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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.10.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

É sempre triste ver mais uma parte da nossa infância e juventude desaparecer para sempre – e, por coincidência, a últimas semana viu serem retirados à geração que cresceu em finais do século XX não uma, mas duas personalidades directa ou indirectamente ligadas à programação nacional da época: o espanhol Claudio Biern Boyd, criador de algumas das animações mais conhecidas da época, e a portuguesa Ruth Rita, cujos quinze minutos de fama surgiram como assistente de Herman José na memorável versão portuguesa de 'A Roda da Sorte'.

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Boyd com as suas duas criações mais famosas

Sobre o primeiro, há a exaltar a capacidade que teve de tornar dois textos clássicos mais apelativos para as crianças da era pré-digital através do seu reconto em formato animado, com animais antropomórficos no lugar dos heróis. Tanto 'Willy Fog: A Volta ao Mundo em 80 Dias' como o imortal e incontornável 'Dartacão' combinavam as duas paixões de Boyd (a literatura clássica e a animação) e se afirmaram como marcos na televisão portuguesa dos anos 80 e 90, tornando-se (juntamente com 'David, o Gnomo', outra produção de Boyd, esta totalmente original) de visionamento quase obrigatório para milhares de crianças e jovens lusos, tal como já o haviam sido na vizinha Espanha; e tudo isto sem recurso a violência ou linguagem 'forte', elementos que o produtor espanhol fazia questão de evitar nas suas produções. Quanto mais não seja pelo sucesso dessas duas séries, Claudio Biern Boyd será para sempre recordado por toda uma geração de crianças ibéricas. Tinha 82 anos.

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Ruth Rita e Herman José , um 'duo dinâmico' que marcou o entretenimento português de inícios dos anos 90

Já Ruth Rita mereceu destaque por ter sido - a par de Lenka da Silva, já no novo milénio – uma das poucas assistentes de concurso a exibir qualquer laivo de personalidade, no caso derivado das suas reacções aos dichotes de Herman José, que não perdia qualquer oportunidade de 'picar' a bela assistente encarregue do quadro de letras d''A Roda da Sorte'; os seus sorrisos envergonhados e ocasional resposta 'à letra', o nome quase inacreditavelmente perfeito (e que seria um crime ter sido desperdiçado num qualquer anónimo) e a sua presença semanal nos lares portugueses, durante nada menos do que quatro anos, ajudaram a gravar a figura da apresentadora na memória de ambas as demografias que, à época, assistiam religiosamente ao concurso de Herman, as quais, certamente, sentem actualmente a sua perda,

Duas personalidades, portanto, que, sem serem 'celebridades' no sentido mais literal da palavra, não deixaram de ter impacto na infância e juventude da geração nascida e criada entre as décadas de 80 e 2000. Que descansem em paz.

10.10.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Um axioma popular bem conhecido dita que, quando alguma coisa faz sucesso (seja uma receita, uma peça de roupa, uma fórmula musical ou literária, uma consola, um jogo de vídeo ou cartas ou, como neste caso, uma série televisiva) inevitavelmente aparecerão imitadores directos, cuja intenção declarada é atingir um grau de sucesso semelhante com um mínimo de esforço, muitas vezes na base da cópia directa; foi assim com as Tartarugas Ninja (cujo concorrente mais directo talvez seja o mais bem sucedido exemplo deste fenómeno), foi assim com 'Pokémon' e 'Digimon' e, claro, não pôde também deixar de ser assim com os Power Rangers.

De facto, a popularidade imediata de que a série da Saban gozou entre o público infantil, aliada aos baixos custos de produção, faziam com que a aposta neste tipo de série fosse de baixíssimo risco, e de retorno financeiro quase garantido; assim, não é de surpreender que tenham sido vários os exemplos surgidos na senda do sucesso de 'Mighty Morphin' Power Rangers', muitos deles produzidos e lançados pela própria companhia que adaptara o conceito original.

Destas, duas chegaram a 'dar à costa' em terras lusitanas, sensivelmente ao mesmo tempo que a sua inspiração-mor (que, ao contrário das ditas, tinha sentido os efeitos da 'décalage' cultural que atrasava a chegada da maioria dos produtos estrangeiros à Península Ibérica, normalmente por períodos entre três a cinco anos) e, tal como esta, em versão dobrada em português, mas sem terem conseguido sequer uma fracção do seu sucesso, não obstante as circunstâncias e clima cultural extremamente favoráveis.

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Falamos de 'Big Bad Beetleborgs' (que só uma década depois da sua estreia nacional teve direito a um título traduzido) e 'VR Troopers' (que nunca chegou a tê-lo) dois programas que adoptavam a fórmula pioneirizada por Mighty Morphin' – que misturava segmentos originais com actores norte-americanos a outros 'importados' directamente de uma qualquer série japonesa – sendo a única diferença a origem do material: enquanto que as diferentes séries dos Rangers eram adaptados dos chamados 'sentai'(séries sobre heróis em fatos às cores com enormes robôs, de que foi exemplo-mor em Portugal 'Turbo Ranger') estas duas séries procuravam importar para o Ocidente o outro grande género de programa deste tipo, o 'tokusatsu', que consistia de séries sobre heróis em fatos METÁLICOS às cores com enormes robôs. Uma diferença que pode parecer negligenciável, mas que ajuda a tornar algo como 'Kamen Rider' (o mais famoso exemplo do género) substancialmente diferente de qualquer série de 'Rangers' – mas que, inversamente, pode servir para explicar o porquê de nenhuma destas séries ter encontrado grande tracção entre o seu público-alvo, não indo qualquer delas além das duas temporadas.

