06.03.24
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
No passar do dia-a-dia pode, por vezes, ser difícil discernir o quanto tomamos por garantido na sociedade actual. De facto, é frequentemente necessário 'retroceder' no tempo para reparar na quantidade de pequenos elementos do quotidiano que caíram, quase sem se dar por isso, no desuso ou obsolescência, e que se foram, aos poucos, 'extinguindo' da vida do cidadão urbano ou suburbano comum. Dos cartões de impulsos, cabines e listas telefónicas aos calendários, catálogos (de Natal e não só) e até 'guias oficiais' e livros de 'truques e dicas' para jogos de computador, são inúmeros os objectos e serviços em tempos considerados indispensáveis que, hoje, mal se vislumbram no quotidiano ocidental. Desse grupo faz, também, parte o conceito que abordamos esta Quarta-feira, e que apenas constituirá memória para a faixa de leitores deste blog de maior idade: o cheque.
(Crédito da foto: OLX)
Numa era em que basta segurar o telemóvel em frente a um terminal de pagamento, ou pressionar meia dúzia de vezes o ecrã, para pagar quase todas as despesas diárias, a ideia de ter de preencher meticulosamente um pedaço de papel, escrevendo por extenso (!) a quantia pretendida, apenas para poder obter dinheiro ou efectuar uma transacção pode parecer absurdamente obsoleta; e, no entanto, quem alguma vez acompanhou os 'mais velhos' ao banco terá bem presente todos os elementos do processo: o 'molho' de folhas unidas, quase como se fossem rifas, a bonita carteira ou estojo onde as mesmas eram, invariavelmente, guardadas, as diferentes secções preenchidas com 'letra bonita', para que fossem perceptíveis, e o fascínio de ver uma dessas folhinhas transformar-se em notas e moedas, ou numa forma de pagamento. Terá mesmo havido, certamente, quem pedisse aos referidos adultos que os deixassem ajudar a preencher o referido documento, embora este fosse um risco que a maioria das pessoas responsáveis não estavam dispostos a correr...
Tal como muitos dos elementos acima mencionados – e outros de que vimos falando nestas páginas – o uso de cheques é uma experiência com que a Geração Z jamais terá contacto, e que poderá até ter dificuldade em perceber; para quem com eles conviveu, no entanto, a ideia de que aqueles 'papelinhos' com o logotipo e timbre do banco puderam, em tempos, ser utilizados como moeda-corrente não pode deixar de constituir um exemplo 'acabado' do quanto a sociedade ocidental evoluiu nos últimos trinta anos.