04.07.21
NOTA: Este post é relativo a Sábado, 3 de Julho de 2021
Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.
O post de hoje podia ficar-se pela imagem acima, e decerto já muitos dos nossos leitores sentiriam uma intense dose de nostalgia. Mas como neste blog gostamos sempre de dar um pouco mais a quem nos segue, vamos lá dedicar algumas linhas a falar desse inesquecível companheiro de brincadeiras do nosso tempo, o Diabolo.
Oriundo do mundo das artes circenses e de rua, onde é, desde há muito, um acessório-padrão, o Diabolo explodiu em popularidade entre o público infanto-juvenil em meados da década de 90, num fenómeno repentino e algo inexplicável, até porque estes instrumentos não estavam, inicialmente, disponíveis nas lojas de brinquedos. Quando primeiro se ouviu falar deles, os Diabolos só estavam disponíveis em determinadas lojas, muitas delas mais voltadas para o ‘outdoor’ e desporto-aventura do que propriamente para as brincadeiras infantis. Tendo em conta que estes instrumentos também não eram nada baratos – pelo menos os de qualidade…já lá vamos – não deixa de ser surpreendente que a ‘nossa’ faixa etária não só tenha ouvido falar deles, como os tenha tornado acessório obrigatório na mochila da escola.
O cá de casa era assim, mas com paus em madeira.
Foi, no entanto, precisamente isso que aconteceu, com o Diabolo a tornar-se fiel companheiro da criança média portuguesa, que muitas vezes dedicava grande parte do seu tempo de recreio a ‘exibir’ os truques incansavelmente treinados em casa na noite anterior (os Diabolos ‘oficiais’ vinham com um livreto explicativo dos vários truques e de como executá-los, mas a maioria dos mais conhecidos pareciam passar de criança em criança através de um processo algures entre o boca-a-boca e a osmose).
O livreto de truques que vinha com os 'Diabolos' oficiais
Da ‘Volta ao Mundo’ ao não menos admirado ‘Passear o Cão’, passando por truques ‘inventados’ no decurso das brincadeiras, como o ‘Kamehameha’ (simples ou duplo) ou a façanha, sem nome oficial, que consistia em fazer o Diabolo ‘passear’ num dos paus, eram muitos os movimentos que se podiam executar dando a velocidade e o impulso certos àquela espécie de ‘laço’ de borracha na ponta da corda – e muitas crianças portuguesas terão, certamente, melhorado bastante a coordenação motora tentando atingir essa combinação perfeita. Só era preciso ter cuidado para não enrodilhar os fios, pois isso implicava largos minutos de pausa para libertar o Diabolo da ‘teia’ onde o tínhamos inadvertidamente aprisionado…
Claro que todos os truques acima descritos se tornavam (ligeiramente) mais fáceis se o Diabolo fosse dos ‘oficiais’; que eram feitos de borracha dura com centro de metal. O preço proibitivo a que estes eram comercializados levava, no entanto, a que muitas crianças fossem forçadas a optar pela alternativa que entretanto se havia popularizado – Diabolos hiper-leves, de plástico frágil, e vendidos sem qualquer acessório à parte os paus e a linha necessária a fazê-los mexer (e por vezes, nem isso). Significativamente mais acessíveis, em termos de preço, do que os Diabolos ‘oficiais’, estas variações baratas eram fáceis de encontrar nos sítios do costume e, tal como os Tamagotchis falsos de que falámos há alguns posts atrás, acabaram por ter uma ‘vida’ significativamente mais longa do que os seus congéneres de melhor qualidade, sendo ainda muitas vezes avistados dez ou mesmo quinze anos depois de a ‘febre’ ter passado.
Exemplos dos modelos mais baratos de Diabolo, feitos em plástico em vez de borracha.
E, como todas, a febre acabou mesmo por passar – e de forma mais abrupta do que outras de que já aqui falámos, ou viremos a falar. Tão repentinamente quanto tinham aparecido, os Diabolos desapareceram dos recreios – embora não da memória ou do coração daqueles que com eles haviam brincado; pelo contrário – este misto de brinquedo, desporto e acessório de malabarismo continua a ser uma das primeiras coisas que os ‘90s kids’ recordam ao ‘viajar’ até àquela época. Prova de que, apesar do seu ciclo de vida relativamente curto – até mais do que o de outras ‘febres de recreio’ – o Diabolo deixou mesmo a sua marca entre a juventude da década de 90…