20.10.22
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Apesar de os jornais não fazerem, regra geral, parte do lote de preferências dos jovens no respeitante a periódicos – surgindo bem atrás das revistas aos quadradinhos e das publicações especializadas nos campos da música, dos videojogos, da moda, das celebridades ou do desporto – esta demografia não deixava, ainda assim, de ter contacto com este meio de comunicação, noemalmente por intermédio dos adultos, que o compravam; mas se o suplemento de BD era, normalmente a secção para a qual os mais novos gravitavam, a verdade é que havia outra parte do jornal que não deixava de causar algum fascínio junto dos mesmos: a secção de classificados.
Conceito cada vez menos imaginável na era do OLX e Facebook Market, as páginas de classificados formaram parte integrante de muitas publicações até às primeiras décadas do Terceiro Milénio, servindo como alternativa mais abrangente aos tradicionais anúncios em montras de lojas ou quadros de associações, bem como a publicações como as Páginas Amarelas. O fascínio, aliás, residia justamente no facto de, ao folhear uma destas secções, se poder encontrar absolutamente de tudo, desde produtos para compra, venda e troca (de pequenos electrodomésticos e artigos de colecção até casas ou carros) até ofertas de emprego, anúncios de serviços ao estilo das referidas Páginas Amarelas, pedidos de correspondência, e, claro 'gatinhas peitudas solitárias, sozinhas em casa, Alameda'; um verdadeiro microcosmos social, portanto, que não podia deixar de cativar a imaginação de qualquer criança ou jovem.
Assim, embora as secções correspondentes nas referidas revistas especializadas serem mais interessantes do ponto de vista prático (nomeadamente, por os produtos à venda e pedidos de correspondência serem menos generalistas e mais focados numa área de interesse específica) os classificados de jornais generalistas eram bastante mais apelativos do ponto de vista sociológico – conceito que a maioria da demografia em causa nem sequer conhecia, mas que activamente praticava. Infelizmente, conforme acima referido, é altamente improvável que uma secção deste tipo volte a gozar do mesmo sucesso das suas congéneres dos anos 90, ou sequer a figurar numa publicação periódica – uma categoria, ela mesma, em vias de extinção. Embora a existência de fóruns e 'sites' como o OLX seja extremamente conveniente, no entanto (evitando estar a 'esquadrinhar' a tipografia frequentemente microscópica destas páginas) os classificados são daqueles conceitos que, certamente, a geração que cresceu naquele tempo terá alguma pena de não poder partilhar com os jovens de hoje, para que também eles possam experienciar o poder transformativo de encontrar, pela primeira vez, nas páginas do jornal uma 'loirinha peituda carente e discreta' residente no Parque das Nações...