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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.09.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

As décadas de 80 e 90 representaram a chegada ao Ocidente, e respectiva expansão na popularidade, de um género televisivo e filmográfico já com cerca de década e meia de vida no seu país natal do outro lado do Mundo, à época designado 'Japanimação' e mais tarde conhecido pelo seu nome original: 'anime'. E se, em anos vindouros, este género viria a contribuir com uma mão cheia de clássicos absolutos para a juventude da geração 'millennial' – do inigualável fenómeno que foi Dragon Ball Z a séries tão nostálgicas como Samurai X, Navegantes da Lua ou Doraemon – os seus primeiros passos, embora mais modestos, também não foram, de todo, falhos em séries marcantes, bastando para esse efeito referir Esquadrão Águia, Capitão Falcão (mais tarde 'Oliver e Benji) ou Cavaleiros do Zodíaco.

A juntar a estas séries há, ainda – sobretudo para os 'millennials' mais velhos – uma outra, que iniciava há quase exactos trinta anos a sua terceira e última transmissão em Portugal e que, apesar de ficar ligada, sobretudo, à década anterior, ainda chegou a tempo de influenciar a grande maioria dos 'putos' lusitanos de inícios de 90; e, tal como sucede com alguns dos outros programas de que aqui falamos, este é daqueles casos em o primeiro passo tem, forçosamente, de passar pela partilha do tema de abertura.

Por esta altura, muitos dos nossos leitores já estarão, decerto, a cantar a plenos pulmões a letra...

Isto porque – apesar de notoriamente incompleta – a música introdutória (adaptada, como em tantos outros casos, da versão espanhola, e cantada por Francisco Ceia) é, sem qualquer dúvida, o elemento identificativo mais icónico de As Aventuras de Tom Sawyer (ou apenas Tom Sawyer), a adaptação livre, em formato animado, do famoso livro infantil do século XIX, da autoria de Mark Twain. Composta de cerca de cinquenta episódios, originalmente produzidos em 1979 e lançados no inícios do ano seguinte (tendo passado a quase totalidade de 1980 em exibição na televisão japonesa), a série chegaria a Portugal logo de seguida, sem a 'décalage' cultural habitual à época, indo pela primeira vez ao ar na RTP1 entre 1981 e 1982, já em versão dobrada, num exemplo de celeridade pouco habitual naqueles anos pré-digitais.

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Imagem promocional da série.

Escusado será dizer (pelo menos a quem faz parte da faixa de leitores deste 'blog') que a série se revelou um sucesso imediato, tendo marcado os jovens portugueses da 'Geração X' – sobretudo, como já referimos, através do seu icónico tema de abertura – e justificando a repetição, já no fim da década, com o intuito de a apresentar a quem não tinha tido oportunidade de a ver da primeira vez. Seria, assim, entre Março de 1989 e Fevereiro de 1990 que os 'millennials' tomariam, pela primeira vez, contacto com o 'anime' que fizera as delícias dos seus irmãos mais velhos anos antes, e que tornaria a 'repetir a dose' com a nova geração – tanto assim que viria ainda a ser exibida uma terceira vez, há cerca de trinta anos, novamente no então Canal 1, e com a mesmíssima dobragem realizada mais de uma década antes pela Nacional Filmes.

Esta última transmissão seria, no entanto, o 'canto do cisne' para Tom Sawyer, um desenho animado que, embora icónico, já pertencia, nessa época, a uma outra 'era' televisiva, algo distante dos produtos que vinham 'enlouquecendo' os jovens daqueles inícios dos anos 90. Para as crianças da década transacta, no entanto – tanto as que haviam seguido a transmissão original como as que tinham 'saltado a bordo' aquando da segunda exibição – a série é, ainda hoje, um dos principais pontos de referência nostálgicos ao falar da infância em Portugal em finais do século XX, ao nível dos referidos Dragon Ball Z e Navegantes da Lua, ou ainda de séries como Dartacão ou Power Rangers. E nunca é demais repetir que grande parte dessa fama se deve à lendária canção de abertura, sem a qual esta adaptação animada de um clássico da literatura talvez tivesse passado tão despercebida quanto as suas congéneres posteriores alusivas a Mogli, Zorro, Cinderela ou Robin dos Bosques – mais um testamento, caso ainda fosse necessário, do poder de um bom tema de abertura; e, no que toca à televisão infantil portuguesa, este talvez seja 'O' tema de abertura, mais icónico ainda do que 'Dragon Ball, de puro cristal', 'Vive a vida, como uma festa', 'Dartacão, Dartacão!' ou mesmo 'Eu quero ser, mais que perfeito, maior do que a imaginação'. Razão mais que suficiente para o recordarmos, e à série que introduzia e ajudou a tornar memorável. 'Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer...'

