Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
De entre os géneros televisivos a gozar de maior popularidade nos anos 90, o humor talvez fosse o que estivesse mais 'em alta'; e se na televisão estatal era HermanJosé quem dava cartas nesse campo, os dois canais privados tinham, eles próprios, a sua quota-parte de 'ases na manga' no que a fazer rir diz respeito, tanto no que tocava a séries como a programas de entretenimento, contando, à época, comtítulos tão icónicos como 'Levanta-te e Ri', 'Malucos do Riso', 'Camilo & Filho Lda', ou o formato de que falamos neste 'post', 'Paródia Nacional'.
Estreado algures há vinte e cinco anos, e – como a maioria dos programas da época – baseado num formato estrangeiro (no caso, espanhol) do mesmo nome, esta mistura de programa de auditório, variedades e 'stand-up comedy' contava com um conceito relativamente original, que permitia aos próprios telespectadores criar e enviar para o programa letras humorísticas, as quais eram devidamente musicadas e interpretadas pelo grupo de cantores e bailarinos residentes do programa; no final de cada episódio, eram premiadas as três melhores de entre a meia-dúzia de paródias interpretadas.
A responsabilidade de preencher os 'espaços mortos' entre canções ficava a cargo de José Figueiras, uma daquelas figuras que (como Jorge Gabriel, João Baião ou o próprio Herman José) se tornaram, por uma razão ou outra, quase sinónimas com a apresentação de programas vagamente ou declaradamente humorísticos transmitidos na televisão portuguesa; e o mínimo que se pode dizer é que a TVI desperdiçou uma oportunidade mais do que óbvia para integrar o apresentador (famoso pela sua habilidade em canto tirolês) no próprio grupo de intérpretes, adicionando assim ainda mais interesse ao programa.
Mesmo sem este atractivo adicional, no entanto, 'Paródia Nacional' conseguiu relativo sucesso à época da sua transmissão, chegando a ser bastante falado no contexto do recreio – um sinal claro e inequívoco de que um programa deste tipo estava a resultar; e embora o seu legado não tenha, nem de perto, chegado ao de outrosprogramas de que por aqui vamos falando de duas em duas Terças (tendo o mesmo, actualmente, sido algo Esquecido Pela Net) vale ainda assim a pena recordar aquele que foi um formato relativamente original para um programa de humor, e que chegou a marcar – ainda que apenas ao de leve – a programação de entretenimento da época, e o respectivo público-alvo.
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Quem pensa em blocos de programação infantis da TVI de finais dos anos 90, decerto pensará de imediato no lendário Batatoon, um dos maiores sucessos da História do canal, e um dos mais conhecidos e populares programas infantis de sempre em Portugal, principalmente devido à sua mirabolante grelha de desenhos animados, que incluiu séries como 'Samurai X', 'Sonic Underground', 'Navegantes da Lua', 'Homens de Negro' ou 'Digimon Adventure'; quem, no entanto, assistia ao mesmo canal aos dias de semana da parte da manhã, durante a mesma época, certamente se lembrará de um segundo programa, apresentado por uma dupla de 'bonecos' com pinta de radialistas e química a condizer que, sem nunca ter atingido os níveis de audiência do congénere das tardes da 'Quatro', apresentou ainda assim uma alternativa bem válida ao mesmo para quem tinha aulas depois do almoço.
Falamos de 'Mix Max', bloco infanto-juvenil estreado mesmo ao 'cair do pano' do novo milénio – a primeira emissão vai ao ar algures em 1999 - e que, sem bater o recorde de longevidade do Batatoon, conseguiu ainda assim permanecer nos ecrãs nacionais uns honrosos dois anos, até 2001. De conceito substancialmente diferente do programa dos palhaços Batatinha e Companhia (apesar de uma sinopse divulgada no artigo relativo ao programa do nosso congénere Desenhos Animados Anos 90 falar em audiência ao vivo, bem como de um terceiro boneco, do sexo feminino, este formato planeado nunca chegou a ser levado avante, sendo o programa uma emissão exclusivamente de estúdio e centrada no duo homónimo) este bloco vivia muito mais da qualidade e interesse dos segmentos e desenhos animados que exibia, o que poderá explicar o porquê de não ter durado tanto quanto o seu programa-irmão, cuja índole era bem mais variada; ainda assim, os apresentadores DJ Mix e MC Max – um daqueles duos de 'melhores inimigos', à semelhança dos 'colegas' Batatinha e Companhia e de personagens como Egas e Becas, da Rua Sésamo, com uma aparência que lembrava um cruzamento entre Terrence e Phillip, de 'South Park', e o famoso 'Boneco Amarelo' do 'Curto Circuito' – chegaram a ser responsáveis por proporcionar muitos e bons momentos às crianças e jovens nacionais, nomeadamente através da exibição dos excelentes 'animes' inspirados em histórias clássicas, aos quais já aqui dedicámos um 'post'.
