26.01.22
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...
Quem passeou num centro comercial de bairro durante os anos 80 e 90, certamente não só as viu, como as usou – ou, pelo menos, tentou pedir a quem quer que o acompanhasse autorização para as usar. As máquinas de brindes (também chamadas de 'ovos' ou de 'bolas'; não confundir com as de 'garra', nem com as que dispensavam bolas de pastilha elástica, pistachios e amendoins ou bolinhas saltitonas) eram presença comum, não só em qualquer espaço comercial que compreendesse uma área determinada na qual se aglomerassem várias lojas e serviços de restauração, como, por vezes, até em espaços individuais, como cafés, cervejarias ou até minimercados ou supermercados de bairro.
Exemplos dos dois modelos mais comuns de máquinas deste tipo
Compreendendo uma vasta gama de tamanhos e formatos (das mais pequenas e arrendondadas às mais comuns, altas e rectangulares, semelhantes às de 'garra') estas máquinas seguiam, no entanto, invariavelmente o mesmo princípio: o utilizador introduzia uma moeda (nos anos 90, normalmente, de cem ou até duzentos escudos, mais raramente de cinquenta) e rodava o manípulo situado ao nível da sua cintura, libertando assim umas das inúmeras bolas de plástico colorido alojadas no interior, cada uma das quais continha um pequeno brinde ou bugiganga digno da nossa secção Quintas de Quinquilharia. Invariavelmente em plástico barato e com um valor de produção quase nulo, estes brindes podiam ir de borrachas e pequenas figuras para pôr no topo dos lápis, a joalharia de pechisbeque (em tamanhos inutilizáveis por qualquer pessoa com idade suficiente para o brinde lhe interessar), passando por alguns brindes ligeiramente mais aceitáveis, como era o caso dos insectos de plástico, mini-carrinhos, porta-chaves, e outros produtos ao estilo 'ovo Kinder', e aproximadamente ao mesmo nível em termos de qualidade.
É claro que esta não era, necessariamente, a realidade 'vendida' por estas máquinas; mesmo os mais 'traquejados' utilizadores destes aparelhos, aqueles que SABIAM que o brinde ia, mais que provavelmente, ser uma qualquer bugiganga completamente inútil, se deixavam repetidamente enganar pelas promessas feitas pelos responsáveis por encher a máquina após esgotadas as bolinhas, ou antes do primeiro uso. Porque a verdade é que estes profissionais – que eram, verdadeiramente, dignos desse nome – não davam 'ponto sem nó', e tratavam de pôr no topo da pilha, bem à vista de quem se aproximava, os poucos prémios verdadeiramente apetecíveis que haviam sido fornecidos. Não era, de todo, incomum, ver bolinhas que continham no interior relógios, ou outros artigos que pudessem, verdadeiramente, interessar a alguém com idade superior a dez anos – o que, naturalmente, criava um conflito de 'expectativa vs realidade' que induzia ao gasto da tal moeda, e resultava, invariavelmente, na posse de mais um brinde com valor total de aproximadamente cinco escudos, de que até o mais novo dos utilizadores destas máquinas provavelmente desdenharia.
Ainda assim, a possibilidade de receber algo, pelo menos, aceitável a troco daqueles cem ou duzentos escudos era suficiente para manter grande parte do público a jogar, e este tipo de máquinas em circulação até à entrada do novo milénio, altura em que foram sendo, gradualmente, substituídas por modelos de conceito semelhante, mas mais avançados - normalmente com recurso a métodos digitais e alguma habilidade, por oposição a apenas sorte. No entanto, quem procurar bem nos cafés de bairro por esse Portugal afora, talvez ainda encontre, num canto, uma qualquer maquineta que lhe permita rodar um manípulo e gastar um euro num qualquer objecto com um décimo desse valor...