Sim, existe uma letra completa...

 

25.06.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Por muitas mudanças que o futebol português sofra ao longo das décadas e séculos – com remodelações no formato dos campeonatos ou a adição de novas competições – uma constante se mantém imutável: a Taça de Portugal, último troféu do ano para os clubes portugueses, que tanto pode constituir 'mais um' galardão para a vitrine como a última oportunidade de conseguir 'salvar' uma época, para clubes a quem a temporada tenha corrido menos bem. Isto, claro está, além daquelas ocasiões em que 'há Taça', e em que um clube mais pequeno consegue eliminar um claro favorito (o chamado fenómeno 'tomba-gigantes') ou até atingir as fases finais da competição. E apesar de este ser um fenómeno relativamente raro, uma final entre dois emblemas de menor expressão no futebol português, ou que não insiram nos três ou quatro 'grandes', não é, de todo, inédita, antes pelo contrário; de facto, só na década de 90, aconteceu duas vezes, uma no final da temporada 1998/99 com Beira-Mar e Campomaiorense como protagonistas e da qual já aqui falámos anteriormente, e outra, logo no início da década, com outros dois históricos do futebol luso em confronto directo.

Falamos da primeira final da Taça dos anos 90 (ou última dos anos 80, conforme o ponto de vista), cuja finalíssima seria disputada há pouco mais de vinte e três anos, no habitual palco do certame – o Estádio Nacional do Jamor, nos arredores de Lisboa - e veria o Estrela da Amadora levar de vencida o Farense de Paco Fortes por 2-0, após empate a uma bola na primeira mão. E porque, por ocasião do aniversário dessa partida, preferimos focar a carreira de Ricardo Sá Pinto, emendamos agora essa omissão, dedicando algumas linhas a mais esse momento histórico do futebol português.

Para quem tinha idade suficiente para ter sido adepto, nenhum destes dois clubes será, de todo, desconhecido; pelo contrário, tanto o Estrela de João Alves como o Farense treinado por Paco Fortes trarão, de imediato, memórias relacionadas com alguns dos mais reconhecíveis e históricos jogadores do futebol nacional daquela época – alguns dos quais acabaram, mesmo, por atingir mais altos vôos, como o referido Paulo Bento ou ainda o guardião Lemajic, do Farense, ambos os quais se tornariam reforços do Sporting Clube de Portugal em épocas vindouras, com o guardião a representar ainda, antes disso, outro histórico, o Boavista, e Bento o 'rival' lisboeta dos leões, o SL Benfica. O médio (então com apenas vinte anos) seria, aliás, um dos destaques deste jogo, a par do influente e irrequieto Baroti, ao conseguir um golo de antologia, num remate de primeira de fora da área que seria o momento do jogo, não fosse o outro golo, uma 'chapelada' primorosa obtida por outro então jovem, o avançado Ricardo. Outros dos nomes instantaneamente reconhecíveis e presentes em campo naquela tarde de Verão de 1990 incluíam Pedro Barny e Bobó (que acabaria expulso) do lado do Estrela, e Formosinho e Nelo pelo Farense.

E porque o vencedor da Taça de Portugal tem acesso directo à principal competição europeia (então conhecida como Taça dos Vencedores das Taças), o Estrela teve ocasião de adicionar também essa honra ao seu historial logo na época seguinte; tal como sucederia com o Beira-Mar meia década mais tarde, no entanto, também o conjunto de João Alves não almejaria grandes 'surpresas' na competição, sendo excluído logo na segunda eliminatória pelos belgas do RFC Liège. Ainda assim, um momento histórico para os amadorenses, e que apenas cimentaria a sua reputação junto dos adeptos lusos.

