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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.02.22

NOTA: Este post corresponde a Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2022.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

NOTA: Este post não pretende promover qualquer ideologia religiosa, destinando-se, tão-somente, a recordar uma publicação que, coincidentalmente, tem ligações a determinada fé. 

Embora as escolas públicas sejam (ou devam ser) um espaço onde as crianças são livres de desenvolver as suas próprias ideologias sociais e religiosas, tal não impediu que, nos anos 90, houvesse uma tentativa de fazer com que as crianças portuguesas compreendessem, especificamente, a religião católica, nomeadamente através das aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, que muitas escolas primárias incluíam no seu horário lectivo semanal; verdade seja dita, no entanto, aquelas horas semanais tendiam, muitas vezes, a focar assuntos que se podiam considerar do foro laico – como era o caso da cidadania, do respeito ao próximo ou da problemática da liberdade 'versus' libertinagem, por exemplo – e que era importante incutir nas crianças logo a partir de tenra idade, seguissem elas ou não a religião cristã e católica.

Era precisamente este princípio – ensinar princípios, não só cristãos como de sociabilidade geral, de forma descomprometida e divertida – que informava, na mesma época, uma publicação oriunda do Brasil, e disponível em Portugal exclusivamente através de assinatura, normalmente contraída, precisamente, em ambiente escolar: a famosa revista Nosso Amiguinho.

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Edição de  Novembro de 1986 da revista, distribuído numa escola primária de Lisboa cerca de meia década depois, como 'amostra grátis' durante uma campanha de angariação de assinaturas

Concebida em 1952 pelo editor Miguel J. Malty, a revista vem, desde então, sendo ininterruptamente publicada pela Casa Publicadora Brasileira, uma editora ligada à Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma das fés mais populares naquele país. No total, são já setenta anos em que (à parte as habituais adaptações ao correr dos tempos, como a passagem de uma para várias cores) a revista manteve, grosso modo, o mesmo formato – uma mistura de banda desenhada, passatempos, receitas, curiosidades e, claro, transmissão de valores morais, éticos e comportamentais associados à religião em causa,. No papel de anfitriões (e, muitas vezes, receptores) neste processo de aprendizagem encontrava-se a Turma do Noguinho, um conjunto de personagens infantis criados em 1972 pelo então editor Ivn Schimidt e pelo desenhador uruguaio Heber Pintos que pretendia ser a resposta religiosa a outras 'turmas' super-populares da banda desenhada secular brasileira da época, como a da Mônica, dos Trapalhões ou do Menino Maluquinho. E apesar de os conteúdos da Nosso Amiguinho não terem (obviamente) o elemento humorístico e politicamente incorrecto que fazia com que esses trabalhos fossem tão apreciados pelo público-alvo, a verdade é que os mesmos conseguiram suficiente popularidade junto do mesmo para manter a revista no mercado durante as referidas sete décadas.

Na verdade, mesmo para quem não é Adventista de Sétimo Dia, a revista lê-se (ou, pelo menos, lia-se, nos anos 90) extremamente bem, embora os seus conteúdos não escapem – nem queiram escapar – àquele tom levemente moralista demais, que pode (e poderá) ter levado alguns a torcer o nariz à revista, tanto à época como nos dias de hoje. O preço da assinatura (que chegava a ser mais cara do que a de algumas revistas equivalentes do mercado secular) terá sido o outro principal entrave à expansão da revista no mercado português, onde penetrou em 1986, e onde permanece firme (ainda que apenas num pequeno nicho, conforme descrito acima) até aos dias de hoje.

De facto, a Nosso Amiguinho continua, hoje, a seguir 'de vento em popa', tendo actualmente o atractivo adicional de poder ser assinada directamente online, sem recurso ao mediador escolar, e continuando a oferecer a pais afectos à religião em causa (e a outros a quem a declarada afiliação religiosa não incomode) um meio de transmitir aos seus filhos em idade escolar básica mensagens e conceitos importantes, de uma forma divertida – isto, claro, se tiverem dinheiro para a assinatura...

