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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

05.11.25

NOTA: Este 'post' é correspondente a Terça-feira, 4 de Novembro de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década

Já aqui anteriormente falámos d''A Hora do Lecas', o programa que catapultou José Jorge Duarte para o sucesso e o tornou ídolo entre os mais pequenos, no papel da titular 'criança grande'. Assim, e face ao sucesso de que a referida 'Hora' desfrutava entre o público-alvo semana após semana, não é de admirar que a RTP oferecesse a Duarte a possibilidade de continuar o formato (ainda que com novo titulo), mas agora em horário 'nobre' no tocante à programação infantil – nomeadamente, as manhãs de Sábado. Surgia assim, há pouco mais de trinta e cinco anos (em Outubro de 1990) a 'continuação' d''A Hora do Lecas', com o bem menos intuitivo título de 'Lecas, Mais Certo Que Sem Dúvida'.

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Apesar deste equivocado título, no entanto, o programa continuava a oferecer tudo o que a sua demografia-alvo podia pedir de um programa deste tipo – jogos interactivos (como 'penalties' ou um jogo de pesca), convidados musicais (a começar logo, em 'grande', pelos Xutos & Pontapés), entrevistas, reportagens e, claro, muito do humor típico do 'Lecas', traduzido tanto em 'sketches' curtos como em paródias de filmes de heróis de banda desenhada ou nas 'dobragens' das 'vozes' dos animais de companhia das celebridades entrevistadas, na rubrica 'Meu Dono de Estimação'. Numa vertente algo mais 'séria', a rubrica 'Quando For Grande Quero Ser...' oferecia aos jovens espectadores, uma vez por mês, a possibilidade de viverem o seu emprego de sonho durante um dia, ao lado de um profissional do sector, enfatizando assim a ligeira vertente educativa de que o programa também gozava. No global, um formato equilibrado, e que não podia deixar de agradar ao público-alvo, pese embora a ausência de desenhos animados, normalmente a 'atracção principal' deste tipo de programa. Lecas era, no entanto, uma presença mais do que magnética o suficiente para manter as crianças portuguesas cativadas durante todo um programa, eliminando a necessidade de exibir séries entre os diferentes segmentos, e dando ao programa alguma originalidade face a outros 'concorrentes'.

De referir, ainda, que foi deste programa – e dos seus segmentos musicais, protagonizados uma vez por episódio pelo próprio Lecas – que saiu o icónico disco 'As Canções do Lecas', do qual também já aqui falámos, pouco depois do 'post' dedicado à 'Hora'. Esta nova publicação vem, pois, completar a 'trilogia' dedicada a uma das grandes figuras da televisão infantil portuguesa de finais dos anos 80 e inícios de 90, e que a porção mais velha dos leitores deste 'blog' provavelmente recordará como um dos seus ídolos de infância.

03.11.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Em 1989, o desconhecido grupo franco-brasileiro Kaoma inscrevia permanentemente o seu nome na lista de 'one-hit wonders' contemporâneos após o mega-sucesso da sua versão de uma música brasileira que, por sua vez, nada mais era que uma tradução ou localização (não autorizada!) de uma versão 'cover' da música 'Llorando Se Fue', do grupo boliviano Los Kjarkas. Ou seja, 'Lambada (Chorando Se Foi)' era, na sua base, uma versão de uma versão de uma versão do original de 1981! E porque poucas coisas com o nível de sucesso da referida música conseguem evitar o aparecimento de imitadores e 'cópias' fraudulentas, não tardou até que Portugal tivesse a sua própria versão do tema, a qual conseguia a proeza de ser uma 'cover' em quarto grau (!) da inspiração original dos Kaoma!

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Capa do primeiro álbum de 'Camuta'.