E, no entanto, qualquer das duas via reunidas as condições para ter sucesso, não só se baseando numa fórmula com provas dadas (e já bem explorada pela mesma produtora) como também apresentando conceitos que, à época, faziam delirar a demografia-alvo, como a realidade virtual ou a banda desenhada de super-heróis; 'Beetleborgs' transformava mesmo os três protagonistas em crianças da idade dos próprios espectadores, à semelhança do que aconteceria mais tarde com o personagem Justin em 'Power Rangers Turbo'. No entanto, qualquer que tenha sido a razão – saturação do mercado, a sensação de ambas as séries não passarem de pálidas 'cópias' do original – a verdade é que nenhum dos dois conceitos se notabilizou o suficiente para merecer menção individual, ocupando sensivelmente o mesmo espaço, quer em termos de qualidade, quer de 'visibilidade' na memória nostálgica actual do público lusitano.

Ainda assim, nem tudo o que diz respeito a estas séries é totalmente deitado a perder; isto porque qualquer das duas tem genéricos de abertura quase tão 'radicais' como o dos 'padrinhos' Power Rangers, que constituem, de longe, o elemento mais memorável de ambas; de resto, nenhuma das duas merece, exactamente, mais do que o grau de notabilidade de que hoje goza, sendo ambas vistas hoje em dia (com total justiça, aliás) como o tipo de 'produto daquele tempo' que mais vale esquecer como simples 'desvario' de uma época diferente - como, aliás, indica o facto de ambas tenham sido 'repescadas', já no novo milénio, e prontamente voltado a ser ignoradas pela nova demografia-alvo, mais 'entretida' com produtos como 'Adventure Time', e sem tempo para 'tontices' antiquadas com fatos 'fatelas' e monstros de borracha...

Ambas as séries tinham nos excelentes temas de abertura o seu aspecto mais notável e memorável

 

 

 

26.09.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Tal como o 'anime', o género de série conhecido como 'sentai' – que segue as peripécias de um grupo de heróis com uniformes de 'lycra' às cores e robôs gigantes activados à distância – teve, durante décadas, consideráveis dificuldades em 'penetrar' no Ocidente, feito que apenas verdadeiramente conseguiu aquando da estreia de 'Mighty Morphin' Power Rangers', uma versão (quase) totalmente localizada do conceito que se viria a tornar um dos maiores êxitos de televisão infantil da década de 90, e iniciar um legado que se estende já por praticamente três décadas. Por essa altura, no entanto, já o Japão vinha criando material deste tipo há pelo menos duas décadas, tendo até alguns exemplos do mesmo conseguido extravasar os confins nipónicos e atingido sucesso noutros países – o Brasil, por exemplo, era consumidor ávido deste género de série, em grande parte devido ao seu elevado contingente nipónico, e programas como 'Ninja Jiraya', 'Changemen' ou 'Jaspion' (todos anteriores a 'Zyuranger', a série que viria a ser 'ocidentalizada' e a servir de base a 'Mighty Morphin'...') tornaram-se, a partir de meados da década de 80 e até ao inicio da seguinte, presença assídua na grelha de canais como a TV Manchete, onde fizeram as delícias de toda uma geração de crianças.

O que muitos dos que deliraram com os Power Rangers por alturas da transmissão original talvez nunca tenham sabido, no entanto, é que a referida série também não foi o primeiro contacto da juventude portuguesa com o conceito de 'sentai'; cerca de quatro anos antes de os discípulos de Zordon terem pela primeira vez surgido nos ecrãs nacionais, já a RTP tinha encetado uma primeira tentativa de apresentar este tipo de material à demografia infanto-juvenil lusa – embora sem grandes esforços de 'marketing' ou divulgação, e com uma apresentação, no mínimo, bizarra.

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Quaisquer semelhanças com 'outra' série nostálgica NÃO são mera coincidência...

A série escolhida para esta espinhosa missão foi 'Turbo Rangers' (no original, 'Kousoku Sentai Turboranger'), um 'sentai' de 1989 que chegava aos ecrãs nacionais três anos depois, em Abril de 1992, e se despedia dos mesmos pouco depois, sem deixar grande marca na memória do público-alvo; e ainda que inicialmente tão discreta reacção possa parecer surpreendente – especialmente à luz do sucesso de que já gozavam séries como 'Cavaleiros do Zodíaco' e de que viriam, pouco depois a gozar os referidos Power Rangers – os motivos para a mesma tornam-se imediatamente evidentes assim que se analisa mais a fundo o material adquirido e exibido pela RTP. Isto porque 'Turbo Ranger' era transmitida no Canal 1 em versão legendada (uma prática normal para a estação estatal à época, mesmo com séries infanto-juvenis), mas não com a faixa de áudio original; em vez disso, o programa era exibido na sua versão francesa (!!), a qual era, por sua vez, legendada em português. Ou seja, uma série japonesa era exibida em francês, com legendas em Português – uma autêntica Torre de Babel televisiva, que raramente se tornou a repetir na televisão portuguesa.

