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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os anos intermédios da década de 90 foram palco de um dos mais significativos avanços da História da tecnologia moderna, a saber, o surgimento e popularização de computação gráfica e efeitos digitais a três dimensões. Aparentemente de um dia para o outro, o grande público – até então habituado a métodos de animação mais tradicionais e programas de computador com gráficos cada vez mais detalhados, mas sempre limitados às duas dimensões então possíveis – era confrontado com jogos, programas de 'software' e mesmo filmes ou séries de televisão povoadas por personagens poligonais, que habitavam cenários com tanta profundidade como eles próprios – algo, à época, perfeitamente impensável, e suficiente para deixar de 'queixo caído' qualquer cidadão comum. E se, no campo dos jogos de computador e consola, esta mudança foi 'anunciada' por títulos como 'V.R. Racing' ou 'Virtua Fighter', e no cinema por 'Toy Story' (que aqui em breve terá o seu espaço) no tocante a programas televisivos a referência é uma única, e incontornável: 'ReBoot'.

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Estreada na RTP1 em 1997, três anos depois de surgir pela primeira vez no seu Canadá natal e um par de anos depois de os portugueses terem pela primeira vez visto gráficos em 3D, a série não deixou, ainda assim, de ter impacto, e de representar na perfeição o momento vivido naqueles últimos anos do século XX. Isto porque, tradicionalmente, os 'saltos' tecnológicos do sector da televisão tendem a dar-se com algum atraso relativamente aos dos campos da informática ou cinema, devido aos reduzidos orçamentos disponíveis: assim, ainda que os PC's e consolas como a PlayStation ou Sega Saturn já apresentassem gráficos bem melhores que os da série da Mainframe Entertainment, esta continuava, paradoxalmente, a representar o padrão máximo do que se podia fazer com tecnologias 3D num contexto televisivo, não deixando assim de impressionar os jovens telespectadores nacionais.

Além desta vantagem contextual, 'ReBoot' era, também, bastante inteligente na forma como posicionava a sua trama de forma a tirar o melhor partido possível da tecnologia ao seu dispôr e, ao mesmo tempo, 'disfarçar' as lacunas da mesma. Isto porque a série era ambientada dentro da 'mainframe' de um computador (representada como uma cidade futurista) o que permitia justificar a aparência angulosa dos cenários e personagens, já que os mesmos se tratavam, literalmente, de gráficos computorizados! De facto, o grupo central da série distingue-se por ser constituído por algumas das poucas personagens humanóides daquele Mundo, conhecidas como Sprites (quase todas com tons de pele pouco ortodoxos, a fazer lembrar 'Doug', da Disney) cuja função é proteger os Game Cubes (nada a ver com a posterior consola da Nintendo!) enviados pelo Utilizador, de vírus como Megabye e Hexadecimal, os principais vilões da série, numa incorporação inteligente de alguns dos principais termos de informática da época, que permitia aos jovens espectadores familiarizarem-se com o vocabulário digital então em ascensão, ao mesmo tempo que se divertiam com as aventuras de Bob, Dot e restantes heróis da série - e que, pela primeira vez, qualifica uma série para inclusão tanto na rubrica Segundas de Séries como nas Terças Tecnológicas!

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Alguns dos personagens principais da série.

Apesar de mais famosa nos EUA e Canadá, onde continua a ser lembrada com nostálgico carinho, 'ReBoot' logrou também deixar a sua marca em Portugal, sobretudo pelo seu aspecto distinto, imediatamente reconhecível e diferente de tudo o que se havia feito e viria a fazer em termos de televisão animada. De facto, mesmo depois da popularização da tecnologia CGI, poucas séries haveria que se assemelhassem, visualmente, a esta pioneira, cujos gráficos ficam mais próximos dos de um jogo de PC ou PlayStation da época do que da tradicional série animada de Sábado de manhã, o que permitiu que, num País cuja demografia infanto-juvenil se encontrava completamente rendida a Dragon Ball Z, Power Rangers, Tomb Raider e Quake II, 'ReBoot' conseguisse, ainda assim, afirmar-se como memorável o suficiente para ainda hoje ser lembrada por certos sectores do seu público-alvo.

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O jogo alusivo à série.

E porque toda e qualquer propriedade infanto-juvenil bem sucedida dos anos 90 e 2000 tinha direito a um jogo de vídeo, também 'ReBoot' viu sair um título interactivo a si alusivo, lançado exclusivamente para a consola da Sony, na Primavera de 1998; infelizmente, o jogo foi mal recebido tanto pela crítica como pelo público 'gamer', acabando, ao contrário do seu material de base, por não deixar qualquer rasto na memória nostálgica dos 'X' e 'millennials' portugueses. No respeitante à série em si, no entanto, passou-se precisamente o oposto: quem alguma vez se cruzou com ela num dos muitos blocos televisivos infantis da época, decerto recorda até hoje, senão a trama ou personagens, pelo menos alguns dos elementos visuais da mesma, de forma semelhante ao que sucede ao recordar o primeiro contacto com outros pioneiros das tecnologias 3D. Motivo mais do que suficiente para aqui lhe dedicarmos um 'post' duplo, que a celebra tanto enquanto produto televisivo como na vertente digital e tecnológica...



 

25.01.25

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes falámos de brinquedos que procuravam simular e adaptar desportos 'reais' à realidade infantil, nomeadamente através do uso de plástico leve, o qual não só tornava os jogos mais seguros como também adequava os objectivos à força e destreza do público-alvo. Era assim, por exemplo, com o bilhar, os dardos, o bólingue, e também com o desporto de que falamos neste 'post', o golfe.

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De facto, nas mesmas lojas que vendiam os outros produtos acima elencados, era também possível encontrar estojos de golfe em miniatura, contendo no interior vários tacos e uma bola, todos em plástico oco, semelhante ao utilizado para os conjuntos de bólingue, por exemplo. Tal como acontecia com estes, a criança podia, assim, recriar um jogo de golfe, com todas as suas tacadas 'impossíveis', ainda que sem a presença de buracos, os quais tinham de ser 'improvisados' (com recipientes colocados na horizontal, por exemplo) ou ficar a cargo da imaginação. Fosse qual fosse o método escolhido, no entanto, os referidos conjuntos eram, invariavelmente, capazes de proporcionar tanto Sábados aos Saltos, com o quintal a servir de 'green', como Domingos Divertidos, como o jogo a desenrolar-se no chão do quarto - ainda que, em ambos os casos, provavelmente muito mais breves do que um verdadeiro jogo de golfe, com o seu ritmo lento e as suas quase duas dezenas de buracos.

Tal como sucede com os seus congéneres acima citados, continua a ser possível adquirir conjuntos de golfe deste tipo; no entanto, como também sucede com muitos dos outros 'kits' de desporto de brincar, os mesmos encontram-se confinados, em larga medida, a 'sites' grossistas da Internet, sendo raro encontrar um 'ao vivo e a cores', numa qualquer loja 'dos trezentos' ou chinesa. Quem viveu o período de maior popularidade destes brinquedos, no entanto, certamente se recordará de muitos fins-de-semana passados a aperfeiçoar a sua técnica de tacada, qual Tiger Woods em miniatura...

24.01.25

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Marcavam presença na cabeça de quase todas as raparigas portuguesas, variando conforme a faixa etária, mas servindo, essencialmente, a mesma função: a de conter aquilo que eram, na maioria dos casos, cabelos compridos (e, muitas vezes, também com penteados mais volumosos) em situações em que era necessário ter a zona da cara desimpedida, fosse por questões práticas, fosse por recato social. Para lá desta função extremadamente utilitária, no entanto, acabavam também por se tornar adereços de moda, parte quer de indumentárias casuais para uma Saída de Sábado ou Sábado aos Saltos, quer das mais elaboradas para levar para a escola ou para um evento social.

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Falamos, é claro, do 'quarteto fantástico' de acessórios para cabelo das décadas de 80, 90 e 2000, constituído (como qualquer ex-criança ou jovem da época certamente se lembrará) por fitas, bandeletes, 'puxos' e ganchos, sendo os dois primeiros favorecidos por jovens de menor idade – normalmente até cerca dos doze, treze anos, altura em que se passavam a preferir os dois últimos acessórios como forma de agarrar a 'melena'. E se não havia muito por onde inovar ao colocar uma fita ou bandolete, o oposto se passava com os 'puxos' e ganchos, os quais podiam ser colocados em toda uma variedade de posições, desde as mais práticas (como tranças ou 'coques') até às mais 'artísticas', destinadas sobretudo a 'fazer estilo', e normalmente criadas com recurso a ganchos de fantasia, em forma de estrela, ou qualquer outro desenho do tipo, ou a 'puxos' gigantescos, concebidos propositalmente para serem notados, ao contrário do que sucede com os 'normais'.

A configuração destes acessórios na cabeça chegava, aliás, a ser um dos factores divisores e distintivos entre as 'betinhas', as raparigas menos 'estilosas', e aquelas que faziam parte de outras 'tribos', como as góticas ou as 'freaks' da cena alternativa, formando parte da identidade visual de um enorme espectro de jovens portuguesas (e não só) durante os anos finais do século XX e os primeiros do seguinte. É, pois, possível perceber que, muito mais do que acessórios práticos, esta quadrilogia de adereços desempenhava um papel fulcral nas indumentárias das raparigas daquele tempo.

Como é evidente, nenhum destes adereços 'desapareceu de cena', continuando a ser utilizados por indivíduos e famílias com estilos mais clássicos ou 'retro vintage' (algumas até, talvez, formadas por casais da geração que com eles cresceu) ou, no caso dos 'puxos', fazendo ainda e sempre parte das 'quinquilharias' no bolso de qualquer elemento do sexo feminino, e mesmo de muitos homens de cabelo comprido); no entanto, é impossível negar que o auge destes adereços como elementos de moda se deu há entre vinte a trinta anos, formando parte integrante da estética quotidiana da juventude 'millennial' e, como tal, merecendo o seu lugar nas páginas deste 'blog' dedicado a recordações de infância e adolescência dessa geração.

23.01.25

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Mais do que uma quinquilharia, eram uma necessidade no estojo, bolso ou mochila durante os meses de Inverno, quando serviam como melhor remédio para lábios gretados devido ao frio – uma função tão importante, aliás, que lhes assegurou continuidade até aos dias de hoje, embora já sem a preponderância de outros tempos. Falamos dos 'batons' de cieiro, um 'pequeno grande produto' de que qualquer português nascido ou crescido na ponta final do século XX se lembrará, e provavelmente encorajará os filhos a usar.

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A Labello era, talvez, a mais conhecida fabricante deste tipo de produto.

As marcas e fabricantes eram os mais variados, mas qualquer que fosse a origem ou laboratório, o princípio era o mesmo, a cor também (sempre um branco sujo) e o mesmo sucedia com a sensação após aplicação – aquela inconfundível e inesquecível impressão de ter comido cola, ou cera, que parecia deixar uma 'camada' extra em cima do lábio. Um 'mal necessário', claro está, para assegurar que o produto surtia o seu efeito, e que rapidamente era substituído por uma sensação de alívio ao deixar de sentir dor, ou aquela rugosidade própria da pele gretada ao passar a mão.

Não é, pois, de surpreender que estes 'sticks' marcassem presença regular não só nos armários de casa de banho portugueses, mas também nos 'carregos' de muitos cidadãos nacionais, independentemente da idade – algo que, aliás, talvez continue a acontecer, já que, como referimos no início deste texto, é ainda possível comprar um destes 'batons' em muitas farmácias portuguesas. Quem sabe, publicitando-os da maneira correcta e com recurso às redes sociais, não seja mesmo possível convencer as gerações 'Z' e 'Alfa' de que este é um produto desejável, restituindo-lhe assim o papel fulcral que desempenhou nos Invernos remotos de quem tem hoje mais de trinta anos...

22.01.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última edição desta rubrica, fizemos menção de eventos que, apesar de fora do espectro normal de interesses de uma criança ou adolescente, têm impacto suficiente a nível social para lhe ficarem, ainda assim, na memória. Nessa ocasião, mencionámos efemérides como a Guerra do Golfo, a transferência de poderes sobre Macau, a guerra EUA-Iraque ou o 11 de Setembro de 2001; agora, há que juntar à lista um outro evento, que os 'millennials' mais velhos (e 'X' mais novos) certamente recordarão, e que atingia o seu clímax há pouco mais de vinte e cinco anos, obrigando à intervenção dos famosos 'boinas azuis' das Nações Unidas.

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Falamos da invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a qual, nos anos a que este 'blog' diz respeito, se arrastava já há mais de duas décadas, sem sinais de abrandar, causando a devastação do ecossistema e infra-estruturas da área leste daquela ilha do sudeste asiático, e levando à morte de um número estimado de entre cem a cento e oitenta mil pessoas, parte mais do que significativa da população da ex-colónia portuguesa. Iniciada como confronto directo entre tropas governamentais indonésias e grupos rebeldes timorenses (uma vez deposto o governo popular deste último país), a situação rapidamente escalou para uma guerra fria, pontuada aqui e ali por violentos confrontos entre as duas facções.

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Forças guerrilheiras timorenses.

Durante os anos 80, no entanto, a situação voltou a agravar-se, tendo a frente popular timorense encontrado tanto um líder como um símbolo, na pessoa de Xanana Gusmão, que lideraria o esforço de resistência até à sua captura, em 1992. Os líderes que lhe sucederam pouco melhor sorte teriam, e as forças guerrilheiras foram, progressivamente, perdendo força, à medida que confrontos cada vez mais violentos as dizimavam. Em finais dos anos 90, as tensões eram já tais que as Nações Unidas se viram obrigadas a intervir, enviando forças de paz para a ilha.

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Xanana Gusmão, o rosto da resistência timorense.

Justamente quando tudo parecia perdido, no entanto, o novo presidente indonésio (sucessor de Suharto, 'rosto' da invasão e do invasor) decidiu, sem que nada o fizesse prever, permitir a realização de um referendo para definir se Timor-Leste seria independente, ou apenas 'região autónoma' anexada à Indonésia, como sucede com os arquipélagos ao largo da costa portuguesa. Realizada no Verão de 1999, esta votação teve, previsivelmente, um resultado esmagadoramente a favor da independência do território, o qual viria a ser ratificado em Outubro, com a independência a entrar em efeito a partir de 2002, e a pôr, efectivamente, fim a mais de um quarto de século de luta, que deixara em escombros mais de quatro-quintos da infraestrutura do território e morta grande parte dos seus habitantes. E ainda que, outro tanto tempo volvido, o conflito não passe já de uma triste memória, a mesma encontra-se, ainda assim, indelevelmente gravada na mente de qualquer português que, à época, tivesse idade suficiente para perceber o que se passava, tornando inevitável uma menção neste nosso blog nostálgico, poucos meses após a celebração dos vinte e cinco anos da sua conclusão.

21.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao chegar finalmente a Portugal, em meados da década de 90, a TV Cabo trouxe consigo uma gama de canais suficientemente vasta para deixar estarrecido qualquer espectador que apenas recentemente vira o seu espectro de escolha duplicar de dois para quatro canais abertos e generalistas. E se a maioria das novas adições à grelha eram importadas directamente do estrangeiro, sem alterações (como nos casos dos canais generalistas de outros países, ou de canais temáticos como o Cartoon Network, TCM, VH1 ou MTV, que surgiam nas suas versões Britânicas) outros tantos eram alvo de adaptações para a realidade nacional (como os canais de documentários ou o Eurosport, que surgia com comentários de jornalistas nacionais) e outros ainda eram de 'fabrico próprio', senão em Portugal, pelo menos na Península Ibérica. Entre estes últimos contavam-se canais tão icónicos como o Viver/Vivir (e o seu 'colega de casa' menos casto, o famoso 'canal 18') os ainda hoje existentes Canal Hollywood, Sport TV e Canal Panda (do qual aqui paulatinamente falaremos) ou a estação que abordamos neste artigo, e que marcou época entre os jovens melómanos ibéricos da geração 'millennial': o saudoso Sol Música.

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Inicialmente com transmissão simultânea em Portugal e Espanha, o Sol Música iniciou as emissões em 1997, desde logo com uma proposta diferenciada: a de servir como alternativa ibérica aos canais de música internacionais, MTV e VH1, da mesma forma que o VIVA vinha fazendo em França – um desiderato atingido, sobretudo, com a inclusão de uma percentagem significativa de artistas portugueses ou espanhóis na sua rotação de vídeos. Assim, sem nunca descurar os sucessos internacionais 'da moda', o canal musical ibérico aproveitava, simultaneamente, para dar a conhecer à sua demografia-alvo bandas e cantores que, de outra forma, poderiam não ter gozado de tal nível de exposição, fomentando assim a cena musical dos dois países da Península.

Também por oposição à MTV e VH1, o Sol deixava a música falar (ou antes, tocar) mais alto, descartando a presença de apresentadores nos seus vários blocos musicais, e maximizando assim o tempo de transmissão de cada um deles, sem que se perdessem preciosos minutos com tentativas de entretenimento. Tal não significava, no entanto, que o canal não transmitisse notícias e reportagens sobre os principais acontecimentos da cena musical, apenas que essas emissões eram feitas de forma mais directa e assumida, e menos 'intermediada' – um risco que, apesar de tornar o canal menos apelativo para quem gostava dos 'video-jockeys' dos canais internacionais ou de programas como o 'Top +', o fazia também paragem de eleição para quem apenas queria 'ouver' videoclipes dos seus artistas e géneros musicais favoritos. Para estes, as noites de Sábado eram também um 'prato cheio', já que o canal dedicava este período a blocos de vídeos alusivos a apenas um artista ou banda, os quais podiam chegar a ser transmitidos durante várias horas.

Escusado será dizer que o sucesso do Sol Música foi quase imediato, tendo o mesmo granjeado suficientes audiências para justificar uma divisão 'regional', com o canal a dividir-se em dois (um para cada um dos países da Península Ibérica) há pouco mais de vinte e cinco anos, nas últimas semanas do século XX e do Segundo Milénio. Tal permitia aumentar ainda mais o volume de artistas nacionais integrados na programação de cada um dos canais, ajudando efectivamente a melhorar a proposta de valor inicial do canal, e a divulgar um maior número de bandas e artistas da cena musical de cada nação.

Apesar das aparentes vantagens desta divisão, no entanto, a mesma viria mesmo a representar o 'início do fim' das emissões do Sol Música em Portugal. De facto, apesar do continuado sucesso de que o canal ainda vem gozando no país vizinho, a vertente portuguesa do mesmo apenas duraria até 2005, altura em que as mudanças de paradigma a nível do consumo tanto de música como de televisão (e subsequente redução dos volumes de audiências) ditaram a substituição do Sol Música pelo Biography Channel – um daqueles canais 'para encher chouriços' da actual grelha da TV Cabo, cujo volume de audiências dificilmente ultrapassará o do seu antecessor. Talvez mais significativamente, esta alteração vinha acabar com uma 'era' da TV Cabo, e remeter ao domínio da memória nostálgica um canal com uma proposta verdadeiramente inovadora (e plenamente atingida), que terá ajudado a apresentar a grande parte da juventude 'millennial' portuguesa alguns dos seus artistas musicais favoritos (quer através dos videoclips, quer da compilação em CD que lograria lançar já nos primeiros meses do Novo Milénio), e que, vinte anos após a sua extinção e um quarto de século após a 'divisão' em dois, continua a representar um 'buraco' ainda por preencher na grelha a cabo nacional.

20.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sábado, 18 e Domingo, 19 de Janeiro de 2025.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O 'antes' e o 'depois' do desporto de rua em Portugal.

Apesar de, hoje em dia, ser praticamente impossível visitar qualquer localidade portuguesa sem deparar com, pelo menos, um recinto modernamente equipado para a prática de desporto (normalmente inserido num espaço verde urbano, como um parque ou jardim), tal não era, de todo, o caso há meras três décadas - antes pelo contrário, em meados dos anos 90, a maioria das crianças (sobretudo as residentes fora dos principais pólos urbanos) via-se, ainda, obrigada a improvisar no tocante a 'instalações' para os seus jogos de futebol de rua, ou qualquer outro desporto.

De facto, o mais provável é que a grande maioria dos 'millennials' portugueses tenha crescido aos 'chutos' na bola em 'campos' de areia ou terra sem quaisquer marcações, descalço ou com os ténis mais velhos que ainda tivesse (para poder sujar à vontade) e com três traves de ferro ou mesmo apenas alguns paus a servir de balizas. Isto porque foi apenas já 'às portas' do século XXI que as autarquias nacionais investiram em esforços urbanísticos, a maioria dos quais se traduziu em novos espaços verdes e infra-estruturas de lazer, como parques infantis (quem não se recorda de um famoso anúncio com Vítor de Sousa, a proclamar a construção de um recinto deste tipo?) ou ringues para a prática de futebol ou basquetebol.

Os 'millennials' mais novos (bem como a geração que lhes sucedeu) já pôde, assim, desfrutar de espaços adequados para Sábados aos Saltos e Domingos Desportivos, com e sem bola; quem nasceu ainda nos anos 80 ou inícios de 90, no entanto, assistiu em 'primeira mão' à transição de 'campos' quase imaginados em baldios e terrenos pelados para quadras de piso sintético na escola ou parque municipal, tendo assim podido experienciar o 'melhor de dois Mundos' no tocante ao desporto de rua nacional.

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

18.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui dedicámos – merecidamente – algum espaço aos ovos Kinder, um dos doces mais icónicos e apreciados da infância de qualquer geração; nada mais apropriado, pois, do que voltarmos agora a falar da marca, desta feita para recordar a adição feita pela mesma ao seu espectro de produtos, precisamente no início da década a que este 'blog' diz respeito, e que se mantém nas prateleiras dos supermercados e hipermercados nacionais até aos dias de hoje, volvidas quase exactas três décadas e meia.

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Concebido e lançado logo nos primeiros meses dos anos 90, o Kinder Bueno não chegaria, no entanto, a Portugal senão volvidos mais alguns anos, sendo que a maioria dos 'millennials' portugueses associará, provavelmente, o produto à segunda metade da década. Foi então que a Kinder revelou aos seus 'aficionados' ibéricos a mistura de chocolate com uma crocante bolacha 'wafer' (e de haste dupla) que se tornaria um dos doces favoritos de muita gente durante os anos subsequentes, e que se posicionaria, basicamente, como a resposta da Kinder a chocolates como o Lion, Twix ou Kit Kat. Em relação a estes, no entanto, a oferta da companhia alemã saía, talvez, a ganhar, já que o novo chocolate contava com a qualidade que a ajudara a tornar conhecida.

Escusado será dizer que o sucesso foi imediato, tendo o Kinder Bueno 'pegado de estaca' no mercado dos chocolates a nível global (com Portugal a não ser excepção nesse aspecto) e o seu sucesso motivado a Kinder a criar novas variantes, com chocolate de duas variedades ou branco, entre outras (embora, como no caso dos Corn Flakes, o original continue a ser o melhor). E apesar de um recente escândalo relacionado com os níveis de agentes cancerígenos contidos nos chocolates da companhia (incluindo o Bueno) e que levou a que enormes quantidades dos mesmos fossem retirados do mercado, a verdade é que o chocolate em causa (como os seus companheiros de fábrica) continua a 'somar e seguir' um pouco por todo o Mundo, estando já na terceira geração de crianças que cativa com a sua simples, mas irresistível proposta, e não dando sinais de abrandar num futuro próximo...

17.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

O racismo, a xenofobia e o medo do 'outro' têm sido, desde tempos imemoriais, um dos principais males da sociedade ocidental – e o passar do tempo apenas parece, estranhamente, agravar o problema. Assim, não é de estranhar que as instituições das principais nações ocidentais venham, desde há décadas, a tentar mudar as mentalidades, sobretudo no respeitante às camadas populacionais mais jovens e, como tal, mais susceptíveis a uma mudança de mentalidade ou a um 'desvio' para uma forma menos intolerante de ver o Mundo.

Enquanto país acolhedor de elevados volumes de imigrantes dos PALOP, da China, da Ucrânia e – mais recentemente – dos países do Sudoeste Asiático, Portugal jamais poderia ser excepção a qualquer destas regras, pelo que é sem surpresas que verificamos ter existido pelo menos um veículo de promoção da tolerância entre os jovens na História recente de Portugal. Numa altura em que as tensões raciais se fazem, novamente, sentir no nosso País, nada melhor, portanto, do que 'repescar' esse tomo de 1998, em que a Comissão Europeia procurava fazer ver aos jovens das gerações 'X' e 'millennial' que o multi-culturalismo era algo a ser louvado e encorajado, por oposição a temido.

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Sob o nada subtil título de 'Racista, Eu?!', o volume institucional publicado em Junho de 1998 (mesmo a tempo para o início, no nosso País, de um dos maiores eventos celebratórios do multi-culturalismo de finais do século XX) trazia uma série de vinhetas nas quais diferentes grupos de personagens aprendiam a aceitar as suas diferenças e a viver com os aspectos que menos lhes agradavam, tanto em si mesmos como na sociedade, e que procuravam enfatizar o modo como o racismo e a xenofobia se podem entranhar na consciência colectiva, e afectar até mesmo quem não considera ter esses defeitos (daí o título).

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Uma das vinhetas incluídas no volume.

Essa mensagem era, por sua vez, passada com recurso a desenhos originais e extremamente cuidados – a fazer lembrar o estilo franco-belga, ou não tivesse a Comissão Europeia sede em Estrasburgo – e argumentos que, embora pouco subtis, eram no entanto hábeis na transmissão dos valores em causa, para um resultado final acima da média para um produto de BD institucional, sobretudo da época em causa, e que ainda hoje permanecem perfeitamente actuais, como aliás se pode comprovar neste link, que reproduz a revista na sua íntegra. E se, por si só, esta iniciativa não foi suficiente para mitigar o racismo entre as gerações (então) mais novas de cidadãos portugueses, a mesma deve, ainda assim, ser saudada como uma tentativa perfeitamente válida e legítima de abordar, de forma ao mesmo tempo séria e divertida, um dos maiores flagelos da sociedade ocidental actual.

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