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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

23.11.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em finais do século XX, a revista desportiva era já parte do panorama editorial de vários países de todo o Mundo, com publicações tão famosas e sonantes como a 'Sports Illustrated' norte-americana ou a 'France Football'; em Portugal, no entanto, o paradigma era um pouco diferente, com a imprensa desportiva (pelo menos a não-especializada) a ser dominada pelos três 'eternos' diários desportivos, que só em inícios do século XX deixariam espaço a revistas como a 'Futebolista'. Tal hegemonia não impediu, no entanto, que pelo menos uma publicação tentasse 'furar fileiras' e afirmar-se no espaço editorial desportivo português, tendo mesmo chegado a atingir um moderado grau de sucesso nesse desiderato.

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Exemplo dos dois tipos de grafismo da revista durante o seu tempo de vida (Crédito das fotos: OLX.)

Falamos da 'Mundial', uma revista que, apesar de se estender periodicamente a outros desportos, tinha como foco central (e perfeitamente natural) o futebol, que ocupou a maioria das capas da revista desde o seu lançamento, algures em meados dos anos 90, até ao seu desaparecimento das bancas, ainda antes do final do Novo Milénio. Infelizmente, não nos é possível precisar melhor o espectro temporal da publicação, dado esta ser – como a também noventista 'Basquetebol' – uma daqielas revistas das quais poucos vestígios restam para lá de uma série de anúncios da OLX e do ocasional 'post' nostálgico no Facebook – por outras palavras, uma Esquecida Pela Net.

Daquilo que as capas permitem averiguar, a 'Mundial' procurava ter cuidado em alternar o foco entre diversos clubes, bem como entre os principais jogadores de cada um deles, e até aos principais nomes internacionais da época – isto para além de uma marcada (e também bastante natural) vertente de apoio à Selecção Nacional, que vivia, à época, alguns dos seus melhores anos, com a Geração de Ouro a 'dar cartas'. De igual modo, a presença de artigos sobre outras modalidades e eventos - como o 'bodyboard', a Fórmula 1 ou até as Olimpíadas - vem da análise dessas mesmas capas, sendo praticamente impossível encontrar, hoje, dados sobre a editora, longevidade ou até número de páginas da revista – facto algo insólito, tendo em conta que outras publicações da mesma altura (1996-98, pelo menos) se encontram ainda bem documentadas na 'autoestrada da informação'! Ainda assim, é também possível observar uma mudança de grafismo na 'Mundial' entre 1996 e 98, presumivelmente para ajudar a dar um ar menos austero à revista, e mais condicente com o que o público jovem da época procurava de uma publicação deste tipo.

Tendo em conta o posterior sucesso da referida 'Futebolista' e outras publicações semelhantes, não deixa de ser bizarro que a 'Mundial' seja tão pouco lembrada entre os fãs de jornais e revistas de desporto nacionais. No entanto, uma das missões declaradas deste nosso blog é, precisamente, não deixar que tais artefactos de finais do século XX se percam para sempre, e, nesse aspecto, era nosso dever fazer a nossa parte para assegurar que esta 'Mundial' não era vetada ao esquecimento pela mesma geração que, em tempos, a comprou e leu religiosamente - uma missão que, esperamos, se venha a provar bem-sucedida.

21.09.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Os anos 80 e 90 estiveram entre as décadas mais inovadoras e progressivas no tocante ao mundo da moda, tendo, entre outros feitos, introduzido na sociedade ocidental o conceito de 'super-modelos' – figuras aspiracionais cujo objectivo primário era exibir (e, por esse meio, 'vender') as mais recentes tendências e peças de cada estação. E escusado será dizer que o impacto destas novas 'musas' foi imediato e avassalador, tendo nomes como Claudia Schiffer, Naomi Campbell e Cindy Crawford sido responsáveis por interessar milhões de jovens um pouco por todo o Mundo (e até algumas pessoas mais velhas) no mercado da alta costura.