Pior – o facto de a RTP ter adquirido a versão francesa de 'Turbo-Ranger' privava os espectadores nacionais de praticamente metade da série, já que 22 dos 51 episódios do 'sentai' foram censurados aquando da sua importação para França, limitando as crianças portuguesas aos apenas 29 episódios que 'sobreviveram' ao 'lápis vermelho' dos censores – o que, por sua vez, resultou num período de exibição relativamente curto; à laia de comparação, a transmissão inicial de 'Power Rangers' correspondeu a cerca de 200 episódios, 'Power Rangers Turbo' (que NÃO é baseado neste 'sentai', mas sim em 'Car Ranger') teve 45, e até os 'imitadores' 'VR Troopers' e 'Big Bad Beetleborgs' tiveram perto de 100 episódios cada.

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Graças à censura aplicada à versão importada para o Ocidente, a equipa de Turbo Rangers teria poucas oportunidades de entrar em acção na televisão portuguesa.

Este infeliz conjunto de factores predestinou, inevitavelmente, 'Turbo Rangers' a um rápido eclipsar das ondas audiovisuais lusitanas, e consequentemente, da memória do público-alvo, a qual não prima por longeva; não é, portanto, de admirar que, para a maioria das crianças da época, 'Power Rangers' seja tido como o primeiro contacto com este tipo de programa, já que mesmo quem viu 'Turbo Ranger' certamente já havia esquecido a sua existência quatro ou cinco anos depois - e com razão; tratava-se de uma série 'sentai' perfeitamente mediana, sem qualquer inovação a nível da trama, acção ou personagens (é a típica história de cinco jovens a bordo de veículos robóticos em luta contra uma bruxa de outro planeta, os seus capangas desastrados, e os respectivos monstros gigantes), com valores de produção muito abaixo dos padrões ocidentais da época, e cujo único elemento verdadeiramente memorável e acima da média era o ultra-contagiante tema de abertura da dobragem francesa, que se cantou muitas vezes 'foneticamente' lá por casa (mesmo sem perceber uma palavra do que era dito) e que partilhamos abaixo, para que também os nossos leitores possam ficar com ele na cabeça durante décadas...

Um dos grandes temas de abertura 'esquecidos' da TV portuguesa dos anos 90.

12.09.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de, hoje em dia, fazer parte integrante da cultura popular portuguesa, o 'anime' – nome por que é genericamente conhecido qualquer produto animado oriundo do Japão – tardou a penetrar na consciência popular lusa da mesma forma que havia feito no resto do Mundo...pelo menos, aparentemente. Isto porque, mesmo sem o saberem, as crianças e jovens nacionais já vinham sendo expostas a produtos mediáticos inseríveis nesta categoria pelo menos dez anos antes das primeiras séries declaradamente identificadas como tal; de facto, quem, na infância, viu 'desenhos animados japoneses' já conhecia o género muito antes do mesmo ser categorizado como tal. Mais – além de séries de traços declaradamente nipónicos, como 'Capitão Hawk' ou 'Cavaleiros do Zodíaco', a influência japonesa fazia-se também sentir em grande parte das séries ocidentais, as quais, à época, não só 'encomendavam' muita da sua animação ao País do Sol Nascente como também tratavam de adaptar e dobrar material originalmente produzido naquela nação.

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Um exemplo deste último fenómeno, cuja criação precede qualquer das séries atrás mencionadas, mas que seria exibido em Portugal sensivelmente na mesma altura das mesmas, é ´Esquadrão Águia', o nome nacional para a adaptação norte-americana do 'anime' 'Gatchaman' que – dependendo a quem se pergunte – é conhecida ora como 'G-Force', ora como 'Battle of the Planets', ora ainda como 'Eagle Riders'. Originalmente criada e exibida no Japão em 1978, a série demoraria nada menos do que catorze anos a chegar às televisões nacionais – um 'atraso' impressionante, mesmo pelos padrões da época!

É claro que, com tal intervalo de tempo desde a sua criação, os aspectos técnicos de 'Esquadrão Águia' ficavam, naturalmente, muito atrás dos das restantes séries com que competia, incluindo os supramencionados 'Saint Seiya' e 'Captain Tsubasa'; vista mais de quarenta anos depois, a animação da série é quase dolorosamente limitada, mais próxima de um 'Speed Racer' (outra série que chegaria 'atrasada' aos televisores nacionais) do que do desenho animado médio daquele início dos anos 90. Assim, o único factor de espanto é o facto de, após essa transmissão na RTP em 1992, em versão legendada, a série ter sido repescada, não uma, mas DUAS vezes, ambas com nova dobragem a cargo da Somnorte – primeiro, na mesma década, pela SIC (onde passou em 1997) e, já na década seguinte, pela RTP2, onde passaria em 2003, um exacto QUARTO DE SÉCULO após a sua criação!

As razões para tal cariz perene da série na televisão portuguesa são pouco claras, tendo, presumivelmente, a ver com a combinação ideal entre baixos custos de aquisição e (desde há alguns anos) nostalgia apresentado pelas aventuras dos Eagle Riders no combate aos Vorak, soldados alienígenas que procuram dominar a Terra em nome da sua entidade, Cybercon; no fundo, o mesmo tipo de premissa que tem vindo a fazer das sucessivas séries de 'Power Rangers' um sucesso inter-generacional, e que parece nunca perder o apelo para as demografias mais jovens. Ainda assim, para essas, havia – na altura, e especialmente hoje em dia – opções bem melhores do que esta série meio 'tosca', que beneficiou (e muito) por ter surgido no sítio certo e na altura certa para ter feito parte do grupo de animações pioneiras do seu género em Portugal, mas cujo valor é, nos dias que correm, quase exclusivamente nostálgico.

