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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.03.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer jovem dos anos 90 se recorda do 'frisson' de encontrar, escondido num qualquer canto da casa ou mesmo no centro da mesa da sala na manhã de Domingo de Páscoa, um ou mais ovos de chocolate, prontos a serem 'devorados' sozinhos ou em família. No entanto, mais atractivos ainda do que o próprio chocolate eram os brindes que tendiam a vir 'acoplados' a estes ovos, e que iam de 'quinquilharias' mais simples a objectos ligados a qualquer potencial licença de que os ovos dispusessem.

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Exemplo moderno da tendência em causa.

Normalmente disponibilizados no exterior do ovo, por oposição ao seu interior, como no caso dos ovos Kinder, estes brindes tendiam a dividir-se em duas categorias: os de 'tamanho real' (como os memoráveis carros e peluches disponibilizados com os Kinder Gran Sorpresa) e aqueles que pouco mais eram do que versões maiores das icónicas miniaturas e brinquedos dos ovos de chocolate 'pequenos', comprados no café ou supermercado. E apesar de os primeiros serem, por razões óbvias, mais apetecíveis, a verdade é que até mesmo os mais pequenos faziam sucesso entre o público-alvo; afinal, qual é a criança que não gosta de receber brindes grátis?

Ao contrário de muitas outras tradições de que falamos nestas páginas, esta é uma prática que se mantém relativamente imutável até hoje, sendo quase inevitável ver, por esta altura do ano, ovos de chocolate multi-coloridos nas prateleiras das mais variadas lojas de Norte a Sul do País, muitos deles oficialmente licenciados, e outros com brindes quase maiores do que eles a oferecerem um atractivo adicional, como é o caso dos peluches de Coelhinho da Páscoa dos ovos da Milka. Assim, e por oposição ao que sucede com a maioria dos tópicos por nós abordados, esta é uma tradição partilhada tanto pelas gerações 'X' e 'millennial' como pelas 'Z' e 'Alfa', que - imagina-se - surjam na escola após as férias de Primavera tão 'impantes' com os seus brindes e 'quinquilharias' pascais como os seus pais quando tinham a mesma idade...

29.02.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O dicionário Priberam de língua portuguesa define 'quinquilharia' como 'objecto de pouco valor, geralmente de pequena dimensão, como brinquedos de criança' – e poucas coisas se encaixam tão bem nessa definição como o tema do nosso 'post' de hoje. Isto porque o referido objecto era, de facto, de valor negligenciável – sendo, inclusivamente, prémio habitual das máquinas de brindes de finais do século XX – e adequado a apenas uma função, ela mesma praticamente inútil; e, no entanto, não haverá criança dos anos 90 (nem, a julgar pelos resultados de uma rápida pesquisa na Net, dos dias de hoje) que não tenha tido, e apreciado, pelo menos um exemplar do mesmo.

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Versões modernas do intemporal artigo.

Falamos dos enfeites para lápis, muitas vezes designados informalmente como 'cabeças' – aquelas pequenas figuras ou formas com um buraco na base, através do qual se inseria o lápis, criando assim uma pequena decoração para o mesmo – sendo este o único objectivo a que se destinavam tais 'bugigangas' (embora, indirectamente, ajudassem também a prevenir que os 'roedores' de lápis, como o autor deste 'blog' quando criança e adolescente, danificassem a zona da borracha ou mesmo a madeira do velho HB.) Disponíveis numa grande variedade de materiais – borracha mole, borracha dura, plástico ou madeira – e num número quase infinito de motivos e padrões, estas literais 'quinquilharias' não deixavam, pese embora a sua inutilidade, de fazer as delícias das crianças como elemento puramente estético, particularmente quando combinados com um lápis com padrão e cores semelhantes ao da 'cabeça'.

