Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há pouco menos de um ano atrás, falámos num dos nossos 'posts' sobre a emoção que representava para uma criança dos anos 90 ir assistir, ao vivo, a um espectáculo de Circo de Natal, normalmente através da(s) empresa(s) dos pais ou em visita de estudo com a escola. No entanto, e apesar de os referidos circos se espalharem, durante a época natalícia por quase todo o território português, haveria ainda, certamente, quem não tivesse oportunidade de visitar em pessoa a tenda listrada – e, nessa instância, apenas restava uma alternativa a quem queria admirar feitos impossíveis, rir dos palhaços ou emocionar-se com os sempre controversos números com animais: a emissão do 'Circo de Natal' apresentada por quase todas as televisões portuguesas da época.

Um marco perene da programação de Natal de finais do século XX (tão inevitáveis e esperados nas grelhas de 24 ou 25 de Dezembro como a 'Benção Urbi et Orbi' no Dia de Páscoa) os programas de Circo da época dividiam-se em dois grandes tipos: por um lado, as simples filmagens do espectáculo apresentado nesse ano pelos Circos Chen ou Cardinali situados em Lisboa ou no Porto, e por outro as transmissões de espectáculos de circo estrangeiros, normalmente de uma companhia prestigiada como o Circo do Mónaco; e ainda que nenhuma das duas opções enchesse totalmente as medidas ou conseguisse capturar a experiência de ver aqueles números ao vivo – os programas com base em circos portugueses, em particular, faziam ter vontade de 'estar lá' – ambos constituíam uma boa maneira de passar algumas horas da manhã de feriado, depois de já ter aberto todos os presentes e antes de sair para o almoço de Natal em casa da avó.

Ao contrário do que acontece com muitos dos programas que aqui abordamos, o Circo de Natal mantém-se intacto na grelha natalícia das televisões portuguesas – de facto, quem ligar a televisão nas próximas semanas deparar-se-à, provavelmente, com um programa em tudo semelhante aos da sua infância, sendo a única diferença, talvez, a dupla de apresentadores famosos, prontos a comentar os feitos dos artistas da companhia; uma prova cabal de que nem tudo mudou na sociedade actual por comparação à daquela época e de que, mesmo com todas as controvérsias que hoje a rodeiam, esta forma de arte continua, para muitos portugueses de todas as idades, a ser parte integrante da tradição natalícia, e tão sinónima com a mesma como o era naqueles anos 90.

29.11.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A influência do futebol na sociedade portuguesa (e sobretudo entre o sector masculino) sempre foi, e continua a ser, famosamente transversal, afectando desde grelhas de programação televisiva ao funcionamento de negócios e estabelecimentos. O segmento mais jovem da referida demografia não é, de todo, excepção – pelo contrário, as crianças, adolescentes e jovens adultos encontram-se entre os mais fervorosos seguidores e adeptos do 'desporto-rei'.

Assim, não é, de todo, de estranhar que, em meados dos anos 90, um executivo de televisão tenha tido a ideia de incorporar o futebol, e os eternos 'despiques' que provoca mesmo entre os melhores amigos, num formato televisivo de cariz competitivo e dirigido a um público jovem – e ainda menos que o mesmo se tenha revelado um enorme sucesso entre os mesmos durante o período em que esteve no ar, já que reunia dois dos seus elementos favoritos: o futebol e a competição intelectual.

donosjogo.jpg

O programa em causa, que levava o título de 'Os Donos da Bola', faria a sua estreia na SIC algures em 1994, captando as audiências da hora do almoço e conseguindo alguma tracção entre o segmento a que se destinava pelo bom e velho método do 'passa-palavra', ainda hoje uma das principais medidas do sucesso de QUALQUER produto ou serviço junto do público jovem.

Encabeçado por um jovem que, alguns anos mais tarde, se transformaria num dos nomes de referência da programação de entretenimento em Portugal - e, ainda mais tarde, em verdadeiro profissional do desporto-rei - de nome Jorge Gabriel, o concurso propunha um 'derby' entre dois concorrentes – cada um representando o seu clube de eleição - que procuravam 'marcar golos' um ao outro através da resposta correcta a perguntas sobre o mundo do futebol, sendo o progresso de cada um mostrado mediante uma (hoje rudimentar, mas à época entusiasmante) simulação computorizada. Começando 'de trás', na hoje chamada 'fase de construção', era objectivo de cada um dos jogadores conseguir avançar o mais possível campo afora, correspondendo cada resposta correcta a um passo (ou 'passe') em frente no 'relvado' virtual. A complicação advinha do facto de as respostas irem aumentando de dificuldade à medida que a 'bola' progredia, tornando-se francamente difíceis no sector mais atacante – uma mecânica que, ainda que de forma básica, acabava por reflectir o cariz do próprio futebol enquanto desporto.