Portugal não foi excepção a esta regra, antes pelo contrário; apesar do 'atraso' a nível de estilos e tendências relativamente ao resto do Mundo (que se faz sentir até hoje, ainda que em menor escala) o nosso País viu, no decurso das referidas décadas, aumentar o interesse pelas novas colecções dos principais estilistas, o qual ficou reflectido na presença das referidas modelos nas capas de revistas tanto juvenis como mais generalistas, e no aparecimento de versões portuguesas das principais revistas de moda internacionais. Já aqui falámos, nesta mesma rubrica, da 'Elle' nacional, e, dado que a 'Vogue' lusitana ainda demoraria alguns anos a chegar, resta agora falar da edição nacional de outra referência no mundo das publicações de moda – a Madame Figaro, cuja versão portuguesa recebia o nome de Máxima, e surgia pela primeira vez nas bancas há quase exactos trinta e cinco anos, a 22 de Setembro de 1988.

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Capa do número 1.

Apesar desta ligação à revista francesa, no entanto, a Máxima era inteiramente criada em Portugal, sem qualquer interferência por parte de uma entidade internacional, e deixava a sua proposta editorial bem clara logo a partir do slogan publicitário: 'a revista da mulher portuguesa'. E embora a nova publicação contasse já com alguma concorrência nesse sector (por parte de revistas como a 'Guia') a sua abordagem mais virada ao jornalismo puro e duro (chegou a haver capas com a Guerra do Golfo, e reportagens sobre temas como a violação, assédio e abuso sexual ou mesmo fundamentalismo religioso) ajudou-a a marcar a diferença relativamente a publicações como a referida 'Elle' ou ainda a versão portuguesa da 'Marie Claire', nenhuma das quais sequer sonhava em oferecer o mesmo teor de artigos ou reportagens, optando normalmente por temas mais superficiais. Prova do sucesso desta linha editorial é que a tiragem inicial de quarenta e cinco mil exemplares esgotou, tornando-se a primeira indicação de um sucesso que apenas viria a aumentar em anos vindouros.

De facto, por meados da década seguinte, a 'Máxima' era já a quinta revista feminina mais vendida em Portugal, fazendo circular quase cinquenta mil cópias todos os meses, e vendo vários dos seus jornalistas receber galardões do teor do Prémio Fernando Pessoa de Jornalismo (atribuído à reportagem sobre violação); a preponderância da revista era tal, aliás, que, apenas dois anos após a sua primeira edição, a mesma se encontrava já em posição de atribuir os seus próprios prémios e galardões, no caso alusivos à indústria de Beleza e Perfumes.

Tendo em conta o sucesso inicial e a preocupação em se manter relevante e fazer jormalismo 'a sério', não é de admirar que a 'Máxima' tenha constituído uma das maiores histórias de sucesso da imprensa especializada portuguesa, tendo conseguido manter-se nas bancas – sempre com o mesmo grau de sucesso e influência – por impressionantes trinta e dois anos; paulatinamente, no entanto, até mesmo esta decana publicação se viu afectada pelo rápido declínio da imprensa física, vindo o Grupo Cofina (que adquirira os direitos de publicação à Edirevistas) a declarar o fim da mesma no início do 'Verão COVID', em Junho de 2020. Mesmo após a sua extinção, no entanto, o legado da revista continua a fazer-se sentir, tendo a mesma marcado época e exercido influência entre as gerações 'X' e 'millennial' (e mesmo junto da 'Z') o que torna mais que justa esta breve homenagem por alturas daquele que seria o seu trigésimo-quinto aniversário de publicação – um marco que a 'Máxima' nunca chegou a atingir, mas que constituiu o pretexto perfeito para celebrar a sua influência junto das mulheres portuguesas de finais do século XX e inícios do seguinte.