A introdução da série permite, desde logo, verificar as deficiências técnicas da mesma por comparação à 'concorrência'.

29.08.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Qualquer criança ou adolescente que tenha crescido entre finais dos anos 80 e inícios do Terceiro Milénio saberá que esse mesmo intervalo constitui o período áureo para os desportos radicais, cuja globalização ajudou a atrair o interesse da camada da população sempre 'à coca' de novos 'hobbies' e passatempos; assim, não é de estranhar que essa 'febre' rapidamente tenha sido apropriada pelas corporações mediáticas e comerciais e utilizada como chamariz na divulgação dos mais variados produtos e serviços. Os personagens 'radicais', de crista, boné para trás e dialecto a condizer – mas sempre com bom coração e preocupados com questões como o ambiente ou a solidariedade social, claro - não só tomaram conta das prateleiras de supermercado, como também dos ecrãs, tanto de cinema como de televisão.

Este último campo, em particular, viu surgir, em finais dos anos 80, um dos exemplos mais flagrantes desta tendência, e que a combinava descaradamente com outro grande foco de interesse da demografia-alvo da altura, os dinossauros, e com o também sempre apetecível conceito das viagens no tempo, para criar o sonho de qualquer dirigente televisivo da altura – uma série perfeitamente sinergética e pronta a fazer sucesso entre os jovens daquela época.

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A série em causa, 'Denver, O Último Dinossauro' provou ter 'pernas' suficientes para não só se 'esticar' para uma segunda temporada como ser exportada internacionalmente, uma honra que nem todas as séries almejavam (em Portugal, passou na RTP, em versão dobrada, logo nos dois anos seguintes à sua estreia nos Estados Unidos). E apesar de, trinta anos volvidos, parecer uma daquelas séries que é tão 'de época' que chega a doer – ao mesmo nível de 'Power Rangers' ou 'Tartarugas Ninja' – foi precisamente essa especificidade que lhe permitiu ganhar tracção entre o público jovem do seu tempo.

De facto, a 'datação em carbono' desta série poderia ser feita simplesmente com base na premissa, que vê quatro jovens praticantes de skate e BMX descobrirem e albergarem um dinossauro (ou aquilo que, à época, se entendia como um) que ensinam a falar, a andar de skate (obviamente) tocar guitarra eléctrica (naturalmente) e a usar óculos escuros 'radicais' (claro) e que, em troca, os leva a viajar pelo tempo até à Pré-História, permitindo-lhes aprender mais sobre a vida durante esse período. Uma espécie de mistura entre 'ET' e 'Bill e Ted', que resulta numa daquelas sinopses mirabolantes que só podia mesmo ter vindo de um período em que répteis especialistas em artes marciais e ratos antropomórficos aficionados de Harley-Davidsons eram considerados conceitos normais para a programação infantil.

Infelizmente, 'Denver' nunca chega a esse patamar de qualidade, ficando-se pelo nível médio de séries da altura – onde se incluem outros programas contemporâneos, como 'Widget' ou 'Capitão Planeta' – e sendo sobretudo memorável (além de por ter servido de inspiração a um dos brinquedos 'movidos a moedas' mais comuns daquele tempo) pelo seu 'bem esgalhado' tema de abertura, um dos muitos clássicos que a época em causa nos proporcionou, e que (juntamente com o conceito totalmente 'ver para crer') lhe merece lugar de destaque nesta nossa rubrica nostálgica.

A versão portuguesa do mítico tema de abertura da série (em cima) e alguns episódios-tipo da mesma (em baixo)

01.08.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de apenas recentemente ter penetrado na cultura 'mainstream' ocidental, a animação japonesa (o chamado 'anime') vinha, já, informando em grande medida os conteúdos mediáticos produzidos na Europa e, sobretudo, nos EUA desde a década de 70. Além da adaptação de séries clássicas do género (como 'Esquadrão Águia') e da criação de outras constituídas por episódios (mal) dobrados e colados de dois 'animes' diferentes (como 'Robotech'), os estúdios ocidentais vinham já, também, recrutando a ajuda dos seus congéneres ocidentais na criação de animações para séries tão conhecidas como 'Tiny Toons', 'Capitão Planeta', e até algo como 'As Aventuras do Bocas'.

Apesar desta aparente expansão em termos estilísticos e temáticos, no entanto, não há dúvida de que os estúdios japoneses eram recrutados, a maior parte das vezes, para prestar assistência num género específico de conteúdo animado: a série de acção e ficção científica, em que as décadas de 80 e 90 foram especialmente pródigas. De 'GI Joe' e 'Transformers' a 'Tartarugas Ninja', 'M.A.S.K', 'Rambo' ou 'X-Men', a maioria das séries deste tipo lançadas durante as referidas décadas tinham 'dedinho' japonês, com algumas a nem sequer esconderem a influência nipónica nos seus traços.

