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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

30.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 29 de Julho de 2024.

NOTA: Este 'post' não teria sido possível sem o André Alonso, que não só recordou o nome da série abordada como providenciou 'links' para a única fonte onde a mesma surge mencionada. Obrigado, André!

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

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O elenco de personagens da série. (Crédito da foto: RTP)

Já aqui por várias vezes mencionámos produtos ou criações mediáticas das décadas de 80, 90 e até 2000 que, por uma razão ou por outra, têm pouca ou nenhuma presença nos supostamente omniscientes motores de pesquisa da Internet actual. No entanto, enquanto que as BD's da Hanna-Barbera ou a revista Ultra Som possuem pelo menos uma imagem ou menção no Google, outros tópicos que abordámos aqui no 'blog', como o sumo do Astérix da Libby'sa bebida B Cool da Danone ou a pasta de dentes do Super Mario, encontram-se totalmente esquecidos e dependentes da memória de quem com eles conviveu. O tema desta Segunda de Séries situa-se precisamente a meio caminho entre estes dois paradigmas, encontrando-se todos os seus episódios disponíveis para visualização (mas apenas em uma única fonte, e sabendo como os procurar) mas sendo funcionalmente impossível precisar criadores ou quaisquer outros dados técnicos. É, pois, com naturalidade que 'Histórias de Corpo Inteiro' integra o crescente grupo de tópicos Esquecidos Pela Net do Portugal anos 90 – o que não deixa de ser uma pena, dado tratar-se de uma série bem conseguida e de produção cem por cento nacional, o que torna ainda mais curioso o facto de nenhuma das várias fontes nostálgicas produzidas em solo português se lembrar dela.

De facto, à parte o aspecto perturbador de algumas das marionetas usadas para dar vida aos personagens – sobretudo as hiper-realistas, que lembravam uma versão demoníaca dos 'Thunderbirds' – a série estreada na RTP1 em Novembro de 1991 e exibida diariamente até ao final do referido ano mostrava aspectos técnicos cuidados (alguns até inovadores, como a fusão de acção real com fantoches) e tirava o máximo proveito do seu presumivelmente reduzido orçamento, apostando numa apresentação ao estilo peça de teatro, com cenários de fundo estáticos sobre os quais os personagens se moviam e levavam a cabo a trama de cada episódio. Uma abordagem talvez muito distante de produções contemporâneas como 'Rua Sésamo', mas que resultava em pleno no contexto da série em causa, dando-lhe um aspecto e características distintas, que a deveriam ter tornado consideravelmente mais memorável para a geração 'millennial', à época a demografia-alvo destas 'Histórias' passadas no interior de uma cavidade bucal humana, e destinadas a educar o público-alvo sobre a higiene oral, um dos temas mais em voga naquele início dos anos 90.

Outro elemento que deveria ter ficado indelevelmente gravado na psique de toda uma geração, mas que em vez disso se viu vetado ao esquecimento, era o inesquecível genérico da série, uma 'malha' que, sem qualquer hipérbole, pode e deve ser posta ao mesmo nível das que iniciavam a supramencionada 'Rua Sésamo' ou o concurso 'Arca de Noé', e que (por experiência própria) tinha potencial para se 'colar' ao cérebro durante décadas. Infelizmente, conforme acima mencionado, o total desaparecimento da série da memória colectiva levou consigo o referido tema – o que ajuda a justificar ainda mais o esforço de recuperação da mesma que pretendemos levar a cabo com este 'post'. Infelizmente, não nos é possível colocar qualquer destas 'Histórias' directamente nesta publicação, já que os episódios apenas se encontram disponíveis nos Arquivos RTP, que não permitem ligações externas; assim, temos de nos contentar em partilhar o 'link' para a página da série no 'site' da emissora estatal, e confiar que os nossos leitores tenham suficiente interesse para irem reviver mais esta memória esquecida da infância remota e – quem sabe – trazer a série de volta à consciência popular da geração 'millennial' nacional...

