosão' definitiva de D, o qual, concluída a mesma, se deslocaria até à Jamaica para trabalhar com os renomados Sly and Robbie...

...e não voltaria a ser visto durante quase duas décadas.

De facto, seria apenas em 2014 que um jornalista seguiria o 'rasto' de Sergio Matsinhe, vindo a encontrá-lo em Londres. Em entrevista exclusiva, o MC revelava ter passado maus momentos tanto na capital britânica como nas ruas de Nova Iorque, vivendo uma existência muito distante dos dias de glória nos palcos nacionais. A entrevista, e respectiva capa, ajudavam o General a regressar à consciência popular dos melómanos nacionais, mesmo a tempo da reedição dos seus dois registos, em 2015. O regresso aos palcos, no entanto, dar-se-ia apenas quatro anos depois, num evento na Altice Arena que reunía muitos dos 'pais fundadores' do 'hip-hop tuga' – não só General D, como também Boss AC, Black Company ou Chullage, entre outros. Um final merecidamente apoteótico para uma carreira (e vida) que foi do Céu ao Inferno, sempre de pés no chão e carapinha no ar, e que continua, até hoje, a deixar a sua marca em todo um movimento musical.

18.03.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Um dos fenómenos sociais mais pervasivos das últimas cinco décadas em Portugal – sensivelmente desde a globalização dos televisores caseiros – vem sendo a miscigenação da cultura portuguesa com a brasileira, não só através da imigração, como também da importação de produtos mediáticos daquele País. E se, hoje em dia, esse cruzamento se limita às eternas telenovelas, a um ou outro canal da TV Cabo e às revistas da Turma da Mônica, há trinta anos, o panorama de propriedades intelectuais brasileiras presentes em Portugal era bem mais vasto, com as referidas telenovelas e as bandas desenhadas da Abril e Globo à cabeça. E terá sido, precisamente, através das referidas bandas desenhadas que uma larga parcela da população nacional terá tido o primeiro contacto com um dos mais famosos produtos mediáticos saídos do país-irmão – a 'troupe' de comediantes conhecida como Os Trapalhões.

E se a referida BD da Globo tinha como foco versões infantis do quarteto, não tardaria também a que as crianças e jovens daquela época ficassem a conhecer os 'verdadeiros' Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, quando – há quase exactos trinta e um anos, em Março de 1994 – o seu programa, lendário no Brasil, chegou finalmente aos televisores nacionais, pela mão da SIC. E a verdade é que, previsivelmente, a inspirada colecção de 'sketches' cómicos de índole 'pastelona' (com alguns dichotes brejeiros à mistura) não tardou a conquistar o público-alvo, sempre aberto a tentativas de humor deste tipo – sobretudo quando se afirmavam como bem acima da média, como era o caso. Sem nunca se terem tornado um 'caso de estudo' de popularidade, como o eram no seu país natal, Os Trapalhões encontravam, assim, em Portugal uma audiência suficientemente devota e fiel para justificar a 'aventura' inédita que o quarteto encetaria logo no ano seguinte, e sobre cuja estreia se comemoram por estes dias exactas três décadas.

Falamos de 'Os Trapalhões em Portugal', a produção nacional (da própria SIC) que procurava recuperar o formato de sucesso do programa original, ao mesmo tempo que o ambientava por terras lusitanas, com os Trapalhões ainda restantes – Didi e Dedé – a contracenarem com coadjuvantes com sotaque português, em cenas típicas da vida quotidiana nacional. Uma ideia que poderia ter resultado – e que, sob algumas métricas, resultou mesmo, já que o programa fez tanto sucesso quanto o seu antecessor – mas que perdia consideravelmente pela ausência da 'outra metade' do grupo, a saber, os malogrados Mussum e Zacarias, que muitos consideravam serem as principais fontes da comédia do grupo. Com apenas Didi como verdadeiro Trapalhão (Dedé sempre desempenhou o papel de elemento mais sério do grupo) e com a presença de actores portugueses a ressalvar a diferença de abordagem e desempenho em relação aos brasileiros, o resultado era um produto algo menos fluido, e mais 'bem-comportado', do que o hilariante original da Globo.

Ainda assim, conforme referimos acima, 'Trapalhões em Portugal' chegou a fazer sucesso entre a juventude lusitana da época, e será ainda recordado por parte dela como um dos elementos nostálgicos da sua infância ou adolescência, merecendo assim destaque nestas nossas páginas no mês em que se completam trinta anos sobre a sua primeira emissão.

