01.04.21
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
E se inaugurámos esta secção com os inesquecíveis Matutazos, hoje, falamos de algo não menos memorável e icónico para os ‘putos’ daquela geração: as cadernetas de cromos, sobretudo as editadas pela Panini, que detinha o monopólio quase absoluto deste género de publicação, e à qual poucas concorrentes ousaram fazer frente, e sempre sem sucesso.
Nos anos 80 e 90, este símbolo era praticamente sinónimo de colecções de cromos...
Apesar de os cromos ainda existirem e serem vendidos hoje, ninguém pode negar não só que os mesmos já não têm a mesma expressão que em tempos tiveram, como que os tempos áureos para este tipo de passatempo foram os anos 80 e 90. Durante estas duas décadas, cada nova propriedade ou moda que cativasse a criançada tinha direito a caderneta de cromos própria, a qual era (mais ou menos) avidamente colecionada e completada pela miudagem de Norte a Sul do País.
E dizemos ‘mais ou menos’ porque um dos principais fatores de fazer colecções de cromos era saber escolher QUAL a colecção a fazer. Por muito ‘fixe’ ou ‘in’ que uma propriedade ou ‘franchise’ fosse, se não houvesse uma quantidade significativa de outras crianças também a fazer a colecção, não valia de nada investir tempo nem dinheiro, pois não só não haveria com quem trocar os ‘repetidos’, como também se perderia outra das principais características deste tipo de coleccionismo: o direito a exibir a caderneta completa aos amigos que ainda continuavam à procura dos últimos cromos que lhes faltavam. Se mais ninguém estivesse interessado, tudo o que restava era uma caderneta, que a criança entretanto perdia a vontade de completar. Terá talvez sido por isto que tantas cadernetas de cromos caíram no esquecimento, com a maioria dos ‘putos’ a preferir investir nas perenes colecções do futebol – expoente máximo deste passatempo apreciado, sobretudo, pelos rapazes – ou esperar para ver o que ‘pegava’ no grupo de amigos ou lá na escola.
Duas das mais populares colecções de cromos nos anos 90, ambas editadas pela Panini.
Quando uma caderneta se tornava popular, no entanto, não havia volta atrás – até os jovens mais velhos, já demasiado ‘crescidos’ para tais criancices, entravam na onda, e eram vistos a trocar cromos nos corredores da escola tão afanosamente quanto qualquer ‘puto’ mais novo.
Era precisamente este aspeto coleccionista, de desafio e ‘gabarolice’, que tornava o ‘hobby’ dos cromos tão especial e divertido – e que, ao mesmo tempo, fazia com que as colecções lançadas já completas, com a caderneta e todos os cromos necessários e sem os famosos ‘repetidos’, se afigurassem tão pouco lógicas e fossem repudiadas pela maioria das crianças adeptas deste passatempo. Afinal, qual era a graça de ter ‘a papinha toda feita’, sem ter de trocar com os amigos nem comprar 30 saquetas numa semana à procura daquele cromo raro que ninguém parecia ter? Sem estes aspetos, mais uma vez, tudo o que sobrava era uma caderneta algo ‘parva’, e que nem demorava assim tanto a tornar ‘bonita’…
Exemplo de uma colecção lançada já 'pronta a completar'.
Terá, talvez, sido também por isso que o passatempo dos cromos caiu em desuso entre a geração ‘do ecrã’, que prefere o imediatismo de ter o conteúdo todo disponível de uma só vez, ao invés de ter de porfiar, esperar e trabalhar para o conseguir ter completo. Ironicamente, a Geração Z talvez gostasse daquelas cadernetas já completas que os Ys repudiavam – afinal, tratavam-se da versão em cromos daquelas series da Netflix, lançadas na Plataforma todas de uma só vez…
Ainda assim, um tipo de cromo resiste ainda e sempre ao invasor. Por mais que as gerações se sucedam e os seus gostos mudem, o futebol nunca, mas nunca passa de moda, pelo que não é de surpreender que as colecções dedicadas ao desporto-rei sejam das poucas a ainda sobreviver no formato ‘clássico’ que tanto deliciou as crianças dos finais do Século XX. É, no entanto, pouco provável que se venha a assistir a um renascer do ‘hobby’ dos cromos, tal como ele era naqueles tempos – a sociedade ocidental mudou demasiado para que pequenos pedaços de plástico adesivo possam cativar as crianças do mesmo modo que o costumavam fazer… Como diriam os Metallica, ‘Sad But True’.
Os ‘90s kids’, no entanto, nunca esquecerão este passatempo de eleição nos recreios de escolas, encontros de amigos ou atividades extra-curriculares. Pelo que resta perguntar: qual a mais memorável colecção de cromos da vossa juventude? Por aqui, foram a do Dragon Ball Z (claro), a da França 98, e também a da World Wildlife Fund e das motos de corrida, estas ainda nos anos 80. E vocês? De quais mais gostaram? Partilhem nos comentários!