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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

15.03.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quem foi aluno da instrução primária ou preparatória durante a última década do século XX certamente associará os seus tempos de escola a uma série de experiências e elementos que deixariam perplexa a geração dos cartões electrónicos e pautas digitais: a importância atribuída a pequenos pedaços de cartão ou plástico retirados de pacotes de batatas fritas, o 'ritual de passagem' que era ter o carimbo no cartão da escola a certificar que se podia sair sozinho, a experiência de ter de se deslocar até à própria escola para ver as notas do período (e a 'aventura' que era encontrar a pauta da nossa turma, geralmente consultada 'ombro a ombro' com pelo menos mais um colega), a responsabilidade de levar na carteira o dinheiro para o 'bolo' da tarde, ou o assunto desta Quarta de Quase Tudo, o transporte do almoço a partir de casa dentro de um cesto de vime.

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Nos anos 90, ainda mais do que hoje em dia, os alunos de qualquer escola portuguesa dividiam-se em três tipos: os que almoçavam em casa, os que comiam o almoço da cantina, e os que levavam a comida de casa dentro do icónico 'cesto', devidamente identificado com o nome e turma escritos na etiqueta plastificada providenciada para esse fim. E a verdade é que, embora estivessem disponíveis no mercado lancheiras ao estilo norte-americano, havia pouco quem as tivesse ou utilizasse, optando a esmagadora maioria das crianças (e respectivos pais) por aqueles cestos de piquenique em vime ou verga, com fecho para garantir que a comida não se espalhava pela rua ou pelo chão da escola em caso de 'sacolejo' - e a verdade é que era muito difícil resistir a balançar o cesto enquanto se carregava com o mesmo até à escola ou à cantina, pelo que esta medida terá salvo muitas refeições... E embora não seja claro como nem porque é que estes cestos ficaram de tal forma associados com as refeições escolares, os mesmos não deixam, ainda assim, de ser parte icónica da experiência de frequentar um estabelecimento do ensino básico em finais do século XX.

Tal como os demais elementos que acima elencámos, os cestos de vime para o almoço encontram-se, hoje, praticamente extintos dos recintos escolares portugueses, substituídos pela versão actual da lancheira, feita em tecido, e não em plástico como as dos anos 90; desaparecimento esse que teve, aliás, início logo nos primeiros anos do Novo Milénio, relegando o cesto de almoço para a categoria de produto que subsiste, hoje em dia, apenas na memória colectiva. Ainda assim, quem levou diariamente o 'farnel' feito pela mãe dentro de um destes icónicos objectos certamente se terá recordado 'do seu', e dos muitos e deliciosos almoços e lanches retirados de dentro do mesmo, ao lado de inúmeros colegas com outros muitos parecidos, no tempo em que os mesmos constituíam A maneira, por excelência, de acomodar uma refeição infantil para transporte...

05.10.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Um dos principais aspectos do regresso às aulas, em qualquer época da História, é a compra do material necessário para o novo ano lectivo, quer o mesmo consista de uma mochila ou dos livros requisitados pela escola; e, nos anos 90, existia uma pequena mas indispensável publicação que assumia tanta ou mais importância do que qualquer destes na lista de qualquer aluno da instrução primária.

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A clássica publicação original, utilizada pelos alunos de finais do século XX

Falamos da Tabuada Escolar Ratinho, o seminal tomo da autoria de Alfredo Cabral e editado pela Papelaria Fernandes (que, aliás, foi durante muito tempo o único local onde o mesmo podia ser adquirido). Tal como o nome indica, esta publicação tem um único objectivo: ensinar a tabuada às crianças, oferecendo-lhes um suporte visual para os ensinamentos adquiridos na sala de aula, e servindo como 'auxiliar de memória' no momento da aplicação desse mesmo conhecimento. Não é, portanto, de estranhar que a mascote homónima na capa (uma espécie de irmão mais novo e mais 'atinado' do rato da Sacoor) fosse mesmo a única concessão feita pela edição original do tomo no que toca a 'floreados' gráficos, sendo o interior constituído, sobretudo, por texto preto sobre fundo branco; para Alfredo Cabral, e para a Papelaria Fernandes, o importante era o conteúdo do livro, e não a forma como o mesmo era apresentado. Esta é, aliás, a principal diferença entre a Tabuada Ratinho 'clássica', com que os leitores deste blog terão crescido, e a versão actual, que dá bastante mais importância ao aspecto gráfico, a começar pela capa.

