20.04.23
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
Apesar de ter a forte concorrência da Panrico e dos cereais Nestlé e Kellogg's, nenhum cidadão português nascido entre as décadas de 80 e 2000 disputará o título da Matutano como rainha dos brindes promocionais e 'febres' de recreio de finais do século XX e inícios do seguinte. Dos inesquecíveis e icónicos Tazos às Matutolas, passando pelos Pega-Monstros e Caveiras Luminosas, foram tantas e tão memoráveis as promoções das “batatas” durante esse período que, a dado ponto, qualquer conceito que a Matutano tocasse se transfornava em sucesso garantido – mesmo que envolvesse algo tão pouco atrante para a demografia-alvo como a Matemática.
Ainda assim, muitas vezes, a magnata dos “snacks” salgados em Portugal escolhia não arriscar, e investir num conceito já testado em outros ambientes e circustâncias, e simplesmente adaptado à realidade das batatas fritas e salgadinhos. Foi o caso com uma promoção de finais dos anos 90, hoje algo “eclipsada” pelos clássicos elencados acima, mas que não deixou, ainda assim, de fazer furor à época do lançamento: as “Raspadinhas” Matutano.
(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)
De conceito aparentemente semelhante ao do jogo de sorte promovido pela Santa Casa da Misericórdia, esta versão do popular “cartão de raspar” funcionava de modo ligeiramente diferente: ao invés de tentar encontrar ou alinhar três símbolos iguais, o jogador era desafiado a encontrar o “caminho” para o prémio contido em cada cartão. Para esse efeito, era necessário ir “raspando” as diferentes casas, e esperar que as setas contidas por baixo de cada uma delas permitissem continuar o caminho em direcção ao tão cobiçado objectivo, o qual, normalmente, se traduzia na obtenção de um segundo pacote de batatas inteiramente grátis – o que, convenhamos, era um prémio mais que apetecível para o público-alvo do jogo!
Infelizmente, a versão da Matutano para o jogo da “Raspadinha” continha uma enorme lacuna, rapidamente explorada pela maioria dos jogadores – nomeadamente, o facto de os cartões serem translúcidos, permitindo ver a sua própria “solução” quando postos contra uma fonte de luz apropriada. Escusado será dizer que havia pouco quem não tirasse partido desta “manha”, a qual não seria, decerto, apreciada pelos donos de estabelecimentos alimentícios da época, pela quantidade de pacotes de “graça” em que se traduzia...
Mau-grado esta fraqueza – ou talvez por causa dela – as Raspadinhas Matutano tiveram um nível de sucesso suficiente para justificar novas séries, como o Jogo da Moeda – que propunha a raspagem de quatro de entre dez mãos, com o intuito de fazer coincidir o valor da aposta com os números nelas contidos, sem “rebentar” - ou uma colecção tematizada em torno da série Guerra das Estrelas/Star Wars, que regressava naquela época ao cinema com pompa e circunstância, com a primeira de três “prequelas”.
O Jogo da Moeda, sucessor da raspadinha nos pacotes da Matutano. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)
Nenhuma destas continuações teve, no entanto, o impacto da original, levando a que a Matutano explorasse outro tipo de alternativas em promoções subsequentes; a série original, no entanto, afirma-se ainda hoje – merecidamente – como um dos 'clássicos menores' do período hegemónico da companhia, em que cada nova promoção (incluindo esta) parecia apenas cimentar mais o nome da marca junto de toda uma geração de crianças.