A carismática dupla de apresentadores do programa
Ainda assim, fosse pelo horário menos ideal fosse pelo teor mais simplista do próprio conceito do programa, a verdade é que Mix e Max nunca lograram intrometer-se no 'monopólio' que Batatinha e Companhia detinham sobre os programas infantis da estação de Queluz à época – uma situação que nem um tema de abertura tão ou mais memorável que o do programa dos palhaços ajudou a alterar.
O contagiante genérico do programa não foi, infelizmente, suficiente para o tornar mais memorável junto do público-alvo.
Quem lá esteve, no entanto, sabe que este programa, apesar de 'menor', tinha ainda assim os seus méritos, nomeadamente o de proporcionar desenhos animados de qualidade a quem não conseguia estar em casa a horas de ver o 'Samurai X' ou os 'Digimon' – argumento, por si só, mais que suficiente para lhe valer a homenagem nesta rubrica do nosso blog.
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No auge da 'era YouTube', em que todo e qualquer vídeo – seja profissional ou amador – está disponível em algum local da Internet, o conceito de um programa que consistia, precisamente, na exibição de vídeos caseiros e amadores afigura-se totalmente redundante e obsoleta; e no entanto, a verdade é que, na era pré-Internet, este tipo de emissão era um sucesso absoluto em várias partes do Mundo, Portugal incluído.
De facto, este formato era tão popular a nível internacional que, nos anos 90, a RTP apostou numa versão cem por cento nacional do conceito, e lhe deu honras de exibição em horário nobre (curiosamente, precisamente às Terças).
Intitulada 'Isto Só Vídeo', esta adaptação do clássico formato 'Funniest Home Videos' foi, durante grande parte do tempo que esteve no ar, um dos maiores sucessos da emissora estatal, e ajudou a transformar Virgílio Castelo – até então um discreto actor de teatro, para quem esta era a primeira 'aventura' no campo da apresentação televisiva – num nome reconhecido de Norte a Sul do País.
O carismático Virgílio Castelo tornou-se praticamente sinónimo do programa
O conceito simples mas extremamente eficaz do programa – vídeos caseiros de índole voluntária ou involuntariamente cómica, enviados por espectadores ou 'descobertos' pela produção do programa, e transformados pela produção em montagens temáticas narradas pelo próprio Castelo – aliado aos custos de produção extremamente baixos (já que o 'trabalho pesado' acabava por ser feito pelos próprios autores dos vídeos mostrados) permitiram ao programa manter-se no ar durante cinco anos, de 1992 a 1997, tendo as três primeiras temporadas sido calorosamente recebidas por parte do público nacional, que tornou a emissão um sucesso; já as últimas duas temporadas, em que Castelo era substituído pela mais fotogénica, mas menos carismática Rute Marques, padeceram de um considerável decréscimo de interesse por parte da sociedade em geral, que levaria ao inevitável cancelamento do programa, já em finais dos 90, mas ainda a alguns anos do advento dos vídeos em ambiente 'web'.
Rute Marques encabeçou o programa na sua fase descendente de popularidade
Ainda assim, e mesmo tendo saído pela 'porta pequena' dos ecrãs nacionais, o 'Isto Só Vídeo' constituiu, nos anos em que esteve no ar, um conceito verdadeiramente apelativo e inovador para a época, tendo divertido espectadores de todas as idades (entre eles muitas crianças e jovens, junto de quem o programa fazia furor) com o seu misto de 'acidentes' caseiros, animais e bebés a fazerem coisas engraçadas, e um ou outro vídeo obviamente encenado para parecer casual – precisamente a mesma mistura de elementos que pode, hoje em dia, ser encontrada numa pesquisa rápida no YouTube ou TikTok, inviabilizando por completo a hipótese de um programa nestes moldes alguma vez voltar a ser produzido. Fica, pois, a recordação daquele que foi um dos mais marcantes baluartes do horário nobre da RTP em inícios de 90, que toda uma geração de crianças e jovens fez por não perder todas as semanas.