31.08.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

As visitas ao médico de família, salão de beleza, ou qualquer outro local dotado de uma sala de espera serviram como principal ponto de contacto entre os jovens dos anos 90 e 2000 e certas revistas que, de outro modo, nunca chegariam necessariamente a entrar no seu 'radar'. Isto porque, se quase todos os lares portugueses da época tinham uma pilha de 'TV Guias' ou 'TV 7 Dias' na sala de estar, tal não era, necessariamente, o caso com revistas mais especializadas, cuja compra requeria um interesse pelo menos passageiro na temática que abordavam, mas que, no contexto acima descrito, ajudavam a passar o tempo, quanto mais não fosse olhando para as fotografias.

A revista de que falamos esta semana integrava esse lote, tendo-se, ao longo dos seus já quarenta anos de publicação, tornado um dos 'clássicos' das salas de espera nacionais.Trata-se de 'Casa Cláudia', a versão portuguesa da revista brasileira do mesmo nome, que chegava às bancas há pouco mais de quatro décadas, em Maio de 1988 – onze anos depois da fundação da sua congénere sul-americana – através da inevitável Abril (ainda longe de ser Controljornal).

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Como o próprio nome indica, a revista tem como principal foco a decoração de interiores, com tudo o que a mesma acarreta – ou seja, muitas (mesmo muitas!) fotografias de casas e acessórios que, hoje, seriam descritos como 'Instagramáveis', naquela espécie de 'catálogo disfarçado de revista' que continua a fazer as delícias de um certo tipo de público. E se, para as crianças e jovens, o tema em causa dificilmente detinha grande interesse, não deixava, ainda assim, de ser divertido ajudar os mais velhos a obter inspiração para potenciais projectos de decoração ou renovação, descobrindo assim, ao mesmo tempo, o gosto pessoal neste campo.

Claro está que o conteúdo da revista não se limitava a esse tipo de artigo, abrangendo ainda a análise a acessórios de exterior, a ocasional visita a casas de famosos, e até algumas peças de índole mais técnica, com instruções para projectos do estilo 'faça-você-mesmo' que permitiam, com algum jeito, poupar algum dinheiro no processo de renovação ou criação do lar. Uma fórmula que, longe de ser inovadora, encontrava tracção entre um determinado público-alvo, que assegurou o sucesso de vendas da revista até ao início da muito anunciada 'morte' da imprensa escrita em formato físico, em finais da década de 2010 – altura em que, aliás, a própria 'Casa Cláudia' havia já seguido o exemplo de outras publicações semelhantes e expandido a sua área de abrangência através de duas revistas-satélite, uma sobre arquitectura e outra dedicada exclusivamente a ideias sobre decoração.

Mesmo a referida transição para formatos digitais, e subsequente quebra nas vendas, não foi, no entanto, suficiente para 'matar' a 'Casa Cláudia', que se mantém nas bancas até aos dias de hoje, num de vários exemplos de resiliência por parte de publicações que, como Astérix, 'resistem ainda e sempre ao invasor' cibernético, e que – por esse mesmo motivo – se tornam merecedoras de destaque nas páginas deste nosso blog.

20.07.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O advento da Internet veio ajudar a preservar para sempre, em formato digital, informação sobre a esmagadora maioria dos tópicos alguma vez existentes, desde pessoas e acontecimentos a espécies de flora e fauna e, claro, produtos ou criações mediáticas. Mesmo com o avassalador volume de factos compilados por essa Internet fora, no entanto, o registo não é cem por cento perfeito, e, por vezes, sucede haver um qualquer tópico relativamente ao qual não existe na 'rede' qualquer tipo de informação; normalmente, trata-se de algo de índole mais obscura, mas há também registos, neste mesmo blog, de tal fenómeno ter ocorrido com algo tão inócuo como sumos infantis, iogurtes líquidos, pastas de dentes ou mesmo revistas de banda desenhada, que parecem ter sido sumariamente Esquecidos Pela Net, não sendo possível encontrar mais do que uma ou outra imagem, normalmente oriunda de listagens de vendas em sites como o OLX.

