12.11.21
Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
Os anos 80 e 90 representaram, para Portugal, uma considerável abertura ao mundo além-fronteiras, a qual, por sua vez, proporcionou a um país que vivera, durante décadas, num regime ditatorial a hipótese de descobrir, quiçá pela primeira vez, muito do que, lá por fora, já se vinha sabendo, fazendo e consumindo há várias décadas. Isto traduziu-se, em grande parte, num influxo (ainda maior) de tendências 'importadas' dos EUA ou Inglaterra, e que afectavam todos os sectores da sociedade, do vestuário à arte, gastronomia ou costumes sociais.
Para os jovens dos anos 90 (nascidos, na sua grande maioria, na década anterior) um dos momentos mais impactantes no que toca a 'modas' foi o dealbar, e gradual expansão, do movimento alternativo. Partindo das camisas de flanela e jeans rasgados do 'grunge' e fundindo-se com movimentos como o do 'skate', surf ou hip-hop; este movimento não tardou a cimentar a sua presença nos pátios de escolas secundárias por esse país afora, onde se podia inevitavelmente encontrar pelo menos um ou dois dos chamados 'dreads' ou 'freaks'.
Como sucede com qualquer movimento de base estética, também o modo de vida alternativo tinha vários indicadores visuais que permitiam, quase de imediato, identificar um proponente do mesmo, das calças largas aos panamás às flores, correntes nas mochilas, calçado Doc Martens ou Airwalk, ou – no caso das raparigas – a tendência de que falamos hoje: os tererés.
Um exemplo de tereré mais longo
Nome dado às pequenas tranças artificiais criadas através do entrançar de fitas de tecido no cabelo natural, os tererés tornaram-se presença assídua na cabeça de muitas adolescentes a partir de finais da década de 90, e sensivelmente até meados da seguinte, extravasando inclusivamente o movimento que as vira nascer, e decorando igualmente os cabelos de muitas 'betinhas' por esse Portugal afora – e a verdade é que a popularidade universal desta tendência não é, de todo, difícil de compreender, dada a natureza colorida, alegre e visualmente apelativa da maioria dos tererés. A principal diferença de classes ficava, pois, reservada ao comprimento e espessura das tranças, sendo que as raparigas mais alternativas preferiam normalmente entrançados mais grossos e de menor comprimento, enquanto as 'betinhas' favoreciam tererés mais finos, ora mais discretos, ora mais compridos e vistosos, consoante a personalidade (e tipo de cabelo) da adoptante.
Como todas as modas, no entanto, também a dos tererés acabou por se desvanecer, e de forma algo abrupta – depois de, durante meia dúzia de anos, terem sido um indicador de estilo entre uma determinada demografia, os entrançados artificiais coloridos tornaram-se tão obsoletos como as tatuagens tribais na ponta das costas, um símbolo de época que não mais voltaria a ser visto como desejável, embora nunca tenha deixado de ser activamente aceitável. Ainda assim, quem lá esteve decerto recordará aquele breve mas bem memorável período em que aqueles canudos de fita rústica colorida eram o supra-sumos da estética capilar em Portugal...