03.06.22
Nota: Este post é respeitante a Quinta-feira, 2 de Junho de 2022.
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
A par de países como o Brasil, a Alemanha ou a Finlândia, Portugal é um dos países onde o movimento 'hard rock' e 'heavy metal' continua a ser mais popular. Apesar da pouca quantidade de bandas de expressão verdadeiramente internacional saídas das suas fronteiras (a lista resume-se a Moonspell, e pouco mais) e da falta de infra-estruturas para concertos e gravações (problema recorrente há mais de quatro décadas) o nosso País continua a apresentar uma considerável densidade populacional de 'metaleiros', 'rockers' e 'punks', prontos a consumir todas as novidades do estilo.
Assim, não é de estranhar que, na era pré-Internet 2.0, tenham surgido em território nacional não uma, mas duas revistas especificamente dedicadas a divulgar essas mesmas novidades, fossem elas novos lançamentos, concertos, notícias sobre os mais populares artistas do estilo, entrevistas, ou até classificados para procura de músicos ou anúncios de lançamento de maquetes. Das duas, foi a mítica revista Loud! que acabou por singrar, tornando-se A referência do género em Portugal (referência essa, aliás, ainda hoje existente, embora apenas em formato online) e acumulando bem mais de uma centena de números, sempre num padrão de qualidade elevadíssimo; no entanto, é a sua antecessora que adquire maior importância histórica, por ter sido pioneira no que toca a publicações sobre o tema, acabando por desbravar caminho para o sucesso da revista lançada nos primeiros meses do novo milénio.
Capa e grafismo do primeiro número da revista (crédito das imagens: blog Rock no Sótão)
Falamos da revista Riff, surgida nas bancas sensivelmente um ano antes da Loud! (em Janeiro de 2000) e que tinha como principal impulsionador António Freitas, nome maior do jornalismo 'metálico' nacional, tendo sido, entre outros, colaborador de música do programa Curto Circuito, apresentador de programas de rock pesado na Antena 3 e Rádio Comercial, e membro da redacção da referência Blitz, bem como da referida Loud!. A Riff representava uma tentativa de colocar o seu estilo de eleição também nas bancas portuguesas, desiderato esse que, no entanto, apenas seria aperfeiçoado com a sucessora desta publicação, deixando este primeiro esforço algo a desejar; entre 'gralhas', gramática duvidosa e um grafismo mais a dar para 'fanzine' do que publicação oficial, a Riff só se destacava mesmo pelo CD que oferecia com cada edição, no qual se incluíam temas dos mais recentes trabalhos de muitos dos artistas mencionados ou abordados em cada edição.
Ainda assim, num panorama isento de quaisquer outras opções, a Riff representava uma forma – ainda que algo amadora - de os 'metaleiros' de Norte a Sul do País poderem ir sabendo o que se passava dentro do seu género de eleição; no entanto, o surgimento da Loud!, apenas um ano depois, veio tornar mesmo esse objectivo obsoleto, visto oferecer uma alternativa de muito melhor qualidade, que não deixava qualquer motivo para continuar a apoiar a revista mais 'fraquinha'.
Assim, não foi minimamente de estranhar que a longevidade da Riff nas bancas após o aparecimento da sucessora tenha sido extremamente reduzido, e que, nos dias que correm (e ao contrário da referida sucessora) a mesma esteja praticamente Esquecida Pela Net, e seja descrita pelo próprio Freitas como 'não tendo corrido muito bem'; há, no entanto, que atribuir crédito à publicação pelo trabalho 'de sapa' e de desbravamento de caminho que realizou em prol do jornalismo musical 'pesado' em Portugal, dando aos milhares de 'metaleiros' do País uma primeira representação dentro da imprensa escrita portuguesa, e ajudando-os, assim, a sentirem-se menos ostracizados dentro da cena musical nacional como um todo.