O tópico desta visita ao Quiosque insere-se nesse mesmo grupo, vindo a única prova da sua existência de dois 'listings' do OLX diferentes, os quais partilham, inclusivamente, um número em comum. Trata-se da revista 'Basquetebol', uma publicação especializada aparentemente disponível em inícios dos anos 90 (os números retratados datam de 1992) e que, pelas fotos e 'chamadas' de capa disponiveis, parecia abordar tanto a sempre popular NBA quanto a histórica liga profissional portuguesa, à época impulsionada por nomes como Carlos Lisboa.

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Os quatro únicos números conhecidos da revista (fonte da imagem: OLX.)

De facto, os poucos números que sobreviveram ao teste do tempo dedicam igual espaço de capa a destaques sobre os Jogos Olímpicos daquele ano (onde brilhava, fulgurante, a melhor equipa de basket de todos os tempos, 'movida' pelo génio de um jovem Michael Jordan, ainda longe de contracenar com Bugs Bunny) e à fase de qualificação realizada pela selecção de cadetes portuguesa, ou ainda a equipas como o Estrelas da Avenida, Benfica, Illiabum ou Santarém, apelando assim tanto a fãs das equipas mais conhecidas como aos verdadeiros aficionados e seguidores da 'cena' nacional.

Como curiosidade, o facto de os desportistas retratados nas fotos de capa serem, ainda, jogadores mais 'antigos', como Wilt Chamberlain ou 'Magic' Johnson – algo que pode parecer estranho a um 'puto' de finais dos 90, mais habituado a ver as caras de Jordan, Pippen, Rodman, Shaq ou Charles Barkley nesse tipo de contexto, mas que faz todo o sentido, tendo em conta que esta revista foi publicada quase meia década antes do 'período áureo' desses nomes. Chamberlain, Johnson ou James Worthy (capa do número 3) eram as grandes estrelas da altura, e a sua presença nestas capas (bem como, suspeita-se, nos 'posters' oferecidos no interior de cada edição) terá, certamente, surtido tanto efeito quanto a imagem de Jordan numa publicação semelhante meia dúzia de anos depois.

A falta de mais registos impede, no entanto, quaisquer ilações factuais quanto ao volume de vendas ou sucesso da revista em causa, ou ainda em relação às razões para o seu término, que parece ter-se dado, no máximo, no ano seguinte, 1993. Se, no entanto, tiver havido entre a nossa 'base' de leitores algum assinante ou comprador assíduo da revista, quaisquer informações adicionais serão extremamente bem vindas; até lá, aqui fica a informação possível sobre mais um produto noventista a arquivar na 'gaveta' dos 'Esquecidos Pela Net'...

29.06.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

De entre todos os tipos de publicação disponíveis no mercado português durante a década de 90, as revistas de jogos e informática estavam entre as que mais interesse suscitavam ao público infanto-juvenil, a par das de banda desenhada, música, celebridades ou especificamente dirigidas a essa demografia: o sector masculino, em particular, era ávido consumidor deste tipo de periódico, o qual constituía, à época, o principal recurso para conhecer as novidades no campo tanto do 'software' (jogos e programas informáticos) como do 'hardware', ou seja, os próprios recursos técnicos e tecnológicos por detrás do desempenho de um computador ou consola. E se no primeiro caso as líderes de mercado eram a 'Mega Score' e a 'Bgamer', sem grandes hipóteses para a maioria da concorrência, no segundo, um único nome era incontornável no Portugal dos 90s: a PCGuia.

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Exemplar da revista com o grafismo original.

Fundada em 1995, e inicialmente vinculada ao grupo Cofina, a nova revista não tardou a afirmar-se como referência no sector dos periódicos tecnológicos, devido, sobretudo, ao facto de não haver à época em Portugal qualquer outra publicação nos seus moldes. De facto, muito mais do que uma simples 'revista de jogos', ou seguidora das tentativas simplistas de lançar uma 'revista de computadores' feitas até então, a 'PCGuia' procurava ser aquilo que o seu nome indicava – um guia para utilizadores informáticos, e para aqueles que procuravam iniciar-se nesse mundo, ou simplesmente melhorar os seus recursos dentro do mesmo.

