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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.03.22

NOTA: Para celebrar a estreia, esta sexta-feira, do novo filme de Batman, todos os 'posts' desta semana serão dedicados ao Homem-Morcego.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje, 4 de Março de 2022, assinala-se a chegada às salas de cinema de todo o Mundo de um novo filme de Batman, o Homem-Morcego – no caso, o quinto, primeiro desde há mais de uma década, e primeiro com Robert Pattinson no papel do justiceiro e milionário Bruce Wayne, em substituição de Ben Affleck; para comemorar esta efeméride, e terminar da melhor maneira uma semana em que temos vindo a recordar a época de auge de popularidade para o Cavaleiro das Trevas, iremos dedicar a Sessão desta Sexta a recordar os filmes que lançaram a carreira do herói de Gotham no grande ecrã, precisamente durante a década de 90.

De facto, apesar de ter havido, nos anos 60, uma tentativa de transformar em filme de longa-metragem a impagável série televisiva do Homem-Morcego (tendo o filme subsequente sido responsável por apresentar ao Mundo a engenhoca mais mirabolante do cinto de utilidades do herói, o Bat-Repelente para Tubarões) a maioria dos cinéfilos e fãs de super-heróis de banda desenhada considera como ponto de partida da carreira de Batman no cinema o filme homónimo, realizado e lançado em 1989, mas chegado à maioria dos países europeus apenas no ano seguinte, mesmo no dealbar de uma nova década. Com realização a cargo de Tim Burton, música da autoria de Prince, e uma campanha publicitária adequadamente milionária a gerar interesse garantido, 'Batman' (o filme) ajudou a provar que havia interesse num filme sobre um super-herói, e imbuiu o estilo de uma muito necessária dignidade, que dificilmente se encontrava em obras concorrentes mas de orçamentos comparativamente microscópicos, como o fraquinho 'Capitão América', do mesmo ano.

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Detentor de uma estética em tudo fiel à dos 'comics' do herói, inspirada no período da Lei Seca norte-americana, e imbuída das sensibilidades góticas de Burton - então ainda longe dos excessos 'Technicolor' que marcariam a fase posterior da sua carreira – o 'Batman' de 1989-90 é um filme surpreendentemente sombrio (pelo menos tendo em conta o público a que supostamente se destinava) e que consegue balancear na perfeição aspectos de policial 'noir' com aquilo que se poderia esperar de uma adaptação para o cinema das aventuras de um herói de banda desenhada, Apesar da escolha de Michael Keaton como Batman requerer alguma suspensão do cepticismo (é melhor não perguntar de onde surgem aqueles centímetros extra quando o 'baixote' Wayne põe o fato), o filme justifica a sua boa reputação, contando com uma realização previsivelmente personalizada e actuações de alto calibre, com destaque para Jack Nicholson, que 'rouba a cena' como Jack Napier, mais tarde conhecido como Joker. Àparte alguns aspectos mais simplistas, típicos da época (como a relação quase instantânea entre o Wayne de Keaton e uma Kim Basinger no auge da beleza) o filme continua a afirmar-se como uma excelente forma de passar duas horas numa noite de fim-de-semana, tendo resistido bastante bem ao passar das décadas.

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O mesmo, aliás, pode ser dito da sua sequela directa. Lançado em 1992, e de novo com Burton ao comando e Keaton como Bruce Wayne (tornando-o o único actor a envergar o fato do herói por dois filmes consecutivos até à chegada de Christian Bale, quinze anos depois) 'Batman Regressa' é, se possível, ainda mais escuro e sombrio que o seu antecessor a nível visual, com uma Gotham invernal, sempre coberta de neve, semi-escondida nas sombras, e tudo menos acolhedora, como que a dar valência ao argumento de que, lá porque um filme se passa na altura do Natal, não significa que seja, necessariamente, natalício (referimo-nos, claro, ao eterno debate sobre 'Assalto ao Arranha-Céus', sobre o qual demarcamos aqui a nossa posição.)

É neste mundo de sombras que se movem tanto o Cavaleiro das Trevas como dois vilões que nada ficam a dever a Joker, e que voltam a constituir o melhor aspecto do filme: uma sensualíssima Michelle Pfeiffer como Selina Kyle, a Mulher-Gato, e Danny DeVito como Oswald Cobblepot, o Pinguim, numa daquelas acções de 'casting' tão óbvias e perfeitas que chega a custar a acreditar serem reais. Mais uma vez, todos os três personagens são interpretados de forma magistral, justificando a colocação deste filme ao mesmo nível do seu antecessor por parte da maioria dos fãs do Homem-Morcego, e garantindo ao mesmo uma carreira cinematográfica ao mais alto nível na primeira metade da década.

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Infelizmente, desse ponto para a frente, o percurso de Batman no cinema far-se-ia em sentido descendente, pelo menos no que toca aos anos 90. Apesar de o sucesso de 'Regressa' ter aberto a porta a um terceiro filme, o mesmo – intitulado 'Batman Para Sempre' e lançado em 1995 - já não contaria com o contributo de Burton, que seria substituído por um realizador de características substancialmente diferentes, e algo menos talentoso, Joel Schumacher. De igual modo, Keaton cedia o fato do Homem-Morcego a Val Kilmer, até hoje o único Bruce Wayne loiro, e sem dúvida o que menos se assemelhava fisicamente ao personagem das BD's. Pior, a escolha de Kilmer representou um decréscimo considerável ao nível da representação, ainda para mais tendo em conta o calibre dos seus coadjuvantes, que eram compostos, mais uma vez, por uma loira sensual (desta vez, Nicole Kidman) e dois vilões cheios de personalidade e que 'roubam' o filme ao protagonisa – o que, tendo em conta que o mesmo se trata de Val Kilmer e que os vilões são interpretados por Tommy Lee Jones e um Jim Carrey no auge da fama e totalmente em modo 'caretas e negaças', é uma tarefa ainda mais fácil do que em capítulos anteriores.

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Os dois impagáveis vilões, talvez o principal ponto alto de 'Batman Para Sempre'

A principal pecha de 'Batman Para Sempre' não é, no entanto, a mudança de protagonista, mas antes o guião e abordagem algo mais 'infantilizados' do que antes – como o demonstra a presença de Carrey, então super-popular entre as crianças pelas suas interpretações de Ace Ventura e Stanley Ipkiss, A Máscara, e cujo Riddler constitui um 'boneco' bastante semelhante. A introdução de Robin, vivido por Chris O'Donnell, é mais uma aparente concessão ao público infanto-juvenil, tendo em conta a atitude de adolescente rebelde de que o personagem é imbuído, e os muitos momentos de (mau) diálogo 'espertalhão' que partilha com Batman.

Ainda assim, e apesar dos seus defeitos, 'Para Sempre' marcou época com uma determinada geração, demasiado nova para ter visto os Batmans de Burton, e para quem este filme era, portanto, o primeiro contacto com o Homem-Morcego; para esses (entre os quais nos contamos) o filme foi um 'acontecimento', e terá constado na lista de favoritos durante pelo menos alguns meses, até ao lançamento do próximo filme da Disney. Hoje em dia, o terceiro filme de Batman é tido como apenas mediano, longe do brilho dos dois primeiros, mas ainda assim muito melhor do que aquilo que se lhe seguiria.

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E aquilo que se lhe seguiria, em 1997, era provavelmente o mais incompreendido e erroneamente interpretado de todos os filmes do Cavaleiro das Trevas. Novamente realizado por Joel Schumacher (os realizadores dos filmes do Morcego eram bem mais constantes do que os actores escolhidos para o protagonizar) 'Batman & Robin' leva a série ainda mais declaradamente para a arena dos filmes para crianças, com diálogos repletos de frases-feitas e ápartes cómicos, e uma estrela (de)cadente (mas ainda reconhecível pelo público-alvo) no papel de vilão – desta feita o Exterminador Implacável em pessoa, Arnold Schwarzenegger, numa acção de 'casting' cómica de tão incompreensível. A seu lado está uma irreconhecível Uma Thurman, que o ajuda a fazer frente a O'Donnell, Alicia Silverstone (outra nova adição ao elenco, no papel de Batgirl) e George Clooney, mais um Bruce Wayne 'baixote' e munido de apetrechos algo insólitos, como mamilos de borracha no fato (…?) e um Bat-Cartão de Crédito, um dos alvos mais famosos de Doug Walker na sua série Nostalgia Critic (mas que, ainda assim, faz mais sentido do que Bat-Repelente para Tubarões, especialmente tendo em conta que Batman é, efectivamente, milionário.) E o mínimo que se pode dizer é que os dois vilões fazem jus aos seus antecessores, divertindo-se visivelmente com papéis que foram escritos para jogar com os seus pontos fortes (o diálogo de Schwarzenegger é quase totalmente constituído por frases de efeito.)

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Alicia Silverstone/Batgirl, a principal adição ao elenco de 'Batman & Robin'

Quanto ao filme em si, o mesmo procura prestar homenagem aos recursos limitados e ambiente 'fatela' da série dos anos 60, conforme ilustrado pelos cenários propositadamente pouco convincentes e diálogos em modo 'tão mau que é bom'. Se 'Para Sempre' representara já um distanciamento da seriedade sombria dos filmes de Burton. 'Batman & Robin' afasta-se ainda mais na direcção oposta, servindo como a representação mais próxima de uma banda desenhada desde o filme dos anos 60. Talvez por isso seja visto como não só, de longe, o pior dos filmes do herói da DC (que é, confortavelmente) mas também um dos piores filmes de todos os tempos – título algo hiperbólico e que, convenhamos, não chega a merecer.

Ainda assim, a recepção a este quarto capítulo das aventuras do Vingador Mascarado foi negativa o suficiente para colocar a sua carreira cinematográfica no limbo durante quase exactamente uma década; a próxima aparição do Morcego no grande ecrã dar-se-ia já no novo milénio, com toda uma geração que não tinha vivido os filmes originais pronta a acolher de braços abertos o herói de Gotham City. Essa história (que acaba de ter continuidade) já fica, no entanto, fora do âmbito deste blog, pelo que esta Bat-retrospectiva (e a Bat-semana em geral) se fica, por agora, por aqui.

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