Exemplo do conceito do jogo 'em acção'.

Uma fórmula, no cômputo geral, até bastante simples, mas por isso mesmo bem eficaz, que permitiu ao concurso ficar no ar durante três anos e mais de 600 emissões - vindo finalmente a ser cancelado algures em 1997 – e que chegou mesmo a suscitar uma tentativa de transladação do conceito para um formato caseiro, estilo 'jogo de tabuleiro', embora neste caso sem grande sucesso – ao que parecia, os jovens preferiam ver dois concorrentes 'espalhar-se ao comprido' na resposta a perguntas sobre desporto, do que correrem eles mesmos esse risco. Ainda assim, e apesar deste ligeiro 'soluço' a nível comercial, 'Os Donos da Bola' foi um programa que, na sua época, deu que falar, encontrou e reteve a sua audiência e implementou satisfatoriamente um conceito novo, único e original, não se podendo, por isso, considerar nada menos do que um retumbante sucesso (mais um de entre muitos à época) para a ainda jovem mas já bem estabelecida estação de Carnaxide.

15.11.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Desde a criação deste blog, e desta secção em particular, temos vindo a recordar inúmeros exemplos de programas infanto-juvenis memoráveis transmitidos nos anos 90, quer no tocante a blocos de desenhos animados, como o Buereré, a Casa do Tio Carlos, o Mix-Max, o Brinca Brincando ou o Batatoon, quer a concursos, como a Arca de Noé, Tal Pai, Tal Filho ou o(s) programa(s) que hoje aqui abordamos: o Circo Alegria, e a sua 'continuação não-oficial', o 'Vamos ao Circo'.

21109648_kKsdM.jpeg

Logotipo do 'Circo Alegria', o primeiro dos dois programas em análise.

E já que acima mencionámos o Batatoon, convém, desde logo, começar por referir que estes dois programas forneceram à maioria das crianças portuguesas o primeiro grande contacto com aquela que se viria a tornar a dupla de palhaços mais conhecida e famosa de Portugal, muito graças ao referido bloco vespertino de desenhos animados; sim, o concurso estreado em 1992 pela RTP, e 'repescado' dois anos mais tarde pela TVI, marca a génese da parceria entre António Branco, o Batatinha, e Paulo Guilherme, o Companhia - então com aparência e maquiagem algo diferentes, mas já com as personalidades, dinâmica e 'timings' bem definidos, tornando os seus segmentos um dos pontos altos de cada episódio (como, aliás, o foram depois no Batatoon).

22211588_6QWHI.png

O visual de Batatinha à época, algures entre o ex-parceiro Croquete e o aterrorizante Pennywise.

Ao contrário do espaço que os tornaria famosos, no entanto, o foco do 'Circo Alegria' e do 'Vamos ao Circo' eram, não os desenhos animados, mas as provas fisicas, sempre disputadas entre duas equipas seleccionadas de entre as escolas que compunham a plateia (uma prática, aliás, bastante comum em programas de auditório infanto-juvenis da época, que nunca deixavam de contar com pelo menos um estabelecimento de ensino entre o público presente em estúdio.) Pelo meio, além das interacções entre Batatinha e a sua perene 'pulga no sapato' Companhia, ficavam ainda números musicais com artistas convidados 'da moda' (outra prática quase obrigatória em programas deste tipo à época) e, claro, as algo atrevidas sugestões do apresentador à bela assistente feminina, mediante o icónico 'Ó Mimi, apita aqui!' (que a dita talvez tenha levado a peito, motivando a sua substituição, aquando da transição para a TVI, por uma nova Mimi, de cabelo mais escuro...) De referir ainda que, além da Mimi e do inevitável Companhia, estes dois programas marcam, também, a estreia de Honório e Finório, a dupla de 'assistentes de circo' silenciosos e expressivos que acompanhariam os apresentadores até ao final da sua carreira como dupla.

