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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.11.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quem vive imerso no actual Mundo digital, em que a comunicação à distância depende apenas de um ou dois cliques numa de muitas aplicações virtuais especialmente concebidas para o efeito, pode não recordar – ou procurar esquecer – um tempo, ainda bastante presente, em que para comunicar com alguém remoto era necessário adquirir uma série de elementos físicos – como papel, caneta, selos e envelopes – e levar a cabo todo um processo que, na melhor das hipóteses, demorava dias a completar, e na pior das hipóteses semanas.

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Sim, nos anos 90 (e ainda um pouco na primeira década do século e milénio seguintes) praticamente a única maneira de contactar familiares e amigos que se encontrassem longe – e de quem não se tivesse o telefone, bem entendido – era através de cartas, as quais tinham depois de ser seladas e postas no marco do correio, onde eram recolhidas pelo carteiro e, ao fim de dois ou três dias (ou mais, dependendo da distância a que o destinatário se encontrava) finalmente entregues. Um processo demorado, algo moroso, e que – numa altura da História em que o envio de cartas está praticamente reservado a encomendas postais e contactos com entidades oficiais - parece absurdamente arcaico e ultrapassado.

Nem sempre foi assim, no entanto. Tempos houve em que as cartas serviam um propósito bem mais nobre entre a juventude, um propósito que foi entretanto adoptado e expandido por recursos como os fóruns e as redes sociais – nomeadamente, a aquisição de novas amizades. Na era pré-Internet, em que para a maioria das crianças 'rede social' significava apenas o conjunto dos familiares, vizinhos, colegas da escola e amigos do treino de karaté ou ballet, as cartas eram um dos meios que permitiam à juventude – portuguesa e não só – encontrar pessoas com interesses e gostos semelhantes, que (com sorte) se poderiam transformar em novos amigos.

Naturalmente, a adesão a este fenómeno por parte das crianças e jovens foi entusiasta, e durante várias décadas (o fenómeno não se restringe, de modo algum, aos anos 90) era rara a publicação dedicada ao público mais jovem que não incluísse uma página dedicada à troca de correspondência, formação de clubes, ou até troca de artigos de colecção, como selos, cromos ou caricas. Numa era bem mais relaxada no que toca à privacidade, os jovens partilhavam livremente nome, idade e morada, na esperança de encontrar alguém de novo com quem falar, e potencialmente construir uma amizade. E a verdade é que resultava, pelo menos que chegasse para manter estas secções vivas até ao fim da primeira década do século XXI.

Outra enorme vantagem da comunicação por carta, e que meios como o telefone ainda não possuíam à época, era a sua versatilidade, a qual permitia escrever a pessoas não só no nosso país, como em outros locais do Mundo; nascia assim a moda dos 'pen friends' internacionais, encorajada por pais e professores que procuravam instigar nas crianças um interesse pelas línguas. No entanto – talvez pelas diferenças linguísticas e culturais, talvez por ser uma actividade fomentada por terceiros, e como tal menos espontânea que a variante nacional – estas interacções acabam sempre por ser um pouco forçadas, e o interesse por parte de ambas as partes rapidamente se esvaía. Ainda assim, a moda dos 'pen friends' pode ser considerada, não só parte do fenómeno em análise neste artigo, mas como uma precursora presciente do fenómeno do email, dos fóruns e, mais tarde, das redes sociais.

Fica, como tal, evidente que as cartas físicas, não obstante a sua obsolescência no novo milénio, foram parte integrante e importante do processo de socialização de muitos jovens em décadas anteriores – incluindo a de 90. E a verdade é que quem alguma vez enviou um postal ou carta física sabe que – demoras e esperas à parte – o processo transmitia uma sensação muito própria, que o imediatismo das redes sociais e plataformas de comunicação jamais conseguirá replicar...

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