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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.11.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo da História do futebol, tem havido um sem-número de jogadores tão sinónimos com certos clubes que é difícil acreditar que alguma vez tenham defendido outros emblemas. O futebol português dos anos 90 e 2000 não foi, de todo, excepção a esta regra, e poderá ser surpreendente para os mais distraídos constatar que Sá Pinto e Pedro Barbosa nem sempre foram do Sporting, Nuno Gomes e Mantorras não foram formados no Benfica, e Fernando Couto ou Maniche também não são oriundos das escolas do FC Porto. A estes nomes, há ainda que juntar um outro, sinónimo com o Porto da fase hegemónica, mas que iniciou a carreira ainda um pouco mais a Norte, noutro histórico do futebol português, e que completou esta semana cinquenta e três anos de idade.

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Com a camisola de que se tornou sinónimo.

Falamos de João Paulo Maio dos Santos, mais conhecido pelo diminutivo Paulinho, e que a maioria dos adeptos associa de imediato ao contingente de jogadores físicos e agressivos que compunha o plantel dos 'Dragões' durante grande parte da década de 90. O que muitos não saberão, no entanto, é que o homem que dava verdadeiro significado à expressão 'polivalente defensivo' iniciou a carreira com uma camisola listada, não de azul, mas sim de verde e branco, ao serviço do clube da sua terra-natal, o Rio Ave, em cujas escolas completara uma formação iniciada mais 'a sério' no Varzim, aos doze anos de idade.

Decorria a última temporada dos anos 80 (e, simultaneamente, primeira dos 90) quando o jovem Paulinho Santos, recém-graduado da equipa de juniores, era integrado no plantel principal dos vilacondenses, então nos escalões secundários do futebol português; apesar deste modesto início, no entanto, o talento do jovem não tardaria a vir à tona, e a utilização esporádica durante as primeiras duas épocas daria lugar à titularidade indiscutível na terceira, de 1991/92, onde ombrearia com vários nomes emprestados pelo seu futuro clube, como Cao, Tulipa e os também futuramente famosos Rui Jorge e Bino. Talvez tenha sido por intermédio destes que o talento de Paulinho Santos chegou aos ouvidos dos responsáveis portistas, mas seja qual tenha sido o modo de transmissão da mensagem, o resultado foi inevitável – no final da época, o médio-defensivo vilacondense rumava ao Estádio das Antas, para não mais o deixar até final da carreira.

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O plantel titular do Rio Ave da época 1991/92, última do jogador nos vilacondenses. Paulinho Santos está ao centro na fila de cima.

O resto da História é bem conhecido: esteio defensivo da Selecção Nacional da fase Geração de Ouro no Euro '96 (onde chegou a jogar a lateral-esquerdo!), peça fulcral da equipa do Porto penta-campeã nacional, eterno 'arqui-inimigo' de João Vieira Pinto, e espectador 'de cadeirinha' (ou antes, de 'banco') aos triunfos europeus dos Dragões, quando já há muito trocara a titularidade pelo estatuto de veterano e 'lenda viva' dentro do plantel. No total, foram onze épocas e mais de duzentos jogos ao serviço do Futebol Clube do Porto, durante os quais conquistou tudo o que havia para conquistar, e partilhou o terreno de jogo com uma verdadeira 'litania' de nomes sonantes, de Jorge Costa a Aloísio (com quem partilhou o estatuto de 'lenda' do clube), Fernando Couto, Drulovic, Zahovic, Jardel, Capucho, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Deco ou o actual treinador dos azuis e brancos, Sérgio Conceição.

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Com as Quinas, que defendeu no Euro '96 na posição de lateral-esquerdo.

O próprio Paulinho Santos viria, aliás, a enveredar ele próprio pela carreira de treinador, como aliás acontece com tantos ex-jogadores; sem surpresas, é na sua 'segunda casa' que Paulinho continua a exercer cargos técnicos, sobretudo como treinador-adjunto das camadas jovens e da equipa B, embora tenha chegado a ser adjunto da equipa principal durante um par de épocas em inícios da década de 2010.

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Como adjunto da equipa principal do Porto, em 2013.

Já dentro de campo, o seu legado continua, igualmente, a ser honrado pelo filho, conhecido pela mesma alcunha do pai e actualmente ao serviço da equipa que viu o mesmo despontar para o futebol – uma forma honrosa de 'completar o ciclo' para um jogador que, embora tenha vivido os seus melhores anos noutras partes, nunca esqueceu o clube junto ao qual nasceu e cresceu, e graças ao qual se viria a afirmar enquanto jogador sénior. Parabéns, Paulinho Santos!a

23.11.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em finais do século XX, a revista desportiva era já parte do panorama editorial de vários países de todo o Mundo, com publicações tão famosas e sonantes como a 'Sports Illustrated' norte-americana ou a 'France Football'; em Portugal, no entanto, o paradigma era um pouco diferente, com a imprensa desportiva (pelo menos a não-especializada) a ser dominada pelos três 'eternos' diários desportivos, que só em inícios do século XX deixariam espaço a revistas como a 'Futebolista'. Tal hegemonia não impediu, no entanto, que pelo menos uma publicação tentasse 'furar fileiras' e afirmar-se no espaço editorial desportivo português, tendo mesmo chegado a atingir um moderado grau de sucesso nesse desiderato.

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Exemplo dos dois tipos de grafismo da revista durante o seu tempo de vida (Crédito das fotos: OLX.)

Falamos da 'Mundial', uma revista que, apesar de se estender periodicamente a outros desportos, tinha como foco central (e perfeitamente natural) o futebol, que ocupou a maioria das capas da revista desde o seu lançamento, algures em meados dos anos 90, até ao seu desaparecimento das bancas, ainda antes do final do Novo Milénio. Infelizmente, não nos é possível precisar melhor o espectro temporal da publicação, dado esta ser – como a também noventista 'Basquetebol' – uma daqielas revistas das quais poucos vestígios restam para lá de uma série de anúncios da OLX e do ocasional 'post' nostálgico no Facebook – por outras palavras, uma Esquecida Pela Net.

Daquilo que as capas permitem averiguar, a 'Mundial' procurava ter cuidado em alternar o foco entre diversos clubes, bem como entre os principais jogadores de cada um deles, e até aos principais nomes internacionais da época – isto para além de uma marcada (e também bastante natural) vertente de apoio à Selecção Nacional, que vivia, à época, alguns dos seus melhores anos, com a Geração de Ouro a 'dar cartas'. De igual modo, a presença de artigos sobre outras modalidades e eventos - como o 'bodyboard', a Fórmula 1 ou até as Olimpíadas - vem da análise dessas mesmas capas, sendo praticamente impossível encontrar, hoje, dados sobre a editora, longevidade ou até número de páginas da revista – facto algo insólito, tendo em conta que outras publicações da mesma altura (1996-98, pelo menos) se encontram ainda bem documentadas na 'autoestrada da informação'! Ainda assim, é também possível observar uma mudança de grafismo na 'Mundial' entre 1996 e 98, presumivelmente para ajudar a dar um ar menos austero à revista, e mais condicente com o que o público jovem da época procurava de uma publicação deste tipo.