06.01.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O segmento adolescente é, tradicionalmente, um dos mais directamente desejados pela maioria das companhias de venda e criação de produtos, seja qual for o sector. Armados com dinheiro próprio, ao contrário do público infantil, e sem despesas obrigatórias em que o gastar – além dos impulsos e desejos ainda por refrear e das emoções constantemente à flor da pele – este segmento de mercado é um dos que mais gastos não-essenciais faz, pelo que não é de admirar que, ano após ano, surjam inúmeros produtos exclusivamente a eles dedicados.

Nos anos 90, antes do advento da Internet e do subsequente acesso directo a toda e qualquer informação desejada (bem, excepto imagens de certos produtos de época que ninguém se lembrou de registar...) um dos mais prolíferos sectores no que toca a produções dirigidas em específico a adolescentes era a imprensa. Ainda sem 'smartphones' nem 'websites' de onde extrair a informação (o píncaro da tecnologia móvel no final dos 90s ainda eram os telemóveis Nokia, e os sites ainda consistiam de 'layouts' básicos, em cores berrantes, e com muitos 'gif's à mistura) os adolescentes procuravam nas bancas as últimas novidades sobre os temas que mais lhes interessavam – e a imprensa oferecia-lhes precisamente o que procuravam. Dos videojogos à música e do desporto às 'fofocas' sobre celebridades atraentes, os quiosques e tabacarias portugueses dos anos 90 tinham de tudo um pouco para agradar aos jovens, e a maioria das publicações desta era da imprensa portuguesa tiveram ciclos de vida de vários anos, senão mesmo décadas, acabando por ter como carrasco, precisamente, a Internet 2.0.

Um destes títulos, que encerrou funções em 2018 após honrosos vinte e cinco anos de publicação, foi a versão portuguesa da revista 'Ragazza', um conceito originalmente idealizado em Espanha (e não em Itália, como se poderia pensar) e que se posicionava, em termos simples, como a resposta a publicações como a 'Cosmopolitan' para um público adolescente.

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Capa de uma edição moderna da versão portuguesa da revista

Lançada em Portugal em 1993, e recheada, mês após mês, com exactamente o tipo de artigos em que se pensa quando se pensa neste tipo de revistas – de supostos 'truques' para atrair o sexo oposto a artigos com conselhos sobre saúde ou moda, passando pelos inevitáveis 'posters' de artistas bem-parecidos e pela ainda menos evitável secção de cartas das leitoras – a 'Ragazza' servia, para grande parte do seu público, como um complemento ao binómio 'Super Pop' e 'Bravo', na altura ainda importadas dos respectivos países de origem, e cujos conteúdos tendiam a ser bem mais leves e superficiais; já a 'Ragazza' conseguia combinar essa leviandade com temas bem mais sérios, mas nem por isso de menos interesse para um público ávido de conselhos, e que, regra geral, tendia a não confiar nos adultos que lhe eram próximos para os elucidar.

Não é, pois, de estranhar, que a revista tenha sido um verdadeiro sucesso de vendas à época do seu lançamento, conseguindo um nível de tracção entre a demografia-alvo (e, consequentemente, de sucesso e longevidade) a que nenhuma das suas duas concorrentes directas à época do lançamento conseguiu alguma vez almejar. Prova disso é que não existe, na Internet actual, qualquer vestígio da '20 Anos', e o artigo da Wikipédia relativo à 'Teenager' consiste de...uma linha, que menciona apenas as datas de início e fim da publicação e o nome do editor: já a ´Ragazza´ tem páginas e blogs a si dedicados, maioritariamente por ex-leitoras desiludidas com o encerramento da publicação.

A esses memoriais junta-se agora mais este, por parte de alguém que, apesar de fazer parte da metade errada da população humana para alguma vez ter lido sequer uma linha desta publicação (ainda mais à época!), nem por isso deixa de reconhecer a influência e importância, no contexto da imprensa juvenil nacional de finais do século XX e inícios do seguinte, de uma revista que, mesmo tendo sido descontinuada, continua ainda assim a viver nas mentes e nos corações das suas antigas leitoras.