Exemplo dos segmentos humorísticos do programa (crédito: Desenhos Animados PT)

No fundo, dois programas bastante parecidos, que não só estabeleceram o duo Batatinha e Companhia como grande favorito das crianças (estatuto que o Batatoon viria, mais tarde, a cimentar) como também marcaram época durante a primeira metade dos anos 90, fazendo ainda hoje parte da memória de muitos dos ex-jovens que, tarde após tarde, acompanharam com regozijo tanto as peripécias dos dois palhaços como as provas por eles engendradas, e disputadas por participantes da sua própria faixa etária. Razões mais que suficientes, portanto, para recordarmos ambos os (francamente, indissociáveis) programas, precisamente no ano em que a versão transmitida pela RTP celebra trinta anos sobre a sua primeira emissão, e a da TVI, vinte e cinco sobre a última...

Um dos programas do Natal de 1992

07.11.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

E porque na semana transacta se celebrou o Halloween, e na última Segunda de Séries (na semana anterior) falámos de um programa de teor educativo de grande sucesso em Portugal, porque não abordar, desta feita, uma série que combina precisamente o didatismo com uma estética de fantasia, repleta de morcegos, bruxas, gigantes e dragões?

17881799_yBTts.jpeg

O logotipo tal como surgia nas transmissões portuguesas, estranhamente sem o nome do programa ao centro.

Trata-se de 'O Castelo da Eureeka', importação americana que – sem ter sido tão bem sucedida ou ser hoje tão lembrada como as lendárias 'Rua Sésamo' e 'Carrinha Mágica', com ambas as quais partilha alguns elementos – conseguiu ainda assim captar o interesse e cativar a parcela mais nova da demografia infanto-juvenil aquando das suas duas transmissões em Portugal. A razão para tal é simples – tal como qualquer das suas duas antecessoras, trata-se de um programa cuidado, que não descura a componente lúdica e humorística na sua missão de ensinar valores ao público-alvo (um dos co-criadores da série é, aliás, R. L. Stine, ele que, na mesma altura, se notabilizava como autor de uma das mais populares séries de livros infantis a nível mundial, a colecção 'Arrepios', que chegaria às bancas portuguesas já depois de Eureeka se ter despedido das ondass televisivas.)

Conceptualmente, 'Eureeka' aproxima-se bastante do formato da 'Rua Sésamo' (quer da original americana, quer da versão portuguesa) embora, ao contrário desta, com uso exclusivo de fantoches – as únicas pessoas de 'carne e osso' a surgir no programa eram os participantes em segmentos de entrevista, um dos muitos tipos de conteúdo apresentado em meio ao conflito central de cada episódio, numa abordagem, também ela, semelhante à da congénere em causa.

E, também como a Rua Sésamo, 'Castelo da Eureeka' tinha a sua quota-parte de personagens memoráveis, a começar na desenvolta 'dona' do castelo, uma jovem bruxa de penteado imponente, e passando pela fonte viva e cantante, pelo tímido e atrapalhado dragão Magalhães (um personagem muito semelhante ao Pateta, da Disney) pelo desastrado (e estrábico) morcego Cai-Cai, de quem o nome diz tudo, e por uma dupla de 'criaturas do pântano' de enormes braços e pernas e voz esganiçada, que podia ter saído da famosa oficina de criaturas de Jim Henson para fazer parte de um dos grupos de monstros da Rua Sésamo. Juntamente com outros personagens residentes no castelo-caixa-de-música pertencente a um gigante (e que, como eles, ganhavam vida quando o mesmo dava corda ao seu 'brinquedo') este núcleo procurava lidar da melhor maneira com pequenos problemas do dia-a-dia, num formato 'slice-of-life' que, quando bem feito, é sempre bem do agrado das crianças.

0098afe25baa81fe630c3c7b34690a4b.jpg

O elenco do programa tinha algumas personalidades memoráveis.

Talvez por isso – ou talvez por causa do seu contagiante genérico, num daqueles casos em que a música de abertura é mesmo o melhor elemento de um todo já de si forte – Eureeka e os seus amigos tenham conquistado pequenos fãs aquando das suas passagem por Portugal - a primeira, que completa trinta anos a de 31 de Dezembro de 1992, bem cedo, no bloco das manhãs de fim-de-semana do então Canal 1, e a segunda, alguns anos mais tarde, na 'irmã' mais 'culta e adulta' – embora, conforme já referimos, tivesse ficado muito longe dos níveis de penetração social das suas concorrentes directas, não chegando a merecer a transmissão de todas as seis temporadas de que gozou nos EUA. Apesar disso, no entanto, esta divertida série não deixa de ser um exemplo válido do chamado 'edutenimento' dirigido a crianças e jovens produzido durante a década de 90, e parte integrante (e nostálgica) da infância de muitos ex-'putos' da época.