Tendo em conta o posterior sucesso da referida 'Futebolista' e outras publicações semelhantes, não deixa de ser bizarro que a 'Mundial' seja tão pouco lembrada entre os fãs de jornais e revistas de desporto nacionais. No entanto, uma das missões declaradas deste nosso blog é, precisamente, não deixar que tais artefactos de finais do século XX se percam para sempre, e, nesse aspecto, era nosso dever fazer a nossa parte para assegurar que esta 'Mundial' não era vetada ao esquecimento pela mesma geração que, em tempos, a comprou e leu religiosamente - uma missão que, esperamos, se venha a provar bem-sucedida.

12.11.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O caso de um jogador dispensado ou enviado para 'rodar' por um dos 'grandes' portugueses e que acaba a brilhar noutro não é, de todo, nova ou inédita, continuando a verificar-se com assustadora regularidade até aos dias de hoje. Nomes hoje tão famosos como Deco, Miguel Veloso ou Silvestre Varela foram, a dado ponto, considerados insuficientes para as ambições dos três principais clubes nacionais, aos quais viriam, mais tarde, a dar 'chapadas de luva branca'; o mesmo se passaria, também, com o jogador cuja carreira recordamos neste post, um dia depois de ter completado quarenta e seis anos. Falamos de Nuno Ricardo Oliveira Ribeiro, o médio lisboeta que atingiria fama internacional como esteio da equipa 'conquistadora' do Futebol Clube do Porto e da Selecção Nacional da fase pós-Geração de Ouro, sob a alcunha de Maniche.

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Maniche na Selecção.

Formado, juntamente com o irmão mais novo (e menos famoso), Jorge Ribeiro, nas escolas do Benfica, Maniche demonstrou talento suficiente para merecer a estreia pela equipa principal das Águias ainda com idade de júnior de primeiro ano, em Setembro de 1995, tendo sido lançado em dois jogos pelo treinador Mário Wilson. Apesar do sonho tornado realidade, no entanto, Maniche não mais voltaria a figurar pelos encarnados nessa época, tendo, no defeso seguinte, sido cedido ao Alverca, clube-satélite do Benfica, para o qual eram, à época, enviados as principais promessas dos 'encarnados'; seria ali, e novamente sob o comando de Wilson, que o médio viria, verdadeiramente, a estabelecer-se como valor seguro do futebol português.

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Um jovem Maniche com a camisola do Alverca.

Nas três épocas que passou no emblema ribatejano (duas na II Liga e uma no escalão principal), sempre como figura importante da equipa - ainda que sem ser titular indiscutível – Maniche destacou-se o suficiente para obter a primeira experiência internacional, ao serviço dos sub-21 portugueses, e tornou-se um jogador mais maduro e completo, pronto a agarrar a oportunidade na equipa principal das 'águias', à qual o médio regressava quatro anos após a sua fugaz estreia.

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No regresso à Luz

Apesar de ter sido presença frequente no 'onze' ao longo das duas épocas seguintes, no entanto, Maniche não conseguia, ainda assim, garantir a titularidade indiscutível, tendo mesmo sido 'despromovido' à equipa B durante os seus últimos meses no clube, em 2002. Ainda assim, foi com considerável surpresa que os adeptos benfiquistas viram aquele que parecia um valor seguro da sua formação assinar por um eterno 'rival' logo no Verão seguinte, com Maniche a trocar uma capital por outra, e a rumar ao Norte, para representar o Futebol Clube do Porto, então treinado por outro ex-Benfica, José Mourinho. E a verdade é que, juntos, ambos os homens viriam a demonstrar o enorme erro das 'águias' em os dispensar, ganhando tudo o que havia para ganhar, tanto a nível interno como Europeu, ao longo das três épocas seguintes; em todas elas, Maniche figuraria como um dos pilares do meio-campo portista, normalmente ao lado de Costinha, com quem também formava, à época, a dupla de 'pivots' da Selecção Nacional portuguesa.

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Com a camisola que o celebrizou.

Desse ponto em diante, a carreira do médio é sobejamente conhecida: as boas exibições na 'montra' da Europa suscitam o interesse dos principais 'tubarões' europeus, e Maniche não tarda a dar o 'salto' para o estrangeiro, assinando contrato com o Dínamo de Moscovo no início da época 2005/2006, juntamente com os colegas de equipas Seitaridis e (inevitavelmente) Costinha, e já depois de Derlei ali ter rumado no defeso de Inverno anterior.

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Maniche participa no 'derby' de Moscovo.

A experiência russa não seria, no entanto, agradável para nenhum dos jogadores em causa, e passar-se-iam menos de seis meses até Maniche 'mudar de ares' e rumar a Londres, para representar, por empréstimo, o Chelsea, então em plena fase hegemónica; num meio-campo recheado de talento, no entanto, o médio teria oportunidade limitada para se mostrar, não sendo as apenas onze presenças que efectuou, sequer, suficientes para Maniche adicionar o título de campeão inglês ao seu palmarés.

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O médio com a camisola do Chelsea.

Ainda assim, nem tudo seria mau naquela temporada de 2005/2006, tendo Maniche conseguido, já no mercado de Verão, assegurar uma transferência que lhe permitiria relançar a sua carreira, no caso para o Atlético de Madrid, onde passaria duas épocas e meia, apenas interrompidas por um breve empréstimo ao Inter de Milão, em 2008, e onde voltaria a reencontrar o eterno parceiro de meio-campo, Costinha.

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No Atlético, clube onde relançaria a carreira.

Ali, e após o 'desastre' da época anterior, a dupla teria a oportunidade de voltar a mostrar toda a sua classe e de se afirmar como esteio da equipa – pelo menos até Maniche se desentender, primeiro, com o treinador Javier Aguirre (o que motivou o empréstimo ao Inter) e, mais tarde, com o seu substituto, Abel Resino. Assim, pouco menos de dois meses antes de o seu contrato com os 'Colchoneros' expirar – e tendo já rejeitado nova oferta – o médio era oficialmente dispensado pelo clube madrileno, terminando a época novamente desempregado.