08.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 7 de Março de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No panteão das citações de filmes que penetraram e se mantiveram na cultura popular, 'a vida é como uma caixa de chocolates – nunca sabemos o que nos vai sair' figura ao lado de 'eu vejo pessoas mortas' (de 'O Sexto Sentido'), 'eu voltarei' (de 'Exterminador Implacável 2') ou dos famosos monólogos de Samuel L. Jackson em 'Pulp Fiction' ou Marlon Brando em 'O Padrinho' como uma daquelas citações que até o cinéfilo mais distraído saberá identificar. E não é para menos, já que o filme em que figura foi um dos grandes eventos cinematográficos do ano de 1994, tendo inclusivamente arrebatado o Óscar para Melhor Filme na cerimónia do ano seguinte.

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Falamos, claro está, de 'Forrest Gump', um daqueles filmes que terá para sempre lugar cativo numa lista, senão dos melhores filmes dos anos 90, pelo menos dos mais influentes e mediáticos. Isto porque, apesar do sucesso crítico e comercial, o filme continua a dividir opiniões quase tanto quanto um 'Titanic' ou 'A Vida É Bela', com grande parte do público a considerar tratar-se de uma obra-prima, e uma minoria muito mais vocal a apontar os elogios de que é alvo como algo exagerados para aquilo que é, essencialmente, uma comédia romântica com alguns elementos mais 'ousados', mas sem nunca entrar por terrenos sequer adjacentes a um 'American Pie – A Primeira Vez', 'Um Susto de Filme' ou mesmo 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti' – todos eles filmes que nunca teriam sequer oportunidade de competir por um Óscar, e ainda menos de ganhar.

Não que 'Forrest Gump' não fosse merecedor das nomeações que conquistou; o filme é tecnicamente bem executado, e Tom Hanks tem uma interpretação de relevo no papel do simplório mas bem intencionado personagem titular, cujas necessidades especiais deixa evidentes, sem que a sua actuação alguma vez pareça insultuosa (à semelhança do que, no ano anterior, fizera Leonardo DiCaprio em 'Gilbert Grape', filme onde roubara a cena ao protagonista Johnny Depp, no papel do seu irmão mais novo). O que torna a experiência ligeiramente mais frustrante e mundana, no entanto, é o facto de o livro em que o filme se baseia, da autoria de Winston Groom e lançado em 1986, trazer uma trama muito mais adequada a uma longa-metragem do que a efectivamente apresentada pelo filme, com Forrest a viver uma série de peripécias adicionais que envolvem viagens ao espaço, cenas de fuga ao lado de Raquel Welch e de um gorila, e estadias sazonais em ilhas do Pacífico habitadas por tribos canibais – todas as quais se traduziriam maravilhosamente para um meio áudio-visual, e, em conjunção com os cuidados aspectos técnicos, teriam tornado o filme numa comédia surreal de 'primeira apanha', por oposição ao romance com leves toques de hmor situacional que Robert Zemeckis efectivamente levou ao grande ecrã.

Ainda assim, talvez essa abordagem tenha mesmo sido a mais apropriada para apelar a uma demografia o mais vasta possível, sendo que os episódios adicionais acima descritos teriam tornado 'Forrest Gump', o filme, numa experiência destinada a um público bem mais 'de nicho'; e a verdade é que, sob essa perspectiva, e para quem não leu o livro, o que de facto se vê ao longo das duas horas constitui um produto muito acima da média para um filme de grande orçamento de meados dos anos 90. Fica a ideia, no entanto, de que, como sucessor da obra-prima 'A Lista de Schindler' nos anais da História dos Óscares – e com 'adversários' como 'Os Condenados de Shawshank', 'Quatro Casamentos e Um Funeral' e o supracitado 'Pulp Fiction' – o filme em si fica um pouco aquém da sua reputação, que lhe valeu inclusivamente a inclusão na biblioteca cinematográfica do Congresso norte-americano, bem como um 'remake' oficial indiano, produzido em Bollywood em 2022. Essas distinções são, no entanto, mais que suficientes para justificar a sua inclusão nesta nossa rubrica sobre os mais memoráveis e influentes filmes de finais do século XX – uma descrição em que, goste-se ou não do facto, 'Forrest Gump' não deixa de encaixar perfeitamente.

05.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Março de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quando se fala em desfiles de Carnaval, restam poucas dúvidas de que o mais famoso é o do Rio de Janeiro, que atrai multidões a cada ano, desejosas de ver o espectáculo de luz, cor, música, brilhantes e dançarinas em trajes sugestivos. No entanto, esse está longe de ser o único evento histórico ligado à festa em causa, sendo que Portugal tem, inclusivamente, a sua própria alternativa ao mesmo, ainda que bastante mais modesta: o Carnaval de Sines, que coloca, anualmente, a localidade algarvia no 'mapa' em finais de Fevereiro e inícios de Março. Mas se, na esmagadora maioria das ocasiões, esta festa tem um âmbito puramente local, há pouco mais de três décadas a mesma chegou a gozar os seus 'quinze minutos de fama' a nível nacional, quando foi escolhida como alvo da emissão da RTP para a programação de Carnaval.

De facto, numa iniciativa que jamais se viria a repetir, não só a emissora estatal transmitiu as festividades ligadas ao evento, como também enviou para o terreno as equipas de apresentadores não de um, mas de dois programas da manhã, o 'Viva A Manhã' e a recém-inaugurada 'Praça da Alegria' (ambos os quais também terão aqui o seu espaço). A festa pôde, assim, gozar, naquele fim-de-semana, de uma exposição mediática muito acima do comum, a qual terá, certamente, ajudado a divulgar o evento a uma população mais vasta, numa época em que a Internet estava, ainda, longe de se globalizar. Razão mais que suficiente para recordarmos a referida cobertura, da qual deixamos abaixo diversos excertos, para quem quiser ficar a par da referida emissão, ou apenas recordar e 'matar saudades' da mesma.

  

18.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma das primeiras séries a que dedicámos espaço nesta rubrica foi 'Já Tocou!', uma das emissões favoritas das crianças e jovens, em Portugal e não só, no início dos anos 90; nada mais justo, portanto, do que falarmos agora das suas duas sequelas, no mês em que uma delas completa trinta anos sobre a sua estreia nacional, e a outra trinta e um.

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Começando por esta última, 'Já Tocou! Na Faculdade' ('Saved By The Bell: The College Years' no original) segue à risca a premissa definida no título, acompanhando o já familiar grupo de protagonistas (com duas adições femininas à mistura, nos lugares de Jessie e Lisa da série anterior) em novas aventuras em ambiente universitário. E lá porque embarcaram nesta nova fase da sua vida académica e pessoal, não significa que os mesmos tenham deixado de se envolver em toda a espécie de peripécias, semelhantes às que viviam na série original, com 'namoricos', esquemas, desentendimentos, 'partidas', lições sobre companheirismo, amizade e espírito de grupo e, claro, muitos dichotes à partida. E se a 'vítima' principal do grupo, Mr. Belding, foi finalmente deixado em paz para gerir a sua escola secundária, esta série introduz uma nova antagonista, a Reitora McMann, que rapidamente se vê na 'mira' de Zack, Slater, Screech, Kelly e das duas novas amigas, Leslie e Alex, em tramas bastante próximas às do 'Já Tocou!' original.

Apesar das semelhanças, no entanto, 'Já Tocou! Na Faculdade' (que substituiu directamente o original na grelha da TVI em Fevereiro de 1994) nunca almejou, pelo menos em Portugal, o mesmo nível de impacto ou sucesso, passando relativamente despercebido, mesmo a quem era fã confesso do original. Talvez por o tema da faculdade ser algo mais 'distante' do que o da anterior escola secundária, talvez por algum 'cansaço' da fórmula ou talvez por o público-alvo ter passado à próxima nova 'febre' televisiva, a verdade é que esta continuação de 'Já Tocou!' teve 'vida curta' na televisão portuguesa, desaparecendo da grelha da 'Quatro' ao fim de apenas um ano, para dar lugar à sua sucessora, e segunda 'sequela' do original, 'Já Tocou! Os Caloiros'.

