28.06.23
A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.
Nos quase cem anos desde a sua criação, o Rato Mickey tornou-se não apenas o símbolo e mascote da companhia que o concebeu, mas um dos mais populares e instantaneamente reconhecíveis personagens da cultura popular moderna. Tendo feito história desde a sua primeira aparição (o seu desenho animado de estreia, 'Steamboat Willy', assinalaria a primeira tentativa de sincronização de som e imagem neste tipo de conteúdo), o rato que originalmente seria um coelho viria, ao longo ds décadas, a tornar-se protagonista de inúmeros programas televisivos, obras cinematográficas e, claro, de um número astronómico de artigos de merchandising e tiras e histórias de banda desenhada. Assim, não é de admirar que a editora oficial das revistas Disney em solo lusitano tenha querido marcar as efemérides dos sessenta, sessenta e cinco e setenta anos da criação do mais ilustre de todos os ratos com edições especiais comemorativas da ilustre trajectória do personagem no campo da BD.
Mas se 'Mickey 60 Anos', lançado em 1988, foi a verdadeira definição de uma edição de luxo – com três volumes encadernados, cada um deles respeitante a duas das então seis décadas de vida do personagem, oferecendo uma visão verdadeiramente global da sua evolução – o mesmo não se pode, infelizmente, dizer a respeito da edição lançada seis anos depois, que pouco mais foi do que um lançamento perfeitamente normal com uma capa mais 'bonita', não tendo a Abril tido, sequer, o cuidado de a lançar no ano correcto!
De facto, enquanto que as seis décadas e meia da criação de Mickey se haviam celebrado em 1993, a revista alusiva aos mesmos seria lançada apenas a 28 de Junho do ano seguinte (há exactos vinte e nove anos), vários meses após a comemoração da efeméride! Mais: apesar de contar com o mesmo tratamento 'encadernado' do seu antecessor, este lançamento não contava com qualquer do material informativo típico deste tipo de publicação, e as histórias de que se compunha eram maioritariamente modernas, sendo a mais antiga de 1979, e a maioria de entre 1980 e 1986. E, claro, muitas delas com os horríveis traços italianos que começavam, cada vez mais, a 'infestar' as publicações Disney portuguesas daquela época.
Ainda assim, nem tudo é negativo: além de ter muito que ler (são 260 páginas e nada menos que vinte e quatro histórias), este livro é um 'prato cheio' para fãs das aventuras mais detectivescas de Mickey e do seu inseparável amigo Pateta, que constituem a grande maioria do conteúdo desta publicação. Fica, no entanto, a sensação de 'oportunidade perdida' por parte da Abril Jovem, que já havia demonstrado ser capaz de editar algo verdadeiramente especial, mas que, nesta instância, não apresenta nada que o leitor comum da época não pudesse encontrar num qualquer volume da série Hiper Disney, e que justificasse os quase setecentos escudos (quase três semanadas ou dois-terços de uma mesada da maioria do público alvo!) que custava. De relevo, portanto, apenas a própria natureza comemorativa do livro, bem como a coincidência de ter sido lançado há precisamente vinte e nove anos aquando da escrita deste 'post'.
Felizmente, a Abril 'emendaria a mão' (ainda que apenas parcialmente) com o lançamento comemorativo dos setenta anos da 'cara' da Walt Disney, que seria dividida em dois volumes e contaria com secções informativas e até tiras antigas do personagem. Desse lançamento, no entanto, falaremos no próximo ano, aquando do quarto de século da sua edição...