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O grupo de heróis homónimo da série

É o caso da série que abordamos esta semana – 'Skysurfer' (no original, 'Skysurfer Strike Force'), apenas mais um entre tantos outros produtos semelhantes a invadirem as ondas televisivas (portuguesas e não só) durante os últimos anos do século XX; de facto, um par de minutos chega para perceber que o aspecto dos personagens tem forte influência do 'anime' televisivo da época (aqueles olhos grandes ao estilo 'Esquadrão Águia' ou 'Cavaleiros do Zodíaco' não enganam ninguém), sendo que neste caso a influência se estende, também, à escrita. Isto porque 'Skysurfer' tem um conceito semelhante aos famosos e clássicos 'tokusatsu' ou 'Super Sentai' – aquelas séries sobre heróis de fatos e capacetes a 'condizer' que lutam contra monstros de dois andares, que fazem parte da cultura japonesa há décadas e que, no ocidente, ficaram famosas por servirem de base a localizações como 'VR Troopers', 'Big Bad Beetleborgs' e, claro, as inúmeras séries de 'Power Rangers'; e embora Jack Hollister e os seus comparsas nunca cheguem a esconder a cara, os seus fatos de super-herói são activados mediante um relógio especial, que lembra muito os 'morphers' dos referidos Power Rangers.

Em tudo o resto, 'Skysurfer' é uma série absolutamente típica da época, uma espécie de cruzamento entre 'M.A.S.K.' ou 'GI Joe' e 'X-Men', e que mistura todos os elementos populares naquela era da animação ocidental: armas 'laser', veículos futuristas, super-poderes, experiências científicas, vilões cibernéticos mascarados, e até mutantes. Uma receita que parece criada em laboratório, mas que nunca chega a conseguir elevar a série acima da miríade de outras absolutamente idênticas que iam surgindo à época.

Ainda assim, o sucesso das duas temporadas do programa nos seus EUA natais terá sido suficiente para a mesma ser importada para Portugal – isso, ou a SIC já estava a vasculhar no 'fundo do barril'. Fosse qual fosse a motivação, no entanto, a verdade é que a série chegava mesmo ao nosso país, dois anos após a sua estreia, e com dobragem a cargo dos suspeitos do costume – quem, à época, via séries como 'A Lenda de Zorro', 'Robin dos Bosques', 'A Carrinha Mágica' ou os referidos 'Power Rangers' rapidamente identificará pelo menos um dos apenas quatro (!) dobradores que se revezam para dar vida aos diferentes personagens.

Ao contrário dos programas acima referidos, no entanto – ainda hoje lembrados com carinho pela geração que com eles cresceu – 'Skysurfer' não deixou, sequer, a memória de ser uma boa 'série-anúncio' para a respectiva linha de brinquedos, desaparecendo dos televisores da juventude portuguesa da mesma maneira que por eles passara: sem grande alarido - embora, aparentemente, tivesse feito o suficiente para ser 'repescada' pelo Canal Panda, três anos depois (então em versão original legendada) e para justificar o lançamento em VHS, no habitual formato de alguns episódios em cada cassette, pela inevitável Prisvídeo.

Apesar do pouco impacto cultural da série, no entanto, numa altura em que um episódio específico (disponível no Dailymotion, e que serviu de inspiração para este 'post') completa exactos vinte e cinco anos sobre a sua transmissão no canal de Carnaxide (a 2 de Agosto de 1997, presumivelmente como parte do icónico bloco infantil do canal, o inesquecível Buereré) vale a pena recordar aquela que é um dos 'concorrentes' menos lembrados dessa era da programação para jovens em Portugal.

Episódio da série transmitido há quase exactos vinte e cinco anos

 

 

 

 

 

 

 

 

18.07.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Nos anos 80, um dos maiores axiomas do 'marketing' dirigido ao pùblico mais jovem ditava que qualquer propriedade intelectual de sucesso tinha, inevitavelmente, direito a uma adaptação televisiva em formato desenho animado, independentemente de ser ou não apropriada para a demografia em causa – uma mentalidade, aliás, que se estendeu à década seguinte, que viu personagens supostamente para adultos, como Rambo, serem convertidas para animação e sujeitas a um formato episódico e serializado, com uma evidente e necessária redução dos níveis de violência, mas de outro modo inalteradas, atingindo graus maiores ou menores de sucesso entre o público-alvo.

Dada a natureza de muitas das propriedades sujeitas a este tratamento ao longo das duas décadas em causa (muitas das quais já em fase decadente, ou com relevância reduzida, como 'Highlander Os Imortais') não é de espantar que um dos maiores sucessos de bilheteira da última década do século XX tenha, também, sido convertida a este formato – no caso, 'MIB – Homens de Negro', o mega-sucesso de 1997 que misturava ficção científica, acção e comédia, e que cimentou o estatuto de Will Smith como estrela de cinema internacional.

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Surgida no mesmo ano do filme, e com envolvimento directo do criador do conceito, Lowell Cunningham, a série animada de 'MIB' é, diga-se em abono da verdade, mais fiel ao espírito do filme do que muitos dos outros esforços deste tipo, explorando as diferentes missões dos agentes J, K e L (esta, curiosamente, uma personagem totalmente distnta da sua homónima cinematográfica) e mantendo intactas as personalidades e a química entre as personagens; até mesmo a música de abertura, uma memorável faixa electrónica, não deixava ficar mal o 'rap' original de Will Smith, presente no filme. A grande pecha era, pois, a mesma da maioria das séries congéneres – a animação, que apresenta aquele estilo meio 'preso de movimentos' típico de finais dos anos 90, apesar de a série ter a chancela da Warner Brothers (o que explica, também, o porquê de o 'design' dos personagens se aproximar muito do da série animada de 'Batman'.)