17.12.21

Nota: Este post é respeitante a Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2021.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Numa era em que quase todo o conteúdo é consumido por via digital, pode custar a acreditar que, num passado não muito distante, um dos principais meios pelos quais o público infanto-juvenil consumia 'novidades' sobre as suas propriedades favoritas era através da leitura, quer de publicações generalistas, quer de outras especificamente dedicadas ao assunto ou artista em causa. E destas últimas, em particular, havia mesmo muitas entre meados e finais dos anos 90 - de publicações centradas em torno de personagens fictícias como a Barbie a complementos a programas televisivos, como a Rua Sésamo e o Batatoon, ou revistas com origem em clubes de fãs, como a do Rik e Rok, havia muito por onde escolher para uma criança dos anos 90 com interesse na cultura 'pop' ou em curiosidades generalistas apropriadas à sua faixa etária.

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A revista 'Batatoon', uma das mais bem-sucedidas publicações infantis dos anos 90

A estrutura destas revistas era, regra geral, muito semelhante - havia, normalmente, a referida secção de curiosidades, uma de passatempos (quer do tipo para completar na própria revista, ao estilo quebra-cabeças, quer do tipo em que se ganhavam prémios ao enviar uma frase ou responder a uma pergunta), uma de banda desenhada (própria ou 'licenciada') e outra alusiva à propriedade que encabeçava a revista - afinal, havia que vender o peixe... As revistas mais 'sofisticadas' teriam ainda, provavelmente, uma entrevista com uma qualquer personalidade, ou páginas centrais temáticas, enquanto as menos ambiciosas preencheriam o restante espaço com testes de personalidade ou artigos 'descartáveis' relacionados aos problemas do público-alvo. Uma receita simples, mas que dava invariavelmente bons resultados - que o digam as referidas revistas da Barbie e Batatoon, que, sem atingirem a longevidade de uma Bravo ou Super Jovem, conseguiram ter uma 'vida' relativamente digna nas prateleiras portuguesas.

À medida que o Mundo se ia tornando cada vez mais digital, no entanto, estas revistas acabaram, naturalmente, por perder espaço, até se tornarem em meras 'relíquias' nostálgicas - uma situação que, infelizmente, não dá sinais de se inverter num futuro próximo, antes pelo contrário. Ainda assim, estas revistas marcaram época, e quem as leu certamente terá delas boas memórias, justificando portanto a 'lembrança' aqui no blog...

17.11.21

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Nos anos 90, a Disney vivia um estado de graça em todas as frentes. Os seus filmes de animação (a principal vertente por que eram conhecidos) atravessavam uma segunda era de ouro, o mesmo se passando com as suas séries animadas; os seus parques temáticos estavam entre os destinos mais desejáveis do Mundo; e, apesar da pouca presença no mercado norte-americano, os seus livros de banda desenhada continuavam a fazer sucesso em mercados como o brasileiro, o italiano ou o português, onde as revistas Disney apenas eram rivalizadas em popularidade pelas de super-heróis da Marvel e DC – que, por serem publicadas pela mesma editora, não se podiam exactamente considerar concorrentes – e pelas da Turma da Mônica (estas sim, em competição directa.) Em Portugal em particular, não havia, à época, praticamente, criança ou jovem de uma certa idade que não conhecesse e lesse as histórias de Mickey, Pateta, Donald e companhia, as quais marcavam mesmo presença em suplementos de jornais e até em manuais escolares.

Tendo em conta este panorama, não é de todo surpreendente que a referida editora Abril se tenha sentido à vontade para expandir o seu raio de acção a histórias e personagens mais periféricos dentro do universo Disney, alguns dos quais acabavam de fazer a transição do mundo do cinema ou televisão para o dos quadradinhos, de Aladino, Ursinho Puff ou Mulan a Doug ou Pato da Capa Preta.

Estes e outros heróis Disney chegariam mesmo, no entanto, às bancas portuguesas em meados da década, através de uma colecção de álbuns temáticos em formato 'de luxo', com páginas A4 e papel grosso e brilhante. Simplesmente intitulada 'Álbuns Disney' (o que não ajuda nada no que toca à procura de referências um quarto de século depois) estes volumes faziam por justificar o preço mais elevado em relação às publicações Disney 'normais', algumas das quais ofereciam mesmo mais páginas de histórias, ainda que com personagens mais corriqueiros dentro do universo da companhia.

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O primeiro número da série, no caso, uma republicação de uma história clássica de Carl Barks.

