02.09.22
NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 01 de Setembro de 2022.
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Apesar de não figurar entre os interesses mais imediatos da juventude portuguesa dos anos 90, a moda não deixava de encontrar parte do seu mercado entre a referida demografia, mais concretamente entre o sector adolescente feminino, o qual, entre procurar respostas para questões afectivas e identitárias e admirar celebridades atraentes, reservava também algum tempo para se colocar a par das novas tendências de vestuário, acessórios e aparência; assim, não é de admirar que, quando uma das maiores e mais históricas publicações internacionais nesse campo se decidiu 'aventurar' pelo mercado nacional, a mesma tenha sido recebida com entusiasmo e sucesso imediato, e desfrutado de uma longa e ilustre carreira nas bancas nacionais.
Falamos da Elle Portugal, a versão adaptada para o mercado luso da histórica líder de mercado francesa, cujo primeiro número sairia ainda na década de 80 (em Outubro de 1998), e que lograria manter-se nas bancas durante mais de três décadas, até as acentuadas mudanças no mercado dos periódicos a nível mundial terem forçado o seu cancelamento – o qual, ainda assim, se processou de forma digna e honrosa.
O primeiro número nacional da revista, lançado em 1988.
Com estética e conteúdos em linha com as suas congéneres de outros países, o título editado pela RBA não seguia, no entanto o mesmo caminho adoptado por outras publicações 'importadas' da época, nomeadamente, o da simples localização de conteúdos originalmente escritos em outros idiomas; talvez ciente da reputação que o seu nome acarretava, a revista tentava, ao invés, oferecer às suas leitoras (e leitores) conteúdos originais e adaptados à realidade portuguesa, resultando numa publicação de enorme interesse para quem gostava de moda e decoração; no caso do mercado adolescente, acrescia ainda o facto de a Elle ser uma revista, a todos os níveis, sofisticada e adulta, algo distante das outras publicações habitualmente encontradas em mesas de sala de espera ou na 'pilha' em casa da avó, e cuja leitura proporcionava algum 'élan', elemento sempre crucial para a demografia em causa.
O sucesso da revista foi tal, aliás, que a RBA viria, mais tarde, a lançar também uma versão portuguesa da publicação-irmã, a Elle Decoration, dedicada (como o próprio nome indica) exclusivamente a artigos sobre decoração de interiores e exteriores; além disso, a boa recepção à Elle Portugal motivaria, quase uma década e meia depois, o lançamento de uma edição portuguesa para outro periódico 'histórico' do mundo da moda – a Vogue Portugal, cuja trajectória nas bancas nacionais foi mais curta, mas também consideravelmente bem-sucedida.
Exemplar da Elle Decoration portuguesa.
Conforme referimos, as alterações no mercado dos jornais e revistas, derivados da rápida transição para o digital e agravados pela pandemia, forçaram ao cancelamento, em 2021, da edição fisica daquela que foi a primeira revista de moda internacional a ser lançada em Portugal após o 25 de Abril, e que se conseguiu manter na vanguarda não só da moda e beleza, mas também de questões como os direitos cívicos e a cidadania – tornando, assim, mais que merecida esta pequena eulogia, em homenagem à influência que exerceu sobre todo um sector da população nacional durante o período englobado por este blog.