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As publicações actuais da gama 'Ratinho' englobam uma grande variedade de disciplinas para lá da Matermática.

A versão actual não se encontra, aliás, sozinha nas prateleiras das papelarias e lojas de material portuguesas; pelo contrário, o sucesso da Tabuada original – uma daquelas publicações que marcam toda uma geração – incentivou a Papelaria Fernandes a expandir a 'gama' Ratinho, a qual, hoje em dia, inclui também auxiliares de gramática, vocabulário, língua inglesa e até música, além de uma versão actualizada do manual de tabuada; para a geração que originalmente conviveu com a publicação, no entanto, a única e genuína versão será sempre aquela mais 'gorda', de capa totalmente branca, nas páginas da qual aprenderam a tabuada, ali por volta do terceiro ou quarto ano de escolaridade...

21.09.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Antes da entrada no mercado laboral, o calendário de uma criança ou jovem (de qualquer época da História) tende-se a reger-se por certos acontecimentos-chave, normalmente 'balizados' por períodos de férias; e, desses, um dos principais é, sem dúvida, o regresso às aulas – aquele processo social que se inicia ou com o regresso de férias, ou na semana das matrículas, e termina cerca de um mês depois, aquando do fim da segunda semana de aulas.

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Neste período de pouco menos de trinta dias, o aluno médio (português ou de outro país, dos anos 90 ou da actualidade) abastecer-se-à do material necessário no hipermercado, supermercado ou loja de bairro mais próxima, reencontrar-se-à com amigos do ano anterior (ou fará novos), voltará a entrar na 'rotina' das aulas (ou ganhá-la-à, caso seja aluno da pré-escolar ou do primeiro ano do ensino básico), familiarizar-se-à com os livros de estudo e com o horário lectivo, conhecerá os novos professores e colegas de turma (e parece sempre haver novos colegas, mesmo em turmas que transitam do ano transacto) e, no caso dos praticantes de actividades extra-curriculares, perceberá como as mesmas se encaixam no seu quotidiano; a nível social, há ainda que impressionar os amigos com as histórias de férias (ou ter inveja, caso as deles tenham sido melhores do que as nossas), e aproveitar para perceber quais as 'modas' vigentes entre o corpo discente naquele ano, por forma a não ser apanhado desprevenido nesse campo.

Uma experiência relativamente imutável ao longo dos anos (e décadas, e séculos) cuja única diferença hoje em dia, em relação ao que se verificava há trinta anos atrás, se prende com o imediatismo da comunicação; isto porque, num período em que as redes sociais ainda não existiam e os telemóveis eram coisas básicas com ecrãs a preto-e-branco, era muito mais difícil saber dos amigos que não moravam perto de nós ou frequentavam os mesmos espaços – e, mesmo nestes casos, era preciso que os mesmos não tivessem ido de férias para fora, passar o Verão com a família remota, ou para uma colónia balnear. Assim, na prática, a maioria dos jovens em idade escolar acabava por só saber dos amigos e colegas aquando do recomeço das aulas, servindo aquelas semanas, também, para 'pôr a conversa em dia' e comparar 'notas' sobre o que os infindáveis três meses do Verão haviam rendido – informações que, hoje em dia, são praticamente inescapáveis por quaisquer duas pessoas que estejam conectadas numa rede social, reduzindo a necessidade de 'fofocar' com os colegas nos primeiros dias de aulas.

No cômputo geral, no entanto, pode considerar-se que a experiência do regresso às aulas se mantém, para os alunos portugueses, relativamente inalterada desde o tempo dos seus pais; as lousas podem ter sido substituídas por quadros inteligentes, e as fichas e circulares por emails ou 'apps' para telemóvel, mas o processo propriamente dito continua a ser essencialmente o mesmo das décadas de 80, 90 ou 2000, o que permite à geração que se 'estreia' agora na paternidade aconselhar, com conhecimento de causa, as novas gerações – um luxo a que eles próprios não chegaram a ter direito...

08.09.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

A experiência de ingressar oficialmente na escola é sempre um marco para qualquer criança, independentemente da nacionalidade ou do período em que viveu - sobretudo pelo sem-fim de trâmites e rituais que acarreta, da aquisição do material e roupa à mudança de rotinas diárias, até então, aparentemente imutáveis. Uma destas rotinas é, precisamente, a da refeição à mesa familiar, que, para muitas crianças, se torna a excepção, em vez da regra, a partir do momento em que iniciam o pré-escolar ou a instrução primária.

Como forma de 'suavizar' esta transição, e de colmatar quaisquer falhas na alimentação das crianças decorrentes da mesma, a Direcção Geral de Educação portuguesa inaugurou, ainda em finais dos anos 70, um programa que visava a distribuição, em escolas primárias e preparatórias, de cerca de dois decilitros de leite a cada aluno, sendo os mesmos, a princípio, criados sobre o lume a partir de leite em pó e, mais tarde, providenciados nas 'caixinhas' Tetrapak com que este tipo de produto alimentício viria a ficar conotado em décadas subsequentes.

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As pequenas 'obras de arte' descartáveis em que o leite era distribuído.

Foi neste formato que o Leite Escolar (como era, singelamente, apelidado) penetrou na infância das crianças da época a que este blog diz respeito, e é precisamente por ele que é, por elas, nostalgicamente recordado; isto porque o principal motivo de interesse deste leite não era o sabor (que não suplantava a mediania entre os leites com chocolate da época) mas sim a forma como os pacotinhos eram decorados – no caso, com desenhos criados por outras crianças, que davam a cada caixinha um aspecto distinto, e que quase faziam ter pena de a deitar fora depois de vazia - haverá aliás, quase certamente, quem se tenha mesmo dado ao trabalho de guardar as caixinhas, dispondo hoje, assim, de uma colecção que talvez até valha algum dinheiro. Já para quem tinha menos sensibilidades artísticas, a principal memória deste leite será do estampido que o pacote vazio fazia quando se lhe aterrava em cima a pés juntos – um barulho que, certamente, muita gente estará neste preciso instante a 'ouvir' mentalmente, após o ter provocado (ou com ele se ter assustado) na sala de aula da infância.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos alimentos que aqui têm vindo a ser recordados, o Leite Escolar ainda existe, continuando a ser distribuído em escolas de Norte a Sul do País exactos 45 anos após a criação do programa – embora, actualmente, apenas em agrupamentos que optem por aderir à iniciativa. Ainda assim, haverá pouco quem dispute (sobretudo entre a demografia a que este blog possa interessar) que o programa teve o seu auge em finais do século e milénio passados, quando as caixinhas distribuídas duas vezes por dia marcaram época entre as crianças de então...

28.07.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

E se na edição anterior desta rubrica falámos das canetas com vibração, chega agora a vez de falarmos do outro tipo de caneta praticamente sinónimo com essa altura da História, e que todo o estudante (sobretudo do sexo feminino) daquele tempo conhecia: a caneta multi-cores.

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Quem não se lembra?

De conceito extremadamente simples – tratavam-se, simplesmente, de vários 'tubos' de caneta, nas quatro cores mais comuns (azul, preto, verde e vermelho) inseridos num só invólucro exterior, o qual contava com um sistema de molas, que permitia escolher e activar a cor desejada, bastando para isso empurrar para baixo a mola da cor desejada, revelando e activando assim o bico dessa mesma cor; e quando se precisasse de trocar, bastava repetir o processo com a nova cor, sendo que, neste caso, a mola (e bico) anteriormente activados voltavam automaticamente à posição inicial, num efeito simultaneamente entusiasmante e frustrante (porque não terá, decerto, havido criança que não tivesse desejado poder utilizar dois bicos de cores diferentes, ou até todos, em simultâneo).

Apesar de serem, sobretudo, do agrado das raparigas (já que a metade masculina da população tem, famosamente, dificuldade em perceber a necessidade de canetas de outras cores que não o azul e preto) a verdade é que estes instrumentos não só permitiam a quem gostava de usar várias cores para tomar notas poupar no preço das canetas (não que as mesmas fossem muito caras, mas ainda assim...) mas também libertar no estojo espaço para as várias outras Quinquilharias de que aqui vimos falando, periodicamente, às Quintas-feiras - sendo as várias cores disponíveis, inclusivamente, benéficas ao criar uma delas, os icónicos Quantos-Queres.