Mesmo nos mais 'básicos' lápis ´às riscas´ ou de cor sólida, no entanto, estas decorações ajudavam a dar um toque de interesse e originalidade, tornando a experiência de tirar notas, fazer um ditado ou cópia ou preencher um teste ligeiramente mais agradável e divertida. Talvez por isso, ou talvez pela sua alta disponibilidade e preço relativamente baixo, as 'cabeças' de lápis fossem presença assídua, e quase obrigatória, ao lado da caneta multicores e da borracha de cheiro, nos estojos dos alunos do ensino básico daqueles finais de Segundo Milénio – um estatuto de que, presumivelmente, continuarão a desfrutar até o uso de 'tablets' e portáteis substituir, e tornar definitivamente obsoletas, as notas escritas à mão. Ou seja, enquanto houver lápis nos estojos escolares de crianças pré-adolescentes, haverá grandes probabilidades de, algures no interior dos mesmos, se encontrar também uma versão moderna do mesmo objecto que adornou, há duas ou três décadas atrás, as pontas dos lápis dos então jovens 'millennials'...

08.02.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Quando incentivados a relembrar a infância nos anos 90, a maioria dos membros da geração 'millennial' gravitará, imediatamente, para dois grandes pontos de referência: os brindes das batatas fritas e do Bollycao, e o 'Dragon Ball Z'. Para os cidadãos lusos de uma certa idade, ambos estes elementos são marcos culturais importantes, e que fizeram parte indelével do dia-a-dia durante um determinado período em finais do século XX – pelo que se afigurava inevitável que, mais cedo ou mais tarde, os dois acabassem por realizar uma espécie de versão sinergística e comercial da famosa 'fusão' do programa televisivo, e surgissem combinadas numa iniciativa de qualquer dos grandes promotores de brindes alimentares.

Corria o ano de 1997 quando essa mesma previsão se concretizou, com Son Goku e os seus amigos a protagonizarem uma das principais tentativas da Matutano de recuperar os níveis de sucesso dos Pega-Monstros, Caveiras Luminosas, Tazos e Matutolas, mediante a utilização da licença mais popular em Portugal à época; e apesar de este desiderato não ter sido totalmente realizado, as cartas Dragonflash conseguiram, ainda assim, ganhar alguma tracção entre a juventude lusitana da época.

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Uma colecção completa das cartas Dragonflash. (Crédito da foto: OLX).

De índole muito semelhante às Super Cartas Majora ou aos posteriores BollyKaos, mas com os personagens do famoso 'anime' no lugar dos veículos das primeiras e dos monstros e extraterrestres genéricos dos segundos, as Dragonflash fomentavam a sempre considerável veia competitiva do seu público-alvo, incentivando não só ao coleccionismo como também à competição directa, como tinha sido também apanágio das promoções mais famosas da Matutano durante a década em causa. Isto porque o objectivo do jogo passava por ganhar as cartas do adversário, num processo que envolvia alguma sorte, já que a característica escolhida (Força, Defesa, etc.) tinha de ser menor do que a do personagem oponente para que esse objectivo fosse cumprido – regra que, por sua vez, fomentava o pensamento estratégico no momento da 'batalha'.

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O inevitável 'Porta-Flash'. (Crédito da foto: OLX)

Apesar do conceito e licença mais do que comprovadamente apelativos, no entanto – e da presença de um 'estiloso' recipiente para armazenar as cartas, ou não fosse esta uma promoção da Matutano – os Dragonflash nunca conseguiram o mesmo sucesso 'universal' dos seus antecessores; não era incomum ver jovens a jogar logo após terem retirado as cartas dos pacotes de batatas, mas não se tratava do tipo de brinde que fizesse parar recreios, ao contrário do que haviam sido os Tazos e 'Tolas, nem que acabasse a adornar a prateleira do quarto, como as Caveiras Luminosas. Ainda assim, tratou-se de uma promoção de relativo sucesso à época, e cujo uso conjunto de dois dos principais elementos nostálgicos da infância 'millennial' portuguesa lhe outorgam, desde logo, lugar obrigatório nas páginas deste nosso 'blog' precisamente dedicado a esse assunto.

