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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 17 de Agosto de 2022.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Há algumas semanas, debruçámo-nos sobre a colecção 'História de Portugal em Banda Desenhada', uma colaboração entre o escritor A. do Carmo Reis e o artista José Garcês que obteve considerável sucesso na fase final dos anos 80 e durante toda a década seguinte; hoje, dedicaremos algumas linhas a explorar a restante obra noventista do ilustrador dos referidos volumes, o qual ombreia com nomes como José Ruy e Carlos Roque (ambos, aliás, seus colegas na Escola António Arroio, em Lisboa) no panteão dos criadores de BD nacionais.

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José Garcês, em foto recente

Nascido em Julho de 1928, José Garcês começou por trabalhar no Serviço Metereológico Nacional (actual Instituto de Metereologia) onde chegou a chefe do departamento de desenho; no entanto, a verdadeira paixão era pela ilustração e banda desenhada, vocação que começou por explorar na 'fanzine' de publicação própria 'O Melro' (publicada ainda nos tempos da António Arroio, entre 1944 e 1945), antes de se explanar a outras revistas portuguesas. No auge da sua carreira, o ilustrador chegou a ser presidente e embaixador do Clube Português de Banda Desenhada e convidado de honra do Festival de Lucca de 1990, além de fornecer ilustrações e histórias de Garcês tanto para instituições estatais, como os CTT, o Museu Bocage ou a Liga para a Protecção da Natureza, como para publicações tão lendárias do panorama da BD portuguesa como 'O Século', 'O Mosquito', 'Cavaleiro Andante', 'Zorro', 'Fungagá da Bicharada', 'Mundo de Aventuras' e 'Tintim', além de periódicos algo mais inusitados, como a revista 'Modas & Bordados'; a sua influência dentro da cena foi, aliás, suficientemente longeva e transversal para algumas das suas histórias ainda figurarem na segunda série da revista 'Selecções BD', da Meribérica-Liber, publicada já no virar do novo milénio!

Pelo meio, além da supramencionada 'História de Portugal', ficam outros títulos de inspiração histórica, como a adaptação da obra literária 'O Tambor/A Embaixada', de Júlio Dantas (criada em parceria com o argumentista Jorge Magalhães, em 1990), a biografia de D. João V em banda desenhada e os dois volumes de 'Cristóvão Colombo - Agente Secreto de D. João II' (aqui com argumentos do historiador Mascarenhas Barreto, numa iniciativa semelhante à levada a cabo com do Carmo Reis, na década anterior) ou ainda o álbum de ficção 'Através do Deserto/O Santuário de Dudwa', todos lançados pelas Edições Asa, entre 1992 e 1994; de ressalvar ainda, durante este período, a participação do autor no álbum colectivo 'Contos das Ilhas', editado em 1993.

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Uma das obras de Garcês durante os anos 90 foi a adaptação de 'O Tambor/A Embaixada', de Júlio Dantas

Em 1997, Garcês volta a adentrar a consciência colectiva da então nova geração, através da 'História do Jardim Zoológico de Lisboa', álbum editado e distribuído em conjunto com o jornal 'Diário de Notícias', parceria que permitiu ao ilustrador atingir uma audiência tão ou mais vasta do que aquela de que gozava durante o seu período áureo de colaboração com as principais revistas de BD portuguesa; paradoxalmente, no entanto, o seu projecto seguinte representaria um 'passo atrás', do nível nacional para outro mais regional, para ilustrar a história de algumas das mais históricas povoações portuguesas, numa série de álbuns editados na viragem do milénio, entre 1999 e 2001. Esta acabaria por ser a sua última grande obra de banda desenhada - as duas décadas seguintes, até à sua morte, em 2020, foram sobretudo dedicadas à ilustração, para elementos tão díspares quanto postais e manuais escolares - mas a sua marca nesta forma de arte já havia sido indelevelmente cunhada.

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Um dos volumes dedicados à história de diversas povoações portuguesas, editadas no início do novo milénio

Muito longe de ser 'apenas' um criador de banda desenhada, José Garcês foi um verdadeiro 'homem renascentista', apresentado um talento multi-facetado que abrangia não só a ilustração e desenho como também o argumentismo e até a criação de construções e modelos em papel; um percurso que mais do que justifica a sua presença na mesma rubrica que já honrou alguns dos seus colegas de curso na Escola António Arroio em meados dos anos 40 - alguns, aliás, bem menos versáteis do que ele.

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