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Estreada há exactos trinta anos, em Fevereiro de 1995, esta nova série trazia, como o nome original indicava, a nova turma ('The New Class') da Secundária de Bayside, a qual prometia envolver-se em tantos 'sarilhos' quanto os seus predecessores. À cabeça deste novo grupo estava Scott Erickson, interpretado por Robert Sutherland Telfer, um aluno transferido de uma escola rival e que tomava o lugar do lendário Zack Morris como principal 'atormentador' do director Belding (ainda interpretado por Dennis Haskins) e interlocutor com a audiência. Ao lado do protagonista estavam Barton Wyzell, o 'novo Screech' (intepretado por Isaac Lidsky) e Tommy DeLuca, ou 'Tommy D' (Jonathan Angel) o 'atleta de serviço' e 'novo Slater'; os três faziam-se ainda acompanhar da 'crânia' Megan Jones (Bianca Lawson) e da sua neurótica amiga Vicki Needleman (Bonnie Russavage), bem como da popular Lindsay Warner (Natalia Cigliuti), que formavam o obrigatório 'contingente feminino' e serviam de contraponto mais sério às peripécias dos rapazes.

Como se pode facilmente aferir pelo parágrafo anterior, 'Os Caloiros' nada fazia ou experimentava de novo, sendo, pelo contrário, uma réplica quase 'um para um' do original; e se isto explica a sua quase inexistente repercussão em Portugal (ainda menor do que 'Na Faculdade', e a léguas da série de origem) mais difícil é perceber como e porque teve direito a nada menos do que sete temporadas nos seus EUA originais, batendo o recorde das duas séries anteriores! Apesar deste facto, no entanto, a presença nostálgica da 'nova turma' de 'Caloiros' é praticamente nula, ao passo que Zack, Slater, Screech, Kelly, Jessie e Lisa continuam a dominar o imaginário de quem cresceu a acompanhar as suas aventuras – um testamento à afirmação feita pela Kellogg's relativamente aos seus Corn Flakes, que postula que 'o original é sempre o melhor'.

Ainda assim, no mês em que ambas as continuações dessa primeira série celebram aniversários sobre a sua estreia nacional, nada se perde em recordar aquelas que acabaram por redundar em duas tentativas falhadas de voltar a capturar o sucesso de uma série que soube, como poucas outras, fazer uso do 'momento' cultural e social à sua época de estreia para cativar e reter um público-alvo que, por alturas destas duas continuações, já há muito tinha crescido, amadurecido e 'abalado para outras paragens'...

29.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui, em tempos, falámos de 'Lisboa Às Cores', uma colaboração entre António Jorge Gonçalves e Rui Zink lançada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma de celebrar o colorido especial da cidade capital de Portugal. Essa não foi, no entanto, a única obra de banda desenhada institucional criada pelo ilustrador, que, apenas um ano mais tarde, voltaria a realizar uma obra por comissão para uma entidade estatal e centrada sobre a cidade de Lisboa, desta feita para o Instituto Português de Museus e em parceria com o seu mais famoso e duradouro parceiro, Nuno Artur Silva.

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Intitulada 'À Procura do F. I. M.', a obra em causa, que comemorou neste ano transacto exactas três décadas sobre a sua publicação (no âmbito do projecto 'Lisboa '94') marca ainda presença nas bibliotecas de algumas escolas primárias e preparatórias do nosso País, pelo menos a julgar pelas informações disponíveis em diversos catálogos bibliográficos 'online'. Já na restante Internet, a sua pegada é bastante mais reduzida, encontrando-se o álbum no limiar de ser Esquecido Pela Net, sendo 'salvo' de tal fado apenas pelos inevitáveis Bazar0 e Bedeteca, bem como pelos supramencionados catálogos.

Ainda assim, além dos dados básicos de publicação, o único elemento disponível após pesquisa é a capa, que mostra um grafismo abstracto e psicadélico (quase ao estilo cubista ou impressionista) e sugere a presença, na história, de uma nave espacial, ou no mínimo um carro voador. O subtítulo, no entanto, sugere que a trama se centra sobre a Lisboa Subterrânea, o famoso conjunto de passagens, catacumbas e aquedutos no subsolo da capital, embora a verdadeira natureza do 'F.I.M' e a razão para a sua busca sejam, infelizmente, impossíveis de discernir.

Apesar da falta de informações que, por vezes, assola certos 'posts' deste nosso 'blog', no entanto, não queríamos deixar de relembrar esta segunda colaboração por parte de dois dos melhores criadores de banda desenhada em Portugal, e certamente os que melhor conseguem transmitir informações didácticas de forma cativante e divertida.

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