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Durante a breve passagem pelo Inter, em 2008

Para um jogador da sua classe, no entanto, nunca seria excessivamente complicado encontrar nova colocação, e a época seguinte vê Maniche ingressar na sua terceira grande liga europeia, ao assinar pelos alemães do Colónia, onde militava o ex-colega do Benfica, Petit. A época subsequente correria de feição ao médio,que se afirmaria como figura importante da equipa, pelo que foi com alguma surpresa que os adeptos alemães viram Maniche sair, após apenas uma época, para regressar à sua cidade-natal, embora, agora, do 'outro lado' da via rápida que o vira nascer para o futebol, e com uma camisola listada de verde e branco.

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Maniche no Colónia.

Sim, seria mesmo o Sporting a ter a honra de acolher o fim de carreira de Maniche, e apenas dezassete presenças foram suficientes para inscrever o jogador no limitado lote de jogadores a representar todos os três 'grandes' portugueses, ao lado de Romeu, Eurico Gomes, Carlos Alhinho, Paulo Futre, Fernando Mendes, Emílio Peixe e do ex-colega portista Derlei - apenas mais uma marca bonita numa carreira que terminava como começara – com Maniche como opção de 'rotação' num 'grande' português – mas que, pelo meio, vira o médio atingir as mais altas glórias nacionais, europeias e até internacionais.

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Ao serviço do Sporting, na última época como profissional.

Ao contrário de muitos dos nomes que aqui abordamos, Maniche não enveredou, após o final da carreira, por uma carreira técnica; apesar de ter chegado a ser treinador-adjunto de Paços de Ferreira e Académica, o ex-internacional português encontra-se, desde 2016, totalmente afastado do Mundo do futebol, preferindo ser lembrado pelas suas contribuições dentro de campo; e a verdade é que as mesmas mais do que justificam esta homenagem retrospectiva, no fim-de-semana em que completa quarenta e seis anos de idade. Parabéns, Maniche, e que contes ainda muitos!

15.10.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O chamado 'jogador de um clube só' – aquele atleta que faz toda a carreira em apenas um emblema desportivo, mantendo-se fiel através de todos os altos e baixos do mesmo – sempre foi uma espécie rara, e nos dias que correm - em que o dinheiro fala, invariavelmente, mais alto – encontra-se praticamente em vias de extinção, pelo menos ao nível do futebol de alta competição. No período a que este blog diz respeito, no entanto, era ainda possível encontrar alguns atletas dessa estirpe, os quais – sem contar com os habituais empréstimos em inícios de carreira – passavam todo o seu período activo num só clube, normalmente aquele que os havia formado. O jogador de que falamos hoje, e que completa este fim-de-semana cinquenta e dois anos de idade, esteve perto de fazer parte desse lote, não fora um desentendimento com a 'casa-mãe' em finais de carreira; ainda assim, é a esse mesmo clube que qualquer adepto português da 'velha escola' o associa, e é também a ele que o seu nome ficará, indelevelmente, ligado.

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O jogador com a camisola do clube de sempre.

E, no entanto, até mesmo Jorge Paulo Costa Almeida – mais conhecido pelo seu primeiro nome e primeiro apelido – chegou, a dada altura, a ser Cara (Des)conhecida nos campeonatos nacionais, apenas mais um jovem promissor a desenvolver o seu futebol em emblemas históricos, mas fora da esfera dos três 'grandes' portugueses. De facto, após a chegada à idade sénior, logo no início da década de 90, aquele que viria a ser um dos grandes defesas-centrais do futebol luso era enviado para rodar durante uma época no 'vizinho' CS Penafiel, onde começaria desde logo a chamar a atenção, afirmando-se como elemento importante da equipa e amealhando vinte e três presenças, no decurso das quais contribuiria com dois golos.

A próxima aventura do central seria significativamente menos confortável, 'atirando-o' da cidade onde nascera e crescera para o ambiente insular da Madeira, onde viria a representar um dos maiores clubes das ilhas, o Marítimo. Tal desafio não amedrontou Jorge Costa, no entanto; pelo contrário, o jogador emprestado pelo Porto viria a afirmar-se como peça-chave da equipa, participando em quase todos os jogos da época 1991-92 e marcando ainda um golo pelos verde-rubros insulares.

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Cromo de um jovem Jorge Costa ao serviço do Marítimo.

Esta segunda época ao mais alto nível foi, aliás, suficiente para garantir ao central a inclusão no plantel principal do FC Porto, do qual não voltaria a sair até um desentendimento com o então treinador Octávio Machado, mais de uma década depois. No total, esta primeira fase de Jorge Costa no Porto veria o central representar o clube em quase duzentos jogos, sempre como esteio defensivo, ao lado de nomes como Paulinho Santos, Fernando Couto, Jorge Andrade ou Ricardo Carvalho, sagrar-se penta-campeão nacional, e notabilizar-se tanto como figura-chave na fase hegemónica do FC Porto como como um dos melhores do País na sua posição - distinção que lhe valeu lugar quase cativo também na Selecção Nacional, que representaria em cinquenta ocasiões e quatro torneios no decurso dessa mesma década, muitas vezes ao lado dos mesmos nomes com que emparceirava no centro da defesa portista.

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Cromo do jogador na caderneta do Euro 96, um dos torneios em que representou a Selecção Nacional.

Apenas um voto ao 'ostracismo' por parte de Octávio Machado, na segunda metade da época 2001/2002, seria capaz de afastar o carismático jogador do clube que o formara, sendo o mesmo forçado a embarcar na sua primeira aventura internacional, no caso ao serviço do Charlton, de Inglaterra, por quem ainda chegaria a tempo de figurar duas dezenas de vezes até ao final da Premiership daquele ano.

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O jogador durante o seu breve período no Charlton.

Durou pouco, no entanto, este afastamento, e na época seguinte, sob as ordens do novo treinador José Mourinho, Jorge Costa via restituído o seu estatuto de peça-chave numa equipa que, sem ainda o saber, estava prestes a embarcar numa segunda fase hegemónica, que culminaria com a histórica conquista da Liga dos Campeões, em 2005, já após a igualmente inédita captura da Taça UEFA, na época anterior. Em ambas as ocasiões, Jorge Costa marcava presença no centro da defesa, contribuindo com toda a sua experiência para aqueles que estavam entre os momentos mais gloriosos da História dos 'Dragões'.

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Jorge Costa celebra a conquista da Liga dos Campeões de 2004/2005, ao lado de outra lenda do FC Porto, Vítor Baía.

Poucos meses depois, no entanto, nova reviravolta, com a chegada de Co Adriaanse à equipa nortenha, e subsequente nova perda de estatuto por parte do capitão portista, que era novamente (e publicamente) afastado; tal como anteriormente, o central optou, nesta ocasião, por ingressar numa aventura no estrangeiro, desta vez a título definitivo, e seria no Standard de Liège, ao lado do ex-colega Sérgio Conceição, que viria a fazer a última época da sua carreira, aos trinta e quatro anos. Vinte partidas e dois golos longe dos holofotes europeus marcavam, assim, a despedida de um jogador que, doze meses antes, tinha ocupado lugar de destaque sob os mesmos – um final algo indigno para um dos melhores e mais notáveis jogadores dos campeonatos portugueses das décadas de 90 e 2000, e da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro'.

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No Standard de Liège, durante a última época como profissional.

Tal como tantas outras caras – (Des)conhecidas ou não – de que aqui vimos falando, também Jorge Costa optou, após o término de carreira, por enveredar pela carreira de treinador, a qual iniciaria logo após o encerramento de actividades nos relvados, como adjunto do Braga. Dentro em breve, assumiria o comando dessa mesma equipa como técnico principal, e os anos seguintes vê-lo-iam treinar emblemas tanto em Portugal – Académica, Olhanense, Paços de Ferreira, Arouca, Académico de Viseu e Vila das Aves, onde actualmente milita – como um pouco por toda a Europa - tendo passado pelos romenos do Cluj e Gaz Metan, pelos cipriotas do AEL Limassol, pelos gregos do Anorthosis, pelos franceses do Tours - e até em países como a Tunísia (com duas passagens pelo CS Sfaxien) e Índia (onde treinou o Mumbai City FC), além da Selecção Nacional sénior do Gabão.

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Na qualidade de treinador.

Uma carreira cuja diversidade surge como contraponto à relativa estabilidade de que o portuense gozara enquanto jogador de campo, e que, infelizmente, nunca almejou o mesmo estatuto ou sucesso, mas que oferece uma continuidade honrosa para uma das 'lendas' da Primeira Divisão nacional 'das antigas'. Parabéns, e que conte ainda muitos.

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A camisola 2 é, ainda hoje, sinónima com o jogador.

01.10.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de pouco comum – e invariavelmente vista com desagrado por adeptos do clube 'lesado' – a transição directa jogadores entre 'grandes' portugueses não deixa, ainda assim, de ser uma realidade. Mesmo deixando de parte aqueles que regressam após uma aventura falhada no estrangeiro (como Simão Sabrosa, Quaresma ou Jardel, entre outros) não é difícil nomear jogadores que passam de um dos três principais emblemas portugueses para outro, por vezes apenas 'atravessando a estrada', outras enfrentando as três horas de viagem que ligam Lisboa ao Porto. Desse lote, já abordámos, nesta mesma rubrica, nomes como Zahovic, João Pinto ou Sergei Yuran; agora, e no rescaldo de mais um 'derby' entre Benfica e Porto, chega a altura de juntar mais um nome a essa lista, pertencente a um futebolista que representou, precisamente, esses dois clubes, durante as suas respectivas fases hegemónicas nos anos 90. Falamos de Vasili Sergeyevitch Kulkov, o 'tampão' russo que, ao lado dos conterrâneos Mostovoi e Yuran, foi figura maior do Benfica de inícios daquela década, antes de se juntar a este último na viagem para Norte, para se tornar mais um dos muitos defesas 'feios, porcos e maus' daquela fase do Futebol Clube do Porto.

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O jogador com as duas camisolas com que se notabilizou em Portugal.

Chegado a Portugal com vinte e cinco anos, durante o defeso de Verão da época 1991-92, ao mesmo tempo do que o supra-mencionado Yuran e um ano antes de Mostovoi, Kulkov contava já com créditos firmados em vários clubes da sua terra natal (entre eles o 'gigante' Spartak de Moscovo) Kulkov viria a passar as quatro temporadas seguintes em Portugal, primeiro como parte importante da equipa do Benfica – que ajudaria a passar às meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças de 1994, com dois golos memoráveis frente ao Bayer Leverkusen, num mirabolante e histórico resultado final de 4-4 – e depois ao serviço do Porto, onde passaria apenas uma época, mas celebraria o título de campeão nacional que lhe escapara durante a estadia em Lisboa. No total, seriam cerca de cento e quinze jogos (quase oitenta dos quais ao serviço do Benfica), e quinze golos, que ajudariam a tornar o polivalente defensivo (tanto jogava a 'seis' como a central) num dos mais memoráveis nomes a jogar em Portugal na altura.

Após a bem-sucedida 'traição', semelhante à do conterrâneo Yuran, Kulkov voltaria a 'casa', para alinhar no 'seu' Spartak, onde ficaria até 1997, após uma tentativa falhada de empréstimo ao Millwall, de Inglaterra, onde passaria apenas seis meses sem nunca se conseguir adaptar. Seguir-se-iam duas épocas como parte importante do plantel do Zenit de S. Petersburgo e uma passagem perfeitamente anónima pelo Krilja Sovetov, antes de o ex-internacional russo (que somou um total de 42 presenças entre URSS, CIS e Rússia propriamente dita) decidir regressar ao seu 'outro' lar, rumando novamente a paragens lusitanas para alinhar num dos satélites do seu antigo clube, o Alverca, onde 'passa' o Milénio e consegue ainda honrosas vinte presenças. Em 2001, um breve regresso ao seu país natal, para representar o desconhecido Shatura, salda-se como a última aventura de Kulkov enquanto jogador profissional, tendo o russo pendurado as botas ainda nessa mesma época.

Tal como em tantos outros casos, no entanto, a reforma não significava o fim da ligação do russo ao desporto-rei, antes pelo contrário; apenas duas épocas depois, Kulkov regressaria a Portugal como adjunto da ex-lenda do Dínamo de Kiev Anatoliy Byshovets no Marítimo, vindo depois a desempenhar a mesma função em quatro outros clubes da sua terra natal: FC Khimki, Tom Tomsk, o histórico Lokomotiv de Moscovo e, claro, o 'seu' Spartak, aqui como adjunto da equipa B. Em 2013, surge a reforma definitiva, e Kulkov 'desaparece' do Mundo do futebol até 2020, quando a notícia do seu falecimento em consequência da pandemia de COVID-19 vem entristecer adeptos do Benfica, Porto e Spartak, os três clubes em que o russo mais fez história, numa carreira repleta de 'vaivéns' entre dois países completamente díspares, mas unidos pelo facto de terem acolhido o polivalente de farta 'melena' loura e tido oportunidade de o ver explanar as suas qualidades defensivas; e, caso ainda fosse vivo, poder-se-ia mesmo ponderar se Kulkov não teria estado, este fim-de-semana, 'colado' a uma qualquer transmissão internacional, a seguir atentamente o histórico confronto entre dois dos seus três principais clubes. Que descanse em paz.

