30.01.22
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.
Ao folhear a caderneta de cromos oficial do Sporting Clube de Portugal, lançada a tempo do início da época 1994-95, lá estava ele; um jovem lateral-esquerdo de 19 anos, de sorriso tímido e cabelo até por baixo das orelhas, no então típico penteado 'à jogador da bola'. No topo da página, o nome - Nuno Valente.
A página de cromos que deu a conhecer Nuno Valente (crédito da imagem: Armazém Leonino)
Foi desta forma inusitada – através de uma não menos inusitada, e nunca mais repetida, caderneta de cromos – que os pequenos 'leões' dos anos 90 tiveram o primeiro contacto com aquele que se viria a tornar um dos maiores laterais-esquerdos portugueses de sempre...ao serviço de um dos clubes rivais daquele que o viu 'nascer' para a bola.
Natural de Lisboa, seria no Norte que Nuno Jorge Pereira da Silva Valente viria a conhecer o sabor do sucesso, já no novo milénio, depois de nos anos 90 ter feito o habitual 'périplo' dos empréstimos comum a tantos jovens futebolistas, ao fim do qual foi dispensado pelo clube onde fizera (quase) toda a sua formação. Em seis anos, foram dois empréstimos – a Portimonense e Marítimo, tendo conseguido estabelecer-se em ambos – e menos de quarenta participações com a camisola do Sporting, nunca tendo, claramente, representado uma opção para qualquer dos diferentes treinadores dos 'leões', apesar da sua valorosa participação na campanha que culminou com a conquista da Taça de Portugal 1994-95.
Valente passou quase despercebido nas suas seis épocas no Sporting
Assim, foi com naturalidade que, em 1999, os adeptos 'verdes e brancos' o viram sair, em final de contrato, para o União de Leiria - outra presença constante no meio da tabela do campeonato português dos anos 90, à época orientado por um jovem treinador de enorme valor chamado...José Mourinho – e continuar uma carreira que se previa do tipo 'honroso, mas sem brilho'.
Cromo que mostra Nuno Valente enquanto jogador do Leiria
As coisas não viriam, no entanto, a revelar-se tão previsíveis quanto isso para Nuno Valente; as boas exibições ao serviço do Leiria, onde mais uma vez 'pegou de estaca', permitiram-lhe seguir Mourinho e o colega de equipa Derlei do clube do Lis para o Futebol Clube do Porto, ao qual chegava em 2003 com a chancela de um dos melhores laterais do campeonato.
O resto da história é bem conhecido: participação activa no período hegemónico e imperial do FC Porto na Europa, pedra basilar da Selecção Nacional do período pós-Geração de Ouro, transferência para o Everton, onde continuou a brilhar, e, finalmente, a retirada em alta do futebol profissional, aos 35 anos e com um palmarés invejável, para se tornar olheiro do Everton em Portugal e, mais tarde, treinador. E ainda que essa experiência não tenha corrido tão bem como seria desejável – foram apenas seis meses ao comando do Trofense antes de ser substituído – terá, certamente, sido mais do que aquele jovem de penteado questionável que lutava para se afirmar na equipa do Sporting alguma vez terá sonhado...