Tal como muitos desses mesmos pequenos objectos, aliás, também estas canetas são, hoje em dia, visão menos comum nas prateleiras de lojas e estojos de estudantes do que em tempos foram – o que as torna, ainda mais, um elemento nostálgico da infância e adolescência de toda uma geração, hoje adulta, mas que certamente ainda se lembrará de usar este tipo de instrumento (em conjunto com os inevitáveis marcadores grossos, outro favorito das alunas femininas) para 'organizar' os apontamentos daquela disciplina particularmente difícil...

08.07.22

NOTA: Este post é correspondente a Quinta-feira, 08 de Julho de 2022.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O fascínio que as canetas 'invulgares' exerceram (exercem?) sobre as crianças e jovens de uma certa idade é um fenómeno tão inexplicável como inegável, como qualquer pessoa que tenha crescido nos finais do século XX e inícios do seguinte certamente atestará. De facto, essa era da História parece ter sido particularmente prolífera em instrumentos de escrita que, mais do que apenas oferecer cores ou efeitos fora do comum (como as sempre populares canetas 'brilhantes') eram verdadeiros exemplos de inovação num campo que tende a ter como principais valores a simplicidade e a consistência.

O exemplo mais comummente recordado deste fenómeno eram (são) as famosas canetas multicores, em que a pressão numa das muitas patilhas localizadas em torno do instrumento activava a ponta da respectiva cor; no entanto, a década a que este blog diz respeito viu, ainda, nascer (e morrer) outro tipo de caneta, ainda mais invulgar e entusiasmante do que estas – as canetas vibratórias.

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Metade instrumento de escrita, metade curiosidade semi-carnavalesca (e, suspeitamos, capazes de suscitar polémica se comercializadas nos dias de hoje) estas canetas destacavam-se, sobretudo, pela função que lhes dava nome – nomeadamente, a possibilidade de, após inserida a quantidade correspondente de pilhas, activar uma função vibratória, que fazia tremer tanto a caneta como a mão de quem a empunhava, resultando em linhas, invariavelmente, tortas e repletas de 'zigue-zagues', a fazer lembrar um detector de mentiras ou monitor de pulsação cardíaca. Ao mesmo tempo, no entanto, o instrumento permitia um certo grau de controlo mesmo após activada esta função, o que permitia criar propositadamente linhas irregulares, transformando o que poderia ser um elemento causador de frustração no oposto – uma fonte de diversão para o utilizador da caneta.

Tal como tantos outros produtos de que falamos nestas páginas, as canetas vibratórias desapareceram tão celeremente como haviam surgido, não obstante a substancial popularidade de que gozavam como 'quinquilharia' de estojo de lápis – facto que talvez esteja ligado à predisposição por parte das crianças da época para as usarem como um autêntico (e, muitas vezes, único) objecto de escrita, sem que, ao mesmo tempo, fossem capazes de resistir à tentação de activar o seu 'efeito especial'...

Qualquer que tenha sido a razão por detrás da sua 'extinção' enquanto instrumento integrante dos estojos escolares infantis (apesar de, aparentemente, ainda serem comercializadas), é inegável que estas canetas marcaram quem com elas conviveu, e teve o privilégio de alguma vez as utilizar, justificando plenamente um lugar no pódio das 'quinquilharias' deste nosso blog.

18.06.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Depois de na passada Quarta-feira termos falado das circulares escolares, nada mais apropriado do que, neste Sábado de Saídas, abordarmos uma das razões mais comuns – e entusiasmantes – para as mesmas serem distribuídas: as visitas de estudo.