Tal facto está, no entanto, longe de ser a parte mais mirabolante da história de Camuta, que conseguiu a proeza de lançar três álbuns em inícios dos anos 90...sem nunca ter chegado a existir. Isto porque, por detrás do nome em causa escondia-se apenas um homem: Toy, figura mítica da música popular e 'pimba' portuguesa, recrutado pela Discossete para gravar 'às pressas' várias lambadas, com a voz disfarçada e cantando em 'brazuquês', como forma de capitalizar sobre o sucesso do original. E embora Toy surgisse ainda creditado, no interior do álbum, como autor de vários dos temas, a interpretação dos mesmos era atribuída ao fictício 'Camuta', uma designação sob a qual o cantor viria a lançar não só esse primeiro álbum, de 1989, mas um segundo (criativamente intitulado 'Lambada 2') no ano seguinte, e, em 1992, também um álbum de versões de músicas de telenovelas (como 'Tieta' ou 'Rainha da Sucata', que dava título ao disco) desta vez emulando a voz da lendária Fafá de Belém!

Um 'embuste' que, obviamente, apenas seria possível numa época da História bastante mais crédula e inocente, mas que, de algum modo, conseguiu permanecer intocado mesmo após o início da 'era da Internet', tendo sido o próprio Toy a assumir a farsa, primeiro em entrevista à revista VIP e, mais tarde, no fascinante documentário sobre o movimento 'pimba' produzido e exibido pela RTP. Só então quem, à época, tinha adquirido este álbum (provavelmente em 'cassette', num daqueles icónicos expositores existentes nas tabacarias, bombas de gasolina ou estações de serviço do Portugal dos anos 80 a 2000) ficou a saber ter em sua posse o equivalente a um disco 'pirata', (uma espécie de versão portuguesa dos grupos de Frank Farian ou Jonathan King) naquele que ainda hoje se afirma como um dos mais fascinantes 'truques' de 'marketing' da História da música portuguesa.

23.10.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Hoje em dia, o direito das crianças e jovens a serem tratados com justiça e equanimidade, e protegidos de abusos morais, físicos ou psicológicos, é um dado tão adquirido no seio da sociedade portuguesa (e do Mundo ocidental em geral) que é genuinamente surpreendente constatar que este paradigma é consideravelmente mais recente do que inicialmente se poderia pensar. De facto, foi apenas há exactos trinta e cinco anos que Portugal revogou o documento criado pela Organização das Nações Unidas no ano anterior, e que pretendia, precisamente, salvaguardar os cidadãos menores de idade contra um sem-número de situações a que estes se podiam, potencialmente, ver expostos, proporcionando-lhes um enquadramento legal no qual se resguardarem.

O calendário marcava, efectivamente, a data de 21 de Outubro de 1990 - dez meses depois de o País ter assinado o documento, e exactos trinta dias após o ter ratificado - quando as cerca de cinco dezenas e meia de estatutos e medidas delineadas na carta legal designada por Convenção Sobre os Direitos das Crianças entravam oficialmente e legalmente em vigor em Portugal, salvaguardando os menores de idade residentes no território nacional de situações de violência doméstica, tráfico, abusos psicológicos, repressão ou negligência, que passavam, a partir desse momento, a ser puníveis por lei. E apesar de esse tipo de acção não ter, infelizmente, desaparecido como consequência da carta em questão – nem em Portugal nem, infelizmente, em qualquer outro país do Mundo – a mesma ajudou, ainda assim, a garantir aos menores de idade o estatuto de sujeitos de direito (e jurídicos) aos olhos do Estado, atribuindo-lhes, senão paridade com os adultos, pelo menos um grau subtancial de protecção, de que até então não dispunham, e que viria a informar as )(até agora) três décadas e meia desde a sua assinatura. Razão mais que suficiente, pois, para celebrarmos nas nossas páginas (tantas vezes dedicadas a produtos ou programas dirigidos a crianças e jovens) o aniversário dessa marcante efeméride, que permitiu às gerações 'X' e 'millennial' viverem uma infância e adolescência seguras, alegres e despreocupadas.