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Quem cresceu nos anos 90, sobretudo na primeira metade dos mesmos, certamente reconhecerá o nome de Filipe La Féria, principal instigador nacional do chamado 'Teatro de Revista', uma peculiar mistura de rábulas humorísticas e números musicais, por vezes sujeitos a um só tema, outras totalmente desconexos entre si, que vivia precisamente nessa época um 'boom' de popularidade – tanto assim que chegou a dar azo a uma versão criada especialmente para a televisão.
Transmitido semanalmente pela RTP durante os três primeiros anos da década, 'Grande Noite' não era mais nem menos do que um espectáculo de Filipe La Féria – posto em cena no histórico Teatro Politeama, parte do não menos icónico Parque Mayer lisboeta – cujas únicas particularidades eram ser gravado e conter segmentos situados em outros locais que não o palco, o que não teria sido possível no contexto de uma 'revista' normal; de resto, todos os elementos característicos do género marcavam presença, do humor brejeiro à música estilo 'cabaret'.
Muitos dos segmentos do programa consistiam de números de 'revista' tradicionais
Não eram, no entanto, apenas estes fundamentos da 'revista' que aproximavam 'Grande Noite' da verdadeira experiência de assistir a um espectáculo de La Féria; o programa contava, também, com a participação de alguns dos maiores nomes do género em Portugal, como José Viana e Carlos Quintas, além de jovens valores como Joaquim Monchique e João Baião, que em breve se viriam a tornar referências da televisão portuguesa.
Este 'sketch' do último episódio do programa reuniu num só segmento três dos maiores nomes da comédia televisiva portuguesa: Herman José, Joaquim Monchique e João Baião.
Esta mistura de veteranos e seus sucessores – todos de talento acima da média – era garantia de interpretações vivas e memoráveis, que ajudavam o programa a cativar públicos de todas as idades, desde os fãs de 'revistas' tradicionais até espectadores mais novos, para quem este terá sido o primeiro contacto com o estilo. Esse apelo massificado – ao qual se juntava um genérico de abertura memorável, que alguns leitores deste blog certamente ainda recordarão – terá, sem dúvida, contribuído para o sucesso continuado do programa, e para a sua permanência no ar por um período relativamente alargado, e nas memórias de toda uma geração por ainda mais tempo...
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Numa semana em que se vive o rescaldo de mais um Festival Eurovisão, e depois de termos aqui recordado os mais emblemáticos participantes portugueses no mesmo durante a década de 90, nada melhor do que nos debruçarmos um pouco mais a fundo sobre o programa que revelou ao Mundo um dos nomes mais memoráveis dessa lista, Sara Tavares.
Falamos, claro, de 'Chuva de Estrelas', o mega-popular concurso de talentos musicais que foi pedra basilar da programação da SIC desde a sua criação até ao virar do milénio. E a verdade é que se, à distância de trinta anos, o conceito do concurso (adaptado, como era habitual neste tipo de programas, de um formato estrangeiro, no caso holandês) parece tudo menos original, a verdade é que, à época, tratava-se mesmo de um programa inovador, um dos primeiros, senão mesmo o primeiro, do seu género em Portugal.
De facto, se para um público do século XXI, habituado a programas como 'Ídolos' e 'The Voice Portugal', 'Chuva de Estrelas' é extremamente fácil de definir – trata-se, pura e simplesmente, de uma versão embrionária de um concurso desse tipo – no contexto português de inícios da década de 90, o termo de comparação mais próximo para o que propunha Ediberto Lima talvez fosse mesmo o Festival da Canção, o evento anual que apurava, precisamente, o representante de Portugal no Festival Eurovisão daquele ano; as únicas (mas significativas) diferenças residiam no facto de os concorrentes de 'Chuva' interpretarem, quase exclusivamente, versões de músicas de outros artistas, muitos deles internacionais – um conceito que, décadas mais tarde, serviria de base aos referidos concursos de talentos adaptados de formatos de Simon Cowell.