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Representação aproximada da experiência de sair em visita de estudo

Apesar de não terem, regra geral, lugar ao Sábado, por não ser dia de escola – quem tivesse uma visita de dois dias ou fim-de-semana podia considerar-se invulgarmente afortunado – as visitas de estudo não deixavam de estar entre as saídas mais memoráveis para a geração que cresceu e andou na escola entre as décadas de 80 e 2000 (situação que se crê, presumivelmente, ser semelhante para as crianças e jovens que frequentam actualmente o ensino, por muito que o cariz dos próprios passeios tenha mudado nos entrementes.) As razões para tal carácter marcante eram várias, e iam da mais básica – a disrupção do habitual 'rame-rame' das aulas ao dia de semana – até outras menos evidentes, mas não menos válidas, como o facto de as referidas visitas permitirem conhecer locais novos e, potencialmente, relevantes para os interesses de certos alunos.

De facto, entre os dois tipos de visita de estudo – a de proximidade e a que implicava viagens mais longas – este último tipo era sempre o mais entusiasticamente recebido e antecipado, não só pela perspectiva da própria viagem de camioneta, mas também por permitir aos alunos visitar localidades e locais de que dificilmente teriam tido conhecimento por si mesmos; no entanto, até mesmo as visitas a sítios mais próximos tinham o seu quê de entusiasmante, especialmente se o destino fosse um museu ou exposição de carácter apelativo para a demografia-alvo, fosse pelo tema (sendo que dinossauros ou o espaço exterior eram sempre mais interessantes do que arte antiga, por exemplo), fosse pelo cariz interactivo que apresentava.

Fosse qual fosse o teor, no entanto, qualquer visita de estudo era sempre bem recebida, quanto mais não fosse pela oportunidade de passar um dia fora da sala de aula, com os amigos, e viver experiências diferentes das habituais; talvez por isso tantos ex-jovens dos anos 90 tenham recordações vivas e nostálgicas deste tipo de saída, cuja importância foi algo diminuída (embora de modo algum obliterada) pela era da Internet, em que tudo pode ser feito de forma virtual. Espere-se, pois, que as gerações vindouras possam, ainda, vir a vivenciar esta experiência tão marcante do período de frequência da escola.

15.06.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Qualquer criança ou jovem em idade escolar do Portugal de finais do século XX e inícios do XXI se lembra daquele momento em que, durante uma aula perfeitamente vulgar, o professor ou professora retirava da pasta ou secretária uma resma de papéis em formato A6 (ou ainda menor) e começava a distribuí-los pelas carteiras. O mero vislumbre das ditas-cujas folhas dava, quase de imediato, azo a uma catadupa de emoções, à medida que o jovem em causa tentava adivinhar o teor do que nelas estava escrito, que podia ir de uma autorização para uma visita de estudo (momento de júbilo para qualquer estudante, fosse à época ou nos dias de hoje) a um convite para uma festa da escola, ou ainda informações relativamente a uma reunião de pais (que já causavam sentimentos um pouco mais díspares, dependendo da conduta do aluno) ou à periódica e bem clássica inspecção aos piolhos.

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Exemplo moderno de uma típica circular escolar, no caso para informar sobre uma visita de estudo.

Fosse qual fosse o seu conteúdo, o simples acto de levar para casa uma circular (nome genérico para qualquer pedaço de papel de cariz oficial recebido na escola) era, já de si, disruptivo o suficiente para tornar aquele dia marcante – mesmo quando, por vezes, havia um quê de preocupação com o modo como a mesma iria ser recebida em casa - qualquer ex-aluno recordará o terror absoluto de receber uma circular INDIVIDUAL, a convocar APENAS OS SEUS pais para uma reunião com a directora de turma...

Esta tendência para suscitar uma resposta emocional da parte dos alunos foi, aliás, precisamente o que ajudou a fazer das circulares escolares um dos muitos elementos marcantes da infância e juventude de quem frequentou o ensino básico ou secundário em Portugal na era imediatamente anterior ao advento da Internet. Pena, portanto, que hoje em dia todas estas comunicações sejam feitas directamente com os encarregados de educação, por e-mail, e sem necessidade de utilizar o aluno como intermediário – pois a verdade é que as crianças e jovens de hoje em dia jamais conhecerão a sensação de ver um professor tirar aquela resma de papéis de um qualquer canto da sua secretária, e a emoção que tal gesto provocava entre os alunos...

04.05.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Numa época em que o acto de conhecer uma pessoa do outro lado do Mundo se desenrola em alguns cliques, pode parecer caricato que, há menos de um quarto de século, ainda era difícil a muitos jovens portugueses conhecerem pessoas fora da própria turma da escola, e menos ainda conseguirem os seus números de telefone para os contactar à distância (as redes sociais eram, ainda, meros produtos da imaginação de universitários californianos.)

