16.02.23
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
Nesta altura do ano, não havia criança que não os tivesse na mochila ou no bolso, ou que pelo menos convivesse com alguém que os tinha. Falamos dos famosos estalinhos, uma das 'quinquilharias' que literalmente 'estouravam' nos pátios das escolas (e, por vezes, também em plena rua) durante duas semanas em cada ano, antes de serem relegados ao esquecimento durante mais doze meses; uma espécie de versão mais barulhenta e perigosa dos enfeites de Natal, portanto, ou, se preferirmos, uma versão 'micro-mini' dos foguetes de Ano Novo.
Qualquer que seja a comparação utilizada, no entanto, a conclusão é a mesma - nomeadamente, que estas pequenas bombinhas de papel multicolorido, perfeitamente inofensivas até ao momento do lançamento, eram um dos 'apetrechos' obrigatórios para os festejos carnavalescos infanto-juvenis no Portugal dos 90, quase tanto (ou mais) do que os espiritualmente semelhantes balões de água ou do que as mais inofensivas serpentinas ou martelinhos. Quem os tinha, deliciava-se em descobrir o momento certo para os lançar, de forma a surtir o máximo efeito; quem não tinha, via-se obrigado a redobrar a atenção, não fosse um dos colegas decidir 'mandar' um directamente nas suas costas para os fazer dar um 'salto' – uma prática que, aliás, estava longe de ser incomum nesta época do ano. Apesar da tentação (e aparente facilidade) em criar um 'mega-estalinho' feito de vários outros, no entanto, tal experiência era desencorajada pela existência de 'mitos urbanos' sobre a perda de dedos derivada, precisamente, da execução dessa ideia – num exemplo perfeito do modo como a população infantil garante a sua auto-sobrevivência e estabelece limites para a sua audácia, ainda que de forma ingénua e quase inconsciente.
Nestes tempos em que a sociedade ocidental está mais ciente dos perigos e questões de segurança em torno de várias práticas anteriormente comuns, é com naturalidade que vemos os 'estalinhos' perderem preponderância no contexto das celebrações de Carnaval; quem cresceu ainda no século XX, no entanto, certamente terá recordado a sua ubiquidade nos Fevereiros daqueles tempos, e quiçá até 'ouvido' mentalmente o característico estampido assim que leu o título deste post...