Ao contrário de 'Ídolos', no entanto, 'Chuva de Estrelas' nunca esteve ciente do valor de uma audição propositadamente irónica ou embaraçosa – todos os concorrentes em destaque no programa eram escolhidos, unicamente, na base do seu talento, e correspondiam com interpretações à altura, emotivas e vigorosas - a carreira musical de Sara Tavares, por exemplo, teve início após a cantora ter 'canalizado' Whitney Houston, numa actuação que lhe valeu a vitória na primeira das seis edições do concurso, em 1993. Esta abordagem viria, mais tarde, a beneficiar também nomes como João Pedro Pais, João Portugal, Carlos Coincas (dos Excesso e D'Arrasar, respectivamente) e Célia Lawson, a responsável pelo primeiro 'nul points' de Portugal na Eurovisão em mais de trinta anos.
A apresentadora e vencedora da primeira série do programa, Catarina Furtado e Sara Tavares
O facto de este concurso ter, ao longo dos anos, sido entregue à 'nata' dos apresentadores da SIC – primeiro a Catarina Furtado, depois a José Nuno Martins e, por fim, a Bárbara Guimarães – diz muito sobre a importância que lhe era atribuída no contexto geral da grelha de programação da SIC; e a verdade é que essa confiança não foi, de todo, infundada - o programa não só foi um sucesso (dando, até, azo a uma versão 'Mini', com cantores infantis, da qual paulatinamente aqui falaremos) como é, ainda hoje, um dos mais recordados de entre os transmitidos pela estação naquela época, ao lado de outras 'pérolas' como o Ponto de Encontro, o Templo dos Jogos, o Portugal Radical ou o Buereré. E apesar de, tal como alguns destes, a 'mise en scène' do concurso ter envelhecido particularmente mal – 'Chuva' já era 'piroso' na altura, e é ainda mais 'piroso' agora – o seu estatuto como precursos dos concursos de talentos que todos conhecemos (e de que todos já nos fartámos) hoje em dia continua a merecer-lhe lugar de destaque na 'revolução televisiva' do Portugal noventista.
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A cultura jovem viu, nos anos 80, 90 e 2000, exacerbar-se a atracção que os campos do marketing e do entretenimento já de há muito por ela vinham sentindo. Embora décadas anteriores tenham visto surgir produtos, campanhas e programas exclusivamente dedicados aos jovens, este fenómeno verificou-se, sobretudo, no estrangeiro; em Portugal, um país mais fechado e onde este tipo de fenómeno demorava, tradicionalmente, algum tempo a chegar, só nos anos 80 se começaram a ver os primeiros fogachos de cultura jovem na televisão, revistas e prateleiras de supermercado, e só nos anos 90 esta tendência foi inequivocamente abraçada, com a gíria, estética e interesses dos jovens a informarem inúmeras campanhas publicitárias, novos produtos, e sobretudo programas de televisão.
De facto, os 90s foram - pelo menos em Portugal - a década da programação jovem: só num espaço de dois ou três anos, no início da década, estreavam nos quatro canais portugueses um programa de música, um focado nos videojogos, um sobre desportos radicais, e até um híbrido de série e telenovela centrada em temáticas do interesse desta demografia (a mítica 'Riscos', da qual em breve aqui falaremos). Em meio a toda esta oferta, só faltava mesmo um programa que abordasse os tais temas de interesse de uma perspectiva real, ao invés da ficção proposta pela supracitada série; e, em 1994, foi precisamente isso que a SIC tentou oferecer, sob a forma do 'Muita Lôco' - um programa que se posicionava como 'baril e bué de fixe' logo a partir do título e respectivos gráficos.
Mais lembrado, hoje em dia, como o programa que celebrizou José Figueiras, a verdade é que o Muita Lôco foi um bastião inescapável dos primeiros anos da SIC, tendo os telespectadores mais novos do canal de Carnaxide aprendido a viver com a presença daquele 'bonequinho' tipicamente 'baril' - de cabelo espetado e óculos escuros transparentes, como era moda na época - nos intervalos do Buereré e, aos Sábados, imediatamente a seguir a este.
O formato do programa não andava longe do de outras produções contemporâneas do terceiro canal, apresentando um misto de entrevistas, debate sobre temas do interesse do público-alvo, e o característico humor de José Figueiras, que se revelou um apresentador nato, uma espécie de João Baião mais inteligente e menos irritante que exibia grande química e ligação com os jovens presentes em estúdio.