Assim, o conteúdo da revista tendia a misturar os melhores elementos de uma 'ProTeste' (e de outras revistas especializadas da época) com os da referida 'Mega Score', apresentando testes sérios, sóbrios e detalhados a computadores, sistemas e programas (entre os quais, claro, alguns jogos) ao mesmo tempo que dava conta das últimas novidades e dos mais entusiasmantes avanços tecnológicos a esperar no futuro, tornando-se assim uma valiosa 'aliada' dos consumidores informáticos na hora de decidir em que investir o seu dinheiro – o que, numa época em que a tecnologia primava ainda por preços exorbitantes, a ajudava a destacar-se dos restantes periódicos do ramo.

A juntar aos conteúdos verdadeiramente úteis e de qualidade cuidada estava, ainda, o principal atractivo da 'PCGuia' para grande parte do público jovem nacional – o CD-ROM (mais tarde DVD) recheado de versões de teste ou gratuitas do mais variado tipo de programas, alguns dos quais do interesse activo desta demografia. Tal como acontecia com a 'Mega Score', 'Bgamer' e mais tarde a 'Player', esta adição era, muitas vezes, suficiente para justificar o preço de capa, já que os programas nela veiculados tendiam a ter bastante uso por parte dos compradores.

Esta combinação de conteúdos de qualidade com um 'brinde' apetecível terá, aliás, sido o principal factor por detrás do sucesso da revista, que – ao contrário do que acontece com muitas das publicações que aqui recordamos – continua a marcar presença nas bancas nacionais a cada mês, embora agora em versão '2.0', e já sem o apoio do grupo editorial lisboeta. Significa isto que a revista, nascida na era do Windows 95, marcou já presença em quatro décadas da vida quotidiana portuguesa, durante as quais ajudou três gerações a escolherem material informático, e viu o mundo da tecnologia progredir dos primeiros processadores Pentium para Inteligências Artificiais que escrevem livros por si mesmas, quase sem ajuda; há que esperar, portanto, que estes mesmos avanços tecnológicos não venham a ditar o fim desta já 'decana' publicação, como aconteceu com tantas das suas contemporâneas...

08.06.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A natural curiosidade e espírito inquisitivo inerentes à maioria das crianças e jovens tendem a fazer de campos como a ciência e a tecnologia pontos de interesse durante a fase de desenvolvimento e maturação do ser humano moderno, independentemente da sua proveniência ou da época em que tenha vivido. Assim, não é de espantar que uma publicação dedicada a transmitir informações sobre os últimos desenvolvimentos neste campo, de forma simples, compreensível e atractiva, tenha captado a atenção das faixas demográficas mais novas aquando do seu aparecimento, no dealbar da era da Internet.

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Falamos da 'Super Interessante', a adaptação portuguesa da revista brasileira do mesmo nome (também ela bastante famosa) surgida há quase exactamente um quarto de século (em Abril/Maio de 1998) pela mão de Carlos Madeira e do Grupo Impresa, um dos nomes maiores no campo do 'publishing' e dos periódicos em Portugal. Com grafismo e proposta editorial exactamente semelhantes ao da 'irmã mais velha', a revista trazia (e continua a trazer) mensalmente às bancas uma variedade de artigos focados, sobretudo, na ciência e tecnologia, mas cujo espectro se alargava a campos como o da sociedade, cultura e até natureza; no entanto, é inegável que foi o foco nas duas primeiras vertentes (à época menos exploradas nas bancas portuguesas) a principal razão do sucesso da revista, que celebra este ano a marca de vinte e cinco anos de publicação ininterrupta – um marco ainda mais impressionante tendo em conta o rápido declínio e extinção da imprensa escrita tradicional!