O contagiante genérico de abertura da série, talvez o seu elemento mais memorável

O genérico final do programa.

Um excerto ilustrativo do tipo de abordagem a cada episódio.

 

04.10.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em plena era dos canais por cabo e do 'streaming', pode ser fácil esquecer que, até há bem pouco tempo, a escolha dos telespectadores portugueses se encontrava limitada a um dos dois canais estatais; de facto, celebram-se esta semana (mais precisamente na próxima Quinta-feira, dia 6 de Outubro) apenas trinta anos sobre o aparecimento da primeira alternativa às duas RTPs, e primeiro canal de televisão privado a transmitir em Portugal – a SIC.

unnamed.jpg

Idealizada desde 1986, mas inaugurada apenas seis anos depois, a Sociedade Independente de Comunicação surgia como fruto de uma 'joint venture' que juntava diversas das maiores empresas portuguesas do sector da comunicação a diversas entidades financeiras, instituições como a Universidade Nova de Lisboa, e ainda a Rede Globo, principal rede televisiva do Brasil, e produtora por excelência de telenovelas, muitas das quais a SIC viria a exibir. Para director geral e de programação foi, aliás, escolhido outro brasileiro, Emídio Rangel – um nome a que nenhum espectador português da época será, certamente, indiferente, dado passar por ele grande parte do sucesso dos primeiros anos da emissora.

emidio-rangel.jpg

Emídio Rangel, a mente por detrás do sucesso dos primeiros anos da SIC

De facto, ao contrário da 'irmã mais nova' TVI (cujos primeiros anos seriam algo titubeantes e dependentes do acervo de programação disponível) a SIC apresentou-se, desde o seu arranque, como um canal de personalidade já bem vincada e definida, assumindo desde logo um maior foco no entretenimento - e, neste campo, Ediberto brilhava, não só importando a 'nata' da programação do seu país natal, mas também idealizando ele próprio conceitos que se viriam a revelar sucessos de audiências, e a tornar-se quase sinónimos com o canal, como o 'Big Show Sic', o 'Buereré', o 'Ponto de Encontro', o 'Chuva de Estrelas', 'O Juiz Decide', 'Perdoa-me' ou 'Fátima Lopes', entre muitos outros programas históricos do canal.

Esta capacidade do brasileiro em discernir o que o público queria ver e o tornar realidade foi, aliás, um dos principais factores por detrás da primeira década quase 'perfeita' de que o canal de Carnaxide gozou, tornando-se líder de audiências apenas três anos após a sua primeira transmissão, e adicionando um sem-número de programas ao 'léxico' televisivo dos portugueses; foram, também, de Rangel as ideias para a cerimónia dos Globos de Ouro (uma espécie de 'Oscars' do canal, ainda hoje vigentes) e para os canais de 'expansão' para a rede TV Cabo que a emissora viria a lançar já no novo milénio, como a SIC Gold, SIC Notícias e, claro, a inesquecível SIC Radical – todos eles, também, ainda hoje presentes na grelha do cabo.

download.jpg

A primeira gala dos Globos de Ouro, transmitida em 1996

Apesar do seu papel preponderante no sucesso inicial da emissora, no entanto, a saída de Rangel para a RTP não abrandou o crescimento da SIC, antes pelo contrário - Manuel Fonseca, Francisco Penim, Nuno Santos e os restantes directores de programação não só conseguiram manter o nível de sucesso conseguido pelo director inaugural da estação, como o expandiram, sem por isso comprometer a identidade da estação; aliás, a SIC de hoje em dia é, ainda, reconhecivelmente a mesma emissora que projectou a sua canção de abertura às primeiras horas da manhã de 6 de Outubro de 1992 – um feito admirável, que a 'rival' TVI não almejou replicar, e que torna ainda mais justa esta homenagem à estação de Carnaxide, na semana do seu 30º aniversário. Parabéns, SIC – e que contes mais 30!