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O elenco principal de personagens da série, cujo 'design' lembra o das suas homólogas da série animada de Batman

Apesar desta pecha, no entanto, a versão animada de 'MIB' fez sucesso suficiente para justificar quatro temporadas, continuando em produção nos seus EUA natais até 2001 – e, falhando assim, curiosamente e por pouco, a estreia da sequela, que sairia no ano seguinte. Já em Portugal, a série estrearia em 1999 – dois anos depois do filme, mas com a propriedade intelectual Homens de Negro ainda suficientemente relevante para o justificar – no icónico espaço infantil da TVI, Batatoon (onde passaria, também, outra adaptação animada de um 'blockbuster', no caso 'Godzilla' – sim, ESSE, Godzilla!) onde acabou, naturalmente, por passar algo despercebida em meio à mirabolante selecção que o bloco ofereceu durante o seu tempo de vida, e que incluiu séries tão inesquecíveis e populares como Samurai X, Alvin e os Esquilos, Sailor Moon, Digimon ou Sonic. Ainda assim, na semana em que o filme que a inspirou completa um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal, não fica mal recordar a mais modesta, menos icónica, mas ainda assim bem-conseguida versão animada do mesmo.

04.07.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A abertura autêntica, de época, está disponível aqui mesmo, no SAPO, mas não permite fazer 'embed'...

Este é daqueles posts que tinha, mesmo, de começar assim – com um dos mais icónicos genéricos de abertura dos anos 90, daqueles que consegue a proeza de ser memorável sem, para isso, utilizar sequer uma palavra.

Não menos memorável e icónica, no entanto, é a própria série a que este mítico instrumental serve de suporte; antes pelo contrário, serão poucos os ex-jovens da época que não se recordem de ver pelo menos alguns episódios das aventuras do grupo de bebés conhecido, na versão original, como 'Rugrats', e em Portugal como 'Os Meninos do Coro'.

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De longe a mais famosa produção da dupla Arlene Klasky e Gabor Csupó – e uma das mais famosas do catálogo da Nickelodeon, a par de 'Hey Arnold!' e 'Ren e Stimpy' – 'Rugrats' chegou a Portugal em 1992 (menos de um ano depois da sua estreia em território norte-americano, um intervalo invulgarmente célere para a época) como um dos primeiros 'trunfos na manga' da recém-nascida SIC, que transmitiria a série como parte do seu bloco infantil da manhã durante os dois anos seguintes, primeiro em versão original legendada e, mais tarde, com a icónica (e impressionantemente fiel em termos vocais) dobragem que a maioria das crianças daquela época associará, de imediato, ao nome da série.

Ao todo, foram três temporadas – as primeiras, e melhores – em que os mini-espectadores se tornaram íntimos de Tommy, Chucky, os gémeos Phil e Lil e a 'carrasca' e centro das atenções do grupo, a espalha-brasas Angélica, que, por ser mais velha e extremamente mimada, dividia o seu tempo entre enfiar ideias na cabeça dos amigos mais novos e fazer 'birras' para obter o que queria dos adultos.

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O grupo original de 'Meninos do Coro', mais tarde expandido com novos personagens.

E por falar em adultos, estava aí outro dos factores que ajudava a demarcar 'Rugrats – Os Meninos do Coro' de produções contemporâneas semelhantes; os personagens adultos tinham tanto 'tempo de antena' como os bebés, e eram tão ou mais interessantes do que estes, transmitindo (ainda que de forma leve e subtil) mensagens sobre temas tão importantes como as famílias monoparentais, a identidade de género ou os pais mais focados no trabalho que nos filhos, e que tentam suprir essa lacuna com 'mimos' excessivos. Entre si, este grupo de personagens ajudava a que houvesse um pouco de variedade nas histórias da série, e permitia retirar o foco exclusivamente das aventuras estilo 'pastelão' e 'nonsense' dos protagonistas homónimos da série.

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O grupo dos adultos adiciona uma nova dimensão aos episódios.

Estes (e outros) elementos faziam de 'Rugrats – Os Meninos do Coro' uma excelente série para todas as idades (já que os guiões também incluíam piadas de humor um pouco mais sofisticado e dirigidas ao público adulto) que perdurou na memória dos jovens portugueses mesmo depois de ter saído originalmente do ar, em 1994. E se os espectadores lusos da época apenas conheceram esses episódios dos primórdios, lá por fora, a situação era bem diferente, tendo 'Rugrats' continuado a fazer sucesso durante várias décadas, e dado origem a inúmeros produtos de merchandising (tanto oficiais como piratas), várias longas-metragens, novas séries com os mesmos personagens (a excelente 'All Grown Up!' e a experiência falhada chamada 'Angelica and Susie's Pre-School Daze') e até um 'escape room' em Los Angeles!

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Os personagens em idade pré-adolescente, tal como surgem na sequela 'All Grown Up!'

Por cá, no entanto, o público fã de desenhos animados apenas voltaria a tomar contacto com Tommy e os seus amigos em 2005, com o advento da versão portuguesa da própria Nickelodeon, em que a série se encontrava inserida, agora com novas dobragens.