23.07.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Os programas de entretenimento e variedades filmados ao vivo numa qualquer localidade remota de Portugal continuam, até aos dias de hoje, a ser talvez a maior constante do Verão televisivo nacional; no entanto, embora pareçam sempre ter existido, este tipo de transmissões eram consideravelmente menos populares (e certamente menos formatadas) à entrada para a última década do século XX. De facto, seriam precisos alguns anos para este tipo de formato encontrar tanto uma fórmula estável como uma audiência regular, levando a que algumas das primeiras tentativas de o implementar pareçam, de uma óptica contemporânea, algo peculiares. É o caso, por exemplo, da proposta da RTP para a época estival de 1994, a qual sobrevive hoje em dia, sobretudo, através do segmento satírico que lhe foi devotado pelo outrora popular grupo de comédia e improviso, Gato Fedorento.

De facto, sem essa 'alavanca', é muito provável que 'Onda de Verão' entrasse para a crescente galeria de programas noventistas Esquecidos Pela Net, já que a única outra referência à emissão é uma entrada no blog Eu Também Vejo TV, um recurso equivalente a um arquivo bibliográfico, ou seja, sem grandes informações sobre cada emissão, àparte o canal, horário, e mês de estreia – no caso, Julho de 1994, o que faz com que se celebrem por esta altura exactos trinta anos sobre a transmissão do programa.

Esta 'anonimidade' por oposição a outros programas do mesmo tipo não deixa de ser surpreendente, já que o 'Onda de Verão' oferecia precisamente o mesmo do que aqueles, consistindo de rubricas de humor, jogos e passatempos, interesse humano e interacção com a audiência, além dos inevitáveis momentos musicais firmemente vincados no género 'pimba', tudo dinamizado por uma dupla de apresentadores afáveis, carismáticos e com a dose certa de 'brejeirice' - uma fórmula que tanto a própria RTP como a SIC e a TVI explorariam com excelentes resultados durante as três épocas seguintes, mas que neste caso parece não se ter afirmado como especialmente memorável para as demografias-alvo. Ainda assim, numa altura em que os canais 'abertos' voltam a apostar em força em conteúdos deste género, é legítimo e de valor recordar um dos pioneiros do mesmo – especialmente porque mais nenhuma fonte parece especialmente interessada em o fazer...

15.07.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

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Num mercado infanto-juvenil em que a duração média do interesse de uma franquia se salda num par de anos, conseguir manter a relevância e reconhecimento ao longo de mais de meio século não pode deixar de ser visto como uma proeza; à laia de contexto, franquias tão consensuais como Pokémon, Harry Potter ou Os Simpsons existem há pouco mais de metade desse tempo, e até mesmo O Senhor dos Anéis precisou de um 'tratamento revitalizante' por parte de Hollywood e de um realizador ambicioso e com paixão pelo projecto. E, no entanto, duas séries animadas de orçamento relativamente baixo criadas em inícios dos anos 60 (!!) conseguiram a façanha de cativar, até à data, nada menos do que quatro gerações de crianças, para quem os seus protagonistas continuam a ser instantaneamente reconhecíveis; juntem-se a esta lista outras duas que lograram manter-se relevantes por cerca de metade desse tempo, e torna-se notório que a frequentemente criticada Hanna-Barbera soube criar e explorar uma receita de enorme sucesso.

Portugal não foi, de todo, excepção ao paradigma acima delineado, tendo as famílias Flintstone e Jetson, o gato 'boa-vida' Top Cat (ou Manda-Chuva) e o icónico grupo de jovens detectives com o seu cão Grand Danois falante (além de personagens como Zé Colméia e Catatau ou Pepe Legal e o seu ajudante Babalu) conhecido sucesso imediato aquando da sua primeira chegada a Portugal, quando ainda eram relativamente contemporâneos. Nessa ocasião, os populares personagens surgiam ainda com as vozes dos talentosos artistas de dobragem da lendária companhia brasileira Herbert Richards; o regresso aos televisores nacionais, no entanto (um quarto de século depois, e novamente na RTP, nomeadamente no programa 'Oh! Hanna-Barbera') era feito com as vozes originais e com recurso a legendas, numa altura em que apenas um número relativamente reduzido de séries tinha 'honras' de dobragem nacional. Nada que impedisse o sucesso dos dois Freds (Flintstone e Jones) e respectivos familiares e amigos, da família futurista encabeçada por George Jetson ou dos gatos do beco, que prontamente conquistaram a nova audiência, tal como havia acontecido com a anterior e haveria ainda (pelo menos no caso de Scooby-Doo) de acontecer com a seguinte.