20.09.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

No mundo do entretenimento, é raro o produto que consegue 'sobreviver' mais do que alguns anos – e a televisão não é, de todo, excepção a esta regra – antes pelo contrário, à excepção dos óbvios Telejornais (e mesmo esses têm de 'lavar' periodicamente a 'cara', para reflectir as mudanças de 'visual' da sua estação, ou da televisão em geral) os registos de programas com longevidade de mais do que uma mão-cheia de anos prima por escasso. Este paradigma torna-se ainda mais evidente no caso dos concursos, os quais tendem a diminuir de interesse para o público-alvo conforme os anos vão passando, e a fórmula, progressivamente, estagnando.

Assim, a existência de um programa deste tipo que se consegue manter no ar durante literalmente décadas (ainda que nem sempre de forma consecutiva) sem praticamente alterar a sua fórmula não deixa de ser de louvar - e, assim sendo, há que tecer loas a uma das 'pedras basilares' da programação da RTP durante as últimas três décadas, o mítico 'O Preço Certo'.

Capture.PNG

O logotipo da versão original do programa.

Transmitido pela primeira vez há quase exactos trinta e dois anos – a 17 de Setembro de 1990 – a lendária adaptação portuguesa do formato americano 'The Price Is Right' ocupou por duas vezes lugar de honra na grelha da televisão estatal: a primeira até 1993, com apresentação de Carlos Cruz e (mais tarde) Nicolau Breyner, e a segunda, e quiçá mais famosa, a partir de 2002, com o inicialmente escalado Jorge Gabriel a ceder rapidamente o seu lugar àquele que talvez seja o nome mais prontamente associado com o concurso, e que ainda hoje continua à frente do mesmo - Fernando Mendes.

maxresdefault.jpg

Os quatro apresentadores do programa, cada um marcante à sua maneira.

Notavelmente, e conforme referido acima, ambas as iterações do concurso apresentavam precisamente a mesma fórmula-base, mesmo não sendo exactamente iguais: quatro concorrentes tentam adivinhar o preço de um produto, ganhando quem mais se aproximar do montante correcto; o vencedor é, então, desafiado a completar uma prova intermédia, que lhe permite acesso à 'Grande Roda', onde o objectivo é conseguir, em apenas duas tentativas, um valor o mais próximo possível de cem. Terminada a ronda, um novo elemento da plateira substitui o concorrente demissionário, e o ciclo recomeça, até terem jogado um total de seis concorrentes; no final, ganha o jogador que, na prova da 'Grande Roda', mais perto tenha ficado do valor-alvo de cem, tendo este, ainda, pela frente uma última prova – a de estimar o 'Preço Certo' dos prémios incluídos na apetecível montra final.

Um formato desafiante, em que o sucesso e respectiva premiação estavam longe de ser garantidos – pelo contrário, não faltava quem 'rebentasse' a escala de valores algures pelo caminho e fosse para casa de mãos a abanar; no entanto, residia precisamente aí o apelo do concurso, que era (e é) exímio em criar uma dicotomia entre querer 'torcer' pelos concorrentes e desejar, secretamente, que os mesmos sobre-estimassem. A esta dualidade algo pérfida há, ainda, que juntar o carismático e característico 'voice-off' de Cândido Mota (que também dava voz a outro clássico de inícios dos 'noventas', 'A Roda da Sorte'), as belas assistentes (com destaque óbvio para Lenka da Silva) e os não menos carismáticos apresentadores, que, cada um à sua maneira, conseguiam cativar e conquistar as diferentes demografias que sintonizavam o programa (e se os espectadores mais novos associam o concurso ao estilo frenético, brejeiro e bem-humorado de Fernando Mendes, as gerações mais velhas talvez se recordem, sobretudo, da abordagem mais sofisticada dos originais Cruz e Breyner).

Exemplo do estilo de apresentação de Carlos Cruz, bastante diferente do do actual anfitrião, Fernando Mendes.

Seja qual fôr a versão que lhes tenha prendido a atenção em pequenos, no entanto, a maioria dos portugueses certamente não negará o estatuto de clássico televisivo a 'O Preço Certo', programa que, hoje, rivaliza quase exclusivamente com os Telejornais como um dos mais longevos de toda a História da televisão portuguesa moderna, contando já com quase 4000 emissões totais, incluindo vários especiais comemorativos, transmitidos em directo a partir de grandes salas de espectáculos de todo o País – o que, para um concurso, constitui nada menos do que um feito...