17.09.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Se houve posição em que o futebol português foi prolífico, essa posição foi a de avançado-centro; afinal, esta foi a década que revelou nomes como Mário Jardel, Alberto Acosta, Nuno Gomes, Claudio Canniggia, Domingos Paciência ou Marius Niculae, entre muitos outros. Mesmo fora do 'eixo' dos 'três grandes', iam paulatinamente surgindo nomes que não deixavam de entusiasmar mesmo os adeptos de outros clubes, como foi o caso, por exemplo, com Karoglan, Fary, Elpídio Silva, ou o jogador de que falamos este Domingo, que chegou a Portugal pela porta insular, há exactos trinta anos, e se viria a revelar, em épocas vindouras, parte importante das campanhas vitoriosas de dois dos três maiores clubes nacionais.

Falamos de Edmilson Gonçalves Pimenta, talvez o mais conhecido dos vários jogadores (curiosamente, todos avançados) que partilhavam o seu nome durante aquela mesma época do futebol nacional, e um dos dois cuja carreira teve início no arquipélago da Madeira. Mas enquanto o seu homónimo do Marítimo (que antes jogara também pelo Nacional) nunca viria a dar o 'salto' (embora tivsse sido herói nos Barreiros durante a referida década), 'este' Edmilson conseguiria fazer chegar a sua carreira a um patamar superior, tornando-se assim uma adição ideal à nossa rubrica Caras (Des)conhecidas, precisamente no dia em que completa cinquenta e dois anos de idade.

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O jogador com a camisola que o notabilizou.

Nascido no remoto estado brasileiro do Espírito Santo, em 1971, Edmilson iniciou a carreira sénior na local Associação Académica Colatina, aos dezoito anos, fazendo uma única época no clube antes de se transferir para o Esporte Clube Democrata, do estado de Minas Gerais; mais uma vez, a sua presença no clube mineiro duraria não mais do que uma época, após a qual a sua vida e carreira se veriam para sempre alteradas.

De facto, o defeso de Verão da época 1993/94 veria o brasileiro rumar a Portugal, para representar o Nacional da Madeira, então na Segunda Divisão de Honra. Ao contrário de tantos outros conterrâneos que até hoje rumam anualmente ao nosso País, no entanto, o avançado rapidamente se viria a destacar, afirmando-se como parte fulcral da campanha do Nacional naquela temporada, pesem embora os apenas quatro golos com que contribuiu para a mesma, ao longo de trinta jogos. Assim, não foi de surpreender que a época seguinte visse o brasileiro transitar para o principal escalão do futebol português, para representar outro histórico do mesmo, o Sport Comércio e Salgueiros, então a atravessar talvez a melhor fase da sua História. O novo desafio não intimidou, no entanto, o brasileiro, que viria a explanar a sua veia goleadora e a deixar a sua marca na época 1994/95 da equipa, atingindo os quinze golos em trinta e quatro partidas, e despertando o interesse do ''grande' local, o Futebol Clube do Porto – também, à época, em fase hegemónica - com o qual assinaria no final da temporada.

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O cromo do jogador na caderneta da Panini relativa à época 1994/95, quando representou o Salgueiros.

E se este é o patamar que fez 'tropeçar' tantos e tantos jogadores ao longo dos anos, tal não se verificou com o brasileiro; antes pelo contrário, Edmilson 'somaria e seguiria' com a camisola listrada de azul e branco, sendo peça fulcral na conquista do bi- e tri-campeonatos por parte do Porto, numa série que apenas seria interrompida pelo futuro clube do avançado, já no final do Milénio, e que veria os 'Dragões' conquistar o penta-campeonato. Nas duas épocas que passaria nas Antas, o brasileiro afirmar-se-ia como titular quase indiscutível ao lado de nomes como Aloísio, Jorge Costa, Carlos Secretário, Paulinho Santos, Sergei Yuran ou Zahovic, e conseguiria uma média de quinze golos por temporada, confirmando as indicações que havia deixado ainda ao serviço do 'vizinho' mais modesto.

Tendo em conta a preponderância do brasileiro no esquema táctico e forma de jogar dos 'Dragões', também não é de admirar que o mesmo tenha despertado a cobiça de clubes estrangeiros, tendo o início da temporada 1997/98 visto o avançado rumar ao único país não lusófono em que jogaria em toda a carreira, a França, para assinar pelo Paris Saint-Germain. Se o salto para um 'grande' não havia feito abrandar a carreira de Edmilson, no entanto, este outro 'obstáculo' típico para futebolistas profissionais viria mesmo a conseguir esse desiderato, tendo o brasileiro passado pouco mais de meia época em Paris, e almejado apenas dezoito presenças pelo seu novo clube, sem golos, antes de rumar novamente a Portugal.

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Foto de plantel do avançado durante a curta estadia no Paris Saint-Germain.

Mas se, nesta fase, o passo mais fácil e lógico seria o do regresso à 'casa' onde fora feliz, as Antas, Edmilson viria a surpreender tudo e todos ao assinar, não pelo Porto, mas por um dos rivais lisboetas, no caso o Sporting, aonde ainda chegou a tempo de realizar onze partidas e marcar três golos até final da temporada 1997/98. Estava dado o mote para mais duas épocas completas nos 'leões' de Alvalade, em que, sem ser titular indiscutível – dada a riqueza e qualidade dos seus concorrentes para a linha da frente – ainda almejou umas honrosas vinte e cinco presenças por temporada, contribuindo com um total de doze golos (dez deles na campanha de 1998/99) e juntando mais um título de Campeão Nacional ao seu palmarés, aquando da quebra do 'jejum' de quase duas décadas por parte dos verdes e brancos. Curiosamente, durante a sua estadia no clube, o avançado alinhou com a camisola 10, que se tornaria mais tarde sinónima, em Alvalade, de um outro avançado raçudo, sisudo e de farta 'melena' de cabelo, e que, ainda mais curiosamente, deixara o Salgueiros imediatamente antes da chegada do brasileiro ao clube: Ricardo Sá Pinto.

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Edmilson no Sporting.

A época seguinte parecia iniciar-se da mesma forma auspiciosa que as anteriores, tendo Edmilson participado em quinze jogos e conseguido quatro golos na primeira metade da campanha; o mercado de Inverno, no entanto, veria o jogador regressar ao seu Brasil natal, agora para representar um dos 'grandes' históricos do Brasileirão, o Palmeiras, de São Paulo. Seriam apenas sete as partidas com a nova camisola verde e branca, no entanto, antes de o avançado 'regressar ás origens' e assinar pelo mesmo Colatina que o vira iniciar formalmente a sua carreira. Ali permaneceria duas épocas antes de lhe ser oferecida nova oportunidade de regressar a Portugal, novamente para jogar na Segunda Divisão, agora ao serviço do Portimonense.

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Nos tempos do Portimonense.