Um dos muitos métodos que instituições frequentadas diariamente por jovens – como escolas, grupos de juventude e colónias de férias – utilizavam para assegurar que esses mesmos jovens se conheciam e comunicavam, mesmo que não em pessoa, era o mítico e sempre divertido jogo do 'Amigo Secreto' – não aquele em que toda a gente do escritório troca prendas no Natal, mas sim a versão que envolve uma 'caixa do correio' e a atribuição aleatória de um correspondente, ao qual cada jovem deve escrever anonimamente, até que o mesmo desvende o mistério da sua identidade.

Uma premissa que dava, invariavelmente, azo a muita diversão, até porque havia sempre quem não fosse cem por cento honesto, optando por incluir nas suas missivas supostas pistas destinadas a desviar a atenção do correspondente, e o fazer pensar que o seu Amigo Secreto era qualquer outra pessoa. Desde a escrita com uma letra diferente à ambiguidade quanto a detalhes pessoais, eram muitos os subterfúgios utilizados pelos correspondentes mais 'espertos' para prolongar mais um pouco o jogo – e a verdade é que a maioria dos mesmos resultava, obrigando muitas vezes o coordenador do jogo (normalmente um professor ou monitor) a revelar ao respectivo jovem de quem eram, afinal, aquelas cartas secretas.

À semelhança de muitos dos assuntos nostálgicos de que aqui falamos, é fácil perceber porque é que o 'Amigo Secreto' saiu de moda; o advento da Internet 2.0 não só veio facilitar as interacções, conforme descrito no início deste texto, mas também viu nascer uma geração para quem certas nuances desse tipo de jogo talvez não fossem aceitáveis - até porque, no mundo cibernético, a anonimidade é normalmente vista como desculpa para testar limites de que, naqueles idos de 1990 e 2000, a geração hoje entre os vinte e os quarenta anos nem sonhava em tentar aproximar-se, naquele que é só mais um exemplo da forma como a sociedade mudou nas últimas duas a três décadas.

Assim, para quem alguma vez participou num jogo de Amigo Secreto, restam hoje apenas as memórias daquelas folhas de papel cuidadosamente dobradas, com o respectivo nome escrito (e, muitas vezes, decorados a preceito) que se recolhiam daquela caixa toscamente forrada com cartolina e se liam, vorazmente, a um canto, tentando esconder a missiva dos amigos, a fim de evitar a galhofa se, porventura, esta fosse de um membro do sexo oposto...

14.04.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

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Quando se é criança, 'vale tudo' para 'desligar', mesmo que por momentos, de uma aula chata; e nos anos 90, quando os telemóveis ainda eram mais excepção que regra e os 'tablets' ainda nem eram ideia no cérebro de um qualquer cientista, uma das principais formas que as crianças de todo o Mundo encontravam para 'matar tempo' nessas alturas mais chatas (quando não estavam a passar papéis entre si, claro) eram as confecções em papel, criadas com as folhas dos cadernos e 'dossiers'.

Da mais famosa destas - o quantos-queres - já falámos numa edição anterior desta rubrica; hoje, dedicaremos a nossa atenção às outras principais categorias de criações deste tipo - a saber, os barcos, os chapéus e, claro, os aviões de papel.

Dos três tipos, o mais universal era, sem dúvida, o último, até por um avião de papel ser tão fácil de criar - e a definição do que constituía uma criação deste tipo tão lata - que até quem não tinha grande jeito podia rapidamente 'fabricar' um destes artefactos e gerar algum entusiasmo, fosse na sala de aula ou cá fora, no recreio (as competições para ver que avião voava mais longe eram praticamente um ritual entre jovens de uma certa idade); por contraste, os barquinhos requeriam água nas proximidades (e tendiam a desfazer-se rapidamente) e os chapéus deixavam de servir após uma certa (pouca) idade. Ainda assim, qualquer destes três elementos constituía uma 'quinquilharia' artesanal perfeitamente válida - e, mais importante, uma forma divertida de fazer 'acelerar' o tempo num dia de escola mais lento...

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