18.01.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Uma das mais vivas e nostálgicas memórias de qualquer português nascido entre o final da década de 70 e o início do Novo Milénio é o de enfiar a mão num pacote de batatas fritas ou outros 'snacks' da Matutano para procurar aquele icónico invólucro plástico escondido em meio aos conteúdos. Efectivamente, os brindes 'das batatas' desta época contam-se entre os melhores e mais populares de sempre em Portugal, tendo granjeado à Matutano uma impressionante série de mega-sucessos, com a qual a maioria das outras companhias alimentares da época apenas podiam sonhar: dos Pega-Monstros às Caveiras Luminosas, Tazos, Matutolas, Raspadinhas e mini-filmes, a sucursal portuguesa da Lay's gozou, durante a última década do século XX, de um toque de Midas que lhe permitiu transformar até mesmo um jogo de matemática numa 'febre' de recreio. Basicamente, durante esta época, se algo vinha dentro de um pacote de batatas, transformava-se em sucesso entre a demografia-alvo, deixando todas as outras considerações de ter qualquer importância.

E se a maioria dos brindes acima referidos foram, na medida dos possíveis, assexuados – ainda que, inevitavelmente, acabassem por apelar mais aos 'rapazes' – algures na mesma década, a Matutano decidiu dirigir uma das suas promoções, especificamente, a um público feminino, menos interessado em 'monstrinhos' e caveiras e mais voltado para a estética e moda. Fica, assim, explicada a lógica por detrás da curiosa decisão de oferecer brincos de plástico na compra de um pacote de batatas.

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Em tudo semelhante em termos de 'design' – variando apenas as cores – estes brindes representavam uma clara tentativa por parte da Matutano de atingir uma demografia mais velha, nomeadamente os adolescentes; essa faixa etária, no entanto, encontrava-se demasiado preocupada com o acne para consumir o tipo de produtos que a companhia comercializava, e demasiado atenta às convenções sociais vigentes entre os jovens para ser vista a usar brincos de plástico, sem qualquer esforço estético, e que 'saíam nas batatas'. Assim, os referidos brindes terão encontrado o seu público, inevitavelmente, entre a porção feminina da demografia que ainda se interessava por Pega-Monstros, Tazos e outros brindes 'quejandos', e que experienciava assim, talvez, o seu primeiro assomo estético – um 'tiro' algo ao lado do pretendido pela Matutano, e que terá, sem dúvida, ajudado a encurtar o tempo e abrangência desta promoção, hoje algo esquecida no âmbito das conversas nostálgicas sobre brindes das batatas fritas daquela época.

Ainda assim, e apesar do relativo insucesso da promoção em relação às suas congéneres, não terá, certamente, deixado de haver quem se deliciasse com os brincos 'das batatas', e os tivesse orgulhosamente usado num qualquer dia de escola do sexto ano em que fosse importante parecer (ou sentir-se) algo mais 'crescido' do que o habitual. Para esses, aqui fica uma breve recordação da promoção mais esquecida do período áureo dos brindes da Matutano...

07.12.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

A era pré-digital pôs, verdadeiramente, à prova a teoria, há muito vigente, de que até o mais básico dos produtos pode ser tornado emocionante se 'vendido' da forma correcta e ao público correcto; de facto, ao longo da última metade do século XX, foram muitos os produtos à primeira vista desinteressantes que se tornaram sucessos, quer fruto de uma elaborada campanha de 'marketing' e publicidade, quer simplesmente por oferecerem uma ou mais características apelativas para a demografia a que se destinavam – a qual, sem surpresas, era muitas vezes menor de idade.

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De facto, as crianças de finais do Segundo Milénio serviram como 'mesa de teste' para muitas ideias mais ou menos estapafúrdias da mente de empresários e comerciantes, algumas das quais viriam a falhar na sua busca de sucesso, ao passo que outras excederiam todas e quaisquer expectativas; entre estas últimas, encontrava-se a categoria de produtos de que falaremos esta Quinta-feira, e que conseguiu a proeza de, com apenas um pequeno ajuste, transformar um produto corriqueiro e até banal de aborrecido em apetecido.

Falamos das borrachas de cheiro, 'febre' escolar dos anos 80 que, na década seguinte, apenas tinha ainda perdido uma fracção do seu apelo e preponderância nos estojos das crianças e jovens portugueses. Como o próprio nome indica, tratavam-se, pura e simplesmente, de borrachas como quaisquer outras (embora, normalmente, em formatos apelativos, muitas vezes evocativos do cheiro que soltavam) às quais era injectado um aroma, que fazia com que, sempre que utilizadas ou simplesmente seguradas perto do nariz, as mesmas trouxessem à mente o produto que representavam; uma borracha em forma de morango, por exemplo, traria um aroma a esse fruto, o mesmo se passando com outras em forma de ananás, melancia, gelado, ou o que mais viesse à mente das companhias produtoras e distribuidoras destes objectos.

Escusado será dizer que a combinação de custos de produção e venda praticamente nulos com popularidade entre o público-alvo tornou estas borrachas numa das quinquilharias mais rentáveis do período em causa, tendo a maioria das crianças portuguesas da época tido contacto com pelo menos um exemplo das mesmas ao longo dos seus anos na escola. E ainda que a 'moda' dos produtos com cheiro não tenha tido a mesma expressão em Portugal do que em países como os EUA, estas borrachas (a par dos sabões em forma de animal da Body Shop) permaneceram na memória colectiva dos 'X' e 'millennials' portugueses até aos dias de hoje, não tendo nunca verdadeiramente desaparecido do imaginário infanto-juvenil nacional – o que, só por si, é razão mais que suficiente para lhes dedicarmos algumas linhas nesta nossa rubrica sobre 'quinquilharias' bem-amadas dos 'putos' lusitanos de finais do século passado...

16.11.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O facto de haver vários jogos e brinquedos extremamente simples que não deixavam, ainda assim, de ter inegável apelo para as crianças e jovens dos anos 90 é já tema recorrente nesta rubrica do nosso 'blog', e o produto de que falamos esta Quinta-feira nada faz para negar ou contrariar esse paradigma; pelo contrário, o tema do 'post' de hoje junta-se a um vasto número de Quinquilharias já aqui abordadas na categoria de conceitos que não deveriam nunca ter desfrutado do grau de sucesso que almejaram, e que provam que atributos como a simplicidade nem sempre são sinónimos de desinteresse ou aborrecimento. 

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Exemplos modernos do jogo, que continua a ser produzido até aos dias de hoje...

O produto em causa – que nunca teve, em Portugal, um nome oficial, sendo normalmente conhecido apenas como 'pinball' – consiste de uma estrutura plástica fechada, sensivelmente do tamanho da palma de uma mão adulta, que contém no seu interior duas ou três esferas metálicas e uma série de plataformas, ou prateleiras, estrategicamente colocadas em toda a superfície de jogo. O objectivo passa, depois, por lançar cada uma das esferas de modo a que assentem nestas prateleiras, às quais correspondem diferentes valores pontuais, sendo necessário, para tal, premir ou puxar um 'gatilho' situado no canto inferior direito do brinquedo, e que lhe valia a sua denominação 'não-oficial', já que se tratava de um mecanismo semelhante ao encontrado nas máquinas de 'pinball' espalhadas por cafés e salões de jogos de Norte a Sul do País.

No fundo, um produto manifestamente simples – quase simplista – mas que, sem ser capaz de entreter uma criança durante mais do que alguns minutos de cada vez, constituía, ainda assim, um dos melhores brindes disponíveis nas famosas 'máquinas de bolinhas', jogos de 'garra', barracas de feira ou simplesmente lojas dos 'trezentos'. Esta variedade de contextos e locais era, assim, responsável por garantir que cada criança portuguesa da época tinha, pelo menos, um destes jogos em casa, oriundo não se sabe bem de onde, e normalmente encontrado dentro de uma gaveta ou caixa de arrumação, ao lado dos 'puzzles' de deslizar e outras Quinquilharias semelhantes.

Mais surpreendente é constatar que chegou a haver versões licenciadas (e oficiais!) de um produto que, para muitos portugueses de finais do século XX, praticamente definia a expressão 'brinde barato', e que nunca seria sequer remotamente associado pelo mesmos a qualquer tipo de licença – as motas, carros, cãezinhos e gatinhos perfeitamente genéricos que serviam de cenário ao jogo eram parte tão indissociável dos mesmos quanto o próprio mecanismo, ou as circunstâncias de obtenção do produto. De igual modo, e à semelhança do que acontece com os jogos de pesca magnéticos, apesar de ter havido versões maiores do jogo (aproximadamente do tamanho de um livro) é com a versão 'de bolso' que o mesmo é mais frequentemente conotado, por ter constituído uma das muitas Quinquilharias nos bolsos e gavetas dos jovens portugueses da altura.

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...e um bizarro exemplo licenciado de época, no caso alusivo à série 'Os Simpsons'

Apesar de estes jogos continuarem a ser fabricados, no entanto, é de duvidar que os mesmos consigam posição semelhante junto da Geração Z, habituada a actividades bem mais complexas e retidas em ecrãs digitais bem mais pequenos, e que não tardaria a denunciar (algo justificadamente) um produto como este como sendo excessivamente básico; assim, os jogos de 'pinball' de bolso permanecerão como produtos do seu tempo, nostálgicos para as gerações nascidas e crescidas no século XX, mas perfeitamente obsoletos na actual sociedade digital – ainda mais do que já o eram em finais do Segundo Milénio. Ainda assim, não é de duvidar que, em alguma máquina de brindes algures em Portugal, um ou mais destes jogos esperem, potencialmente há décadas, ser escolhidos como contrapartida para o investimento de uma moeda, restando apenas saber como o recipiente do prémio reagirá a tão simples brinde...

26.10.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Apesar de, como celebração, o Halloween ser uma data 'importada' já bastante depois da viragem do Milénio, alguns dos seus elementos estéticos, imagéticos e iconográficos faziam já, de uma forma ou de outra, parte do quotidiano das crianças e jovens portugueses desde há várias décadas; quem cresceu em inícios dos anos 90, por exemplo, certamente dedicou um período da sua infância a coleccionar as famosas Caveiras Luminosas oferecidas nos pacotes da Matutano, e talvez até lhes tenha dado lugar de honra na prateleira do quarto, de forma a aproveitar o efeito fluorescente e bem 'tétrico' que as mesmas davam a uma divisão às escuras. Não se ficava por aí, no entanto, a presença de elementos associados ao terror, e também estará provavelmente a mentir quem, tendo crescido no período em causa, afirme nunca ter assustado um familiar, professor, colega ou mesmo apenas a senhora da limpeza com um insecto de plástico.

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Fáceis e baratos de conseguir nas drogarias tradicionais, lojas dos trezentos ou até simplesmente como brindes nas máquinas de 'bolinhas', as réplicas de aranhas, lagartos, cobras e outros animais marcavam presença na gaveta das 'quinquilharias' de muitas crianças, prontas a serem 'desenterradas' assim se apresentasse a menor oportunidade. E se a qualidade variava consideravelmente dependendo da proveniência (as tiradas em 'bolinhas', por exemplo, tendiam a ser microscópicas, em plástico duro e praticamente isentas de detalhes) também é verdade que alguns destes brinquedos almejavam um grau de realismo suficiente para, de relance ou à distância, enganarem os mais incautos – lá por casa, por exemplo, existia uma tarântula que, inclusivamente, contava com um fio acoplado, permitindo 'sustos' perfeitamente épicos. Depois, era só escolher a situação mais adequada (lá por casa, normalmente, a mesa do almoço ou jantar), a 'vítima' mais susceptível, e esperar pela inevitável reacção, que nunca falhava em causar deleite.

E porque queremos pensar que a geração Z não é totalmente desprovida de criatividade, e não deriva TODO o seu humor de vídeos do TikTok, arriscamos dizer que, nesta época de Noite das Bruxas, haverá por esse Portugal fora inúmeros pequenos cérebros a engendrar sustos centrados em torno de insectos de plástico, para ajudar ao clima desta festa que se tenta tornar tradição. A esses, fica a dica para que, se precisarem de ajuda, perguntem aos respectivos pais, dado estes terem mais experiência no assunto do que se possa, à partida, imaginar...

05.10.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Para as crianças e jovens portugueses de finais do século XX, os cereais de pequeno-almoço faziam parte daquele lote de produtos (encabeçado pelas batatas fritas, produtos da Panrico e ovos de chocolate) que aliavam um sabor agradável à ainda mais agradável possibilidade (aliás, quase sempre certeza) de receber um brinde grátis na embalagem – com a vantagem adicional de, por serem considerados saudáveis, constituírem parte mais frequente e menos polémica das compras da família. E se as referidas batatas da Matutano e derivados do Bollycao se ficavam, a maior parte das vezes, por um cromo ou 'quinquilharia' mais pequena, à medida dos seus pacotes, este tipo de produto podia investir em brindes maiores e (ainda) mais atractivos, levando a que, nos últimos anos do século XX e primeiros do seguinte, chegassem a haver malgas ou CD-ROM com jogos inteiros de computador colados às caixas de cereais da Kellogg's e Nestlé.

No início da década de 90, no entanto, os brindes tendiam a ser mais simples, embora nem por isso menos atraentes e atractivos; e embora muitas dessas ofertas tenham, entretanto, caído no esquecimento colectivo da geração que os procurou em cada nova caixa de cereais, pelo menos uma provou ser especial o suficiente para perdurar através dos anos – os reflectores para bicicleta oferecidos pela Kellogg's algures na primeira metade da década.

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Talvez os dois formatos mais comuns do brinde em causa.

À partida, pode parecer surpreendente ver algo tão prosaico quanto um reflector de bicicleta – uma peça de equipamento relativamente barata e amplamente disponível nas lojas especializadas – ser não só escolhido como oferta deste tipo, mas também activamente cobiçado pelo público-alvo; no entanto, neste caso, a razão para tal estatuto era por demais simples, prendendo-se com o facto de cada um dos reflectores contar com um rebordo em plástico, estilizado para evocar as mais populares mascotes da marca, que adicionava um toque de personalidade às rodas da bicicleta de quem tivesse a sorte de os tirar da caixa; lá por casa, por exemplo, havia um, verde e em formato de galo, que parece ter sido o mais comum de entre os disponíveis.

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O efeito dos reflectores em causa após colocados na bicicleta.

Assim, e apesar da peculiaridade da proposta, não é difícil perceber o que fez desta uma das mais bem-sucedidas promoções de cereais de sempre em Portugal – o brinde em causa representava a união de uma série de interesses das crianças e jovens da época, e tinha verdadeira utilidade no dia-a-dia. Pena que, com a extinção dos brindes nas caixas de cereais, a Geração Z tenha deixado de ter a possibilidade de experienciar a emoção de enfiar a mão num pacote acabadinho de abrir e 'vasculhar' no interior para ver o que tinha saído; quem viveu aqueles tempos, no entanto, certamente nunca esquecerá – e brindes como o aqui abordado são, em grande parte, responsáveis pelo acesso de nostalgia que tal lembrança continua, ainda hoje, a causar.

 

14.09.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Havia-os de todas as formas, feitios e materiais – grandes, pequenos, redondos, quadrados ou moldados à forma do que pretendiam representar, em plástico ou em metal. Adornavam desde blusões de ganga a sacolas de sarja, mochilas, estojos ou quadros de cortiça como os que alguns jovens da época tinham no quarto, ou eram simplesmente preservados numa caixa, como objectos de coleccionismo, prontos a serem admirados ou orgulhosamente exibidos perante as visitas. Falamos, é claro, dos 'pins' e crachás, uma moda que, não tendo, de modo algum, tido origem nos anos 90, viveu ainda assim a sua época áurea entre finais da década de 80 e inícios da anterior.

