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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.06.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de a maioria dos 'símbolos' de um clube (em qualquer modalidade) serem, tradicionalmente, oriundos das camadas de formação do mesmo, tal nem sempre é o caso; por vezes, surgem jogadores contratados de fora, já em idade sénior, mas que, ao deixarem o respectivo clube, o levam na boca e no coração, permanecendo para sempre adeptos do mesmo, e por vezes até surgindo ligados à estrutura. Os anos 90 não foram excepção neste aspecto, antes pelo contrário; só nos três 'grandes', existiam vários exemplos deste fenómeno, entre eles nomes tão icónicos como Aloísio, Nuno Gomes, João Vieira Pinto, Ivaylo Yordanov, Alberto Acosta, Krasimir Balakov e o jogador de que falamos hoje, um membro da Geração de Ouro que, apesar de até hoje merecer o apelido 'Coração de Leão', não iniciou a sua carreira nas 'escolinhas' de Alvalade, tendo chegado ao Sporting Clube de Portugal já 'homem feito', mas ainda mais do que a tempo de se tornar um ídolo e referência dentro do clube.

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O jogador com a camisola com que se notabilizou.

Falamos de Ricardo Manuel Andrade e Silva Sá Pinto – normalmente conhecido apenas pelos seus dois últimos apelidos – aquele segundo avançado de fartas sobrancelhas e penteado à 'jogador da bola', tão conhecido pela sua raça dentro de campo como pelo seu feitio complicado, eternizado no infame murro ao então Seleccionador Nacional, Artur Jorge, a 26 de Março de 1997, que lhe valeu uma suspensão de um ano de jogos internacionais.

Muito antes disso, no entanto – muito antes, aliás, de qualquer tipo de actividade internacional – Ricardo 'Coração de Leão' era uma jovem estrela em ascensão, não no centro de Lisboa, mas sim da 'outra' capital portuguesa, onde despontara para o futebol enquanto membro da formação do Futebol Clube do Porto, onde ingressara com tenros dez anos, e se notabilizara ao serviço do histórico Salgueiros, emblema onde completaria a formação e faria as suas três primeiras épocas como sénior. Corriam os primeiros anos da década de 90 (concretamente, a época 1991/92) quando um talentoso adolescente surge pela primeira vez ao serviço dos alvirubros nortenhos, dando imediatamente nas vistas pela raça e talento muito acima da média para um jogador da então II Divisão de Honra. Na época seguinte, surge a oportunidade de explanar o seu futebol no escalão principal, onde se estreia a 30 de Agosto de 1992, como suplente num jogo contra o Farense, e menos de dois anos depois, já com créditos firmados no seio da sua equipa, Sá Pinto era já peça fulcral na Selecção Nacional Sub-21 que chegaria à final do Campeonato Europeu da categoria no Verão de 1994.

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O avançado ao serviço do Salgueiros.

Tão meteórica ascensão não podia, é claro, passar despercebida a um 'grande', e é sem surpresas que os adeptos do Salgueiros se despedem de Sá Pinto imediatamente após o supracitado torneio, altura em que o jovem, ainda com apenas 22 anos, ruma à capital para assinar pelo Sporting, onde virá a passar as próximas três épocas, afirmando-se como peça progressivamente mais e mais importante dentro do colectivo; logo naquela primeira época, por exemplo, ajuda o clube a conquistar a Taça de Portugal, e posteriormente a Supertaça, no início da temporada seguinte. No total, são mais de setenta e cinco os jogos realizados pelo avançado nessa sua primeira passagem pelos 'verdes e brancos', e vinte os golos marcados – números apenas ligeiramente aquém dos conseguidos no Salgueiros no período análogo, e que lhe valem, com naturalidade, a presença regular também no 'onze' da Selecção Nacional, pelo menos até ao supracitado 'desaire' com Artur Jorge.

Tal como acontecera no seu clube original, aliás, o papel determinante do avançado no seio da sua equipa voltaria a atrair atenções alheias no defeso de Verão de 1997 – desta feita, do estrangeiro, concretamente da vizinha Espanha, próximo destino do avançado, que assina pela Real Sociedad.

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Sá Pinto na Real Sociedad.

Depois de mais três épocas de alto nível no país vizinho (apesar dos apenas seis golos, um dos quais na estreia, o avançado consegue amealhar um total de setenta partidas, afirmando-se como peça importante também no colectivo espanhol) o dealbar do Novo Milénio veria Ricardo 'Coração de Leão' regressar à 'casa adoptiva', a tempo de voltar a ser herói; desta feita, seriam seis as épocas e quase cem os jogos realizados pelo raçudo internacional português, que contribuía com catorze golos para as conquistas dos 'Leões' neste período, entre as quais se contam mais duas Supertaças e, claro, o troféu de Campeão Nacional na época 2001/2002.

Feitos suficientes para, apesar de não ter acabado a carreira no Sporting (fez ainda uma época na Bélgica, ao serviço do Standard Liége), Sá Pinto merecer a consideração e o carinho dos adeptos leoninos, para os quais se tornou ídolo, e que – aquando da inevitável transição para o cargo de treinador, no início da década de 2010 – o receberam de braços abertos, ainda que a sua inexperiência na função o tenha impedido de alterar os destinos do clube do coração, então numa fase difícil em termos de resultados. Nada, no entanto, que tenha travado ou prejudicado a carreira de Ricardo enquanto treinador, que subsiste até hoje, contando já com passagens por clubes como o Red Star Belgrado, Belenenses, Sporting Clube de Braga, Gaziantep, Vasco da Gama, Moreirense e duas passagens pelo Atromitos, da Grécia, entre outros clubes de menor expressão.

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Sá Pinto o treinador.

Para quem seguia o Campeonato Nacional durante a última década do século XX, no entanto, não é aquele 'senhor' de 'fatinho' que o nome Sá Pinto invoca, mas sim o intratável segundo avançado que foi ídolo por onde passou, deu uma 'murraça' no Seleccionador Nacional por o ter deixado de fora de um jogo, e 'comia a relva' sempre que entrava em campo – fosse ao serviço do Salgueiros, aos dezanove anos, ainda como Cara (Des)conhecida do futebol português, ou do Standard Liége, aos trinta e quatro, enquanto internacional de créditos firmados. Uma figura inimitável, portanto, e que, pesem embora algumas controvérsias, se afirmou como exemplo de muitas das características que se pedem a um jogador de futebol de topo.

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