21.10.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década

Ao falar de programas televisivos sobre música no Portugal dos anos 90, a referência é, obviamente, o 'Top +', o mais próximo a que a TV portuguesa chegava de uma MTV. No entanto, durante o longo período de 'vida' do referido programa, o mesmo partilhou tempo de antena com outros que, sem lograrem ser tão populares, procuravam compensar tal facto com abordagens ou características distintivas e originais. Já aqui falámos, por exemplo, do 'Pop Off', cujo foco se voltava para a música radiofónica de produção nacional, e iremos agora abordar outro programa, seu contemporâneo, e que se destacava ainda mais da norma estabelecida pelo 'Top +'.

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Isto porque 'Mapa Cor de Rock' não só era gravado em directo (e a partir de uma discoteca, a Number One do Porto, por oposição a um estúdio de televisão) como também dava aos seus artistas a oportunidade de tocarem verdadeiramente 'ao vivo', por oposição ao habitual 'playback' televisivo. Além disso, o espectro de estilos abrangido pelo programa era, também, mais vasto do que o habitual, permitindo a bandas e artistas com sonoridades menos aptas para as ondas radiofónicas terem alguns minutos de tempo de antena – uma comodidade tão valiosa quanto rara na era pré-digital e pré-TV Cabo. A título de exemplo, o programa teve episódios dedicados tanto aos 'metaleiros' Tarantula, V12 e Ibéria ou aos 'esquizóides' Mão Morta como a nomes mais convencionais Delfins, GNR, UHF, Rádio Macau, Jorge Palma ou Quinta do Bill

Esta junção de características permitia ao programa apresentado por José Manuel Pinheiro e seus três coadjuvantes – Joaquim Paulo, Bárbara C. Henriques e Maria João Cunha Gomes – desenvolver uma identidade muito própria, como faceta mais 'alternativa' da televisão musical portuguesa, mais centrada nas 'performances' do que nos 'videoclips', e atenta ao que de melhor se vinha fazendo no País, independentemente do género musical. É, pois, surpreendente que, além do curto tempo de antena de que desfrutou (pouco mais de vinte episódios) este programa seja tão pouco lembrado nos dias que correm – embora uma coisa possa bem ser função da outra. Cabe, pois, ao Anos 90 assegurar que, pouco mais de um mês após se celebrarem trinta e cinco anos sobre a sua estreia, é prestada a devida homenagem a um bloco que tentou fazer algo verdadeiramente original no tocante a programas de música em Portugal.

04.10.25

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 03 de Outubro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No início dos anos 90, o género da comédia romântica moderna (a chamada 'rom-com') não era, ainda, tão prevalente quanto viria a ser na segunda metade da década, e durante grande parte da seguinte. Já havia, é claro, exemplos do género, mas mesmo estes apresentavam moldes um pouco diferentes daqueles que viriam a formar a tão conhecida e bem-sucedida fórmula que levaria milhões de casais às salas de cinema durante os dez a quinze anos seguintes. Isto porque, apesar de o famoso 'boy meets girl' ter sido o cerne da ficção – cinematográfica e não só – durante séculos, muitas das obras criadas até finais do século XX incorporavam outros elementos além da tensão romântica, e punham muitas vezes mais foco nestes do que propriamente nas desventuras do 'casalinho' de serviço.

Um dos filmes que ajudaria a mudar esse paradigma, e a lançar o género da 'rom-com' como a maioria dos 'millennials' o viriam a conhecer, chegava às salas de cinema portuguesas há exactos vinte e cinco anos, a 4 de Outubro de 1990, e afirmava-se imediatamente como um sucesso tão retumbante no nosso País como já o havia sido internacionalmente. E não é difícil perceber porquê – afinal, quem não se deixaria cativar pela velha história do 'ricaço' que descobre e se apaixona por uma jovem de origens comuns, mas com um coração de ouro e personalidade a condizer?

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Sim, a história de 'Pretty Woman: Um Sonho de Mulher' mais não era do que uma variação do enredo de 'My Fair Lady', transposto da Inglaterra vitoriana para a América urbanizada, transformando o 'professor distraído' num 'yuppie' e a vendedora de flores numa prostituta, mas mantendo, de outra forma, a premissa-base do clássico musical. Para viver as personagens desta espécie de 'actualização não declarada' eram escolhidos o veterano 'bonitão' Richard Gere – então já com uma década como 'sex symbol' de Hollywood – e uma jovem de apenas vinte e um anos, de sorriso luminoso e longos cabelos frisados, de quem este filme faria uma das maiores estrelas do planeta durante pelo menos uma década. O seu nome? Julia Roberts, pois claro.

Curiosamente, e um pouco em linha com o pensamento veiculado no parágrafo inicial deste 'post', 'Um Sonho de Mulher' – que conta ainda com a participação de Hector Elizondo e Jason Alexander, o George Costanza de 'Seinfeld' - não tinha, inicialmente, sido pensado como romance, e muito menos como comédia; pelo contrário, a ideia inicial do argumentista J. F. Lawton era criar um drama sério e sombrio sobre a prostituição que então grassava em Los Angeles, um conceito que não podia estar mais longe do filme que acabou por 'ir a cena'. De igual modo, nem Gere nem (especialmente) Roberts teriam sido primeiras escolhas da equipa técnica, que queria Karen Allan no papel da prostituta Vivian (com as alternativas a passarem por Molly Ringwald, a 'menina do lado' dos anos 80, e ainda por nomes como Jennifer Connelly, Wynona Ryder, Drew Barrymore, Brooke Shields, Kristin Davis, Uma Thurman e Patricia Arquette), e havia considerado nomes tão díspares como Al Pacino, Christopher Lambert, Burt Reynolds, Daniel Day-Lewis, Kevin Kline, Christopher Reeve, Albert Brooks e até Denzel Washington ou Sylvester Stallone (!!) para o papel do galã. Se a ideia de um filme em que Michael Corleone, o Super-Homem ou o Rambo contracenam com a Poison Ivy de 'Batman e Robin' ou com a 'menina bonita' de 'O Clube' é por demais intrigante, a mesma terá, no entanto, de permanecer exclusivamente (e infelizmente) no campo da imaginação, já que todos esses actores rejeitaram o convite dos produtores, com mesmo Gere a só ficar totalmente convencido após conhecer Julia Roberts.

Como se costuma dizer, no entanto, 'há males que vêm por bem', já que os dois actores viriam a beneficiar largamente da sua participação no projecto, o qual – já depois de transformado numa trama leve e de cariz romântico – viria não só a afirmar-se como um dos maiores sucessos de sempre no seu género, como também a fornecer a matriz para duas décadas de filmes com cartazes de fundo branco e casais em poses ligeiramente 'marotas' ou divertidas – embora, na maioria dos casos, sem as alusões ao trabalho sexual que o original utilizava como base. Tivessem Lawton e os restantes elementos técnicos do filme seguido a sua ideia original, talvez o panorama cinematográfico dos anos 90 e 2000 tivesse sido significamente diferente, e talvez Gere e especiamente Roberts nunca tivessem conhecido o sucesso de que gozaram durante esse período. Tal e como existe, no entanto, 'Um Sonho de Mulher' é, sem dúvida, um marco do cinema americano moderno, totalmente merecedor de homenagem, quando se celebram trinta e cinco anos desde o dia em que apresentou ao público português as personagens de Edward Lewis e da 'mulher bonita' Vivian Ward.

03.10.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer 'nativo' dos anos 90 nacionais que se encontrasse, à época, em idade pré-adolescente não hesitará em apontar os brindes alimentares – das batatas fritas, cereais, Bollycaos, ovos de chocolate, bolachas ou iogurtes – como um dos grandes elementos nostálgicos da vida de então. Discretamente desaparecidos algures em inícios do Novo Milénio, aqueles objectos inseridos na própria embalagem do alimento em causa – e que se 'pescavam' de dentro do mesmo assim este era aberto, arriscando muitas vezes a higiene dos dedos – marcaram a infância de muitas crianças e jovens de finais do século XX, que ainda hoje os recordam com afecto e saudade. E se, para os 'millennials', estas recordações envolvem, sobretudo, os Tazos, Matutolas, Caveiras Luminosas e Pega-Monstros, os membros mais novos da Geração X têm também o seu próprio 'lote' de brindes saudososamente memoráveis, dos 'Tous' e 'Janelas Mágicas' do Bollycao às duas colecções de autocolantes que focamos neste 'post'.


Oferecida nas batatas fritas da Matutano logo em inícios da década de 90, a colecção de autocolantes luminosos de fantasmas constitui o epítoma do brinde mais 'simplista' da era pré-Matutazos, quando a criança média portuguesa era menos exigente neste aspecto, e apreciava apenas a oportunidade de ganhar uma pequena quinquilharia para colar ao caderno ou à mobília do quarto e ver brilhar sempre que as condições luminosas diminuíam. Porque era este o conceito dos Fantasmas Luminosos – nem mais, nem menos. Ao contrário da maioria dos seus sucessores, a colecção não trazia associado qualquer elemento competitivo, focando-se unicamente no instinto coleccionista da maioria dos jovens, na estética ao mesmo tempo 'fofinha' e apelativa dos trinta fantasmas que a compunham, e no elemento diferenciador da luminosidade.

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E a verdade é que a aposta foi ganha com distinção, figurando estes autocolantes entre os brindes favoritos de muitos portugueses hoje na casa dos quarenta a cinquenta anos, junto dos quais fez retumbante sucesso à época do lançamento. Tanto assim que a Matutano se viu motivada a lançar, dois anos depois, uma segunda série, agora com temática alusiva à vida selvagem, mas com o mesmo conceito-base. E se leões, águias, bisontes ou rinocerontes não encaixavam tão organicamente na mecânica do brilho no escuro como fantasmas, nem por isso a promoção Feras Luminosas deixou de ser apelativa ou de fazer sucesso junto do público-alvo, agora acrescido de crianças demasiado novas para recordar os fantasmas originais, e para quem esta era a primeira experiência de encontrar autocolantes luminosos nos pacotes de batatas.

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Duas colecções, em suma, que apesar de simples, retinham aquele apelo intemporal que só algo como os autocolantes consegue gerar junto do público infantil, a ponto de quase se poder dizer que, se lançados hoje, fariam exactamente o mesmo sucesso junto das gerações Z e Alfa que fizeram no tempo dos seus pais. Infelizmente, os brindes alimentares já de há muito desapareceram do quotidiano infantil português, tendo sido discretamente 'retirados de cena' algures na década de 2010, pelo que este cenário terá, forçosamente, de ficar remetido ao campo da conjectura. Certo é que, trinta e cinco anos após o seu aparecimento nos pacotes da Matutano, os Fantasmas Luminosos ocupam, ainda, lugar de destaque na memória nostálgica da parcela mais velha da geração 'millennial' portuguesa, e da metade mais nova da geração 'X', para quem continuam a ser um dos melhores brindes alimentares alguma vez veiculados no nosso País.

20.09.25

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 18 de Setembro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Qualquer membro da geração 'millennial' tem bem presente que os filmes baseados em bandas desenhadas apenas começaram a ser sucessos garantidos a partir do dealbar do Novo Milénio, quando os 'X-Men' de Bryan Singer revolucionaram o paradigma em termos de qualidade, e 'abriram a porta' àquele que, hoje em dia, talvez seja o género cinematográfico mais lucrativo e bem-sucedido. Para que se chegasse a esse ponto, no entanto, foi necessário passar por consideráveis 'dores de crescimento', sendo que, durante décadas, os fãs de 'comics' americanos nunca podiam saber o que esperar de cada nova adaptação cinematográfica, já que para cada mega-sucesso como o 'Batman' de Tim Burton havia outros quatro filmes que passavam despercebidamente para o mercado do vídeo, incapazes de concorrer com as mega-produções Hollywoodescas. O filme sobre o qual nos debruçamos nesta Sessão de Sexta (poucos dias após se terem completado trinta e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, a 14 de Setembro de 1990) fica a meio-caminho entre estas duas vertentes, tendo logrado ser um sucesso à época do seu lançamento, mas tendo caído no esquecimento quase generalizado nas três décadas e meia subsequentes.

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Falamos de 'Dick Tracy', adaptação da banda desenhada do mesmo nome, presença assídua nas páginas de BD dos jornais americanos, e que narra as desventuras do detective homónimo, reconhecível pela icónica gabardine amarela, na sua luta contra os mafiosos que regem a típica cidade dos anos 30 ou 40 onde vive. Um conceito mais na linha dos velhos livros de ficção barata do que propriamente dos super-heróis da Marvel e DC, mas que, ainda assim, apresenta semelhanças com séries como 'Batman', 'Sin City' ou 'Spirit', cujos filmes empregariam elementos estéticos a fazer lembrar os do filme em causa - o qual, no entanto, ficaria bastante aquém de qualquer deles em termos de impacto duradouro no Mundo cinematográfico.

Para os jovens cinéfilos daquele ano de 1990, no entanto, o filme trazia bastantes atractivos, da gama de cores da roupa dos personagens (a remeter intencionalmente aos tons vivos do Technicolor) até à presença de Madonna, então em alta, como interesse romântico do Tracy vivido pelo também realizador Warren Beatty, a participação de nomes como Al Pacino, Dustin Hoffman, James Caan ou Dick Van Dyke, ou mesmo apenas o apelo estético do icónico logotipo do personagem, que gerou alguma procura a nível de 'merchandise' alusivo ao filme imediatamente após a sua estreia.

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O elenco recheado de estrelas do filme.

Infelizmente, ao contrário de outros exemplos de que já aqui falámos, e apesar da 'parada de estrelas' que constituía o seu elenco a adaptação em 'carne e osso' de 'Dick Tracy' não logrou suster esse nível de interesse a longo-prazo, tendo-se rapidamente tornado 'apenas' mais um filme, mesmo enquanto a BD original continuasse de 'pedra e cal' nas páginas dos jornais. Ainda assim, numa altura em que se assinala um 'aniversário' marcante para o filme de Beatty, é justo homenageá-lo com estas singelas linhas, as quais (quem sabe?) talvez motivem quem ainda não conhece o filme – ou mesmo quem já o tenha visto – a procurar forma de o (re)ver nos tempos modernos...

12.09.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 11 de Setembro de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A existência (ou não) de vida inteligente em outros corpos galácticos que não apenas a Terra tem, pelo menos desde há dois séculos, exercido um fascínio considerável sobre grande parte da população Mundial, não sendo Portugal excepção à regra. A dificuldade em explicar certos eventos a nível cognitivo, aliada à tendência muito humana para extravasar e extrapolar acontecimentos, leva a que muitos indivíduos um pouco por todo o Mundo acreditem na existência de raças extraterrestres, capazes de se deslocar pelo espaço em veículos mecanicamente muito mais avançados do que os tradicionais carros e, assim, visitarem outros planetas, entre eles a Terra. E ainda que continuem a existir poucas ou nenhumas provas de que seja este o caso (e nenhuma delas conclusiva) a verdade é que, uma vez por outra, ocorre algo que se afigura verdadeiramente difícil de explicar racionalmente. Um desses eventos, sobre o qual se celebraram há poucos dias exactos trinta e cinco anos, teve lugar numa improvável aldeia do interior de Portugal, onde várias pessoas afirmaram ter avistado um Objecto Voador Não Identificado (OVNI), naquele que permanece, até hoje, o mais significativo evento ligado à vida extraterrestre a ter ocorrido no nosso País.

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Uma das quatro fotos existentes do OVNI de Alfena, conhecido como a 'Medusa' devido à sua forma.

Foi às oito e meia da manhã do dia 10 de Setembro de 1990 que diversos habitantes da aldeia de São Vicente de Alfena, no concelho de Valongo, na Área Metropolitana do Porto, afirmaram ter avistado um objecto estranho no céu, o qual permaneceria sobre a aldeia durante cerca de cinquenta minutos, ora estático, ora em movimento. Fotografias tiradas por uma das testemunhas, e autenticadas tanto pela NASA como pela Kodak, mostrariam tratar-se de um objecto esférico e com apêndices a fazer lembrar patas ou tentáculos, configurando uma aparência algures entre a de um disco voador estereotipado e a do organismo marinho conhecido como medusa, nome pelo qual ficou informalmente conhecido.

Esta prova foi, desde logo, considerada suficiente para dar início a uma investigação internacional sobre o incidente, e a pacata aldeia nortenha via-se assim, de um dia para outro, no epicentro de uma pesquisa digna dos 'Ficheiros Secretos', que envolvia agências francesas e americanas, além de vários laboratórios nacionais, na tentativa de discernir a natureza e origem do objecto, tendo a ocorrência chegado mesmo a ser tema de um episódio de uma série sobre eventos ligados ao contacto extraterreste produzida pela National Geographic. E ainda que a maioria das pesquisas tenha sido inconclusiva, os cientistas conseguiram, ainda assim, concluir que o objecto não se assemelhava a qualquer dispositivo aéreo conhecido e que pudesse ajudar a explicar o mistério, como uma sonda ou um balão metereológico. Tendo o evento tido lugar décadas antes da comercialização em massa de 'drones' teleguiados, o objecto no céu de Alfena permaneceu, assim, impossível de identificar, acabando por ser 'arquivado' na memória popular como mais uma prova de que existe algo mais na vastidão do espaço, que talvez procure estabelecer contacto com os habitantes de outros planetas ou, no mínimo, visitá-los – algo que qualquer habitante de São Vicente de Alfena presente naquela manhã de Setembro há trinta e cinco anos decerto não terá qualquer problema em corroborar...

23.07.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Apesar de o balanço de poder no panorama político português se vir mantendo mais ou menos estável desde a implementação da democracia liberal no pós-25 de Abril, tal não invalida que, paulatinamente, novas caras e forças procurem deixar a sua marca na governação do País. Infelizmente, salvo muito raras excepções (a principal das quais já aqui abordada) esses partidos acabam por ter uma expressão muito reduzida – para não dizer mínima, ou mesmo nula – e por se remeter rapidamente à obscuridade do fundo do boletim de voto, e à esperança que haja alguém disposto a apostar neles a cada novo acto eleitoral. O grupo de que falamos neste post – a poucos dias daquele que seria o trigésimo-quinto aniversário da sua fundação – não foi, de todo, excepção a esta regra, tendo, antes pelo contrário, constituído um exemplo perfeito da trajectória da maioria das iniciativas deste tipo.

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Surgido a 26 de Julho de 1990, pela mão de Manuel Sérgio, o Partido da Solidariedade Nacional até conseguiu alguma tracção no seu primeiro acto eleitoral (o de 1991) muito graças ao efeito conjunto do 'factor novidade' (sempre apelativo para uma população sedenta de alternativas políticas) e de um programa eleitoral explicitamente focado nos reformados, uma das camadas populacionais que tradicionalmente mais sofre com a falta de medidas e apoios estatais. De facto, apesar de a percentagem de voto no novo partido se ter saldado em pouco mais de 1.6%, tal foi, ainda assim, suficiente para garantir ao fundador e presidente um lugar na Assembleia da República – um feito que não deixa de ser notável para um partido recém-fundado.

