27.04.23
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Na era pré-telemóveis e Internet móvel, era consideravelmente mais difícil preencher os 'tempos mortos' durante uma viagem de férias, ou simplesmente uma deslocação mais longa, do que hoje em dia. Quem gostava de ler, tinha uma consola portátil, jogo electrónico LCD, Tamagotchi, ou mesmo um clássico jogo de água, jogo de viagem ou até baralho de cartas ou Uno tinha pelo menos parte do problema resolvido; a quem não dispunha de qualquer desses recursos, ou não tinha particular gosto pela palavra escrita, restava 'inventar' outras distracções – e, dessas, uma das mais populares eram (e continuam a ser) os famosos 'Cruzadexes', revistas dedicadas exclusivamente à publicação de palavras cruzadas e outros passatempos, feitos à medida (e, muitas vezes, de propósito) para uso nesse tipo de situação.
Exemplos modernos, mas muito semelhantes aos clássicos, deste tipo de publicação.
Identificáveis pelo uso descarado de modelos femininas em biquíni na capa (presumivelmente, como forma de chamar a atenção de determinada clientela, e de transmitir a atmosfera veraneante à restante massa de potenciais compradores) estas revistas são daquelas presenças aparentemente 'perenes' nas bancas portuguesas, que parecem sempre ter lá estado, e que lá permanecem, quase imutáveis, década após década. Existem, é claro, algumas mudanças mais ou menos perceptíveis - a dada altura, todas as publicações deste tipo pareceram transformar-se temporariamente em livros de problemas de Sudoku, e, mais tarde, a maior consciência social levou, por exemplo, à diminuição do tipo de imagem supramencionado; no entanto, a essência das revistas mantém-se intacta, com página após página de palavras cruzadas dos mais diversos tipos e formatos, sopas de letras e (mais raramente) jogos de diferenças, em número suficiente para manter entretido qualquer viajante, e justificar o algo elevado preço de venda ao público.
Assim, não é de estranhar que este tipo de volume tenha feito sucesso na referida era pré-digital, em que o mais certo era ver, em qualquer deslocação à praia, pelo menos uma pessoa com um livro ou revista deste tipo, sentada debaixo do guarda-sol, a resolver um problema de palavras cruzadas. O surgimento da tecnologia Wi-Fi, e subsequente disponibilizar de palavras cruzadas digitais em ecrãs do tamanho da palma da mão (e de forma quase gratuita) veio, é claro, alterar sobremaneira este paradigma, e causar a obsolescência dos Cruzadexes enquanto forma de distracção no exterior; no entanto, quem se entreteve, à época, a 'dissecar' este tipo de publicação (ou, simplesmente, a ajudar os pais a resolver os problemas da mesma) será, talvez, capaz de ainda trazer um para casa da papelaria ou supermercado, mesmo nos dias que correm – quanto mais não seja, para satisfazer aquela sensação de nostalgia pela infãncia que tantas vezes teima em surgir...