E a verdade é que esta segunda passagem (da qual é oriundo o genérico que abre este post) se afirmou ainda mais bem-sucedida que a primeira, tendo os 'Meninos do Coro' aproveitado a especificidade da sua nova 'casa', e o estatuto de que gozavam dentro da mesma, para se tornarem presença assídua nos ecrãs da nova geração que, entretanto, substituíra o seu público-alvo original; tanto assim que, em 2021, estreava na Nickelodeon Portugal uma nova temporada desta série aparentemente perene e imorredoura, que conseguiu já a proeza de ser transversal a duas gerações de espectadores, um feito normalmente reservado apenas a produções da Disney e Hanna-Barbera. Só por isso, 'Os Meninos do Coro' já mereciam uma presença nestas páginas; o facto de serem, efectivamente, uma das melhores e mais nostálgicas de entre as séries 'importadas' dos EUA naquele período é apenas a cereja no topo deste bolo de baba, cuspo e outros ingredientes 'duvidosos', mas ainda assim extremamente saboroso...

23.05.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de noventa ficou – em Portugal como no resto do Mundo - marcada por muitas e muito mediatizadas rivalidades comerciais: da Pepsi com a Coca-Cola, dos Blur com os Oasis (que aqui paulatinamente abordaremos) da WWF com a WCW e, claro, da Sega com a Nintendo, sendo que esta última se destacava das restantes por se dar em duas frentes, com as rivais japonesas a competirem directamente não só através dos produtos que lançavam, mas também das suas mascotes.

Efectivamente, a 'luta' entre Sonic e Super Mario pelo coração das crianças e jovens noventistas traduziu-se em muitas e boas horas de entretenimento, quer através de alguns dos melhores jogos da década (um dos quais aqui recentemente abordámos) quer através das inevitáveis séries de desenhos animados que eram praticamente um pré-requisito de qualquer propriedade comercial infanto-juvenil bem sucedida; e porque, recentemente, aqui falámos de uma das três séries de animação dedicadas ao porco-espinho da Sega (a única a chegar a Portugal) nada mais justo do que nos debruçarmos, hoje, sobre o principal veículo animado do rival, o famoso 'Super Mario Brothers Super Show.'

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Estreada na RTP1 em 1993, numa altura em que ainda não havia a preocupação de dobrar todo e qualquer conteúdo dirigido ao público infantil (situação que se alteraria a partir de meados da década), o desenho animado de Mario não teve sequer direito a nome traduzido em português, sendo que até mesmo as cassettes VHS com episódios da série entretanto lançadas em Portugal traziam a dobragem brasileira; é, pois, de crer que muitas crianças e jovens da época conhecessem a série apenas pelo nome do protagonista. Quanto à não dobragem dos conteúdos propriamente ditos, esta constitui, neste caso específico, um ponto a favor, já que os diálogos da parte em 'acção real' de cada episódio são, sem dúvida, um dos elementos mais fortes da série 

Sim, dissemos mesmo 'acção real' – isto porque, ao contrário da série do rival, cada episódio do 'Super Show' estava dividido entre segmentos com actores verdadeiros a interpretar Mario e Luigi – um deles o lutador da WWF, 'Captain' Lou Albano – e outros em desenho animado, que se dividiam entre episódios das aventuras dos dois irmãos canalizadores e das de Link, o protagonista da série 'A Lenda de Zelda'. E se os primeiros eram fiéis quanto-baste ao material de base – estavam presentes a Princesa Peach, o cogumelo vivo Toad, o vilão Rei Koopa (ou Bowser), e os inimigos e poderes do jogo – o segundo tomava bastante mais liberdades com o mesmo, incluindo mudar a cor de cabelo e personalidade de Link (o qual repetia frequentemente uma frase-feita hoje tornada 'memética') e dar um papel mais proeminente a Zelda, que nos jogos não passa da princesa a ser resgatada.

Sabemos que algo se tornou um 'meme' quando tem direito a uma montagem de dez horas no YouTube

Em ambos os casos, a qualidade da animação, do trabalho de vozes e das histórias é perfeitamente típica da época em que a série foi produzida, o mesmo podendo dizer-se dos cenários, situações, diálogos e piadas dos segmentos em acção real, que não surpreenderão qualquer espectador que tenha visto sequer um episódio de uma qualquer 'sitcom' de inícios dos anos 90. O resultado é um produto extremamente 'de época', que se apoia declaradamente no interesse e procura por materiais relacionados com os personagens que o integram, mas que consegue, ainda assim, nunca descer abaixo de um nível aceitável e perfeitamente tolerável.

Não há dúvida, no entanto, de que 'Super Mario Bros. Super Show' deixou, pelo menos, um legado à cultura popular contemporânea, também ele transformado, hoje em dia, em 'meme': os seus genéricos de abertura e encerramento, que apropriam desavergonhadamente ainda mais um elemento de enorme sucesso entre os jovens – o nascente movimento 'rap'/'hip-hop', especificamente a vertente mais virada para a dança – e o misturam com efeitos sonoros retirados do jogo com resultados decididamente 'tão maus que são bons'; ver 'Captain' Lou Albano (ao que consta, alcoolizado em todo e qualquer segmento em que surge) a tentar infrutiferamente adoptar uma cadência 'rap' por cima do famoso tema do primeiro  'Super Mario Bros', enquanto executa algo que vagamente se assemelha a uma dança é tão deprimente quanto hilariante.

