03.07.21
NOTA: Este post é relativo a Quinta-feira, 1 de Julho de 2021.
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
No início dos anos 90, existia no mercado português um ‘gap’ de revistas de variedades especificamente dirigida a um público infanto-juvenil. A Bravo era importada da Alemanha (e, como tal, servia para muito pouco a não ser para tirar posters) e a Super Pop portuguesa e a 100% Jovem ainda estavam a alguns anos de distância; para o segmento em idade escolar, aparte os quadradinhos, a oferta resumia-se à cristã ‘Nosso Amiguinho’ (distribuída nas escolas, e apenas disponíveis por assinatura) e (muito) pouco mais.
Esta situação viria a mudar em 1993, quando uma revista arriscou preencher esta lacuna de mercado, e assumir-se como referência informativa para o público infantil e adolescente, fornecendo-lhes informação sobre temas do seu interesse, das omnipresentes ‘celebridades’ aos jogos de vídeo, música, filmes, BD, ou simplesmente curiosidades sobre o que se passava no Mundo.
Tratava-se da revista Super Jovem, talvez não tão lembrada hoje em dia como as ‘colecções de gatos’ chamadas Super Pop ou Bravo, mas que ainda conseguiu impacto considerável junto do público-alvo durante os seus mais de seis anos nas bancas, da estreia em 1993 (com um ‘número 0’ distribuído gratuitamente, e tendo na capa um Macaulay Culkin no auge da fama) até ao cancelamento mesmo no final da década.
Capa do número 0 , distribuído gratuitamente
Tal devia-se, em parte, à referida variedade da revista, que, mesmo com as diversas mudanças de formato a que foi obrigada, nunca se ‘vendeu’ às vontades das raparigas adolescentes, e sempre tentou oferecer um pouco de tudo, de peças sobre os ídolos do momento a críticas de jogos, filmes e livros, ou simplesmente histórias de banda desenhada, neste caso da Disney (a Super Jovem era mais um dos muitos títulos lançados pela ‘rainha’ das publicações portuguesas da altura, a Editora Abril, que também publicava as revistas Disney.) Esta estratégia variada assegurava que a revista captava um público-alvo extremamente vasto, pois mesmo quem não tinha interesse no ‘galã’ de capa, encontraria sempre outro artigo ou uma história aos quadradinhos que o mantivesse interessado.
Outra táctica interessante, e até inovadora, praticada pela Super Jovem era a oportunidade que fornecia aos jovens de se tornarem, eles próprios, repórteres por algumas horas. Na secção recorrente ‘O Repórter Sou Eu', a entrevista era escolhida, e conduzida, por um(a) leitor(a) da revista, resultando em interacções um pouco diferentes do habitual, tanto para os entrevistados como para os leitores. Mais tarde, esta secção viria a perder preponderância, mas enquanto durou, foi uma experiência interessante, e que se pode dizer ter resultado.
Infelizmente, as referidas mudanças de formato – primeiro para um formato com menos páginas, mas ainda A5, e depois para uma tipologia A4 – resultariam na extinção desta e outras secções; no entanto, a ‘essência’ da Super Jovem continuou presente até ao final da vida da revista, a qual, mesmo já nos seus últimos números, continuava reconhecível como (mais ou menos) a mesma revista que chegara timidamente às bancas seis anos antes.
A revista após a primeira mudança de formato, em meados da década
Além disso, a publicação soubera mudar com os tempos, mantendo-se sempre a par das personalidade, assuntos e ‘modas’ que mais interessavam aos jovens, sem discriminar – a título de exemplo, a revista começou com capas com Macaulay Culkin, Guns’n’Roses e Nirvana, acabou com Britney Spears e Dragon Ball Z, e chegou a ter artigos sobre eventos e movimentos menos óbvios, como o festival ‘metaleiro’ Monsters of Rock (!) (Se pensaram que nunca iam ver os Slayer e Machine Head numa revista ‘mainstream’ para ‘teenagers’, pensem novamente…)
A popularidade, essa, também nunca decresceu muito, sendo que, no seu auge, a Super Jovem tinha expressividade suficiente para arriscar experimentar com novos formatos e iniciativas, como brindes – a colecção de CD-Singles marcou época - números especiais alusivos a filmes, colecções de posters ao estilo Bravo, e até produtos periféricos, como uma agenda.
Capa da 'Agenda 1996' da Super Jovem
Enfim, no cômputo geral, uma revista bem mais merecedora da lembrança nostálgica dos jovens dessa época do que as Bravos desta vida, mas que – talvez por não ser constituída em 95% por fotos de ‘gajos giros’ – fica hoje um pouco atrás destas. Ainda assim, vale bem a pena recordar esta pioneira dos periódicos para jovens nacionais, que mostrou que havia mercado para uma revista juvenil que fosse mais do que um simples aglomerado de fotos e posters…