 

07.09.22

NOTA: Este post é correspondente a Terça-feira, 06 de Setembro de 2022.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Para quem foi adolescente em Portugal na ponta final do século XX e inícios do novo milénio, os nomes de Rui Unas e Fernando Alvim terão, decerto, um significado bastante distinto do que têm para os restantes dos comuns mortais; isto porque, enquanto a população geral conhece estes dois homens, sobretudo, pelo seu trabalho no popular '5 Para a Meia-Noite', da RTP1, para os jovens daquele tempo os mesmos são não só 'uns gandas malucos', como a melhor dupla de apresentadores de sempre de um dos melhores programas televisivos juvenis de sempre.

download.jpg

Estreado mesmo na recta final do século XX, a 15 de Setembro de 1999, o 'Curto Circuito' (ou 'CC', como era familiarmente conhecido) deu aos jovens daquele final de Segundo Milénio e inícios de Terceiro aquilo que eles já de há muito não tinham – um espaço verdadeiramente dirigido a si, e aos seus interesses, que oferecia, sem condescendências nem paternalismos, informações sobre cinema, música, videojogos, tecnologia, desporto, e até alguns temas 'de debate', sempre dentro de campos relevantes para a demografia-alvo. Escusado será dizer que a fórmula criada por Unas e Pedro Miguel Paiva foi abraçada quase de imediato por essa mesma demografia, para quem o programa – que, à época, contava com uma cara bem conhecida dos jovens portugueses como coadjuvante de Unas, no caso Rita Mendes, do Templo dos Jogos – constituía a única razão para sintonizar o hoje defunto CNL (ou Canal de Notícias de Lisboa) onde o formato começou por ganhar vida.

Rapidamente, no entanto, se tornou igualmente óbvio que o 'CC' era demasiado 'grande' para os confins daquele modesto canal, e não tardou até o programa ter nova casa; escassos dezoito meses após a sua estreia, e após uma estadia (muito) temporária no então Canal Programação da TV Cabo (e já com Alvim a fazer parelha com o 'maluco' Unas) o formato é escolhido como 'âncora' de um novo projecto ligado à SIC – um canal totalmente dirigido e dedicado ao público jovem, que levaria o nome de SIC Radical.

naom_55e7e811158fc.jpg

Os 'gandas malucos'  originais ...

Do que se segue, reza a História da televisão portuguesa: dois apresentadores em absoluto estado de graça, um programa que cresce e se expande paralelamente ao canal que representa (e com idêntico grau de sucesso), bonecos amarelos, segmentos e rubricas que adquirem estatuto de culto (como o espaço dedicado ao rock pesado apresentado semanalmente por António Freitas), e a passagem progressiva de testemunho a outros futuros ídolos da juventude lusa, dos quais se destacam nomes hoje tão conhecidos como Diogo Beja, Pedro Ribeiro – já bem conhecido desse mesmo público enquanto apresentador de outro 'clássico' da década de 90, o Top + - João Manzarra, Diogo Valsassina e, claro, Bruno Nogueira, talvez o mais incontornável e consensual apresentador do programa desde a dissolução do duo Unas/Alvim, e ainda hoje um dos mais populares comediantes nacionais.

mqdefault.jpg

...e o outro grande 'duo dinâmico' do programa

Infelizmente, os conteúdos do programa em si nem sempre acompanharam a qualidade da apresentação, sendo o período com apresentação de Bruno Nogueira e Carla Salgueiro normalmente considerado o último grande momento do 'CC' antes do declínio; ainda assim, as sucessivas gerações de espectadores do programa claramente não pareceram incomodados, como se pode comprovar pelo facto de o programa continuar no ar até aos dias de hoje, quase exactamente vinte e três anos após a sua primeira emissão, posicionando-se assim - a par de formatos lendários como 'O Preço Certo em Euros' – como um dos mais longevos programas da televisão portuguesa actual - proeza que consegue sem nunca se ter desviado do seu objectivo inicial, e tendo mantido sensivelmente o mesmo formato, um feito admirável, independentemente do que se pense sobre o estado do programa hoje em dia.

Quem 'esteve lá' no início, no entanto, sabe que, por melhor que o 'CC' actual seja, tempos houve em que o programa conseguiu ser, ainda, muito, muito melhor, e constituir a referência que a 'malta jovem' daquele tempo tanto procurava – tempos esses que esperamos ter conseguido reviver (ainda que apenas parcialmente) nestas breves linhas de tributo a um dos mais históricos formatos para jovens da História da televisão portuguesa moderna.

