26.02.23
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Apesar de não constar entre os principais campeonatos mundiais, sendo as suas competições tidas como decididamente de 'segunda linha', o futebol português sempre foi exímio em formar e exportar jogadores, fossem eles jovens com potencial ou (como sucede com o futebolista de hoje) nomes já com créditos firmados 'dentro de portas'. De igual modo, apesar de a esmagadora maioria desta formação se centrar nos chamados 'três grandes' (Benfica, Sporting e Porto) por vezes, surgem em clubes algo mais periféricos jogadores cujo talento não passa despercebido – inclusivamente ao triumvirato atrás mencionado.
O jogador ao serviço do Porto.
Pedro Miguel da Silva Mendes, médio defensivo internacional pelas Quinas que completa hoje quarenta e quatro anos de idade, foi, na década de 90, um destes raros casos, tendo o seu despontar e afirmação sido feitos ao serviço de um dos 'históricos' do futebol português, e candidatos crónicos a 'quarto grande', no caso o Vitória de Guimarães. Foi ali que, nos primeiros anos da década de 90, um jovem de apenas onze anos vindo do 'vizinho' CD Aves começou a dar nas vistas, paradigma que se manteria durante os sete anos seguintes, com Mendes a ser, inevitavelmente, um dos jogadores de destaque em todas as equipas desde o nível de Infantis até à categoria de juniores.
Ainda assim, e apesar do talento inegável e inato, a entrada do médio na equipa principal do Guimarães não foi imediata, tendo o jogador de então dezanove anos sido enviado para 'rodar' no Felgueiras no início da época 1998/99. Previsivelmente, Mendes afirmou-se como um dos destaques da agremiação felgueirense naquela temporada, um daqueles jogadores 'de outro campeonato' claramente destinados a mais altos vôos. E esses viriam mesmo a chegar, logo na época seguinte, quando o médio defensivo é finalmente integrado no plantel vimaranense, ainda que apenas como apoio ao plantel prinipal; ainda assim, o jovem chegaria a efectuar quinze jogos pelo clube nessa primeira época, contribuindo com um golo.
Mendes no Guimarães.
Seria apenas após o virar do Milénio, no entanto, que a carreira de Pedro Mendes começaria, verdadeiramente, a despontar, com o jogador a assumir cada vez maior preponderância no seio dos 'Conquistadores', afirmando-se mesmo, eventualmente, como titular indiscutível; no total, foram quatro as épocas e mais de noventa os jogos do médio pelo seu clube do coração, tendo a sua última temporada ficado marcada por um recorde de golos – seis, o dobro dos que havia marcado nas três épocas anteriores combinadas!
Como já seria de prever, o talento e consistência exibicional de Mendes não passaram despercebidos, tendo o médio sido alvo do interesse do FC Porto de Mourinho no início da época 2003/2004 – precisamente aquela em que o emblema portuense almejou o feito mais notável da sua História. Assim, em dez meses e pouco mais de quarenta jogos, a reputação do jogador projectava-se do nível local para um patamar internacional, e aquele que, um ano antes, havia sido 'apenas' um dos médios do Guimarães possuía, agora, honras de Campeão Europeu, bem como de internacional por uma das melhores equipas portuguesas de sempre.
Também previsivelmente, esta nova reputação suscitou interesse internacional pelos serviços do jogador, o qual, apenas um par de meses após vencer a Liga dos Campeões pelo Porto, embarcava em novos desafios em Inglaterra, no caso ao serviço do Tottenham, onde chegaria a fazer uma boa época – com trinta jogos e um golo – mas onde rapidamente perderia preponderância, sendo dispensado para o Portsmouth ainda no mercado de Janeiro da sua segunda época com os 'Spurs'.
O médio no Portsmouth.
Ali, a vida correr-lhe-ia significativamente melhor, tendo o médio rapidamente assumido um papel preponderante na luta do clube por assegurar a manutenção, e contribuído com dois golos cruciais para esse objectivo, ambos conseguidos numa inesperada vitória por 2-1 frente ao Manchester City. As duas épocas seguintes seguiriam na mesma toada, tendo a estadia de Pedro Mendes sido coroada com a conquista da FA Cup, na época 2007/2008 – um objectivo bem menos sonante do que a Liga dos Campeões conquistada apenas quatro anos antes, mas nem por isso menos meritório.
Apesar da ligação ao Portsmouth – que, inclusivamente, o veria comprar acções do clube e juntar-se a um grupo organizado de adeptos que procuravam adquirir o mesmo de forma conjunta – a carreira de Mendes sofreria nova 'reviravolta' logo na época seguinte, que veria o médio rumar à Escócia para representar um dos seus históricos, o Rangers. Ali, o português teria novo início mais que auspicioso, tendo sido seleccionado como figura do jogo logo na sua partida de estreia, e como Jogador do Mês de Agosto, após apenas algumas semanas ao serviço do clube. Estava dado o mote para mais uma excelente época, com o jogador a afirmar-se como titular dos escoceses, a contribuir com quatro golos e a carimbar o seu regresso às convocatórias da Selecção Nacional, pela qual viria a disputar tanto a fase de qualificação quanto a fase final do Mundial de 2010.
O jogador no Rangers.
Assim, foi de forma algo surpreendente que o mercado de Janeiro da época seguinte viu o médio regressar a Portugal, agora para representar um Sporting em fase complicada; e ainda que o jogador tenha desempenhado papel importante na segunda metade da campanha dos 'Leões', alinhando em dezasseis partidas e marcando um golo, a época seguinte vê-lo-ia perder preponderância, realizano em uma época inteira o mesmo número de partidas que fizera em seis meses do ano anterior.
Mendes no Sporting.
Por consequência, o vínculo do médio com o clube lisboeta rescindido no final da época, a fim de possibilitar um regresso do jogador a 'casa'. A última época de Mendes como futebolista profissional seria, pois, passada no mesmo local onde a sua carreira havia começado quase uma década e meia antes: em Guimarães, onde o médio voltou a ser figura de proa, realizando vinte e dois jogos pelo seu clube formador antes de pendurar definitivamente as chuteiras – um ponto final condigno numa carreira repleta de honras e pontos altos, que inscrevia o jogador na lista de expoentes máximos da História do futebol português, e sobre a qual o mesmo quererá, certamente, reflectir no dia em que completa quarenta e quatro anos. Parabéns, Pedro Mendes – que conte muitos mais!