Ambos os clubes continuariam, aliás, a ser figuras frequentes no mais alto escalão do futebol português ao longo da década seguinte, antes de o Novo Milénio trazer um revés nas fortunas de ambos, que os 'atiraria' para as divisões inferiores; numa altura em que, pela primeira vez desde aquele tempo, os dois clubes competirão juntos no principal campeonato lusitano, nada melhor do que recordar o mais histórico de todos os encontros entre os dois, disputado quando ambos se encontravam no seu auge, e que entra, merecidamente, para o panteão de jogos lendários do futebol português moderno.

Resumos televisivos de ambos os jogos transmitidos à época.

 

13.03.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de 80 foi a época dos grandes heróis de acção, capazes de resolver conflitos por si só, à força de murros, balas e explosões; dos ex-soldados normalmente interpretados por Schwarzenegger e Stallone (ainda longe da sua fase como actores de comédia) aos mercenários do Esquadrão Classe A ou artistas marciais como os vividos por Van Damme, eram muitos os ídolos musculados à disposição dos 'putos' daquela época. No entanto, a estes 'brutamontes' de bom coração, contrapunha-se uma outra vertente de herói, mais 'cerebral' e capaz de escapar de situações complicadas usando a inteligência e espírito de 'desenrasca', que tinha como símbolos máximos o James Bond de Timothy Dalton e mais tarde Pierce Brosnan, e o homem de que falamos esta semana, o lendário Angus MacGyver, protagonista da série com o mesmo nome.

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Surgido nos ecrãs portugueses no ocaso da década de 80 – mais concretamente a 24 de Setembro de 1989 – o lendário agente secreto vivido por Richard Dean Anderson rapidamente se destacou da 'concorrência' pela sua extraordinária capacidade de resolver qualquer situação apenas com recurso ao seu canivete suíço e a objectos presentes nas suas imediações, sendo o exemplo 'memético' normalmente utilizado o de abrir uma fechadura com um 'clipse'. E, enquanto 'solucionador de problemas' da agência governamental american Phoenix, a verdade é que não faltam oportunidades para MacGyver testar o seu engenho, e derrotar os diversos vilões que se atravessam no seu caminho sem nunca recorrer a armas de fogo, às quais tem aversão devido a uma tragédia pessoal.

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O carismático Richard Dean Anderson dava vida ao agente americano.

O resultado são cenas de acção e peripécias capazes de deixar os espectadores da época – sobretudo os mais novos – 'colados' ao sofá, a ver como as 'MacGyvaradas' do agente o vão ajudar a ultrapassar o obstáculo da semana. E apesar de a série, já na altura, não ser 'topo de gama' a nível da produção, a verdade é que as 'acrobacias' de Anderson, juntamente com uma actuação personalizada (e, claro, um DAQUELES genéricos absolutamente lendários) davam à série um charme que lhe valeu o estatuto de 'culto' em vários países, entre eles Portugal, por onde 'MacGyver' teve uma passagem curta, mas memorável – embora não bem-sucedida o suficiente para justificar a transmissão dos dois filmes televisivos alusivos ao agente, produzidos em 1994.

Facto curioso: quase nos esquecíamos de mencionar este clássico absoluto  dos genéricos televisivos neste post; felizmente, ainda nos lembrámos a tempo...

Ainda assim, foi com naturalidade que 'MacGyver' entrou, em décadas subsequentes, na rotação nostálgica de canais como a RTP Memória, onde a série repetiu, não uma, mas duas vezes, em 2010 e 2019. Falta de 'material' original para exibir por parte da emissora estatal, ou prova do carinho de que a série continua a gozar no nosso País? Que diga de sua justiça quem, nos anos formativos, se sentou em frente à televisão aos Domingos, pelas 19 horas, para ver um homem arrombar uma porta trancada com um 'clipse' e um bocado de pastilha elástica...