O 'ganda maluco' Rui Unas com a verdadeira estrela da fase inicial do programa

24.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 23 de Agosto de 2022.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O conceito de 'programa de Verão' traz, normalmente, à memória imagens de apresentadores saltitantes e artificialmente entusiasmados e artistas 'pimba' fazendo 'playback' dos seus mais recentes êxitos. Trata-se de uma fórmula com décadas de existência e que, pelo sucesso que sempre vem acarretando, dificlmente é ou virá a ser alvo de grandes alterações - de facto, o mais provável é que qualquer português que ligue a televisão durante uma tarde de fim-de-semana deste mesmo Verão de 2022 dê de caras com um exemplo deste tipo de programa, que nem a pandemia de COVID-19 conseguiu travar, muito menos 'matar'.

Apesar de o ditado popular rezar que 'em equipa que ganha, não se mexe', no entanto, foi precisamente isso que a SIC decidiu fazer durante alguns Verões do fim do Segundo Milénio e inícios do Terceiro: criar um programa de Verão que interessasse activa e directamente ao público infanto-juvenil, especificamente ao segmento pré-adolescente e adolescente. O resultado foi o Dá-lhe Gás!, um formato centrado na realização de jogos e provas físicas de cariz competitivo e com banda sonora composta por artistas 'da moda', que viria a almejar sucesso suficiente para justificar a realização de precisamente cem programas, divididos ao longo de sete Verões.

MV5BOTUxODA1OWQtOTUzYy00MTU4LWI4OTItZDM3Y2M2YTU0ZG

Apresentado por um trio constituído por Jorge Gabriel, Raquel Prates e Catarina Pereira - todos, à época, nomes 'em alta' no segmento 'jovem' da televisão portuguesa - o concurso reunia concorrentes de escolas de todo o País, que disputavam entre si uma série de eventos de cariz físico e desportivo, muitos deles de índole 'radical', ou não fossem aqueles os anos de maior sucesso e interesse por desportos extremos em Portugal; o ambiente de entusiasmo e animação era, conforme já referimos, auxiliado pela música escolhida pela produção, que consistia de 'hits' electro-pop tão conhecidos e icónicos para a época como 'Follow The Leader', 'Blue (Da Ba Dee)', 'Ooh La La La' ou 'Samba de Janeiro' - todos, aliás presentes no alinhamento da colectânea em CD alusiva ao programa, lançada no ano 2000, um ano depois da estreia do mesmo, e durante a sua fase de maior sucesso.

R-10226527-1493719256-2761.jpg

Capa do CD alusivo à banda sonora do programa, lançado em 2000

A fórmula, no entanto, provaria ter ainda 'pernas' para se aguentar nada menos do que mais seis anos, vindo o programa a terminar apenas no Verão de 2006, quando o panorama televisivo nacional já começava, definitivamente, a distanciar-se do paradigma de finais dos anos 90, e a demografia que acompanhara o programa durante os anos anteriores perdia gradualmente o interesse no mesmo; ainda assim, essa mesma demografia não terá, decerto, deixado de criar memórias nostálgicas de tardes de Verão passadas em frente à televisão, acompanhando os esforços de outros jovens da sua idade e, certamente, desejando poder tomar parte numa edição futura do programa...

Emissão completa do programa, que, embora sem música, permite ver a estrutura e formato do mesmo.

09.08.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

De entre os géneros televisivos a gozar de maior popularidade nos anos 90, o humor talvez fosse o que estivesse mais 'em alta'; e se na televisão estatal era Herman José quem dava cartas nesse campo, os dois canais privados tinham, eles próprios, a sua quota-parte de 'ases na manga' no que a fazer rir diz respeito, tanto no que tocava a séries como a programas de entretenimento, contando, à época, com títulos tão icónicos como 'Levanta-te e Ri', 'Malucos do Riso', 'Camilo & Filho Lda', ou o formato de que falamos neste 'post', 'Paródia Nacional'.

pnacional1.jpg.w300h182.jpg

Estreado algures há vinte e cinco anos, e – como a maioria dos programas da época – baseado num formato estrangeiro (no caso, espanhol) do mesmo nome, esta mistura de programa de auditório, variedades e 'stand-up comedy' contava com um conceito relativamente original, que permitia aos próprios telespectadores criar e enviar para o programa letras humorísticas, as quais eram devidamente musicadas e interpretadas pelo grupo de cantores e bailarinos residentes do programa; no final de cada episódio, eram premiadas as três melhores de entre a meia-dúzia de paródias interpretadas.