De realçar que, além de serem 'atracções principais' do referido programa, os personagens de Hanna-Barbera surgiam ainda nas televisões portuguesas por meio de uma série de episódios especiais transmitidos em ocasiões 'de festa' (com destaque para 'O Natal de Zé Colmeia' e para o filme que via George Jetson e Fred Flintstone encontrarem-se pela primeira vez cara a cara) e ainda como forma de 'encher' cinco ou dez minutos de 'tempo morto', sendo Zé Colmeia, Pepe Legal e Dom Pixote (além do icónico duo de Tom e Jerry) os personagens mais frequentemente utilizados para este tipo de função. Mais tarde, já depois da saída do ar de 'Oh! Hanna-Barbera', foram ainda transmitidas na RTP duas das quatro tentativas de literal infantilização dos personagens levadas a cabo pela companhia, talvez como forma de competir com 'Tiny Toons' e 'Muppet Babies'; no entanto, nem 'Os Filhos dos Flintstones' nem os de Tom e Jerry ('Yo Yogi!' e 'A Pup Named Scooby-Doo', as duas outras séries do estilo, ficavam de fora das escolhas da RTP) conseguiram o mesmo sucesso dos seus 'progenitores', sendo a 'malha' de abertura da segunda série mencionada o elemento mais memorável de qualquer das duas.

As versões clássicas e adultas, essas, continuariam 'de vento em popa', muito por conta das transmissões no Cartoon Network inglês (canal inserido no pacote TV Cabo) e das adaptações cinematográficas em acção real de que as duas franquias mais populares da companhia gozariam em anos subsequentes (uma das quais em breve aqui terá o seu espaço); e se, hoje, haverá menos quem identifique Manda-Chuva ou George Jetson, os Flintstones e Scooby-Doo continuam a afirmar-se como ícones verdadeiramente intemporais da animação tradicional, e a cativar mesmo os corações empedernidos da cínica Geração Z – prova, como se tal ainda fosse necessário, do sucesso da fórmula e personagens criados por William e Joe em meados do século passado.

09.07.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por várias vezes nos referimos aos anos 90 como a época áurea para os programas televisivos infantis que apostavam numa mistura de desenhos animados e entretenimento, e comandados por apresentadores jovens, carismáticos e dinâmicos o suficiente para 'entreter' tanto as crianças e jovens presentes em estúdio como os muitos espectadores que assistiam a partir de casa. De facto, embora este género seja, hoje em dia, lembrado sobretudo pelo icónico e incontornável duo do 'Buereré' (da SIC) e 'Batatoon' (da TVI), existiram, durante a década em causa, vários outros exemplos bem-sucedidos do formato, alguns dos quais já aqui abordados, como é o caso de 'A Hora do Lecas', 'Os Segredos do Mimix', 'A Casa do Tio Carlos' ou 'Clube Disney'. A essa lista, há agora que juntar um programa contemporâneo deste último, e que constituía uma espécie de 'irmão gémeo' do mesmo, tendo sido exibido pela mesma emissora (a então hegemónica RTP) na mesma época (inícios dos anos 90), com as únicas diferenças dignas de nota a serem a produtora de conteúdos em foco e a própria longevidade do programa.

De facto, enquanto o 'Clube Disney' atravessaria a totalidade da década de 90, chegando mesmo a penetrar no Novo Milénio, e viveria várias fases distintas, tanto em termos de conteúdo como de grafismo, 'Oh! Hanna-Barbera' duraria pouco mais de um ano, tendo saído do ar ainda antes do final de 1992 – um paradigma que não deixa de ser algo estranho, dadas as vastas e intencionais semelhanças entre os dois programas. Senão, veja-se: ambos apostavam no formato acima delineado, com público ao vivo e apresentadores que não se limitavam a introduzir cada novo desenho animado, mas também dinamizavam os segmentos interinos, que compreendiam uma mistura de jogos e actividades, números musicais a cargo de grupos convidados, e espaços onde eram lidas cartas e mostradas 'obras de arte' dos jovens espectadores. 'Oh! Hanna-Barbera' ganhava mesmo ao seu congénere no tocante à presença de mascotes em estúdio, estando Fred Flintstone ou Manda-Chuva sempre disponíveis para dançar ou 'fazer claque' em conjunto com os jovens escolhidos para visitar o programa, algo de que o 'Clube Disney' nunca se pudera gabar.

Também a selecção de desenhos animados era razoavelmente equilibrada no que toca à popularidade junto do público-alvo, sendo que 'Oh! Hanna-Barbera' contrapunha os desenhos mais modernos e 'excitantes' da Disney com os clássicos e intemporais 'Flintstones', 'Jetsons' e 'Manda-Chuva', todos, à época, ainda suficientemente 'na berra' para fazer frente a Donald, Pateta e restantes personagens do 'rival'. Quem ganhava com esta pseudo-'guerra' eram, claro, os espectadores, que viam assim ser-lhes dirigidos dois espaços infanto-juvenis de enorme qualidade na mesma semana, a juntar a todos os outros concursos, séries e blocos de desenhos animados com que a fabulosa grelha de televisão portuguesa de primórdios dos anos 90 os brindava. E, ainda que menos longevo do que o seu congénere das 'orelhas de Mickey', não é de duvidar que 'Oh! Hanna-Barbera' seja tão calorosamente lembrado como aquele por quem, naqueles idos de 1991, se sentava frente à televisão para desfrutar de um par de horas de animação, nos dois sentidos da palavra. Quem tiver feito parte dessa demografia, pode encontrar abaixo alguns excertos do programa, para recordar e 'matar saudades' daqueles bons tempos de infância, em que a televisão parecia 'feita à medida' para quem era jovem...

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

17.06.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na passada Terça-feira, recordámos neste espaço o Clube Disney, um dos mais emblemáticos programas infantis de inícios dos anos 90, e responsável por apresentar aos 'X' e 'millennials' portugueses aquelas que viriam a ser algumas das suas séries favoritas no imediato; nada mais justo, portanto, do que dedicar agora algumas linhas aos icónicos desenhos animados e produções em acção real veiculados pelas duas 'encarnações' do programa da RTP.

Primeira Fase (1991-1994)

A primeira fase do Clube Disney foi, também, a mais memorável para grande parte das crianças e jovens portugueses, não só pelo conceito divertido e carisma dos apresentadores, mas, sobretudo, pela qualidade das séries que apresentava. De facto, esta encarnação do Clube foi responsável por dar a conhecer aos jovens da época séries tão icónicas quanto 'Novas Aventuras Disney' (o inexplicável título traduzido de 'DuckTales'), 'Tico e Teco: Comando Salvador', 'O Pato da Capa Preta' e 'A Pandilha do Pateta', além de séries de acção real como 'Anjo Adolescente' e 'Match Point', todas transmitidas na versão original legendada. E se estas últimas nunca lograram notabilizar-se – sobretudo face à concorrência 'de respeito' de 'Beverly Hills 90210' e 'Melrose Place' – as suas congéneres animadas, 'importadas' do bloco 'Disney Afternoon' da cadeia norte-americana, rapidamente se afirmaram como sucessos, sobretudo devido à mistura perfeita de acção e aventura com o humor típico da companhia, e à capacidade que demonstravam em apresentar personagens já sobejamente conhecidas dos filmes, 'curtas' e bandas desenhadas Disney em novos e entusiasmantes contextos.

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O bloco 'The Disney Afternoon' fornecia a totalidade das séries da primeira fase do programa.

Curiosamente, neste aspecto, 'A Pandilha do Pateta' (que substituiu 'Tico e Teco' após a conclusão desta última, fazendo parelha com 'O Pato da Capa Preta') acabava por destoar, focando-se mais nas histórias quotidianas de Pateta e da sua família do que nas tramas épicas oferecidas pelas restantes séries do bloco; também curiosamente, 'TaleSpin – As Aventuras de Baloo', única série da Disney Afternoon não exibida em Portugal, ter-se-ia encaixado melhor nesse particular. Ainda assim, é difícil 'pôr defeito' à primeira selecção de séries do Clube Disney, sendo a maioria delas ainda hoje saudosamente lembradas por quem a elas pôde assistir.

Segunda Fase (1996-2001)

Após um hiato de dois anos, o Clube Disney surgia de 'cara lavada', com novo visual 'radical' (ou não estivéssemos na segunda metade da década de 90) e com uma nova selecção de desenhos animados, agora trazidos da One Saturday Morning da norte-americana ABC, e transmitidos em versão dobrada, por oposição às legendas que marcaram a primeira fase do programa. Foi a era de 'Timon e Pumba', 'Doug', 'Pepper Ann' e 'Recreio' – um alinhamento sem dúvida tão forte quanto o do Clube Disney 'original', ainda que, curiosamente, muito mais centrado nas histórias estilo 'slice of life', e com protagonistas inteiramente originais, por oposição às aventuras vividas por Tio Patinhas, Tico e Teco ou Pateta nas séries anteriores.

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As séries da segunda fase eram retiradas do bloco 'One Saturday Morning', da cadeia norte-americana ABC.

De fora, em relação à One Saturday Morning original, ficava apenas 'Gárgulas', que viria a ser transmitida separadamente (no caso, pela SIC, por oposição à RTP) e que, coincidentemente, teria trazido o elemento de aventura a este novo alinhamento, ainda que também contribuísse com um tom consideravelmente mais sombrio e sério do que o das séries que a rodeavam, o que poderá ter contribuído para a decisão de não a exibir. Mesmo sem este elemento 'de peso', no entanto, a segunda fase do Clube Disney soube 'evoluir na continuidade', sem perder um pingo de qualidade desde o seu retorno até à sua eventual extinção, já nos primeiros anos do Novo Milénio.

Ao sair do ar, no entanto, o Clube português deixava para trás um legado de qualidade, evidenciado não só na dinâmica apresentação e animação de cada episódio, mas também no 'outro' tipo de animação, que ajudava a dar vida às excelentes séries exibidas em cada uma das duas fases do programa, e ainda hoje recordadas com carinho por toda uma faixa da população portuguesa.

11.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa era em que todo e qualquer programa está disponível nas plataformas de 'streaming', à distância de um par de cliques, o conceito de um bloco de várias horas de televisão inteiramente dedicado a apresentar um determinado tipo de conteúdo, rodeando-o ainda de inúmeros e diversos jogos, passatempos, interlúdios musicais e interacções com uma audiência presente em estúdio pode parecer desnecessária, e até arcaica. Nos anos 90, no entanto – quando a Internet era ainda incipiente, e a televisão o principal modo de transmissão de conteúdos – este era mesmo um dos formatos mais populares, sobretudo no tocante ao público infanto-juvenil, sempre predisposto a 'apadrinhar' qualquer conceito que transcendesse a simples sucessão de séries de desenhos animados; basta, por exemplo, falar na icónica 'parelha' de 'Buereré' (na SIC) e 'Batatoon' (na TVI) ou ainda em programas como a 'Hora do Lecas', o 'Mix Max', a 'Casa do Tio Carlos' ou o 'Brinca Brincando', para perceber a importância que este tipo de formato tinha no contexto da televisão infantil portuguesa de finais do século XX. A esta lista, há ainda que juntar dois programas concomitantes, ambos veiculados pela RTP, e que fizeram sucesso entre a faixa mais velha da geração 'millennial' (e mais nova da 'X') aquando da sua transmissão em inícios da década de 90. De um deles, falaremos na próxima Terça de TV; ao outro, dedicaremos as próximas linhas.

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Os dois logotipos do programa.

Nascido das 'cinzas' do não menos popular 'Clube Amigos Disney', apresentado por Júlio Isidro e com ligações a um verdadeiro clube de fãs oficial veiculado pela Abril Jovem, editora das revistas de BD da Walt Disney em Portugal, o agora apenas chamado 'Clube Disney' estreava no 'primeiro canal' logo em 1991, apresentando desde logo o formato que viria a manter pelos quatro anos seguintes, e que se assemelhava ao dos seus supracitados 'sucessores'. Num cenário colorido, com toques de fantasia (ou não fosse este um programa da Disney) e dominado por um ecrã gigante, um duo de apresentadores de natureza rotativa – constituído ora por Pedro Gabriel e Vítor Emanuel, ora por um deles ao lado de Anabela Brígida – preenchia os espaços entre cada rubrica de ficção com passatempos, provas de habilidade física disputadas pelas crianças em estúdio, leitura de carta e mostra de desenhos feitos pelos jovens fãs do programa, entrevistas a convidados musicais - alguns deles inusitados para a demografia em causa, como era o caso dos Censurados – e, naquele que era um dos momentos-chave de cada programa, segmentos sobre as atracções da então recém-inaugurada Eurodisney, que apenas faziam aumentar a já considerável vontade de visitar o espaço parisiense. Uma fórmula já com bastas provas dadas, e que aqui tornava a funcionar muito bem, tanto devido ao carisma e química exibidos pelos apresentadores como à própria selecção de material, sendo este o programa responsável por apresentar à juventude portuguesa clássicos como 'DuckTales' (inexplicavelmente chamado de 'Novas Aventuras Disney'), 'Tico e Teco: Comando Salvador', 'O Pato da Capa Preta', 'A Pandilha do Pateta' ou 'O Jovem Anjo', esta última a mais destacada das séries de acção real também exibidas no programa. Em cada emissão, havia também lugar para uma das clássicas 'curtas' produzidas pelos Estúdios Disney em inícios do século XX, que constituía mais um dos muitos motivos para sintonizar a RTP durante aquele horário.

Esta primeira fase do Clube duraria até 1994, altura em que o programa entraria em hiato durante dois anos, ressurgindo apenas em 1996, de 'cara lavada' e com um formato tão semelhante como diferente do clássico: mantinha-se o trio de apresentação com dois 'rapazes' e uma 'rapariga' (agora constituído por Carla Salgueiro, Pedro Penim e Alexandre Personne, todos os quais se tornariam bem conhecidos do público infanto-juvenil da época), a audiência infantil presente em estúdio e os segmentos de passatempos e provas, mas o local das gravações era agora uma moradia da Linha de Cascais, em Lisboa, e passava a ser possível aos espectadores em casa participarem no programa por via telefónica, uma medida adoptada pela maioria dos programas infantis da época. A selecção de programas, essa, mantinha-se excelente, e surgia mais focada e centralizada em séries de desenhos animados, com as curtas clássicas e propostas em acção real a desaparecerem para dar lugar a clássicos como Pepper Ann, Recreio, Doug, Quack Pack e – mais tarde – séries baseadas em filmes da companhia, como 'Hércules'. Este formato do programa conseguiria a proeza de sobreviver à viragem do Milénio, mantendo-se no ar até ao Verão de 2001, então já com novos apresentadores, na pessoa de Sílvia Alberto e José Fidalgo. Um feito notável para um 'decano' deste tipo de programa, que se afirmava assim como mais longevo do que emissões como o supracitado 'Buereré'. E embora a mudança de paradigmas televisivos tenha inevitavelmente terminado a 'era' do 'Clube Disney', a sua extinção esteve longe de vetar este programa ao esquecimento, tornando-o, pelo contrário, numa das emissões infanto-juvenis mais carinhosamente lembradas por um certo sector da população portuguesa, para quem aquelas duas horas constituíam um ritual quase 'sagrado' do seu quotidiano semanal. Para esses, ficam abaixo alguns excertos do programa em causa, os quais não deixarão, certamente, de reavivar memórias nostálgicas de tempos mais simples...

Excertos de ambas as fases do programa.

 

13.05.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de a maioria das memórias nostálgicas de qualquer geração, pelo menos ao nível da cultura 'pop' e 'mass media', se darem entre a idade de instrução primária e o final da adolescência, há também uma palavra a dizer relativamente a séries, livros ou mesmo músicas assimilados numa fase mais remota da infância, em que os gostos e personalidades se encontram ainda em processo de desenvolvimento. Embora, em regra e por definição, mais simples e lineares do que os conteúdos dirigidos a crianças mais velhas ou jovens adolescentes, estes programas não deixam ainda assim, quando bem produzidos e realizados, de 'cair no gosto' do público-alvo e se tornar, anos mais tarde, parte integrante das suas recordações de infância. A geração 'millennial' não foi excepção neste respeito, tendo os jovens nascidos nos anos 80, em especial, tido acesso a uma vasta panóplia de excelentes séries pré-escolares, da incontornável e icónica 'Rua Sésamo' aos divisivos 'Teletubbies', 'Bananas em Pijamas', 'Castelo da Eureeka', duas iterações diferentes de 'Noddy' ou ainda o programa de que falamos esta Segunda-feira, que, ainda que hoje um pouco esquecido, animou os inícios de noite de grande parte de uma geração.

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O título e personagem principal da série.

Falamos de 'O Urso Teddy', uma produção polaca em animação 'stop-motion' de meados dos anos 80 e que segue as aventuras quotidianas do personagem principal, um simpático urso com uma personalidade muito próxima da do seu público-alvo – inocente e amistoso, mas também ocasionalmente algo irascível – que terminava cada um dos mais de cem curtos episódios produzidos com uma canção de boa-noite, entoada enquanto o próprio Teddy se deitava e concluída, invariavelmente, com o apagar da luz em antecipação do sono. Terá, aliás, sido esta característica, aliada à natureza gentil e bucólica das peripécias de Teddy e seus amigos (relatadas por um único narrador externo que fazia todas as vozes, quase como se se tratasse de um pai a ler uma história a uma criança) que terá motivado a RTP a colocar a série, numa das suas inúmeras repetições, há exactos trinta anos, não nos blocos de animação das manhãs, como seria de esperar, mas próxima da lendária canção do Vitinho, a que servia quase como complemento na 'missão' de enviar os mais pequenos para a cama. As exibições anteriores, no entanto – e também a seguinte, e última, em 1995 – dar-se-iam no contexto esperado, tornando incongruente o 'boa noite' com que Teddy se despedia no final de episódios exibidos às oito e meia...da manhã!

De realçar, também, que esta última série contava já, além dos episódios sobejamente repetidos e conhecidos da juventude portuguesa, com novas aventuras de Teddy e companhia, agora narrados por Jorge Sequerra, que substituía o original e clássico António Montez, e seguia aproximadamente a mesma linha em termos de desempenho vocal. Assim, e como consequência da longevidade da série, haverá hoje portugueses da mesma geração com nostalgia tanto pelo Teddy de Montez como pelo de Sequerra! Fosse quem fosse o narrador, no entanto, as aventuras do urso Teddy terão formado parte integrante da infância remota da maioria dos portugueses de uma certa idade, os quais, ao lerem este post, já terão decerto na cabeça a icónica canção que introduzia e concluía cada episódio. 'Meus meninos...ó-ó...'

Excerto e episódio completo da primeira versão da série, ainda com a icónica canção no original polaco.

07.05.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por diversas vezes nos referimos aos anos 90 como a época áurea dos concursos na televisão portuguesa. Com cada novo programa deste tipo a constituir um sucesso de audiências, era com naturalidade que se viam surgir (ou importar) conceitos cada vez mais originais, e afastados dos formatos clássicos de um 'Um, Dois, Três', 'O Preço Certo' ou 'A Roda da Sorte'. Não era, tão-pouco, de estranhar que o referido género televisivo acabasse, paulatinamente, por procurar outros públicos que não apenas o adulto; de facto, ainda nos primeiros anos da referida década, já a RTP exibia concursos explicitamente dirigidos ao público infantil, como 'Arca de Noé', 'Tal Pai, Tal Filho' ou o programa de que falamos esta Terça-feira.

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Exibido pela primeira vez há exactos trinta e três anos, em Maio de 1991, 'Sim ou Sopas' trazia como principal atractivo a temática culinária, fomentada e enfatizada pela escolha de apresentador, já que Manuel Luís Goucha era, à época, conhecido pelos seus programas e livros de culinária, por oposição à vertente mais voltada para os 'talk-shows' que assumiria nas décadas subsequentes. Cada emissão trazia uma competição entre duas equipas, cada um deles constituído por uma criança entre os oito e os doze anos e um 'chaperone' de idade adulta, ou seja, com mais de dezoito anos.

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Goucha e os seus jovens coadjuvantes com as equipas participantes de um dos episódios.

Ao contrário do que se poderia esperar, no entanto – e à semelhança do que sucedia com os outros concursos acima elencados – eram as crianças quem assumia o comando das 'operações', sendo os adultos meros coadjuvantes em cada uma das seis provas que perfaziam o desafio (nenhuma das quais, apesar da temática culinária, pressupunha a preparação directa de pratos, ainda que várias envolvessem o contacto com alimentos e ingredientes), e que se desdobravam entre eventos de agilidade física, como a prova de pontaria ou as 'Tarefas' rotativas, e outros de cariz mais mental ou intelectual, com base em perguntas ou 'sopas de letras' que era necessário decifrar a caminho do jogo final, que testava a comunicação entre os participantes da equipa vencedora, e que dava acesso ao inevitável grande prémio, no caso um computador e uma série de livros em disquete, precursores dos actuais 'e-books' e 'audiobooks'. Em caso de empate, a vitória era decidida por meio de dois cartões que davam o nome ao programa, ganhando a equipa que tirasse o cartão de 'Sim', por oposição ao de 'Sopas'.

Apesar de só uma equipa poder ganhar, no entanto, ninguém saía do 'Sim ou Sopas' de mãos a abanar, sendo que todos os participantes recebiam bicicletas e livros de culinária infantil da autoria do próprio Goucha. Além destes prémios de consolação mais do que atractivos, era ainda possível amealhar prémios específicos a cada uma das provas, que iam dos habituais elementos electrónicos, como Walkmans, Discmans e jogos electrónicos, a estiradores (!!) e canetas de feltro - uma proposta irresistível para qualquer criança ou jovem, e que terá certamente aguçado a vontade de muitos espectadores em tomar parte no programa.

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Dois dos atractivos prémios de consolação do programa.

Apesar do relativo sucesso que fazia entre a demografia-alvo, no entanto – e da afável apresentação do já carismático Goucha – 'Sim ou Sopas' apenas almejou um total de vinte episódios, emitidos ao longo de pouco menos de seis meses, até Outubro daquele mesmo ano de 1991. Sem ter sido o mais memorável dos concursos infantis da altura, no entanto – antes pelo contrário – o programa terá, ainda assim, tido suficiente impacto junto do seu público-alvo para ficar retido nos 'bancos' de memória remota, dos quais foi certamente 'desbloqueado' ao ler este 'post', de forma semelhante ao que sucedeu com o autor deste 'blog' enquanto pesquisava para o mesmo...

06.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Enquanto ícone cultural absoluto da última vaga de 'X' e primeira de 'millennials' portugueses, é com naturalidade que a 'Rua Sésamo' tem vindo a servir de tema dos mais diversos 'posts' neste nosso 'blog' nostálgico. Agora, após termos falado do programa em si, da revista que o complementava e – mais recentemente – das diversas colecções de livros que inspirou, chega o momento de falar do último artefacto cultural que o lendário programa da RTP deixou para a posteridade: os discos de canções retiradas dos episódios lançados pela Vidisco em inícios da década de 90, durante o auge da popularidade da série.

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Capa dos três álbuns da série.

Lançados ao ritmo de um disco a cada dezasseis meses (só 1991 não teve direito a uma edição da série) por razões de relevância temporal, os três álbuns de 'Canções da Rua Sésamo' seguiam uma fórmula semelhante, e já sobejamente testada nos meandros da música infantil. Cada volume reunía um número considerável de músicas retiradas de alguns dos segmentos e cenas mais memoráveis do programa, um pouco à semelhança do que sucedia, no mesmo período, com os álbuns da também mega-popular 'Arca de Noé'; a diferença, neste caso, é que os discos da Rua Sésamo contavam, ainda, com rendições de algumas das mais populares cantigas de roda e de recreio, que ajudavam a avolumar ainda mais o número de músicas de cada álbum, fazendo com que valessem o investimento por parte dos pais dos pequenos fãs do Poupas, Ferrão e restantes personagens da emissão da RTP.

Em comum, estas duas vertentes tinham a qualidade da interpretação, que, aliada à não menos excelente composição dos temas originais, contribuía para a excelente relação preço-qualidade de cada um dos três álbuns, colocando-os entre os melhores discos infantis editados em Portugal na época. E apesar de a popularidade da 'Rua Sésamo' se ter, inevitavelmente, esvaído, especialmente após o fim da emissão, não haverá, decerto, português nascido e crescido entre meados da década de 80 e os primeiros anos da seguinte que não recorde, até hoje, a letra e melodia de clássicos como 'Lixo no Lixo', 'Comigo Ninguém Faz Farinha', 'Sopa', 'O Telefone', '7 Notas Só', e tantas outras músicas que emprestavam ainda mais cor a um dos melhores programas de sempre da televisão portuguesa, e que tornavam esta série de álbuns presença obrigatória junto do gira-discos ou leitor de cassettes de qualquer criança nacional daquela época.

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