A acompanhar o apresentador nestes momentos menos sérios estava sempre uma moça rechonchuda e divertida, conhecida apenas como Paulina, bem como a Banda Muita Lôco, um grupo residente, bem ao estilo 'talk show' americano, cujo líder era Rodrigo Leal, filho do ícone do 'pimba' para donas de casa, Roberto Leal. Os intervalos musicais protagonizados por esta banda serviam, também, como desculpa para José Figueiras soltar o seu mítico canto tirolês, que chegou a virar um daqueles 'pré-memes' dos inícios de 90, e que foi mesmo o foco do CD lançado pelo apresentador e banda residente do programa, e que também incluía uma versão 'rockalhada' do hino 'pimba' 'Mestre da Culinária', original de Quim Barreiros, e uma inacreditável faixa 'rap', que tem de ser ouvida para ser devidamente compreendida.
...malta, os anos 90 foram estranhos, OK?!
Todos estes elementos - incluindo as entrevistas e debates sérios, com a participação de personalidades relevantes e importantes no contexto do assunto em causa - eram filmados no estilo hiperactivo característico de outras produções de Ediberto Lima, como o 'Big Show SIC' ou o referido 'Buereré' , com a agravante de, por o programa ser dirigido ao público adolescente, a filmagem ser tornada AINDA MAIS energética - de relembrar que os anos 90 e 2000 foram a época em que 'para jovens' era frequentemente sinónimo de 'sem tempos mortos', dado o medo que as produtoras tinham de perder o seu público-alvo se abrandassem o ritmo sequer um segundo. No entanto, também este elemento acabava por integrar a personalidade bem vincada do programa - um dos principais factores por detrás do seu sucesso junto do público mais jovem.
Numa era em que a informação e debate sobre temas importantes está à distância de alguns cliques, já não haveria lugar para um programa como o Muita Lôco, o que pode ajudar a explicar o seu fim, logo no início da era digital; no entanto, numa época em que pouco se falava com, aos ou para os jovens, este foi um programa revolucionário, que - não obstante os pruridos em se assumir como programa sério, e a 'patine' de entretenimento 'fatela' típica do canal em que ia ao ar - terá sem dúvida constituído uma lufada de ar fresco para toda uma demografia que só na altura começava verdadeiramente a 'entrar para as contas' das grelhas de programação. E a verdade é que, nos quase vinte anos subsequentes, não tornou a haver um programa semelhante na televisão portuguesa; o Muita Lôco original (o que esteve no ar entre 1994 e 1995, tendo o regresso em 2000 sido um bem mais típico programa de música ao vivo) foi, e continua a ser, único - o que, numa época em que já tudo foi feito e a repetição é a chave do sucesso, constitui um atributo raro e indubitavelmente invejável.
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Por muitas décadas que passem, o Natal português continua a pautar-se por uma série de tradições que parecem, por esta altura, serem já imutáveis: vai-se, por exemplo, ouvir 'A Todos Um Bom Natal', vai haver um anúncio da Popota ou da Leopoldina (ou de ambos), vai passar na televisão o 'Sozinho em Casa' (e provavelmente a 'Música no Coração' também) e a RTP vai exibir um programa de várias horas em que cantores e outras personalidades sociais de destaque se exibem por uma causa de caridade.
Esta última tradição, em particular, avança a passos rápidos para o seu octogésimo aniversário (embora nem sempre tenha ocorrido de forma regular) com uma fórmula pouco ou nada alterada (só mudam mesmo a hora e duração da emissão e o nome dos artistas participantes), tendo-se já tornado sinónima com o Natal em Portugal. Trata-se, claro, de 'O Natal dos Hospitais', criação conjunta da RTP, do Diário de Noticias e da marca Phillips, que desde o final dos anos 50 se tornou um marco basilar da programação da emissora nacional durante a quadra natalícia, embora tenha estado esporadicamente ausente da mesma ao longo dos anos (o programa não teve, por exemplo, lugar nos dois primeiros anos da década de 90, tendo apenas sido transmitido a partir de 1992.)
Normalmente gravado em directo a partir dos hospitais de São João, no Porto, e de Alcoitão (com festas separadas e simultâneas na Madeira e Açores), o programa teve, no entanto, ocasionais investidas para fora do ambiente hospitalar, tendo chegado a ser transmitido a partir do Casino Estoril ou do Coliseu dos Recreios. Mais recentemente, já no novo milénio, a emissão expandiu-se, também, a outros hospitais, mas mantendo a mesma fórmula de sempre, com convidados 'famosos - normalmente ligados à RTP - e números musicais, a maioria dos quais de índole popular ou folclórica.