Este auspicioso início não teria, no entanto, continuidade em eleições subsequentes, tendo a 'fama' do PSN sido 'sol de pouca dura'. De facto, em apenas quatro anos, o partido perdeu quase 1.4% dos seus eleitores, ficando os dois outros actos em que participou, em 1995 e 1999, marcados por uma adesão de apenas 0.2%, percentagem que deixava o grupo de Manuel Sérgio fora dos lugares da Assembleia. Nada que impedisse o Presidente do partido de sonhar alto, no entanto, tendo-se Sérgio apresentado como candidato a Eurodeputado em ambos os actos eleitorais para o Parlamento Europeu, em 1994 e 1999; escusado será dizer que nenhuma das duas campanhas rendeu quaisquer frutos, tendo a representação portuguesa naquele organismo ficado a cargo de nomes com bastante maior projecção. A Manuel Sérgio, restava apenas regressar ao 'rame-rame' da política em pequena escala, do qual não lograria tornar a sair durante a meia década de vida que restava ao PSN.

De facto, logo nos primeiros dias do ano de 2006, o partido fundado pouco mais de uma década e meia antes viria a ser oficialmente dissolvido, assumindo o falhanço da sua tentativa de encontrar o seu espaço numa cena política já demasiado formatada e bipartida para acolher partidos de tão pouca expressão. A breve passagem de Manuel Sérgio e do Partido da Solidariedade Nacional pela política portuguesa salda-se, pois, em apenas mais uma de tantas 'notas de rodapé' já anexadas a esse mesmo panorama, e cujo número vem continuando a crescer até aos dias de hoje: afinal, a esperança é a última a morrer, e qualquer bom político tem um quê do idealismo e vontade de mudar o Mundo que, em 1990, tinham Manuel Sérgio e o seu PSN...

25.06.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 24 de Junho de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

De entre todos os 'veteranos' da televisão portuguesa de finais do século XX, um, em particular, destacava-se pela sua capacidade de comunicar com as crianças e jovens ao seu nível, sem paternalismos, bem como de criar formatos televisivos apelativos para essa mesma demografia, que ele próprio se encarregava de apresentar. Falamos, claro, de Júlio Isidro, o já então 'decano' dos pequenos ecrãs (levava, à época, quase três décadas de actividade) responsável por clássicos infanto-juvenis em décadas anteriores (de 'O Passeio dos Alegres' a 'Clube Amigos Disney') e que, à entrada para os últimos dez anos do Segundo Milénio, procurava manter esse estatuto com mais um formato com tudo para agradar ao seu público-alvo. É desse programa, sobre cuja se celebram na próxima semana trinta e cinco anos, que falamos nas linhas abaixo.

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Na linha de propostas semelhantes da mesma época, mas mais ambicioso do que estas, 'Oito e Oitenta' propunha um conceito mais baseado na perícia, destreza e habilidade do que nas capacidades mentais ou conhecimentos, destacando-se assim, desde logo, da concorrência. As equipas participantes eram formadas por alunos de dois estabelecimentos de ensino distintos e sem qualquer relação entre si, que se 'degladiavam' em confronto directo pela oportunidade de ganhar os habituais prémios patrocinados, neste caso pela Coca-Cola. Por entre provas, havia também lugar aos quase obrigatórios momentos musicais, protagonizados pelos artistas mais 'na berra' (os GNR, por exemplo, partilharam nas redes sociais um vídeo da sua actuação no programa).

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Uma fórmula, portanto, que tinha tudo para agradar à demografia a que apontava, mas que, infelizmente, acabou por não ir além dos treze episódios (o equivalente a uma 'temporada', em termos televisivos) nem tendo chegado a terminar o ano no ar – um desempenho desapontante, numa época em que os concursos ficavam no ar durante períodos bastante mais prolongados, e que terá deixado o veterano Isidro a ponderar o que havia corrido mal; felizmente, a carreira do apresentador não viria a sofrer em consequência desta aposta menos ganha, continuando o mesmo a entreter os espectadores portugueses até aos dias de hoje. Já 'Oito e Oitenta' permanece 'eternizado' nos Arquivos RTP, pronto a ser 'redescoberto' por quem na altura o via - ou quem não sabia da existência, mas ficou interessado após ler as linhas acima...

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