 

15.02.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os jogos de computador e consola eram, nos anos 90, um mundo completamente diferente do que são hoje em dia; dito assim, pode parecer um lugar-comum perfeitamente óbvio, mas a verdade é que a maioria dos 'gamers' de hoje em dia – e até muitos dos que conheceram esse mundo já na metade final da década – tendem a não ter a perspectiva de exactamente QUÃO acentuados foram os avanços tecnológicos no campo da programação informática durante os últimos anos do século XX. Prova disso mesmo é que, na mesma época em que jogos como Tomb Raider e Final Fantasy VII revolucionavam indelevelmente o mercado dos jogos de computador e consola, muitos de nós continuavam a perder horas esquecidas em frente a algo com este aspecto:

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Sim, o mítico Elifoot – o precursor de Championship Manager criado em 1987 por um português, André Elias, e cuja sequela, lançada dois anos depois, se viria a tornar, nas quase quatro décadas subsequentes, um dos títulos de 'shareware' mais famosos e saudosamente recordados de sempre.

Para quem já passou nem que fossem uns minutos com o referido Championship/Football Manager (ou títulos semelhantes como o 'esquecido' Premier Manager) Elifoot 2 parecerá básico ao ponto de ser constrangedor. Longe das nuances táctico-financeiras do 'franchise' da Eidos (ou mesmo do mais simples mas ainda assim intrincado sistema da série da Gremlin Interactive) o jogo apresenta a simulação futebolística reduzida à sua expressão mais básica: compram-se jogadores (utilizando a avançadíssima táctica negocial de lhes oferecer um ordenado cinco vezes maior do que o que exigiam), espera-se que os outros não comprem melhores, escolhe-se uma táctica no ecrã de jogo, ao intervalo fazem-se duas substituições, e pouco mais. Existe uma tentativa de abordar outros aspectos inerentes ao trabalho de um treinador – é possível renegociar contratos, expandir as instalações do estádio ou verificar a saúde das finanças do clube – mas tudo é apresentado de forma tão directa e simplista que estes aspectos acabam por nunca aprofundar especialmente a jogabilidade. Uma espécie de 'versão Fisher-Price' dos jogos de estratégia futebolística, portanto, que oferece muito pouco para satisfazer o treinador virtual moderno.

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O sistema de leilões extremamente simplista permitia comprar qualquer jogador para qualquer clube ou divisão, desde que se oferecesse o ordenado mais alto de entre todas as propostas, resultando em contratações perfeitamente mirabolantes

Não era, no entanto, ao 'gamer' calejado por anos de simuladores de futebol que Elifoot 2 se dirigia; todo o aspecto e interface do jogo parece pensado para permitir que trabalhadores de escritório aborrecidos possam fazer uma 'jogatina' 'à sorrelfa' nos computadores da empresa, sem que os chefes se apercebam que as letras amarelas sobre fundo preto nos ecrãs dos subalternos não são de uma base de dados ou folha de computação. O jogo não é, nem pretende ser, CM ou FM; trata-se, conforme já foi referido, de um precursor de ambos, um pioneiro do género dos simuladores futebolísticos, que viria a estabelecer algumas das bases do género para anos vindouros - como a possibilidade de inclusão de vários jogadores num sistema de turnos, que o Championship Manager original não possuía. E, desse ponto de vista, Elifoot não pode ser considerado nada menos do que um sucesso.

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Neste ecrã, só havia uma opção possível: 'Alt + F12 - Seleccionar Melhores' - nem que com isso se acabasse com uma equipa constituída exclusivamente por pontas-de-lança...

De facto, houve pouco quem, durante os anos 90, não pusesse de lado os outros 'managers' para, durante umas horas, se entreter a artilhar a equipa do Felgueiras ou Leça com uma frente de ataque composta por Cadete e Acosta, permitindo-lhe assim 'levar tudo à frente' na quarta divisão portuguesa, e ser promovido à seguinte com vinte pontos de avanço sobre os adversários. Apesar de declaradamente simples, sobretudo graficamente – demasiado simples, pensar-se-ia, para atrair um público cada vez mais habituado a avaliar a qualidade de um jogo com base nos seus aspectos visuais – o título de André Elias 'caiu mesmo no gosto' dos jovens portugueses, tornando-se um dos poucos lançamentos 'dos primórdios' da informática noventista a ainda ser amplamente jogado e apreciado entre o público-alvo quase uma década depois.