Exemplos dos números musicais e teatrais típicos da emissão, neste caso retirados das transmissões de 1992 e 93, respectivamente.
Um formato que se presta a muito poucas alterações, e que o próprio público-alvo - na sua maioria envelhecido e pouco dado a inovações - dificilmente permitiria que fosse mudado. Lá diz a velha máxima que 'em equipa que ganha, não se mexe' - e a julgar pela amostra conjunta (o programa fez, até à data, parte da vida de pelo menos quatro gerações de portugueses, incluindo a que cresceu nos anos 90), no caso do 'Natal dos Hospitais', tal táctica tem mesmo rendido dividendos...
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Os noticiários não são, normalmente, um tipo de programa que apele especialmente às crianças e jovens, até por não ser a elas dirigido; a predominância de notícias violentas, deprimentes ou ambas tende a afastar um pouco o público jovem deste tipo de programação, em favor de opções mais escapistas e voltadas à ficção e fantasia.
Nos anos 90, no entanto, a RTP conseguiu inverter este paradigma, lançando uma iniciativa pioneira e arrojada que acabou por se revelar um retumbante sucesso. Chamava-se Caderno Diário, consistia pura e simplesmente de um Telejornal especificamente direccionado a crianças entre os 8 e os 14 anos, e conseguiu permanecer no ar uns impressionantes 14 anos - entre 1989 e 2003 - tendo durante esse período ajudado a lançar as carreiras de uma série de personalidades da informação televisiva portuguesa. Pedro Mourinho, Pedro Pinto e Rita Ferro Rodrigues foram apenas os mais ilustres de entre os apresentadores do Caderno Diário, vindo-se todos os três a tornar caras bem conhecidas da televisão, embora não necessariamente de programas noticiosos (Mourinho é o único que continua ligado a este campo, marcando ainda hoje presença nos Telejornais da TVI.)
Uma edição do Caderno de 1991, apresentada por um jovem Pedro Mourinho,
À época da estreia do programa , no entanto, qualquer um destes hoje ilustres nomes era, tão-somente, um jovem em início de carreira, pouco mais velhos do que os espectadores a quem relatavam as notícias, podendo estar precisamente aqui um dos principais factores por trás do sucesso do programa; afinal, os jovens tendem a reagir positivamente a anfitriões próximos da sua idade, e que consigam ter uma abordagem naturalista e não forçada à tarefa de lhes captar o interesse – e era precisamente este o caso com os apresentadores do Caderno Diário.
O resultado foi um programa de tal maneira bem-sucedido entre a demografia-alvo que rapidamente foi ‘promovido’ das tardes da RTP 2 para as do canal principal, onde permaneceu, com algumas mudanças de formato à mistura, até inícios do século XXI – tendo, pelo caminho, inspirado iniciativas de conceito semelhante, como as ‘Nú-Ticias’, da SIC Radical. No entanto, apesar das semelhanças superficiais, nenhum destes programas tinha como foco notícias puras e duras, apenas direccionadas a um público mais novo; nesse campo, o Caderno Diário afirmou-se mesmo como principal referência - posto que, aliás, continua, até hoje, a ocupar. Assim sendo, e numa altura em que se vive mais uma época de regresso às aulas, nada melhor do que recordar este programa de nomenclatura inspirada no mais importante acessório de qualquer estudante…
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E se nos dois posts anteriores falámos dos mais célebres programas ‘de auditório’ para crianças, na publicação de hoje vamos falar daquele que foi talvez o mais célebre representante ‘para adultos’ do género durante os anos 90.
Sim, esse mesmo, o Big Show SIC - uma espécie de versão ‘para gente grande’ do Buereré, concebido pelo mesmo criador do programa de Ana Malhoa, Ediberto Lima. Neste, não havia desenhos animados (o que faz sentido, dado o programa não ser dirigido a um público infanto-juvenil) mas havia concursos, rábulas e atuações dos mais variados artistas de música popular portuguesa – a chamada música ‘pimba’, da qual já falamos noutro post deste blog – os quais eram frequentemente ignorados pelas estações de televisão devido à sua conotação com o ‘popularucho’. Ao resolver remediar esta situação e dar a estes artistas um palco para brilhar, Ediberto acabou por criar um dos mais bem-sucedidos programas de variedades da década, e o programa-estandarte da estação de Carnaxide durante os próximos seis anos.
O formato do Big Show SIC recriava diretamente o de produções análogas da terra-natal de Ediberto Lima, como o Domingão do Faustão ou o Caldeirão do Huck – ou seja, misturava performances musicais com passatempos e segmentos de humor, tudo apresentado por um mestre de cerimónias carismático e capaz de apelar a um vasto segmento da população. No caso português, o papel de Fausto Silva, Gugu Liberato ou Luciano Huck coube a João Baião, um (até então) ator de variedades que abraçou a nova carreira com gosto, tornando-se presença marcante das tardes portuguesas com o seu estilo de apresentação frenético e energético, ao mais puro estilo ‘coelhinho da Duracell depois de dez abatanados’. As suas frases feitas, dichotes e piadas, bem como as suas características ‘corridinhas’ pelo cenário, conferiam uma dose extra de charme e personalidade, tornando memorável aquilo que, de outro modo, seria apenas mais um programa de variedades mediano.
A 'corda' de João Baião era tanta, que às vezes até caía...
Para ajudar a ‘animar as hostes’, Baião contava com o apoio do DJ Pantaleão – autor da famosa frase ‘AI! EU TÔ MALUCOOOOO!’ – Alfredo Martins, o ‘Gaio’, e o Macaco Hadrianno, um homem num fato de gorila cuja função era transportar os participantes menos talentosos de um segmento musical para fora do estúdio…às suas costas. Este último viria, mais tarde, a renovar a sua fama entre a miudagem, ao ser ‘emprestado’ ao Buereré de Ana Malhoa que, famosamente, lhe dedicaria uma canção no primeiro disco de músicas retiradas do programa infantil.
Na fase de declínio do Big Show SIC – já na década de 2000 – este pequeno mas marcante lote de coadjuvantes ver-se-ia acrescido de mais um nome – o ratinho Topo Gigio, uma criação da TV italiana já com várias décadas de vida (e algum ‘merchandising’ à venda em Portugal) e que faria assim o seu regresso à televisão portuguesa, vinte anos após o programa que o celebrizou, apresentado por António Semedo.
Vídeo promocional alusivo à estreia de Topo Gigio no Big Show SIC
A sua adição não foi, ainda assim, suficiente para salvar o programa, que ainda conseguiria segurar-se por mais de um ano no novo milénio, antes de se despedir do público das tardes portuguesas, em Março de 2001. Por esta altura, o programa já não contava com a apresentação de João Baião, tendo como apresentadores, primeiro, Jorge Gabriel e, mais tarde, José Figueiras – nomes carismáticos, mas que não faziam esquecer aquele que se havia tornado um verdadeiro símbolo do programa (Baião revelou recentemente, em entrevista ao Canal Q, que ainda hoje é abordado na rua por fãs do Big Show SIC, que lhe perguntam sobre um possível regresso do programa.)
O Big Show SIC pós-Baião, nas variantes Jorge Gabriel e José Figueiras, respetivamente
Em suma, durante os seus seis anos de vida, o Big Show SIC logrou tornar-se um clássico da televisão portuguesa, e ficar na memória de milhões de telespectadores de Norte a Sul do País – entre os quais muitas crianças e jovens. Embora não fosse diretamente dirigido ao público mais novo, o horário do programa permitia a grande parte deste segmento assistir ao mesmo à chegada da escola, cimentando assim a sua popularidade entre os grupos etários mais baixos. A receita baseada em humor simples e popular, excitantes concursos e atuações de artistas de variedades também ajudava a tornar o programa atrativo para os mais novos, que só sentiam mesmo a falta dos desenhos animados que caracterizavam o programa-irmão do Big Show que lhes era, esse sim, dirigido - o Buereré.
E vocês? Viam o Big Show? Que memórias têm dele? Por aqui, confessamos ser este o primeiro post do blog cujo foco não faz, diretamente, parte das nossas memórias infantis – cá por casa, era programa que não se via. Ainda assim, muitos colegas na escola não perdiam uma emissão, e o Big Show era frequentemente motivo de conversa no recreio. Também era assim convosco? Partilhem as vossas memórias nos comentários!
E pronto, agora já podem ir fazer o chichizinho e tomar um cafezinho! Até à próxima!