Mais - em relação aos primeiros exemplares impressos naquele já longínquo ano de 1998, a 'Super Interessante' actual difere apenas na casa editorial, que é agora a G+J Portugal, uma subsidiária da Motorpress anteriormente conhecida como All Media, e que tomou as rédeas da publicação em 2018. De resto, a proposta é exactamente a mesma, e – presumivelmente – continua a encontrar o seu público, prova de que, por vezes, não são necessárias grandes inovações ou truques de 'marketing' para fazer vingar uma publicação – basta uma linha editorial coerente e conteúdos de qualidade, como os que esta revista continua a oferecer aos seus leitores mês após mês.

27.04.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Na era pré-telemóveis e Internet móvel, era consideravelmente mais difícil preencher os 'tempos mortos' durante uma viagem de férias, ou simplesmente uma deslocação mais longa, do que hoje em dia. Quem gostava de ler, tinha uma consola portátiljogo electrónico LCDTamagotchi, ou mesmo um clássico jogo de água, jogo de viagem ou até baralho de cartas ou Uno tinha pelo menos parte do problema resolvido; a quem não dispunha de qualquer desses recursos, ou não tinha particular gosto pela palavra escrita, restava 'inventar' outras distracções – e, dessas, uma das mais populares eram (e continuam a ser) os famosos 'Cruzadexes', revistas dedicadas exclusivamente à publicação de palavras cruzadas e outros passatempos, feitos à medida (e, muitas vezes, de propósito) para uso nesse tipo de situação.

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Exemplos modernos, mas muito semelhantes aos clássicos, deste tipo de publicação.

Identificáveis pelo uso descarado de modelos femininas em biquíni na capa (presumivelmente, como forma de chamar a atenção de determinada clientela, e de transmitir a atmosfera veraneante à restante massa de potenciais compradores) estas revistas são daquelas presenças aparentemente 'perenes' nas bancas portuguesas, que parecem sempre ter lá estado, e que lá permanecem, quase imutáveis, década após década. Existem, é claro, algumas mudanças mais ou menos perceptíveis - a dada altura, todas as publicações deste tipo pareceram transformar-se temporariamente em livros de problemas de Sudoku, e, mais tarde, a maior consciência social levou, por exemplo, à diminuição do tipo de imagem supramencionado; no entanto, a essência das revistas mantém-se intacta, com página após página de palavras cruzadas dos mais diversos tipos e formatos, sopas de letras e (mais raramente) jogos de diferenças, em número suficiente para manter entretido qualquer viajante, e justificar o algo elevado preço de venda ao público.

Assim, não é de estranhar que este tipo de volume tenha feito sucesso na referida era pré-digital, em que o mais certo era ver, em qualquer deslocação à praia, pelo menos uma pessoa com um livro ou revista deste tipo, sentada debaixo do guarda-sol, a resolver um problema de palavras cruzadas. O surgimento da tecnologia Wi-Fi, e subsequente disponibilizar de palavras cruzadas digitais em ecrãs do tamanho da palma da mão (e de forma quase gratuita) veio, é claro, alterar sobremaneira este paradigma, e causar a obsolescência dos Cruzadexes enquanto forma de distracção no exterior; no entanto, quem se entreteve, à época, a 'dissecar' este tipo de publicação (ou, simplesmente, a ajudar os pais a resolver os problemas da mesma) será, talvez, capaz de ainda trazer um para casa da papelaria ou supermercado, mesmo nos dias que correm – quanto mais não seja, para satisfazer aquela sensação de nostalgia pela infãncia que tantas vezes teima em surgir...

06.04.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Uma edição anterior desta rubrica focou as revistas que misturavam notícias sobre televisão, 'fofocas' sobre artistas e celebridades e grelhas de programação, com destaque para títulos ainda hoje existentes, como a TV Guia e a TV 7 Dias; no entanto, à época, ficava de fora uma publicação muito semelhante, mas bem mais obscura, e por isso pouco lembrada por quem foi jovem ou mesmo leitor deste tipo de publicação em finais do século XX - a Tele Guia.