No Algarve, o avançado conseguiria mais uma boa época, com nove golos em cerca de vinte e cinco partidas, que suscitariam o interesse dos noruegueses do Lyn; mais uma vez, no entanto, ficariam patentes as dificuldades de Edmilson em jogar em países fora do eixo Brasil-Portugal, e o avançado viria a realizar apenas oito partidas pelos nórdicos, sem golos, antes de 'regressar a casa' e assinar novamente pelo Colatina para a ponta final da época 2004/2005. Na temporada seguinte, nova tentativa de se 'aventurar' pela Europa, agora como parte do plantel do Visé, da Bélgica, que desmentiu o velho ditado que diz que 'não há duas sem três', tendo o avançado participado numas míseras três partidas naquela que foi a sua última aventura fora de um país lusófono.

O início da época de 2007 via Edmilson, então já com trinta e quatro anos e no ocaso da carreira, surgir vinculado ao mais insólito de todos os clubes da sua carreira, e quiçá o mais insólito de qualquer jogador a ter figurado nesta rubrica: a desconhecida Associação Desportiva Cultural Recreativa e Social de Guilhabreu, dos campeonatos distritais portugueses! Duraria pouco, no entanto, a estadia de Edmilson no modestíssimo emblema vila-condense, vindo o avançado a rumar ao Brasil, ainda nessa mesma temporada, para terminar a carreira no mesmo local onde a iniciara: a AA Colatina, do seu estado natal, que também chegaria a treinar.

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Em 2016, com a camisola do ES Espírito Santo, de que era então presidente.

Ao avaliar uma carreira que se expandiu ainda a cargos técnicos no Nazarenos (director desportivo), Espírito Santo e Guarda Desportivo (dos quais foi presidente), fica a imagem de um avançado rápido, móvel e com algum faro de golo, daqueles que davam 'dores de cabeça' aos defesas adversários, cujo percurso conta com vários merecidos troféus a nível nacional, e a quem só faltou mesmo mais um pouco de adaptabilidade aquando das várias 'aventuras' fora do seu país de acolhimento; tanto assim que, exactos trinta anos após a sua chegada a terras lusitanas, o seu nome continua a ser, merecidamente, incluído em qualquer lista de grandes avançados dos campeonatos portugueses de finais do século XX. Parabéns, Edmilson, e que conte muitos.

03.09.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Cada janela de transferências do futebol português reserva, inevitavelmente, muitas surpresas, com toda e qualquer equipa – do maior 'grande' ao mais modesto clube distrital – a apresentar invariavelmente um sem-número de novas aquisições que, idealmente, os possam levar a um novo patamar de ambição. Destes novos nomes, a maioria acaba por se inserir em duas grandes categorias: os que convencem, conquistando um lugar no 'onze', e os que não se afirmam, rapidamente rumando a outras paragens. Dentro do primeiro grupo, no entanto, existe ainda uma sub-categoria de cariz extremamente selecto, na qual se inserem aqueles jogadores que demonstram ainda mais do que o já se lhes vaticinava, 'saltando' de equipas históricas mas mais modestas para a ribalta nacional e, muitas vezes, internacional.

Há exactos trinta anos, chegava a Portugal, pela mão do Vitória de Guimarães, um jogador destas características: um jovem médio jugoslavo de vinte e dois anos, que apesar de ainda jovem, trazia já créditos firmados em dois clubes da sua terra natal, entre eles o histórico Partizan, onde vinha sendo usado de forma tão intermitente como qualquer outro jovem da sua idade (trinta e sete jogos em três épocas, entre os dezoito e os vinte e dois anos) mas ainda assim impressionando com o seu inegável talento. O que os adeptos vimaranenses não podiam adivinhar era que o jogador que acabavam de apresentar se tornaria um dos grandes nomes do futebol nacional dos próximos quinze anos, durante os quais viria a conquistar quase todos os principais títulos do desporto-rei nacional. O seu nome? Zlatko Zahovic.

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Um jovem Zahovic ao serviço do Guimarães.

Sim, Zahovic, o histórico titular quase indiscutível do Porto penta-campeão, conhecido por assistir na perfeição para a cabeça de Jardel, e que mais tarde viria também a afirmar-se em outro 'grande' do futebol português, o Benfica, onde foi o 'dez' de serviço até se desentender com o treinador Giovanni Trapattoni e rescindir contrato, abandonando assim o campeonato que o vira florescer durante uma década e meia, após a sua chegada ao Norte de Portugal no mercado de Verão da época 1993-94.

E se a primeira experiência de um jovem jogador num país desconhecido pode, muitas vezes, ser inibidora ou intimidatória, tal não foi o caso para Zahovic, que começou de imediato a demonstrar a sua qualidade ao serviço dos vimaranenses, que ajudaria a qualificarem-se para a Taça UEFA em duas das suas três épocas, e onde 'cavaria' um lugar que não viria a perder até a sua saída para 'mais altos vôos', no Verão de 1996, um ano depois do ex-colega de equipa Pedro Barbosa ter rumado a Lisboa para representar o Sporting, e dois depois de Paulo Bento ter feito o mesmo caminho, rumo ao também futuro clube de Zahovic, o Benfica. No total, foram quase oito dezenas de jogos com a camisola alvinegra, durante os quais obteve treze tentos, o mais importante dos quais frente ao FC Porto, em 1995-96, garantindo a vitória dos vimaranenses em plenas Antas, por 2-3, e, ao mesmo tempo, um lugar para si mesmo no plantel dos 'Dragões' da época seguinte, numa daquelas 'novelas' de transferência ainda hoje tao comuns no futebol luso.

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No Porto, já com a icónica 'gadelha'.

O período seguinte da carreira do médio dispensa maiores análises – juntamente com Drulovic, Capucho e, claro, Mário Jardel, Zahovic formou uma frente de ataque temível para qualquer defesa adversária, e que levaria o clube portuense ao pentacampeonato, estabelecendo os 'azuis e brancos' como a principal equipa portuguesa da segunda metade dos anos 90. A nível pessoal, há que destacar a sua última época ao serviço dos 'Dragões', há exactos vinte e cinco anos, durante a qual almejou um recorde pessoal de golos, marcando vinte e dois no global das competições internas e sete na Liga dos Campeões, onde entrou no pódio dos melhores marcadores, atrás dos históricos Andriy Schevchenko, então no Dínamo de Kiev, e Dwight Yorke, avançado-centro da melhor equipa do futebol mundial noventista. Um feito notável a juntar a tantos outros que Zahovic já amealhara durante as três épocas transactas, e que lhe valeria, no último defeso de Verão do século XX, a transferência para o Olimpiacos, da Grécia, então considerado um 'grande' do futebol internacional.

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Com a camisola do Olimpiacos.

A experiência por terras helénicas não correria, no entanto, de feição a Zahovic, que alinharia menos de uma dezena e meia de vezes pelo seu novo clube na única época que ali realizou; ainda assim, o médio conseguiria uma média de um golo a cada duas aparições (num total de sete), fazendo 'corar' muitos avançados de raiz. Seguir-se-ia o Valência, onde as coisas correriam ligeiramente melhor ao agora esloveno, que amealharia vinte presenças pelos espanhóis, e contribuiria com três golos – um desempenho muito distante dos tempos de glória do jogador, apenas um par de anos antes, mas que se saldaria como honroso para um atleta que continuava a 'contar' ao mais alto nível do futebol mundial, não foram os desentendimentos constantes com o seu treinador, derivados da falta de utilização...

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No Valência, já no novo Milénio.

O verdadeiro renascer da carreira do médio deu-se, no entanto, mais uma vez em Portugal, agora mais a Sul, ao serviço de um dos 'grandes' lisboetas, o Benfica, onde ingressava em 2001. Pelas 'águias', Zahovic faria mais três épocas a grande nível, como parte importante dos excelentes plantéis dos 'encarnados' da época, que contavam com nomes como o do ex-colega no Porto, Drulovic, as 'lendas' benfiquista Mantorras e Nuno Gomes, Petit, Simão Sabrosa, Geovanni, Luisão ou o tragicamente malogrado Miklos Feher - que, numa coincidência trágica, viria a falecer, precisamente, no decurso de um jogo contra a equipa que revelara Zahovic.

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No Benfica, onde viria a terminar a carreira.

Tudo viria a mudar, no entanto, com a chegada do italiano Giovanni Trapattoni à Luz, que resultaria na perda de preponderância e subsequente descontentamento do médio; a chegada ao clube, no mercado de Janeiro, de Nuno Assis (jogador que ocupava a mesma posição de Zahovic) foi a 'gota de água', tendo o médio rescindido contrato com o Benfica ainda nesse mesmo mês, seis meses antes do término oficial do seu vínculo com as 'águias'. Aos trinta e quatro anos, Zahovic punha, aparentemente, fim a uma carreira que, sem atingir níveis 'galácticos', o tornava nome sonante no contexto da Liga Portuguesa, ao mesmo nível de um João Vieira Pinto, por exemplo.

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No papel de director desportivo do Maribor, da sua terra natal.

Não estava, no entanto, concluído o percurso do jogador oitenta vezes internacional pelo seu país, e cujas exibições no Euro 2000 suscitavam comparações a David Beckham; em 2007, Zahovic rejeitaria uma oferta por parte do seu ex-clube, o Benfica, para ser treinador dos Juniores, e regressaria ao seu país natal, onde ocuparia o cargo de director de futebol do NK Maribor, posição que viria a ocupar até 2020, ajudando o clube a conquistar oito títulos de campeão nacional esloveno e a conseguir a qualificação para duas Ligas dos Campeões e uma Taça UEFA, além de ajudar a revelar o próprio filho, o avançado Luka Zahovic, que viria, inclusivamente, a marcar ao Sporting no contexto das competições europeias.

Além deste cargo administrativo, há, ainda, registos de Zahovic ter alinhado em onze partidas por um clube amador do seu país, o Limbus-Pekre, pelo qual terá marcado doze golos durante a época 2008-2009. Um final de carreira propositadamente discreto para um jogador que, em muitas ocasiões, demonstrou não o ser, mas que conseguiu, ainda assim, afirmar-se como nome maior do futebol do país a que chegava há exactos trinta anos, como Cara (Des)conhecida do Vitória nortenho.

20.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo dos tempos, poucos são os desportistas que merecem o rótulo de 'génios'; nomes como Messi, Ronaldo, Figo, Maradona ou Pelé aparecem, no máximo, uma ou duas vezes por geração. No entanto, o patamar logo abaixo está repleto de atletas que, sem serem foras-de-série, se afirmam como muito acima da média, e conseguem construir carreiras a condizer. No caso do futebol português, um desses atletas é o homem de quem falamos neste post, no fim-de-semana em que acaba de completar cinquenta e dois anos de idade.

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JVP na Selecção

Natural do Porto, seria, no entanto, na capital portuguesa que João Manuel Vieira Pinto viria a fazer carreira, afirmando-se, em momentos distintos, como uma das principais figuras dos dois 'grandes' lisboetas - de facto, um dos aspectos mais curiosos da sua carreira é o facto de o único 'grande' a nunca ter representado ser o da sua cidade-natal, que o recusou aquando de um treino de captação, ainda em idade de formação. Foi, pois, no outro grande clube da cidade, que o jovem médio-ofensivo - descrito pelo seleccionador nacional de sub-20, Carlos Queiroz, como 'loirinho e magrinho' - se começou pela primeira vez a destacar pelo seu fino toque de bola e qualidade de passe, corriam ainda os últimos anos da década de 80.

Com apenas dezassete anos, é natural que o jovem não 'pegasse imediatamente de estaca' na equipa do Boavista, mas ainda assim, os dezassete jogos que realizou pela formação axadrezada (marcando quatro golos) foram suficientes para que o mundo futebolístico internacional pusesse os olhos naquele jovem mais do que promissor - especialmente depois de este ter sido peça fulcral na conquista do bi-campeonato do Mundo sub-20 por parte da Geração de Ouro, em 1989 e 1991.

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No estádio que o consagraria, ao serviço da Selecção de sub-20, em 1991.

Aquando desta segunda conquista, aliás, o jovem gozava já de experiência internacional, enquanto parte da equipa de reservas do 'gigante' Atlético de Madrid, pela qal realizaria trinta jogos durante a primeira época completa dos anos 90, contribuindo com nove golos. Sem espaço nos 'colchoneros', o jovem seria, no entanto, 'devolvido à precedência' na temporada seguinte, que passaria a reafirmar-se como estrela do clube que o revelara, que ajudaria mesmo a conquistar a Taça de Portugal de 1991-92, contra o rival nortenho que, em tempos, o havia rejeitado. Previsivelmente, as suas exibições ao longo da referida temporada não tardaram a atrair novamente a atenção de um clube maior, mas, desta vez, a proposta veio de 'dentro de portas' - concretamente, do Benfica, clube com o qual ficaria associado durante a meia década seguinte.

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Durante a breve passagem pelo Atlético de Madrid, em inícios da década de 90

De facto, foi nos 'encarnados' de Lisboa que João Vieira Pinto verdadeiramente atingiu e cimentou o estatuto histórico de que gozou durante os últimos anos do século XX. Mesmo após um 'susto' que quase ameaçou terminar-lhe com a carreira (um pneumotórax contraído durante um jogo de qualificação para o Mundial de 1994) o eterno 'Menino de Ouro' benfiquista continuou a afirmar-se, época após época, como um dos melhores jogadores portugueses da sua geração, atingindo o estatuto de capitão e referência da equipa, bem como de ídolo incontestado dos adeptos. No total, foram mais de duzentos e vinte os jogos de 'JVP' de águia ao peito, entre os quais se contam exibições tão históricas quanto a do famoso 'derby' lisboeta de 1994, em que dizimou quase por si só o eterno rival do Benfica. Tal era a importância do '8' para o jogo dos encarnados, aliás, que o mesmo viria, inclusivamente, a assinar um contrato vitalício com o clube, em finais da década, já depois de ter sido um dos poucos pontos altos 'daquela' equipa orientada por Graeme Souness.

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Com a camisola que o tornaria famoso.

Tendo tudo isto em conta, terá sido com pasmo, choque e até fúria justificada que os adeptos benfiquistas viram o seu símbolo ser, na 'virada' do Milénio, dispensado a custo zero pelo então presidente Vale e Azevedo, e prontamente realizar a viagem até ao outro lado da Segunda Circular para reforçar o rival - isto já depois de ter sido, enquanto jogador livre, uma das figuras da honrosa campanha portuguesa no Euro 2000.

O crucial golo que cimentou a vitória de Portugal sobre a Inglaterra, no Euro 2000.

Para piorar ainda mais a situação, na sua segunda época de verde e branco, João Pinto conseguiria o feito que sempre lhe escapara em seis anos de Benfica, sagrando-se Campeão Nacional de 2001-2002, naquele que seria o segundo título do Sporting em três épocas. Seguiram-se mais duas épocas, sempre como figura fulcral dos 'Leões', pelos quais realizaria cerca de cento e quinze jogos, marcando quase seis dezenas e meia de golos e servindo como 'assistente' para nomes como Mário Jardel, Marius Niculae e até um jovem extremo madeirense de talento fora do vulgar, de nome próprio Cristiano...

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Ao serviço do Sporting.

Este 'segundo estado de graça' de João Pinto não ficou, no entanto, imune a algumas controvérsias - a maior das quais custaria a Portugal uma vitória importante no Mundial de 2002, na Coreia e Japão, palco do famoso murro de JVP ao árbitro espanhol Ángel Sánchez, após o mesmo lhe ter mostrado o cartão vermelho, que resultaria na suspensão do avançado de jogos internacionais por um período de seis meses. Também bem conhecida era a sua animosidade em relação a Paulinho Santos - a qual era, aliás, reciprocada pelo belicoso ícone da fase 'sarrafeira' do Futebol Clube do Porto.

O momento que terminaria a carreira internacional de João Pinto.

Estes incidentes não deixaram de afectar mentalmente o jogador que, após o término da carreira internacional e duas épocas medianas no Sporting, se veria novamente na condição de jogador livre, e de volta a 'casa', envergando pela terceira vez a camisola axadrezada, desta vez enquanto jogador experiente e 'patrão' da equipa. Esta terceira incursão de Pinto pelo clube que o revelara saldar-se-ia em pouco menos de setenta jogos em duas épocas, com mais onze golos a juntar ao seu pecúlio pessoal.

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No regresso ao Boavista.

Seria um fim de carreira digno para um dos pilares da 'Geração de Ouro', no clube que o ajudara a lançar, mas JVP optaria por realizar, ainda, mais uma época ao mais alto nível, ao serviço do Sporting de Braga, onde viria a encerrar definitivamente actividades após uma época e meia como titular quase indiscutível.

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No Braga.

Apesar de ainda ter realizado testes junto do Toronto FC, clube canadiano então na Major League Soccer, o eterno '8' da Selecção viria mesmo a 'pendurar as botas' em Fevereiro de 2008, transitando mais tarde para cargos de dirigente no seio da Federação Portuguesa de Futebol. Não terminava aí, no entanto, o legado da família Pinto no mundo do futebol, já que o jogador deixava um 'herdeiro', Tiago, defesa-esquerdo formado no Sporting e que continua a prosseguir uma carreira honrosa até aos dias de hoje, jogando actualmente pelo Ankaragucu, da Turquia.

Quanto ao pai, uma análise global à sua carreira deixa a imagem de um jogador que, sem nunca ter vingado a nível internacional ou mundial, não deixou de ter uma carreira extraordinária 'dentro de portas' e enquanto esteio da Selecção Nacional, reunindo muitas vezes o consenso até junto de adeptos rivais dos clubes que representava - entre eles este que vos escreve, nos tempos em que o médio ofensivo actuava no Benfica. Fica aqui, pois, a nossa singela e sentida homenagem a um dos melhores jogadores que tivemos o prazer de ver jogar; parabéns, JVP, e obrigado por tudo.

Talvez o momento áureo da carreira de João Pinto.

19.08.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

O Verão em Portugal é, em larga medida, sinónimo de idas à praia, piscina ou parque aquático - e estas, por sua vez, trazem associada toda uma série de brinquedos e produtos específicos. Já há algum tempo aqui falámos de um deles - os colchões insufláveis - e chega, agora, a altura de falarmos de outro, nomeadamente as pranchas de 'bodyboard' concebidas especialmente para crianças.

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Exemplo moderno dos produtos em causa.

Ainda hoje disponíveis em muitas lojas de praia - embora bastante menos comuns no areal em si do que em tempos já foram - estas pranchas constituíram, para muitas crianças dos anos 90, o primeiro contacto com os desportos aquáticos que tanto fascinavam a juventude da época; e ainda que não fossem, nem de longe, resistentes o suficiente para enfrentarem mesmo as ondas mais pequenas, estavam mais do que à altura da tarefa de emular, na orla da água, os 'verdadeiros' surfistas e 'bodyboarders' que explanavam os seus truques alguns metros mais à frente. Com algum jeito, era até possível fazer estas pranchas deslizar pela areia molhada, ao estilo 'skimboard', algo que não deixava de deliciar a demografia-alvo.

Assim, não é de admirar que estas pranchas se tornassem rapidamente, para quem as tinha, apetrecho indispensável de cada ida à praia - tão impossível de ser esquecido como o balde, as forminhas ou as raquetes - e, para quem não tinha, objecto de cobiça, que fazia sonhar com o momento em que também esses pudessem revoltear sobre a rebentação baixa à beira-mar, a 'treinar' para quando, anos mais tarde, pudessem verdadeiramente tornar-se desportistas radicais marítimos - um objectivo que as escolas de surf tornam, hoje, mais fácil, tornando as pranchas de brincar algo obsoletas. Ainda assim, para quem viveu no tempo em que nem tudo estava, ainda, largamente disponível, estes brinquedos terão, sem dúvida, marcado época, e contribuído para muitos Sábados aos Saltos durante as férias de Verão na praia...

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

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Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

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O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

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Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

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Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

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Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

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