26.12.22
NOTA: As informações contidas neste 'post' têm por base dados recolhidos do 'blog' Topdisco.
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
Numa altura em que a época natalícia está oficialmente encerrada (ou quase) e em que se caminha a passos largos para o final de mais um ano, achámos por bem embarcar na habitual maré de estimativas, listas e somatórios totais de tudo e mais alguma coisa, ainda que, naturalmente, com o nosso próprio traço distintivo - no caso, o facto de estarmos a analisar os 'tops' musicais nacionais não do ano que ora finda, mas de há, respectivamente, três décadas e um quarto de século (1992 e 1997).
Como se poderá decerto imaginar (sobretudo se se viveu a respectiva era temporal) ambas estas listas são significativamente diferentes, não só das actuais, mas até mesmo entre si; numa época em que a passagem de meia dúzia de anos implicava tendências por vezes diametralmente opostas, não é, de todo, de admirar que as mesmas se reflictam no tipo e volume de discos vendidos nos dois anos em análise. O que, sim, surpreende, são certas outras 'nuances' que se percebem ao analisar os 'tops' lusos de finais do século XX, e que talvez se afirmem como inesperados para os membros mais novos ou distraídos da geração daquele tempo.
O top de 1992, por exemplo, revela a força e influência que a música portuguesa tinha naquela que era uma das suas épocas áureas - suficientes, neste caso, para fazer com que o colosso 'Nevermind', dos Nirvana, fosse destronado não por um, mas por DOIS lançamentos nacionais, que tomavam para si os dois primeiros lugares da parada daquele ano: por um lado, 'Palavras ao Vento', do supergrupo Resistência, e por outro, o histórico 'Rock In Rio Douro', dos GNR cuja popularidade fora cimentada pelo bombástico e memorável concerto dado pelo grupo no antigo Estádio de Alvalade, em Abril daquele ano (ambos, aliás, lançamentos a que, paulatinamente, daremos atenção neste mesmo espaço.)
Atrás destes dois marcos do pop-rock nacional (e do ainda mais marcante documento histórico de Cobain e companhia) perfilavam-se discos de alguns dos 'suspeitos do costume' da época, dos Scorpions, Simply Red e Guns'n'Roses (todos então ainda em alta) aos 'recuperados' ABBA e Queen (que surgiam em dose dupla, com o excelente 'Greatest Hits II', uma das melhores colectâneas de rock de sempre, e o não menos clássico 'Live at Wembley '86'); e apesar de nenhum dos outros oito representantes da lista ser oriundo de Portugal, nada pode retirar aos dois grupos do topo a sensação de triunfo e 'conquista' do seu próprio país, bem como de 'dever cumprido' na prossecução de um marco histórico para a música portuguesa.
O triunfo da língua portuguesa sobre propostas internacionais cantadas em inglês é, aliás, uma característica em comum entre as duas tabelas em análise, já que também o 'top' de 1997 apresenta o padrão de dois discos lusos situados acima de um 'colosso' de vendas oriundo do estrangeiro. Neste caso, os dois 'conquistadores' são 'Quase Tudo' de Paulo Gonzo - cujo sucesso foi, em grande parte, movido pelo sucesso retumbante da regravação do mega-êxito 'Jardins Proibidos', ao lado de Olavo Bilac, dos também mega-populares Santos e Pecadores - e 'Saber A Mar', dos perenes Delfins, ambos os quais se superiorizaram, em território luso, ao fenómeno Spice Girls, cujo histórico álbum de estreia não logrou ir além do terceiro lugar.
Já as restantes posições reflectiam um domínio ainda maior da música portuguesa em relação a cinco anos antes, já que - além dos dois artistas de topo - também o super-projecto Rio Grande e o malogrado António Variações se lograram 'imiscuir' no top, onde a língua portuguesa era, ainda, representada pela brasileira Daniela Mercury, cujo clássico 'Feijão com Arroz' continuava, um ano depois, a mover unidades no mercado nacional. Do contingente internacional, além do 'girl group' britânico, marcavam presença na tabela Andrea Bocelli (uma daquelas 'anomalias' que por vezes acontecem no mercado 'pop'), os rapidamente esquecidos Kelly Family, e a 'resposta' masculina às Spice Girls, os Backstreets Boys, que davam então os primeiros passos daquilo que seria uma célere e bem-sucedida caminhada rumo ao mega-sucesso internacional.
Duas listas muito diferentes, portanto, mas que continham, ainda assim, um ponto em comum - a presença de (boa) música portuguesa entre os maiores sucessos de vendas, uma tendência que se viria a verificar progressivamente menos com o passar dos anos e das décadas. Também por isso, os dois tops servem como uma interessante 'cápsula temporal' das sociedades portuguesas de inícios e finais dos anos 90, tão diferentes entre si como o são da actual - e não apenas no mundo da música...