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(Crédito da foto: Fórum A Televisão)

Criada algures nos primeiros anos da década, esta revista seguia à risca a 'fórmula' que ia fazendo o sucesso das suas congéneres, apresentando variações sobre muitas das mais populares secções das mesmas, das notícias às entrevistas, passando pelos inevitáveis resumos de novelas e, claro, pela grelha de programação, elemento central de qualquer revista deste tipo. As (poucas) novidades ficavam por conta de secções como 'Um Dia Com...' um qualquer nome da televisão portuguesa, ou do 'anexo' contido no final da revista (e único aspecto verdadeiramente inovador da mesma) intitulado 'Mais Tele Guia', e que adoptava uma fórmula mais próxima de publicações como a 'Guia', com receitas, horóscopos, testes e conselhos sobre assuntos como a saúde e, claro, a beleza.

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O suplemento 'Mais Tele Guia' era talvez o aspecto mais inovador da revista. (Crédito da foto: Fórum A Televisão.)

Mesmo este ligeiro 'desvio' da norma não foi, no entanto, suficiente para tornar a 'Tele Guia' memorável, tendo-se a revista esvaído nas 'brumas do tempo', sem nunca ter conseguido almejar o sucesso (e ainda menos a longevidade) das suas congéneres - como o comprova a dificuldade em encontrar informações sobre este título na Internet actual (obrigado, fórum A Televisão!) Ainda assim, certamente haverá entre os nossos leitores quem tenha memória (ainda que vaga) da revista - e quem não tiver, ficará decerto a conhecer esta parte obscura, mas ainda assim válida, do mercado de revistas sobre televisão do Portugal dos anos 90.

16.03.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A imprensa portuguesa dos anos 90 e 2000 albergava uma série de títulos especializados de produção cem por cento nacional e alusivos aos mais diversos temas, que nada ficavam a dever aos seus equivalentes internacionais; da música aos videojogos. banda desenhada, veículos, desportos radicais ou até defesa do consumidor eram inúmeras as instâncias deste tipo, que faziam as delícias não só dos mais jovens como do público em geral, com os seus elevados padrões de qualidade e clara paixão pelos campos e temas abordados.

Um meio em particular não tinha, durante esta década, direito à sua própria publicação especializada – o cinema. Apesar do enorme sucesso que a maioria dos 'grandes' filmes atingia no nosso País, tardava a surgir uma revista ou jornal exclusivamente àcerca deste meio que viesse suceder às publicações análogas existentes em décadas anteriores, tendo os leitores mais curiosos de se contentar com as críticas e secções sobre filmes incluídas nos jornais generalistas da época. Foi apenas já na ponta final da década de 90, a um escasso par de meses do século XXI e do Novo Milénio, que se verificou a primeira tentativa de criar uma publicação deste tipo, através da habitual adaptação de um modelo estangeiro; o resultado seria a mais bem sucedida  revista especializada sobre cinema e filmes a surgir em Portugal até à data.

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(Crédito da foto: OLX)

Baptizada Premiere e lançada pela primeira vez nas bancas em Novembro de 1999, pelo grupo editorial francês Hachette, esta publicação de aspecto e apresentação luxuosos (como convinha a uma revista sobre as estrelas de Hollywood) trazia todos os conteúdos expectáveis num título deste tipo, das críticas com o habitual sistema de classificação por estrelas a matérias sobre os grandes filmes em estreia, notícias sobre títulos ainda em promoção u entrevistas com actores em destaque naquele mês; no fundo, a mesma fórmula adoptada em outros campos por publicações como o Blitz, a Riff, e outras revistas e jornais subordinados a úm único tema.

Escusado será dizer que esta cuidada adição ao panorama editorial português se revelou um sucesso, com os cinéfilos do início do Milénio a apreciarem sobremaneira o preenchimento daquela que era uma lacuna considerável no mercado nacional. A Premiere não tardaria, por conseguinte, a estabelecer-se 'de pedra e cal' nas bancas lusitanas, onde marcaria presença mensalmente durante os oito anos seguintes, sempre com as últimas novidades sobre lançamentos ou projectos cinematográficos.

