Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.04.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literatura juvenil.

Não, não estamos a falar de banda desenhada; neste post, falamos de livros ‘à séria’, daqueles com capítulos e enredos, só que especificamente criados para agradar a um público infanto-juvenil - aquilo a que nos EUA se chama ‘middle-grade literature’. E os anos 90 foram, sem dúvida, pródigos em exemplos deste tipo de livro, muitos deles orgulhosamente ‘made in Portugal’, e cuja leitura nenhuma criança com alguma propensão para a palavra escrita dispensava.

É precisamente dessas séries de produção inteiramente nacional que este post vai tratar, sendo esta a parte 1.5 daquilo que deixou, por ora, de ser uma duologia para se tornar numa trilogia.

Isto porque, como um atento leitor teve a gentileza de fazer notar (alô, Renato!) no post anterior, esquecemo-nos de uma série que acabou por marcar os miúdos da nossa geração tanto quanto qualquer dos títulos que abordámos no post – o Triângulo Jota. Pior, apesar de termos falado da série-estandarte da Caminho, Uma Aventura, esquecemo-nos da sua companheira de editora, e talvez a mais genial escritora portuguesa da década – a grande Alice Vieira. E se a primeira omissão foi embaraçosa, escrevermos sobre literatura infanto-juvenil portuguesa sem falarmos de um dos nossos nomes favoritos dentro do género é imperdoável. Por isso mesmo, os estrangeiros vão ter que esperar mais uma semana, porque hoje, corrigimos os nossos erros da edição passada.

E começamos, desde já, por falar no Triângulo Jota, série da autoria do galardoado veterano da literatura infantil e juvenil, Álvaro Magalhães. Iniciada em 1989 e escrita de forma regular até à despedida com a trilogia ‘As Três Pedras do Diabo’, em 2002 (um verdadeiro último volume, ‘O Clube dos Imortais’, viria a sair em 2014, após um hiato de 12 anos), a série centrava-se no grupo homónimo, constituído por três jovens portuenses, todos com nomes começados por J – daí o nome – que se viam, como costuma acontecer neste tipo de séries, envolvidos em todo o tipo de aventuras complicadas para jovens da sua idade.

Triângulo Jota.JPG

Alguns dos livros da série Triângulo Jota

Sem oferecer nada de muito diferente dos então líderes de mercado, nomeadamente Uma Aventura e o Clube das Chaves, a série destacava-se principalmente pela sua localização, fazendo bom uso da geografia e particularidades culturais portuenses para criar um clima algo diferente do das séries acima mencionadas. A veterania de Álvaro Magalhães encarregava-se do resto, nomeadamente da boa qualidade da prosa e dos enredos da série, que lhe valiam um lugar no ‘pelotão’ ao lado do Clube dos Quatro ou Detective Maravilhas.

De referir ainda que, tal como Uma Aventura e o Clube das Chaves, esta série teve, também, direito a uma adaptação televisiva, em 2006, já depois do auge do seu sucesso. Curiosamente, a série parece, hoje em dia, ser mais conhecida do que os próprios livros, o que não deixa de ser curioso, dada a sua passagem relativamente discreta pelos ecrãs portugueses.

triangulo-jota-04.jpg

Os protagonistas da adaptação televisiva do 'Triângulo Jota', de 2006

Abordado que está o primeiro dos dois assuntos deste ‘post’, vamos ao segundo – vamos falar de Alice Vieira. Conhecida pelo seu estilo de escrita muito próprio, tão cativante quanto divertido, a autora vivia, nos anos 90, um verdadeiro estado de graça, que rendeu uma série de livros juvenis absolutamente fabulosa, com início no hilariante ‘Úrsula, a Maior’ e que seguiu com ‘Os Olhos de Ana Marta’, ‘Promontório da Lua’, ‘Caderno de Agosto’, e por fim, ‘Se Perguntarem Por Mim, Digam Que Voei’, todos excelentes exemplos do que melhor se fez e faz na literatura infanto-juvenil em Portugal.

5886558676-alice-vieira-livros.jpg

Alguns dos muitos clássicos escritos por Alice Vieira nas décadas de 80 e 90.

De referir, aliás, que esta ‘série de ouro’ não se ficou por esta década, vindo já da década de 80 (tão boa ou melhor que a de 90) e tendo ainda extensão para o novo milénio, com ‘Trisavó de Pistola À Cinta’, mais uma valorosa adição à bibliografia juvenil de uma das maiores autoras para crianças e jovens do nosso tempo – e que, ao contrário de muitos/as, também não faz má figura na escrita para adultos. Uma espécie de Roald Dahl ‘à portuguesa’, portanto, cuja obra vale a pena relembrar e recomendar a qualquer criança que goste de ler e ainda não a conheça…

Antes de terminar, menção ainda para uma série que, apesar de concebida por autores estrangeiros, se celebrizou por uma tradução totalmente ‘localizada’, constituindo assim uma belíssima ponte entre este ‘post’ e o próximo, onde falaremos de séries estrangeiras. Trata-se da duologia ‘Diário de Um Adolescente com a Mania da Saúde’ e ‘Também Tenho a Mania da Saúde’, que segue as desventuras de um irmão e uma irmã que – como os próprios títulos indicam – são vagamente hipocondríacos.

                                           6379752.jpglivro_489070783_1_485.jpg

Originalmente editados no Reino Unido em 1986, e da autoria dos psiquiatras britânicos Ann McPherson e Aidan McFarlane, os dois livros foram alvo, na sua chegada a Portugal - em 1990, devido à ‘décalage’ cultural do país, já muito falada nestas páginas - não apenas de uma tradução, mas de uma adaptação total à realidade portuguesa, da autoria do pedopsiquiatra Mário Cordeiro. Os personagens passaram a ter nomes portugueses, frequentar uma escola portuguesa – na zona do Restelo, em Lisboa – e ter um modo de vida ajustado à realidade dos jovens portugueses naquele tempo. Ao contrário de Adrian Mole – com quem o protagonista, Pedro, partilhava muitos traços de carácter – os dois jovens da família Dores perderam qualquer traço de ‘britanicidade’, fazendo com que fosse muito mais fácil às crianças lusas identificarem-se com eles do que com o desastrado intelectual de Leicester. Mérito, pois, para Mário Cordeiro, por ter conseguido este feito - e por ter sido o autor da melhor tradução para português da história da editora Europa-América.

De referir que, à semelhança de quase todos os outros livros mencionados nesta secção até agora, ‘Teenage Health Freak’, o título original do primeiro livro, foi também convertido em série, exibida em Inglaterra nos anos de 1991 e 92.

E pronto – eis-nos chegados ao ponto ideal para fazer a transição para a parte sobre séries de livros infanto-juvenis estrangeiras que fizeram sucesso em Portugal. Isso, no entanto, fica para daqui a duas semanas; entretanto, e como sempre, partilhem as vossas memórias sobre estes e outros livros nos comentários!

1 comentário

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub