02.11.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 31 de Outubro de 2024.
Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.
Apesar de o currículo escolar português não contemplar, a qualquer dos seus quatro níveis, uma disciplina nos moldes da Economia Doméstica estudada pelos alunos britânicos ou norte-americanos, tal não invalida que as escolas portuguesas tenham, desde sempre, tentado incutir nos seus alunos algumas noções básicas de como cuidar do seu espaço ou contribuir para a vida quotidiana. E se esta tendência, outrora presente em aulas de Lavores e práticas semelhantes, se foi esfumando ao longo das décadas, nos anos 90, a mesma subsistia ainda sob a forma de ocasionais lições de culinária.
De facto, não era de todo infrequente ver uma professora do ensino primário (fase menos estruturada do processo educativo nacional, e que, como tal, oferece maior liberdade para iniciativas deste tipo) dedicar uma manhã ou tarde a ensinar aos seus alunos como preparar uma receita simples, mas saborosa; e, à falta de fornos e outros equipamentos semelhantes nas salas de aula nacionais, a escolha acabava, inevitavelmente, por recair num 'velho conhecido', que não requeria tempo de forno, ou mesmo grande iniciativa no tocante à preparação – o salame de chocolate.
Doce marcadamente português – sendo a Itália o único outro país do Mundo onde é conhecido e confeccionado – muito popular entre a demografia infanto-juvenil, e que oferece a vantagem adicional de poder ser preparado de duas maneiras (com e sem recurso a ovos) não é de admirar que o salame de chocolate formasse parte de tantos 'ateliers' de culinária para crianças, quer no contexto das aulas, quer de iniciativas externas – quase sempre na sua versão sem ovos, dados os riscos inerentes ao uso de ovos crus, sobretudo quando consumidos por crianças. Mesmo essa variante 'simplificada', no entanto, era extremamente saborosa, e cumpria com louvor a tripla missão de ensinar rudimentos culinários às crianças, de lhes aumentar a auto-estima como resultado de um processo de confecção bem-sucedido, e de lhes proporcionar uma experiência diferente e, por isso, inesquecível, afirmando-se assim como uma escolha ideal para o efeito em causa.
Numa altura em que os cuidados e regulamentos em torno de produtos alimentares são muito mais rigorosos e exigentes, é de questionar se a prática de aulas de culinária – quer centradas em torno do salame de chocolate, quer de qualquer outro produto – continua a ser viável num contexto escolar ou educativo. Quem teve a sorte de participar numa destas sessões, no entanto, decerto a lembrará até aos dias de hoje, e quiçá nunca tenha voltado a comer um salame tão bom como o confeccionado naquele dia, na sala de aula, por si mesmo e pelos seus colegas de turma...