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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.08.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

NOTA: Este post é dedicado à Maria Ana, de quem esta é uma das bandas favoritas.

Num país de enorme tradição folclórica, como é Portugal, só seria surpreendente se NÃO surgissem bandas e artistas apostados em explorar as sonoridades mais tradicionais, e em misturá-las com géneros de música mais internacionais e contemporâneos. Nos anos 90, esta vontade era expressa não por uma, mas por duas bandas, quase exactamente contemporâneas, e com trajectórias muito parecidas. De uma delas, falaremos na próxima Segunda de Sucessos, ficando a de hoje reservada a um breve resumo da carreira da outra.

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Surgidos em 1987 pela mão de três ex-elementos dos Meteoros, os Sitiados teriam, no entanto, de esperar até à década seguinte para disfrutar dos seus quinze minutos de fama; seria apenas em 1992, já depois de várias mudanças de formação e com uma atraente loira no lugar do acordeonista original, que o grupo da Linha de Cascais conseguiria deixar a sua marca no universo pop-rock português. No entanto, quem conhece o grupo, e o seu legado, certamente concordará que a espera valeu a pena; porque a verdade é que, quando os Sitiados ‘explodiram’, o país inteiro abanou com o impacto.

O veículo desse impacto, e talvez a maior canção do Verão de 1992, chamava-se ‘Vida de Marinheiro’, e quem lá esteve em ‘tempo real’ certamente já estará a cantarolar o seu marcante refrão composto por vocalizações ‘nonsense’; mas que ao mesmo tempo fazem todo o sentido. Uma ‘malha’ de folk rock guiada pelo acordeão de Sandra Baptista e, sobretudo, pela inconfundível voz do líder João Aguardela,, que não ficaria mal na discografia de uns Pogues (inspiração declarada do grupo da Grande Lisboa), Dropkick Murphys ou Flogging Molly, e cujo estrondoso sucesso convenceu de uma vez por todas o grupo de que sim, valia a pena investir ‘naquilo’.

Assim, não demorou muito até o grupo entrar novamente em estúdio, com vista a compor o seu segundo registo. Saído pouco mais de um ano após o seu antecessor, ‘E Agora…?!’ cumpriu com louvor a sua missão de manter os Sitiados na ribalta da música popular portuguesa, muito graças a mais um ‘single’ bem ‘catchy’ e de grande exposição nas rádios nacionais, no caso ‘O Circo’ (ou, como é muitas vezes erroneamente chamada, ‘Vamos ao Circo’).

A receita era exactamente a mesma de ‘Vida de Marinheiro’ – folk-rock com mais do primeiro do que do segundo, com atmosfera de festa, e letra baseada no humor acérbico típico de Aguardela – e o furor ficou apenas ligeiramente atrás do causado pelo primeiro ‘single’ do grupo, sendo este tema presença tão constante nos recreios portugueses como havia sido o seu antecessor, embora desta vez não houvesse qualquer cantilena marcante para cantarolar.

Infelizmente, a partir desse momento, a trajectória dos Sitiados iniciaria uma pronunciada curva descendente, da qual não mais se recomporia. Apesar de participações honrosas em tributos a Zeca Afonso e António Variações, e de actuações que continuavam a cativar pela sua energia contagiante, ‘O Triunfo dos Electrodomèsticos’, lançado em 1995 (e segundo algumas opiniões cá de casa, o melhor disco da carreira do grupo) ficou aquém do sucesso estratosférico dos dois primeiros álbuns, e para os dois registos seguintes, a situação ainda se viria a agravar mais – ao ponto de duvidarmos bastante que alguém sequer soubesse que os Sitiados tinham lançado cinco álbuns, ou que tinham perdurado até ao virar do milénio! Nem mesmo a participação no disco de tributo aos Xutos & Pontapés, em 1999 (mesmo ano do último álbum, ‘Mata-me Depois’) ajudou a restituir visibilidade ao grupo, que se retirou discretamente de cena apenas um ano depois, para não mais ressurgir.

Dos membros originais, só Aguardela permaneceria (mais ou menos) na consciência colectiva nacional, graças a projectos como A Naifa e Megafone, embora nenhum deles tenha atingido sequer uma fracção do sucesso vivido pelos Sitiados no seu auge; a morte do líder absoluto em 2009 – vítima de um cancro, e com apenas 39 anos – poria um ponto final no legado daquela que foi uma das bandas mais conhecidas do início dos anos 90, mas que sofreu com o gosto volátil e efémero do público consumidor de música popular. Em suma - a Vida de Marinheiro pode não ter dado cabo deles, mas as modas deram.

Ainda assim, o grupo conseguiu gozar uma fama breve, mas mais merecida que a de muitos, e será para sempre lembrado nos anais da música portuguesa por duas grandes canções de folk-rock, que puseram o país inteiro a cantar nos primeiros anos da década…

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