Tal como costuma suceder com este tipo de publicações, no entanto, também o ciclo da Premiere se viria a fechar – sendo, aliás, este o aspecto mais fascinante da trajectória da revista no nosso País. Isto porque a publicação em causa foi cancelada, não uma, mas DUAS vezes: a primeira série, da Hachette, seria interrompida em 2007, a quatro números de atingir a centésima edição, mas a revista seria 'repescada' menos de um ano depois, agora pela mão do grupo Multipublicações, tendo esta segunda série falhado 'por pouco' outra marca emblemática - no caso a das quarenta edições – aquando do cancelamento definitivo em 2012. E apesar de o término desta publicação poder parecer prematura ou até desavisada face à falta de alternativas no mercado, a verdade é que, à data da extinção da revista, o panorama da imprensa escrita se encontrava já em rápido declínio a nível mundial com muitos cinéfilos a procurarem opiniões sobre os seus filmes favoritos, não numa revista, mas em sites como o iMDB e o Rotten Tomatoes, o que acabava por afectar os volumes de vendas de títulos como a Premiere. Ainda assim, quase um quarto de século após o seu aparecimento, a revista em causa continua a constituir caso de louvor no mercado editorial português, e a saldar-se como uma experiência mais do que bem-sucedida - como o comprovam, aliás, os diversos títulos sobre cinema surgidos na sua esteira - e certamente nostálgica para quem se habituou a rumar à banca mensalmente para ler sobre os seus filmes e actores favoritos.

02.02.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

De entre as diversas categorias editoriais existentes no mercado português de periódicos de finais do século XX, a chamada 'imprensa cor-de-rosa' talvez fosse a mais bem sucedida (mérito que, aliás, mantém até aos dias de hoje): a sede do público nacional por 'fofocas', escândalos ou simples fotografias 'glamourosas' de celebridades de terceira linha parece, de facto, ser inesgotável e insaciável, permitindo a muitos dos títulos que as crianças e jovens dessa altura conheceram (da clássica 'TV Guia', que intercalava os 'mexericos' com conteúdo de cariz mais noticioso, à declaradamente 'cor-de-rosa' 'Caras') manterem-se no activo até aos dias de hoje, sobrevivendo 'a pulso' numa era em que tudo se torna cada vez mais digital.

Também inserida nesse grupo continua a estar uma publicação do Grupo Impala que completou no Verão passado um quarto de século sobre o seu lançamento, em Junho de 1997: a revista 'VIP'.

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De grafismo e conteúdo praticamente 'intercambiáveis' com a referida 'Caras', foi com naturalidade que esta publicação se posicionou, á época, como alternativa à mesma, senão mesmo rival declarada; também previsivelmente, esta estratégia resultou em cheio, passando uma 'tranche' do público-alvo da 'Caras' (e de outras revistas semelhantes, como a 'Nova Gente', 'Ana' ou 'Roda dos Milhões') a adquirir também mais esta publicação para juntar ao 'monte' a 'devorar' durante a semana seguinte.

A 'VIP' conseguiu, assim, não só afirmar-se no mercado periodista nacional, como também almejar um crescimento gradual, que se traduziu, anos mais tarde, na criação de títulos temáticos subordinados, à semelhança dos editados por revistas como a 'Activa' – ainda que, como naquele caso, a revista-mãe continue a ser a mais popular, conhecida e bem-sucedida. Mesmo sem estes 'spin-offs', no entanto, a 'VIP' seria, ainda assim, digna de admiração, pela longevidade de publicação e presença consistente na vida de muitos portugueses e portuguesas ao longo dos seus vinte e cinco anos – prova cabal de que, em tendência contrária ao da restante imprensa escrita, as revistas 'cor-de-rosa' continuam a gozar de enorme sucesso em território nacional.

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