A responsabilidade de preencher os 'espaços mortos' entre canções ficava a cargo de José Figueiras, uma daquelas figuras que (como Jorge Gabriel, João Baião ou o próprio Herman José) se tornaram, por uma razão ou outra, quase sinónimas com a apresentação de programas vagamente ou declaradamente humorísticos transmitidos na televisão portuguesa; e o mínimo que se pode dizer é que a TVI desperdiçou uma oportunidade mais do que óbvia para integrar o apresentador (famoso pela sua habilidade em canto tirolês) no próprio grupo de intérpretes, adicionando assim ainda mais interesse ao programa.

Mesmo sem este atractivo adicional, no entanto, 'Paródia Nacional' conseguiu relativo sucesso à época da sua transmissão, chegando a ser bastante falado no contexto do recreio – um sinal claro e inequívoco de que um programa deste tipo estava a resultar; e embora o seu legado não tenha, nem de perto, chegado ao de outros programas de que por aqui vamos falando de duas em duas Terças (tendo o mesmo, actualmente, sido algo Esquecido Pela Net) vale ainda assim a pena recordar aquele que foi um formato relativamente original para um programa de humor, e que chegou a marcar – ainda que apenas ao de leve – a programação de entretenimento da época, e o respectivo público-alvo.

14.06.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

No auge da 'era YouTube', em que todo e qualquer vídeo – seja profissional ou amador – está disponível em algum local da Internet, o conceito de um programa que consistia, precisamente, na exibição de vídeos caseiros e amadores afigura-se totalmente redundante e obsoleta; e no entanto, a verdade é que, na era pré-Internet, este tipo de emissão era um sucesso absoluto em várias partes do Mundo, Portugal incluído.

De facto, este formato era tão popular a nível internacional que, nos anos 90, a RTP apostou numa versão cem por cento nacional do conceito, e lhe deu honras de exibição em horário nobre (curiosamente, precisamente às Terças).

mqdefault.jpg

Intitulada 'Isto Só Vídeo', esta adaptação do clássico formato 'Funniest Home Videos' foi, durante grande parte do tempo que esteve no ar, um dos maiores sucessos da emissora estatal, e ajudou a transformar Virgílio Castelo – até então um discreto actor de teatro, para quem esta era a primeira 'aventura' no campo da apresentação televisiva – num nome reconhecido de Norte a Sul do País.

hqdefault.jpg

O carismático Virgílio Castelo tornou-se praticamente sinónimo do programa

O conceito simples mas extremamente eficaz do programa – vídeos caseiros de índole voluntária ou involuntariamente cómica, enviados por espectadores ou 'descobertos' pela produção do programa, e transformados pela produção em montagens temáticas narradas pelo próprio Castelo – aliado aos custos de produção extremamente baixos (já que o 'trabalho pesado' acabava por ser feito pelos próprios autores dos vídeos mostrados) permitiram ao programa manter-se no ar durante cinco anos, de 1992 a 1997, tendo as três primeiras temporadas sido calorosamente recebidas por parte do público nacional, que tornou a emissão um sucesso; já as últimas duas temporadas, em que Castelo era substituído pela mais fotogénica, mas menos carismática Rute Marques, padeceram de um considerável decréscimo de interesse por parte da sociedade em geral, que levaria ao inevitável cancelamento do programa, já em finais dos 90, mas ainda a alguns anos do advento dos vídeos em ambiente 'web'.

139377_UBB3Q.jpg

Rute Marques encabeçou o programa na sua fase descendente de popularidade

Ainda assim, e mesmo tendo saído pela 'porta pequena' dos ecrãs nacionais, o 'Isto Só Vídeo' constituiu, nos anos em que esteve no ar, um conceito verdadeiramente apelativo e inovador para a época, tendo divertido espectadores de todas as idades (entre eles muitas crianças e jovens, junto de quem o programa fazia furor) com o seu misto de 'acidentes' caseiros, animais e bebés a fazerem coisas engraçadas, e um ou outro vídeo obviamente encenado para parecer casual – precisamente a mesma mistura de elementos que pode, hoje em dia, ser encontrada numa pesquisa rápida no YouTube ou TikTok, inviabilizando por completo a hipótese de um programa nestes moldes alguma vez voltar a ser produzido. Fica, pois, a recordação daquele que foi um dos mais marcantes baluartes do horário nobre da RTP em inícios de 90, que toda uma geração de crianças e jovens fez por não perder todas as semanas.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub