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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.12.21

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos mais antigos e universalmente aceites axiomas do cinema diz que 'as sequelas nunca são tão boas quanto os originais'. E embora esta afirmação já não seja cem por cento verdadeira ('Shrek 2', por exemplo, é um filme vastamente superior ao original em quase todos os aspectos) o rácio de sequelas de valor para sequelas desapontantes permanece baixo o suficiente para a podermos considerar, no cômputo geral, correcta.

Ainda assim, 'abaixo do original' nem sempre significa, necessariamente, 'mau'; existem casos em que o filme de origem se situa tão acima da média que mesmo uma sequela menos bem conseguida não deixa de ser um bom filme. A 13 de Dezembro de 1991, há quase exactamente trinta anos, estreava em Portugal um filme que ilustrava perfeitamente este paradigma, ficando uns furos abaixo do magnífico original, mas afirmando-se mesmo assim como uma experiência cinematográfica bem divertida.

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Falamos de 'Fievel no Faroeste', a primeira das três sequelas para 'Fievel: Um Conto Americano', a obra-prima de Don Bluth lançada em 1987, e que conseguia a proeza de usar roedores animados para explorar (e de forma bastante séria!) o fenómeno da imigração de cidadãos europeus para a América, em finais do século XIX e inícios do seguinte. Com momentos tocantes, assustadores e divertidos em igual medida, este filme foi um merecido sucesso entre o seu público-alvo, e continua hoje a ser lembrado como talvez o melhor dos vários grandes filmes lançados por Bluth – um feito nada desprezível, se considerarmos que essa lista também inclui clássicos como 'Em Busca do Vale Encantado' e 'Todos os Cães Merecem o Céu', cada um dos quais capaz de ombrear com o melhor que a Disney vinha oferecendo na altura.

'Fievel no Faroeste' não está a esse nível, mas verdade seja dita, também não parece muito preocupado em o atingir; trata-se de um filme muito mais assumidamente 'para crianças', que tem no gato vocalizado (no original) por Dom DeLuise muitos dos seus motivos de interesse, e em que a vertente de análise e crítica social é muito menos pronunciada. Tal não significa, no entanto, que se trate de uma sequela 'às três pancadas', antes pelo contrário – a par de 'Todos os Cães...2', é uma das poucas sequelas dos estúdios de Bluth que NÃO se insere nesta categoria, apresentando um trabalho técnico cuidado e um enredo sem momentos mortos nem cenas 'para encher chouriços', que faz com que os seus cerca de 80 minutos de duração passem prazerosamente.

Em suma, sem ser um clássico intemporal como o seu antecessor, 'Fievel no Faroeste' é – ainda hoje – um filme para crianças acima da média, que não deixa o primeiro 'Conto Americano' ficar mal, e que certamente será alvo de boas reacções por parte do seu público-alvo, mesmo nos dias de hoje (por aqui, foi visto à época da estreia, com seis anos, e muito apreciado.) Pena é, pois, que tanto Bluth como os seus antigos empregadores, e mais tarde rivais – a Disney – tenham decidido enveredar pelo ramo das sequelas 'directas para vídeo' destinadas exclusivamente a 'sossegar os putos' durante uma hora – fazem falta filmes (e sequelas) como 'Fievel no Faroeste', capazes de justificar a transformação de uma propriedade intelectual em 'franchise', e de se 'aguentarem' tão bem ao fim de três décadas como na época da sua estreia.

17.07.21

NOTA: Este post corresponde a Sexta-feira, 16 de Julho de 2021.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

 

E porque esta semana marca a estreia da sequela de Space Jam - com LeBron James no lugar do seu homólogo dos anos 90, Michael Jordan – nada melhor do que dedicar algumas linhas a recordar o original, estreado há quase exactamente vinte e cinco anos (em Novembro de 1996) e que conseguiu a proeza de se manter popular e relevante desde essa altura, justificando o investimento numa sequela, mesmo tantos anos depois.

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Essa popularidade continuada é – pelo menos para a geração que era da idade certa aquando da estreia do filme – bastante fácil de explicar; afinal, só quem viveu aquele momento da História consegue perceber o quão atrativa era a ideia de ter Michael Jordan e Bugs Bunny a contracenar no mesmo filme. Aquela que foi a primeira ‘mega-estrela’ do basquetebol norte-americano estava em plena alta de popularidade, graças às suas inacreditáveis exibições ao comando da ‘Dream Team’ dos Bulls e da Selecção Nacional norte-americana, enquanto o líder dos Looney Tunes é daquelas figuras perpetuamente populares entre os fãs de desenhos animados, muito graças às frequentes repetições das suas clássicas ‘curtas’ em canais de televisão por esse Mundo fora; assim, juntar os dois numa mesma produção tinha tudo para dar certo. E deu.

A história de Space Jam é, objectivamente, algo parva; uma raça de ‘aliens’ pretende raptar os Looney Tunes para os usar como atracção principal no seu parque de diversões espacial, e a ‘troupe’ animada decide confundi-los, apostando a sua liberdade num jogo de basquete, um conceito perfeitamente desconhecido para os pequenos seres espaciais (os quais não primam pela proeza física, assemelhando-se, mais do que nada, a pequenas lagartas de olhos grandes.) Um plano que teria tudo para dar certo – não fora o facto de os extraterrestres conseguirem roubar os talentos de alguns dos principais jogadores da NBA, com os quais se transformam em literais ‘monstros de esteròides’, bem maiores e mais poderosos do que os Tunes. A última esperança para Bugs Bunny e companhia – aqui aumentada com a adição da recém-chegada ‘craque’ e futura namorada de Bugs, Lola Bunny - reside, pois, numa ex-super-estrela do desporto, a qual se havia retirado do basquete para se dedicar ao beisebol – Michael Jordan, claro. Um rapto bem 'animado’ mais tarde, o prodígio dos Chicago Bulls vê-se convertido em capitão da auto-intitulada TuneSquad, e envolvido num desafio em que, por uma vez na sua carreira, não é favorito…

Uma premissa algo tola, portanto, e que serve, mais que nada, de pretexto para juntar as duas ‘estrelas’ do filme – bem como vários dos mais conhecidos jogadores da NBA à época, de Muggsy Bogues a Charles Barkley, Patrick Ewing, Shawn Bradley e Larry Johnson, os quais alinham numa bem-humorada sátira ao seu próprio estatuto, fingindo ter perdido as suas habilidades e ‘desaprendido’ a jogar basquetebol. ‘Space Jam’ conta, ainda, com Bill Murray, Theresa Randle e Wayne Knight em papéis de apoio, dando ao filme um elenco de luxo, bem acima do que seria expectável para uma produção deste tipo.

A intenção de criar algo que respeitasse o público-alvo não se fica, no entanto, pelo elenco e interpretações; apesar do argumento algo tonto, o filme conta com uma excelente banda sonora (a começar pelo tema-título, e passando pelo entretanto infame ‘I Believe I Can Fly’, de R. Kelly) e tem o cuidado de retratar os Looney Tunes exactamente como os conhecemos, sem quaisquer concessões ao politicamente correcto – tirando, talvez, o facto de Bugs Bunny nunca se vestir de mulher. De resto, e apesar do novo ‘look’ assistido por CGI, a turma animada aparece igual a si própria, com muitas ‘gags’ absurdas (incluindo uma no famoso lance final do jogo decisivo) e literalmente explosivas, assegurando que – ao contrário do infame filme de Tom e Jerry, lançado alguns anos antes – quem conhecesse os Looney Tunes não sairia defraudado do cinema.

As cenas de jogo contêm muitas das melhores 'gags' do filme

O resultado foi, previsivelmente, um sucesso de bilheteira, que reavivou o interesse nos Looney Tunes, e justificou o lançamento de vários novos produtos alusivos a Bugs e companhia, agora, previsivelmente, com o seu novo ‘look’ e equipados à basquetebol; entre os mais memoráveis encontravam-se um jogo para PlayStation (basicamente um 'NBA Jam', mas com os Looney Tunes no lugar dos jogadores cabeçudos) e o relançamento, em formato VHS, de vários episódios clássicos de cada um dos principais personagens, com uma nova dobragem em português, sob a denominação ‘Estrelas do Space Jam’.

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Um volume da colecção 'Estrelas do Space Jam', focada no personagem de Marvin, o Marciano

Nada de muito surpreendente – não fosse o facto de o ‘merchandise’ alusivo ao filme ter continuado a vender (e bem) durante as duas décadas seguintes (ainda em 2018-2019, o Primark lançava uma t-shirt alusiva ao filme, destinada a um público-alvo que mal era nascido quando o filme estreou!) Um caso de popularidade apenas explicável pelo facto de este filme aparentemente menor ter sido passado de irmãos para irmãos e de pais para filhos, beneficiando da nostalgia prevalente pela década de 1990 para se manter ‘nas bocas do povo’.

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T-shirt alusiva ao filme, lançada pela Primark mais de uma década após a estreia do mesmo

Seja qual for o motivo por detrás da intemporalidade de um filme que, teoricamente, só funcionaria no contexto específico em que foi lançado, a verdade é que ‘Space Jam’ a merece – por muito que a Internet queira fazer dele ‘bombo de festa’, a verdade é que se continua a tratar de uma excelente obra para toda a família, com muita diversão, momentos memoráveis, uma boa mensagem, e aquele tipo de violência animada que nunca sai de moda, por muito politicamente correcto que o Mundo se torne. Seria uma pena, portanto, se a recém-estreada sequela destruísse o consenso que o original ainda hoje consegue reunir – embora, a julgar pelas primeiras críticas, seja exactamente isso que se vá passar. Resta o consolo de, pelo menos, ainda termos o original para nos relembrar de que, na verdade, esta fórmula pode ser executada, mais do que correctamente, com louvor e distinção. ‘COME ON AND SLAM! AND WELCOME TO THE JAM!’

 

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