15.04.21
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
E hoje vamos falar de uma ‘quinquilharia’ que transitou de décadas anteriores, e que acabou por ter mesmo o seu ocaso na década de 90, mas que ainda era presença suficientemente assídua nas papelarias e lojas de brinquedos da época para justificar a sua inclusão nesta secção: o saquinho de berlindes.
Este é um dos raros casos em que as crianças portuguesas acabaram por beneficiar da décalage cultural que o país apresentava naqueles anos. Isto porque, em outros países, os berlindes são já tidos como uma relíquia, uma daquelas coisas que só se vêem em filmes de época - mesmo para jovens nascidos nas décadas de 80 e 90. Já em Portugal, as pequenas bolinhas de vidro colorido continuaram a fazer parte da infância de muitas crianças até no mínimo a meados dessa década – pelo menos em certas regiões do País.
O atrativo dos berlindes junto das crianças e pré-adolescentes não é, de todo, difícil de compreender. Baratos (qualquer semanada chegava para comprar uma das tradicionais 'redinhas' com vários berlindes pequenos e um 'abafador' com o dobro do tamanho), de aspeto atrativo e ligados a um jogo competitivo em que se lucrava com a vitória e se podia ‘rapar’ o adversário, os pequenos globos constituíam a ‘quinquilharia’ perfeita para uma certa faixa etária, a mesma que se ‘viciou’ nos Tazos alguns anos depois. O facto de, desde essa época, terem caído em desuso e praticamente desaparecido da vida quotidiana das crianças só pode, pois, ser ligado a uma mudança de mentalidades ou interesses – talvez os ‘putos’ da Geração Z já não gostem de coleccionar coisas brilhantes e vistosas possíveis de serem ganhas em jogos de recreio…
(Claro que havia quem comprasse berlindes apenas para coleccionar, mas não tentemos disfarçar a verdade - giro, giro, era disputar partidas com outros miúdos e tentar ganhar aquele berlinde lindo de morrer que o adversário, num assomo de excesso de confiança, punha em campo logo de início…)
Os berlindes com padrões mais atrativos e fora do vulgar eram sempre os mais cobiçados...
Curioso é que, à época, havia duas maneiras ‘aceites’ de jogar ao berlinde, ambas igualmente competitivas. Curioso, também, é que a versão tradicionalmente aceite do jogo (aquela com um círculo desenhado no chão, que se vê normalmente em BDs, filmes, e outros trabalhos de ‘media’) até era a menos popular, pelo menos nan ossa experiência; lá pela escola, a maioria dos ‘putos’ jogava à versão em que se escavavam três ou quatro buracos, e se tentava ser o primeiro a completar o ‘circuito’, sempre palmando todo e qualquer berlinde em que o nosso batesse pelo caminho. No fundo, uma espécie de ‘jogo da macaca’ com berlindes, em que – num daqueles exemplos perfeitos de ‘regras de recreio’ que ninguém escreve mas toda a gente cumpre - chegava a não ser permitido usar ‘abafadores’ para não criar desvantagem competitiva a quem não os tinha…
Em suma, e apesar da presença de inúmeros outros atrativos, incluindo ‘quinquilharias’ clássicas como os Tazos, os Matutolas ou os cromos de futebol, os berlindes tinham mesmo os seus adeptos entre as crianças portuguesas nos anos 90 – entre os quais nos incluíamos, apesar de o jeito não ser lá muito. E vocês? Gostavam desta ‘quinquilharia’? Coleccionavam? Jogavam? Deixem as vossas recordações nos comentários!