14.04.21
A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.
E para completer a trilogia de posts sobre ‘franchises’ de ‘revistinhas’ com grande sucesso em Portugal, nada melhor do que falar de uma série de publicações que continua disponível, e a fazer mais ou menos sucesso, até aos dias de hoje.
Sim, a Turma da Mônica – mais uma importação brasileira a chegar às bancas portuguesas, e a conhecer grande sucesso entre a miudagem do nosso país.
Criados nos anos 60, e disponíveis nas bancas portuguesas pelo menos desde o início da década seguinte, foi no entanto no período entre o final dos anos 80 e o princípio do novo milénio que os personagens de Mauricio de Sousa viveram os seus melhores anos, quer em termos de argumento, quer de desenhos. Quem leu as revistinhas da Turma nesta época certamente guarda na memória as histórias de comprimento perfeito, com desenhos dinâmicos, e movidos a ‘gags’ e diálogos hilariantes, que jogavam com as características de cada personagem - o mau-génio da líder Mônica, a ‘inteligência saloia’ do futuro supervilão Cebolinha, o medo da água do Cascão, o apetite incontrolável da magricela Magali ou a ingenuidade inocente do aldeão rural Chico Bento - de modo inteligente e natural. Ou seja, as obras saídas dos estúdios da Mauricio de Sousa Produções davam às crianças fãs da Turma exatamente aquilo que a maioria delas procurava de títulos com teor humorístico – muitas e boas gargalhadas, temperadas com a dose certa de emoção, aventura e lições de moral, melhor ou pior interiorizadas pelos personagens.
Algumas das revistas da Turma lançadas durante os anos 90.
De notar que, ao contrário das revistas Disney e dos super-heróis da Marvel e DC, dos quais falámos em anteriores Quartas de Quadradinhos, nunca foi feita nenhuma tentativa de nacionalizar a produção da Turma da Mônica, mesmo durante o seu período de maior sucesso em Portugal – e ainda bem! Os personagens e as suas vivências são tão tipicamente brasileiros que tentar adaptá-los só poderia dar errado – veja-se o que aconteceu com as poucas histórias de Zé Carioca editadas em ‘português de Portugal’. A decisão de continuar a importar as aventuras de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Chico Bento foi, portanto, acertada – até porque as revistas davam às crianças portuguesas um vislumbre de uma realidade diferente, com marcas, programas, atrações turísticas e rituais culturais e quotidianos muito diferentes daqueles que elas próprias vivenciavam.
O sucesso destas revistinhas em Portugal foi, ainda, suficiente para justificar a comercialização de algum ‘marketing’ da Turma, do qual o maior destaque vai para os deliciosos chocolates da Nestlé, vendidos em pacotes de várias unidades, cada uma das quais incluía um molde de um personagem, em chocolate branco, dentro de um quadrado de chocolate de leite. Quem comeu sabe que bem esta combinação resultava – especialmente a acompanhar a leitura de uma das revistas da série. De igual modo, algumas das compilações de episódios animados baseados nos personagens, como ‘A Turma da Mônica e a Estrelinha Mágica’, tiveram, à época, honras de exibição cinematográfica em Portugal, além de serem lançadas em VHS.
Talvez o melhor chocolate que vocês nunca comeram.
Infelizmente, com o passar dos anos e o aumentar do sucesso, as revistas da Turma da Mônica foram infantilizando e ‘saneando’ cada vez mais os seus argumentos, à medida que adicionavam mais e mais personagens secundários ao grupo. A partir dos anos 2000, as histórias passaram a ser caracterizadas por um humor muito mais ‘random’, que se juntava a desenhos cheios de caretas exageradas para criar algo bem ao gosto da Geração Z mas que, infelizmente, não agradava tanto aos leitores mais velhos. Nos anos 2010, a situação agravou-se ainda mais, passando a maioria das revistas a contar com feios traços digitais, e com os argumentos a sofrerem sob o escrutínio do politicamente correto – a ponto de certos personagens se descaracterizarem completamente, como a ex-comilona Magali e o agora asseadíssimo Cascão, que passou de fugir de torneiras a pingar (nos anos 80 e 90) para lavar as mãos sem hesitações, tudo em nome de não dar maus exemplos aos jovens leitores.
O próprio Cascão não gosta da ideia - e com razão...
Um desiderato louvável mas que, infelizmente, tirou grande parte do interesse a estas clássicas revistinhas, pelo menos para quem as leu durante a sua melhor fase – embora o sucesso não pareça ter diminuído entre as crianças actuais, que viram até ser produzido e lançado um filme ‘live-action’ sobre as suas personagens favoritas, em 2019.
Poster do filme 'Turma da Mônica: Laços', de 2019
Ainda assim, não há como negar que, para quem as leu, aquelas histórias dos anos 80 e 90 marcaram toda uma época, e farão para sempre parte da memória nostálgica daqueles anos mágicos.
E vocês? Liam estas revistas? De quem mais gostavam? Por aqui, a preferência ia para o Cebolinha, com Cascão e Chico Bento nos outros dois lugares do pódio. Concordam? Discordam? Façam-se ouvir nos comentários!