E por falar em histórias, as contidas em cada um destes volumes mais não eram do que traduções do material que saía na popular 'Disney Adventures' norte-americana, na altura uma das poucas fontes de banda desenhada Disney naquele continente, e conhecida precisamente por elaborar enredos aos quadradinhos para heróis mais conhecidos pelos seus feitos no mundo do celulóide ou das ondas televisivas; e a verdade é que estas se tratavam de histórias cuidadas, bem escritas e desenhadas, e bem merecedoras da atenção do seu público-alvo.

Infelizmente, a adesão a esta série foi bastante reduzida por comparação à das revistas mensais ou quinzenais, talvez devido ao preço mais elevado e distribuição mais limitada. De igual modo - e talvez como consequência da sua pouca popularidade na altura da publicação - hoje em dia, esta colecção entra directamente para a galeria dos 'Esquecidos Pela Net', sendo precisa uma pesquisa muito específica para encontrar sequer uma imagem de uma capa da colecção. Resta, pois, ao Anos 90 'desenterrar' mais esta pérola da época, e fornecer-lhe o 'lugar ao sol' que nunca conseguiu ter até hoje...

04.11.21

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O ano de 1994 viu grande parte das crianças e jovens portugueses desenvolver uma verdadeira obsessão por dinossauros, as míticas criaturas pré-históricas relançadas na cultura popular pelo filme Parque Jurássico, um dos maiores êxitos de bilheteira – senão mesmo o maior – do ano anterior. Tendo a dita película encontrado grande parte do seu sucesso entre o público mais jovem, sobretudo o do sexo masculino, não foi portanto de surpreender que, durante os meses que se seguiram à sua exibição nos cinemas portugueses, essa mesma fatia de público tenha procurado coleccionar tantos objectos alusivos ao filme e à sua temática quanto possível. Fossem réplicas de dinossauros em borracha, livros sobre a vida destas criaturas ou até kits de escavação de fósseis, tudo o que se relacionasse com dinossauros ou com a pré-História em geral tinha sucesso quase garantido naquele ano de 1994.

No campo das publicações periódicas, o panorama não se afigurava por aí além diferente, pelo que a aposta de pelo menos uma editora neste autêntico filão de vendas também não se afigurou como por aí além surpreendente. A editora em causa foi a Planeta deAgostini, que aproveitou a deixa para acrescentar uma publicação sobre dinossauros ao seu já vasto leque de lançamentos pedagógicos, cursos de línguas e enciclopédias em fascículos semanais, 'adocicando-a' com um atractivo irresistível para os jovens da altura, e que garantiu que pelo menos o primeiro fascículo da série fosse um retumbante sucesso.

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Alguns dos muitos fascículos da série

Simplesmente intitulada 'Dinossauros!', esta série (originalmente oriunda do Reino Unido, onde fora criada pela Orbis Publishing) chegava às bancas na crista da onda da 'dinomania', oferecendo a quem coleccionasse todos os fascículos, não um, mas DOIS pontos de interesse; por um lado, a possibilidade de juntar todos os diferentes 'ossos' necessários à construção de um esqueleto-modelo de dinossauro, e por outro, o atractivo adicional de cada número incluir duas páginas com imagens em 3D, as quais podiam ser visualizadas com recurso aos óculos especiais oferecidos com o primeiro volume. Uma oportunidade bem aproveitada, portanto, para explorar não apenas a 'febre' dos dinossauros, mas ainda a do 3D, que na altura também grassava entre os jovens de todo o Mundo.

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Alguns dos brindes e acessórios oferecidos com a série

Qualquer conjugação destes dois elementos tinha enormes probabilidades de ser bem-sucedida, e no caso da dino-colecção da Agostini, foi exactamente isso que aconteceu, com muitas crianças a adquirirem, pelo menos, o volume inicial da série, o qual – como também era hábito naquela época – foi sujeito a uma oferta de lançamento, disponibilizando elementos extra pelo preço-base dos fascículos; a estratégia, como também era hábito, resultou em cheio, e aquele primeiro número, com o sempre popular T-Rex na capa, constituiu, à época, presença habitual nos quartos de crianças e jovens de Norte a Sul do País. Já os restantes fascículos eram comparativamente mais caros, ficando por isso reservados apenas aos mais fanáticos, e com mais dinheiro (e tempo) para gastar neste tipo de coleccionismo – o que, tendo em conta os níveis de concentração e atenção da criança média (tanto daquele tempo como de agora) poderá ter reduzido consideravelmente a dimensão do público-alvo desta série do número 2 em diante...

Ainda assim, esta foi uma colecção suficientemente memorável e temporã para justificar a inclusão neste blog nostálgico, cujo criador era, à época, da idade, sexo e persuasão ideais para sucumbir aos encantos de uma iniciativa como esta - tendo, como tal (e como muitos outros) tido em casa aquele primeiro fascículo da série...

15.10.21

NOTA: Este post corresponde a Quinta-feira, 14 de Outubro de 2021.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Nos anos 90 e início do novo milénio, qualquer conceito ou propriedade intelectual de sucesso tinha grandes probabilidades de contar, entre o seu 'merchandising' oficial, com uma revista ou publicação, muitas vezes apenas tangencialmente conectada ao tema ou conceito em causa, outras mais directamente relevante para o mesmo. Foi assim, por exemplo, com a Rua Sésamo, no início da década, e com o Batatoon, já nos primeiros anos do novo milénio; exactamente a 'meio caminho' entre estas duas, no entanto, surgia uma outra representante do género, esta dirigida a um público um pouco mais velho - a revista 'Portugal Radical'.

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Capa de um dos números da revista

Baseada no programa do mesmo nome, exibido pela SIC, esta revista mantinha-se extremamente fiel ao conceito por detrás do mesmo, nomeadamente, o de manter informado um público ávido por desportos radicais, e espectador assíduo da emissão que esta publicação complementava. Assim, não é de surpreender que a mesma constasse, essencialmente, de página após página dedicada a dar a conhecer os mais populares desportos alternativos da época, bem como aquilo que se ia passando na 'cena' competitiva de cada um deles. Tal como acontecia na emissão televisiva, também aqui os principais desportos representativos do movimento - do skate ao surf, BTT, BMX, motocross ou patins em linha - tinham, cada um, direito ao seu próprio espaço, revezando-se no que tocava a honras de capa, mas nunca sendo deixados de fora de qualquer número da revista, abordagem que emprestava abrangência à publicação, e garantia a fidelidade do público-alvo, independentemente da sua modalidade de eleição.

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Exemplos do tipo de conteúdos da revista

Infelizmente, e apesar da notabilidade e popularidade durante a época áurea do programa, a revista 'Portugal Radical' não conseguiu emular a longevidade ou impacto cultural da sua emissão irmã; embora a maioria dos jovens daquele tempo ainda se lembrem de acompanhar o programa na televisão e de coleccionar os cromos, apenas os mais dedicados (quer aos desportos radicais, à época, quer à 'escavação' cibernética, hoje em dia) se lembrarão de que existiu também uma revista alusiva ao conceito, até porque 350 'paus' (como o anúncio televisivo apregoava) eram uma quantia considerável - quase duas semanadas para a maioria das crianças da época! - e, muitas vezes, valores mais altos se alevantavam...

Ainda assim, vale a pena recordar esta revista meio esquecida pelo passar do tempo (embora não pela Internet) e que serve, hoje em dia, como verdadeira 'cápsula do tempo' para uma época bem mais inocente, divertida, e (sim) radical...

Anúncio televisivo de promoção da revista

12.08.21

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Na última Terça de TV, relembrámos neste espaço o Templo dos Jogos, um dos pioneiros do jornalismo ‘gamer’ em Portugal; hoje, Quinta no Quiosque, chega a vez de recordarmos a outra – ou melhor, as outras. Isto porque foram quatro as revistas de jogos surgidas em Portugal durante os anos 90, embora só uma possa ser considerada verdadeiramente pioneira.

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Falamos da Mega Score, lançada em meados dos anos 90 e que teve, previsivelmente, um acolhimento quase unanimemente favorável, sobretudo por nunca ter havido outra publicação nos seus moldes em território português. Com páginas e páginas dedicadas a novidades, noticias, críticas e curiosidades relativas aos principais jogos de PC e consolas da época, para os jovens ‘gamers’ da era pré-Internet, a revista valia cada centavo dos seus (admitidamente ‘puxados’) 450 escudos – a maioria das vezes ‘colmatados’ por uma ou outra oferta, normalmente um CD de ‘demos’, mas por vezes algo mais inusitado, como um ‘booster’ de Magic the Gathering. Esta receita, que com o passar do tempo se foi afastando das consolas e centrando cada vez mais nos jogos para PC, permitiu à Mega Score sobreviver doze anos nas bancas – o que, para uma publicação centrada em algo tão rapidamente obsoleto como os jogos de vídeo, é um recorde absolutamente impressionante; só para terem uma ideia, entre 1995 e 2007, passou-se de Jazz Jackrabbit e Virtua Fighter a Bioshock, Halo 3 ou Modern Warfare!

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Na segunda fila, à direita, o grafismo original da revista; em baixo, o moderno, vigente nos anos 2000

Claro que, com o sucesso obtido pela Mega Score, não tardou a haver publicações que lhe tentaram seguir as passadas, com maior ou menor sucesso. Destas, a mais conhecida (e longeva) talvez tenha sido a BGamer, lançada em 1998 (inicialmente ligada à discoteca Bimotor) e que rapidamente se assumiu como a principal rival da Mega Score – uma posição que viria a manter durante toda a década seguinte, até à extinção da rival. Com uma formula e conteúdos muito parecidos aos da concorrente (incluindo a táctica de oferecer CDs de ‘demos’ ou jogos completos como oferta a cada mês), esta revista causou uma espécie de situação ‘Pepsi vs Coca-Cola’ entre os ‘gamers’ portugueses, ao mesmo tempo que lhes oferecia uma alternativa de alta qualidade à revista que muitos já vinham comprando. No fundo, uma competição saudável, e que só beneficiou os fãs portugueses de videojogos.

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Um pouco ao lado, e dirigida a um público mais específico, ‘morava’ a Revista Oficial PlayStation. Uma adaptação fiel da publicação original britânica (que também se encontrava em Portugal, embora apenas em certos locais e sempre a ‘peso de ouro’) a Revista Playstation portuguesa tinha o mesmo atractivo da congénere – nomeadamente, os CDs de ‘demos’, vídeos e até jogos de programadores independentes que oferecia a cada mês. Isto não significava, no entanto, que a publicação descurasse os conteúdos, já que as suas diferentes rubricas eram sempre escritas de forma cuidada (ainda que por vezes não passassem de traduções dos conteúdos da revista em inglês) e com um sentido de humor muito próprio.

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Em último lugar – em todos os sentidos – perfilava-se a Super Jogos, uma revista que procurava, não tanto ser uma alternativa directa às anteriormente mencionadas, mas afirmar-se como única praticante de um conceito ligeiramente diferente. Nesta publicação, eram os leitores quem escrevia o conteúdo – além da inevitável secção de Correio, os jovens ‘gamers’ eram também encorajados a enviar críticas, guias e outros conteúdos de interesse, sendo os melhores publicados em edições subsequentes. O problema, que deverá ser imediatamente aparente da perspectiva de um leitor adulto, é que enquanto algumas pessoas têm jeito para a escrita, outras…nem por isso. Isto tornava os conteúdos de cada revista extremamente inconsistente, podendo um guia de seis páginas pessimamente escrito ombrear com uma notícia de seis linhas de redacção quase profissional, ou vice-versa – o que acabava por se tornar algo frustrante, e levemente irritante. Por outro lado, o facto de a totalidade da revista ser escrita por amadores – muitos deles claramente adolescentes – criava uma afinidade entre leitores e aspirantes a redactores que nenhuma das publicações profissionais conseguia nem podia proporcionar; quando associada ao convidativo preço da revista (especialmente por comparação às outras alternativas no mercado) isto ajudou a Super Jogos a descobrir e reter o ‘seu’ público – o qual, no entanto, não foi suficiente para evitar o rápido desaparecimento da revista, coincidente com a proliferação (gratuita) de conteúdos semelhantes aos que publicava no novo veículo de informação, a Internet. Ainda assim, quem leu esta revista certamente a relembrará com algum carinho, mais não seja por ter tentado algo diferente.

Em suma, depois de a Mega Score ter aberto um trilho, foram muitas e boas as opções à disposição dos ‘gamers’ portugueses naqueles anos 90, as quais, por sua vez, abriram caminho a ainda mais durante grande parte da década seguinte – o que mais que justifica a sua inclusão nesta nossa rubrica dedicada a publicações marcantes daquele tempo…

22.07.21

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

E se para inaugurar esta secção escolhemos uma revista que caiu um pouco na obscuridade desde que ‘saiu de cena’, com o tema seleccionado para hoje, essa questão não se coloca. Isto porque, hoje, é altura de falarmos das duas ‘grandes’ revistas para jovens disponíveis em Portugal nos anos 90, aquelas de que quase toda a gente se recorda – e das quais, ironicamente, nenhuma era, inicialmente, publicada em Portugal.

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Falamos, é claro, da ‘Bravo’ e da ‘Super Pop’, duas publicações distintas, de editoras diferentes, mas que tendem a ser mencionadas em conjunto, pelo seu cariz extremamente semelhante; este blog não vai fugir à regra nesse respeito, até porque não há assim tanto a dizer de qualquer das duas a nível individual. Os conceitos das duas eram semelhantes ao ponto de se confundirem – focando precisamente o mesmo público-alvo, com precisamente a mesma estratégia – e a única grande diferença (além de, na primeira fase, a origem) era mesmo o título na parte superior da capa.

Na verdade, ambas as revistas apostavam no formato ‘revista cor-de-rosa’, ao estilo de uma ‘Caras’, ‘Hola’ ou mesmo ‘TV7Dias’, mas adaptado a um público jovem. Isto traduzia-se, essencialmente, em ainda menos texto do que nas revistas deste tipo ‘para adultos’, e ainda mais espaço dado a imagens de ‘pop stars’, atores e desportistas, a grande maioria dos quais do sexo masculino. De facto, cada uma das duas revistas era cerca de 80% composta por imagens – o que ajuda a explicar como é que duas publicações estrangeiras, escritas em línguas que o adolescente médio pouco ou nada conhecia (o espanhol da Super Pop ainda era mais ou menos decifrável para um jovem com o português como língua materna, mas no caso do alemão da Bravo, esta percentagem diminuía significativamente) conseguiram ser sucessos de vendas a nível nacional.

De facto, para as raparigas adolescentes a quem ambas as revistas eram dirigidas, não interessava tanto o que estava ou deixava de estar escrito – aliás, quanto menos se tivesse de ler, mais tempo sobrava para admirar apaixonadamente os ‘posters’ de rapazes atraentes (os ‘bonzões’, como eram conhecidos na altura) que constituíam a verdadeira razão do investimento nestas publicações. É claro que as revistas tinham outros atrativos – como os brindes – mas nem a mais cândida das leitoras de qualquer uma delas dará qualquer motivo que não os ‘posters’ e as fotos como principal incentivo para a compra.

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O principal motivo para adquirir estas revistas

É claro que, com todo este sucesso – o qual foi transversal não só aos anos 90, como também á anterior e ás seguintes – não tardou até as editoras portuguesas investirem em edições nacionais destas revistas; assim, foi sem surpresa que as jovens portuguesas viram surgir, em finais da década de 90, exemplares das suas publicações favoritas escritas em português – o que significava que, além de admirar os ‘bonzões’, agora era também possível ler as curiosidades sobre eles que inevitavelmente perfaziam a maioria do conteúdo escrito de ambas. Apenas mais uma razão para dar os 200 escudos necessários para trazer uma destas revistas para casa ali por volta do fim do segundo milénio…

O que ninguém imaginava era que o ciclo de vida deste tipo de revistas estivesse com os dias contados: de facto, o advento e expansão da Internet tornou possível, no espaço de apenas alguns anos, admirar ‘bonzões’ na Internet de graça, e imprimir fotos para pendurar na parede à laia de ‘posters’ tornando revistas como estas progressivamente mais obsoletas. Ainda assim, é impressionante constatar que a Bravo portuguesa conseguiu resistir até 2017 (!!), em plena era do Instagram, e que pode até estar de volta às bancas nos tempos que correm (!!!).

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Um exemplar bem contemporâneo da revista 'Bravo'

Só isto chega para ilustrar o poder que estas publicações tinham – e, aparentemente, continuam a ter – junto do seu publico-alvo; o que, no fundo, até é explicável – afinal, admirar pessoas famosas e bonitas enquanto se lêem ‘fofocas’ sobre elas é um passatempo que nunca passa de moda, especialmente entre os jovens, não importa em que época da História estejamos…

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