...palavras para quê?

De resto, tal como as tentativas de transpôr o rival Sonic para um papel menos interactivo, 'Super Mario Bros. Super Show' merece permanecer nos anos 90, sendo trazido à baila apenas ocasionalmente, no contexto de um 'post' como este – ainda que, mesmo assim, consiga ser melhor que as versões posteriores da série, já para não falar da longa-metragem de acção real, estreada no mesmo ano...

09.05.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A par de Super Mario, Sonic, o porco-espinho azul da Sega, foi sem dúvida a mascote mais popular dos anos 90 (o terceiro lugar é dividido entre Crash Bandicoot, o marsupial da Sony, e o dragão Spyro); até mesmo depois de ter decrescido de popularidade (e os seus jogos, de qualidade, o supersónico bicharoco continuou a ser um chamariz para a maioria dos 'gamers' um pouco por todo o Mundo, como bem o comprova o sucesso que o seu segundo filme vai actualmente fazendo entre essa mesma demografia.

Dada esta popularidade entre o público-alvo, não é de estranhar que Sonic tenha tido direito a várias adaptações em desenho animado, fenómeno comum a tudo o que fazia sucesso durante as últimas duas décadas do século XX; estranho é, apenas, que só uma dessas séries tenha chegado a Portugal, e que tenha precisamente sido a menos popular e bem conseguida.

Sim, apesar do porco-espinho da Sega ter, no auge da sua popularidade, não uma mas duas séries animadas em seu nome, nenhuma delas chegou alguma vez a ser importada para terras lusas; a primeira (e única) aventura de Sonic nos ecrãs portugueses dar-se-ia numa das suas fases de menor popularidade – imediatamente antes do renascer em 3D com o excelente 'Sonic Adventure' – e através da série que, das três produzidas, menos tem em comum com o universo dos jogos do personagem: 'Sonic Underground', a co-produção franco-americana baseada no personagem produzida em 1999.

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Como dizem os velhos ditados, no entanto, 'a cavalo dado, não se olha o dente', e 'quem não tem cão, caça com gato'; e assim foi – à falta de melhor, as crianças portuguesas abraçaram a série de Sonic que tinham, tendo a mesma conseguido significativa popularidade à época da sua primeira transmissão, a dois meses do final da década, século e milénio, e inserida na grelha de programação de um Batatoon em estado de graça entre o seu público-alvo por conta da 'galinha dos ovos de ouro' chamada 'Samurai X'.

Precedido de uma campanha de 'hype' nunca antes vista no programa (e que apenas se viria a repetir, já no novo milénio, por ocasião da estreia de Digmon), Sonic estreou-se na televisão portuguesa com já significativo interesse gerado em torno das suas aventuras, mesmo para quem nunca havia jogado os títulos de PC e consola, e apenas conhecia o personagem de passagem; esta onda de entusiasmo (resultado da oportuna manobra de marketing da TVI e dos produtores do Batatoon) ajudou a fazer esquecer o facto de que 'Sonic Underground' pouco tinha a ver com os referidos jogos, trocando o melhor amigo Tails e a floresta do planeta Mobius por um futuro pós-apocalíptico, em que o personagem faz parte da realeza destronada (!?) e procura a mãe, a rainha daquele universo, em conjunto com os dois irmãos (Sonia e Manic, ou antes, 'Mánique'), com quem também forma uma banda de rock (!?!?!) Uma premissa, portanto, que podia ter sido executada com qualquer conjunto de personagens - a produtora DIC jogou, claramente, no reconhecimento do nome Sonic, e a aposta resultou, já que sem essa associação, o interesse em 'Underground' seria significativamente reduzido.

De facto, do ponto de vista técnico e de escrita, 'Sonic Underground' não é mais do que tipicamente mediano para a época, exibindo a mesma animação algo presa de movimentos e atitude 'ultra-radical-buéda-fixe' herdadas de séries como 'Tartarugas Ninja' e 'Moto-Ratos de Marte' e copiada por tantas outras produções durante aqueles anos; a verdade, no entanto, é que essa mesma atitude, aliada a um genérico que é a parte mais memorável da série, foi suficiente para cttivar o público jovem da época, e tornar 'Underground' suficientemente lembrado para justificar repetições em anos posteriores.

Tentem não ficar com isto na cabeça - vá, tentem.

De facto, a série faz parte daquele grupo de produções – onde também entra Dragon Ball Z, entre outros – que, de tempos a tempos, são 'retirados da gaveta' e postos novamente no ar, para serem apreciados por uma nova geração. No caso de 'Underground', a série passou tanto no Canal Panda (em 2008, e em versão original, como foi em tempos apanágio daquele canal) como no KidsCo (em 2011, com novas dobragens em português) e ainda na Netflix, onde 'residiu' entre 2015 e 2018, tanto em versão legendada como com a dobragem de 2011. Um percurso impressionante para uma série vista, hoje em dia, como medíocre, mas que conseguiu, ainda assim, cativar a imaginação de uma geração para quem Sonic era um dos heróis favoritos – apenas mais uma prova do poder de uma boa 'licença', e ainda melhor campanha de marketing...

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