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Exemplos de crachás redondos de plástico, predominantes em inícios dos anos 90.

De facto, foi durante esses anos que se puderam encontar, em Portugal, lojas com uma vasta oferta de 'pins', prontos a serem adquiridos e estimados por um público ávido por aumentar a sua colecção. De desenhos alusivos a bandas e capas de álbuns até frases e dizeres humorísticos ou motivacionais, passando por alguns dos mais populares personagens infantis da época ou ainda pelos sempre populares 'smileys', nas suas mais diversas configurações, eram inúmeros e para todos os gostos os estilos e 'designs' de crachá disponíveis durante a época em causa, garantindo que ninguém ficava de fora desta 'febre'.

À medida que a década de 90 avançava, no entanto, o mercado dos 'pins' e crachás sofreu algumas alterações. Os antigos crachás redondos, em plástico colorido – os chamados em inglês 'badges' – praticamente desapareceram, cedendo lugar aos 'pins' em metal moldado, vistos como menos infantis e, logo, mais 'fixes'. Concomitantemente, este tipo de Quinquilharia passou, também, a ser vendida em locais mais específicos, normalmente de índole turística ou cultural, ou a servir como brinde promocional em campanhas de 'marketing', deitando a perder alguma da criatividade exibida pelo mercado em causa na década transacta.

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Exemplos de 'pins' em metal, predominantes da segunda metade dos anos 90 em diante.

Mesmo com estas mudanças, no entanto, os 'pins' não perderam a sua popularidade, continuando a ser frequentemente vistos a decorar sacolas a tiracolo, mochilas, ou mesmo peças de roupa, tal como acontecia na sua época áurea. Este paradigma mantém-se, aliás, até aos dias que correm, fazendo dos crachás um dos poucos produtos abordados nesta secção que não saíram de moda nem viram decrescer significativamente os seus índices de popularidade. Ainda assim, quem viveu a 'época alta' deste tipo de Quinquilharia certamente sentirá a falta de alguma da originalidade e sentido estético dos 'pins' e crachás da 'sua' altura, cuja essência dificilmente voltará a ser capturada, tornando-os símbolos de uma época mais 'divertida' e inocente, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

 

 

25.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 24 de Agosto de 2023.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O Verão é tempo de partidas para novos destinos, de idas para casa dos avós ou dos tios, de dias na praia, de actividades desportivas no bairro e de colónias de férias - tudo situações que resultam em novas amizades, ainda que, provavelmente, apenas com a duração correspondente à das férias em questão. Ainda assim, enquanto as mesmas duram, há que cultivá-las - e, para as raparigas dos anos 90 e 2000, uma das muitas maneiras de o fazer era através da construção de colares e pulseiras com contas e missangas.

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Facilmente adquríveis em todo o tipo de estabelecimentos, e a um preço irrisório, este tipo de adereço era muito popular junto dos jovens, por permitir - com a adição de um pedaço de cordel, fio ou corda - a criação de todo o tipo de acessórios de moda totalmente 'DIY' - e, como tal, significativamente mais baratos do que os comprados pré-feitos, em lojas. Não era, por isso, de todo incomum ver jovens de ambos os sexos com adereços feitos por eles mesmos nos pulsos, tornozelos ou em volta do pescoço, por vezes com padrões e 'designs' tão ou mais criativos do que os que as próprias lojas ofereciam. As missangas não eram, aliás, o único tipo de material usado para este efeito, sendo as pulseiras entrançadas e os tererés, possivelmente, ainda mais populares enquanto criações 'feitas em casa' pela demografia em causa.

Ao contrário de muitos dos produtos e acessórios de que falamos nesta secção, as pulseiras, colares e outros adereços feitos a partir de contas e missangas nunca saíram de moda, e embora a sua preponderância e prevalência entre a juventude já não seja o que outrora foi, é fácil de acreditar que as jovens da Geração Z se continuem a entreter a criar adereços e acessórios 'feitos à mão' a partir deste tipo de material, da mesma forma que o fizeram as 'millennial'...

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