15.01.22
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.
Os anos 80 viram nascer aquele que se viria a tornar um dos mais bem-sucedidos e revolucionários aparelhos tecnológicos da História, o leitor de videocassettes. Ao contrário do que se passava até então – em que um qualquer filme tinha de ser visto enquanto estivesse em cena, caso contrário havia que esperar por uma eventual repetição – graças ao leitor de vídeo, qualquer cinéfilo podia, agora, ver o seu filme preferido no conforto da sua casa, quantas vezes quisesse e sempre que quisesse.
Esta premissa apenas tinha um problema – nomeadamente que, como qualquer tecnologia recém-criada, tanto os próprios leitores de VHS e Betamax como as cassettes com eles compatíveis eram proibitivamente caros para a carteira média da época; mesmo dez anos mais tarde, já depois de a tecnologia se ter popularizado, e de o VHS ter ganho a batalha dos formatos e tornado obsoleto o seu 'irmão mais velho', continuava a não ser barato alimentar o 'vício' por filmes em casa. Não foi, pois, de surpreender que o sempre oportunista mundo dos negócios tenha 'inventado' toda uma nova forma de lucrar com este paradigma e, ao mesmo tempo, permitir ao cidadão médio ver filmes em videocassette sem ter que abrir os cordões à bolsa.
Surgidos ainda nos anos 80, precisamente como resposta ao problema acima delineado, os videoclubes não tardaram a popularizar-se, primeiro nos dois extremos do continente americano, e mais tarde um pouco por todo o Mundo – incluindo Portugal. O seu conceito era simples: a inscrição como sócio de um destes serviços permitia a qualquer pessoa alugar filmes por um período de uma a cinco noites, tendo cada modalidade um preço fixo – uma solução que, apesar de temporária, caiu no gosto da tal percentagem da sociedade ocidental que não tinha meios para comprar vídeos de forma permanente. Graças aos clubes de vídeo, a prática de juntar toda a família frente a um filme numa Sexta ou Sábado à noite tornou-se prática corrente, e muita gente deixou de ter desculpa para ainda não ter visto tal ou tal filme.
Com o seu aspecto e atmosfera característicos – em Portugal, a maioria eram pequenas 'lojecas' de bairro, longe do 'glamour' de uma Blockbuster – e o óbvio atractivo de oferecer filmes de todos os tipos, desde os maiores 'blockbusters' aos filmes de série B mais 'chungas' – os clubes de vídeo tinham, para as crianças dos anos 80, 90 e 2000, uma atracção muito especial, que apenas aumentava no caso dos videoclubes que permitiam alugar jogos de vídeo. Ir ao clube de vídeo alugar um filme, ou até devolvê-lo, era uma parte marcante da semana de qualquer criança ou jovem da época, e terá sido nestes espaços que muitos deles terão descoberto alguns dos seus filmes favoritos - uma situação que não se alteraria durante as duas décadas seguintes, mesmo depois de o VHS sofrer o mesmo destino que inflingira ao Betamax, e ser tornado obsoleto pelo formato DVD.
Não, a 'morte' dos clubes de vídeo viria a dar-se, como é tantas vezes o caso com os produtos e conceitos que abordamos neste blog, com o dealbar da era digital 2.0, com as suas plataformas de vídeo e streaming, que tornariam obsoletos não só este tipo de estabelecimentos, como o próprio conceito de formatos físicos para gravação e reprodução de filmes. Após o aparecimento de serviços como o YouTube, não tardaria muito até aqueles carismáticos 'buracos' escuros e esconsos, cheios de uma ponta à outra com estantes repletas de filmes de todos os tipos, estilos e géneros, fecharem portas para sempre, e para o próprio conceito que representavam desaparecer da consciência popular da sociedade ocidental. Os mais velhos, no entanto – aqueles que se lembram da sensação de ir, sozinho ou acompanhado, buscar os 'filmes da semana' ao videoclube mais próximo – não deixarão morrer a memória destes espaços, tão icónicos e indissociáveis da cultura jovem da época como as lojas de discos, os cinemas de bairro, os salões de jogos 'manhosos' ou as discotecas de cave de centro comercial.