De facto, a influência do jogo foi tanta que quem perguntar a um 'gamer' fã de futebol daquela época pelos nomes de alguns dos jogos clássicos da sua juventude, certamente verá este título aparecer entre as primeiros menções da lista. Fosse pelo orgulho de ter uma produção nacional com tal qualidade, fosse pelo factor vício (que o título possui, e a um nível considerável) ou mesmo pela 'novidade' de poder o Leça, Felgueiras, Salgueiros e Campomaiorense em vez dos habituais 'gigantes' europeus, o jogo foi mesmo um sucesso – e, a julgar pela sua procura nos dias que correm, continua a ser.

De facto, desde os seus anos áureos de gravação e distribuição em disquetes nos pátios de escolas de Norte a Sul de Portugal, a série Elifoot não parou de crescer, primeiro através das habituais versões modificadas (que substituíam as equipas portuguesas por emblemas do Brasil, o outro país onde o título fez história, ou mesmo da Liga dos Campeões) através da 'sequela melhorada' Elifoot 98 – que aproximava o título da estética Championship Manager, sem sacrificar a sua identidade – e, já no século XXI, através de uma versão para o telemóvel, que permite recriar toda a emoção daquelas partidas virtuais da infância a partir do bolso, e a qualquer momento.

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As versões mais recentes de Elifoot já se aproximam bastante dos títulos mais bem sucedidos do género, e parecerão certamente familiares a quem já os tenha jogado.

E apesar de nenhuma destas inovações ter tido o sucesso do original ou da sua ainda mais popular sequela, a verdade é que qualquer uma delas demonstra que, pelo menos da parte do público português, o apetite por Elifoot continua bem vivo; de facto, este mítico e aparentemente imortal jogo continua, ainda hoje, a ser produzido, datando a versão mais recente de 2020 - uma prova de que, por vezes, os conceitos mais bem sucedidos são mesmo os mais simples...

Querem recordar o Elifoot 2? Cliquem aqui! E cliquem aqui para saber como editar as equipas e plantéis do jogo, para criarem a vossa versão de sonho.

 

08.06.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Só a música já deve ter feito a maioria dos leitores deste blog viajar no tempo até aos primeiros anos da década a que este blog diz respeito -altura em que estreava, no principal canal televisivo português, um dos melhores programas infantis da história da televisão nacional.

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Uma adaptação localizada do (também universalmente bem recebido e recordado) original americano, a versão portuguesa da ‘Rua Sésamo’ chegava á RTP1 em 1989, mesmo a tempo de ensinar as primeiras letras, números e conceitos de cidadania a toda uma geração de crianças. Constituído por uma mistura de segmentos ‘made in Portugal’ – basicamente todos os que se passavam no espaço da Rua Sésamo propriamente dita, e ainda algumas das animações – com dobragens dos ‘sketches’ originais da Jim Henson Creature Workshop, o programa gozava de uma produção cuidada, claramente feita com amor, e de uma equipa criativa composta por grandes nomes da literatura e televisão infanto-juvenis da época. O resultado final era um programa, previsivelmente, de enorme qualidade, e que não tardou a capturar a imaginação do público-alvo.

O talento, no entanto, não se ficava pela equipa técnica; os dobradores, bonecreiros e actores da série estavam, também, entre os melhores em solo nacional, sendo que o elenco de ‘carne e osso’ contava com uma mistura de actores consagrados, como Fernanda Montemor, e nomes que se viriam a tornar clássicos da televisão portuguesa em anos subsequentes, como Alexandra Lencastre, Vítor Norte ou José Jorge Duarte. No entanto, e apesar destes grandes nomes, as verdadeiras ‘estrelas da companhia’ eram os bonecos Poupas e Ferrão, adaptações portuguesas do Big Bird e Oscar the Grouch americanos, a quem, a partir da segunda série do programa, se juntaria um terceiro elemento, a dengosa Gata Tita.

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O elenco do programa contava com estrelas tanto presentes como futuras.

Na ‘outra parte’ do programa, eram também os emblemáticos personagens de Jim Henson quem mais captava a atenção do público-alvo, com destaque para Cocas, o Sapo, o frenético e exagerado ‘drama king’ Gualter, o esfomeado Monstro das Bolachas, e a impagável dupla Egas e Becas, companheiros de casa em modo ‘inimigos inseparáveis’ cujos segmentos eram os únicos sem propósito educativo, tendo apenas como finalidade fazer rir - e conseguiam-no, com louvor!

Quem não se lembrou imediatamente desta vinheta assim que viu o nome do Egas e do Becas, não deve ter boa memória...

Um personagem, entretanto, primava pela ausência – e logo o mais famoso de todos os bonecos da versão original. Pois é, a versão nacional da ‘Rua Sésamo’ nunca teve Elmo – e haverá quem diga que os miúdos portugueses tiveram sorte nesse aspecto…

Parte do sucesso do programa devia-se precisamente ao facto de tratarem o seu público com respeito, nunca forçando a vertente educativa, e fornecendo-lhes material adequado à idade e aprendizagens, mas que simultaneamente puxava pela imaginação e incentivava à curiosidade, sem nunca se tornar lamechas - um feito apenas à altura da equipa de ‘craques’ pedagógicos a cargo da adaptação. Foi, em parte, esta abordagem frontal e honesta que permitiu ao programa manter-se no ar durante espantosos sete anos, sem nunca deixar de ter a mesma recepção calorosa e interessada por parte das crianças que a acompanhavam, e chegando mesmo a ser referenciada no titulo de uma música punk de intervenção (!) Em suma, a ‘Rua Sésamo’ é daqueles programas com estatuto de clássico tanto entre as crianças da altura como entre os seus pais – e que o justifica plenamente, em ambos os casos.

Não, não estávamos a inventar aquilo da malha punk de intervenção...

Como não podia deixar de ser, um programa com este grau de popularidade abria vastas oportunidades de mercado, e não tardaram a começar a aparecer nas prateleiras das lojas produtos com a chancela ‘Rua Sésamo’. Muitos destes, como a maioria os livros e algumas das cassettes VHS, eram simples importações directas e traduzidas de material pré-existente no mercado norte-americano, com os correspondentes personagens de ‘cores erradas’ e cenários nova-iorquinos; no entanto, havia também um grande número de produtos totalmente concebidos em Portugal, dos quais os mais memoráveis talvez sejam os discos de ‘Canções da Rua Sésamo’, cujo sucesso justificou vários volumes.

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Alguns dos muitos produtos alusivos ao programa comercializados em Portugal na época, tanto com os personagens portugueses como americanos

Um produto, no entanto, destaca-se dos demais, não só pela sua qualidade ‘à parte’ como também por ter sobrevivido como elemento independente do programa que o originara. Falamos, é claro, da revista com o mesmo nome, talvez o melhor exemplo de revista de passatempos e variedades para um público infantil alguma vez criada em Portugal.

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Alguns dos muitos números da revista 'Rua Sésamo', um complemento de enorme qualidade ao programa televisivo

Mantendo-se fiel ao conceito do programa, a revista trazia passatempos, jogos e pequenas histórias que permitiam às crianças assimilar conhecimentos e desenvolver competências de um modo divertido e cativante, bem como um 'Guia Para Pais e Educadores', que procurava explicar os valores e competências que cada segmento da revista e do programa procurava transmitir, e sugeria actividades complementares para os próprios educadores realizarem com as crianças. Não admira, portanto, que a revista tenha sido um êxito quase tão grande como o programa, e seja hoje lembrada com tanto carinho quanto este, tanto pelas crianças a quem se dirigia como pelos seus pais.

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O programa chegou a ter honras de capa na revista 'TV Guia'

Em suma, a ‘Rua Sésamo’ portuguesa foi daqueles raros programas em que tudo foi bom, do início ao fim. Enquanto a congénere americana continua a debater-se em estertores cada vez mais comerciais, desvirtuando assim o seu legado, a congénere lusa soube quando parar, e conseguiu por isso manter fiel um público que, entretanto, talvez tivesse já crescido demasiado para ainda gostar de um programa expressamente dirigido à faixa etária dos três a sete anos. De facto, essas mesmas crianças ainda hoje relembram com nostalgia o programa – que certamente já terão feito questão de mostrar aos próprios filhos. Se esse ainda não foi o caso, deixamos abaixo o primeiríssimo episódio na íntegra, como ponto de partida para o 'aprendizado' dos gaiatos; e caso não tenham filhos, aproveitem e revivam vocês próprios as memórias daqueles bons tempos a rir e a aprender com o Poupas, o Ferrão e os restantes personagens que nos eram tão queridos…

 

 

 

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