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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.03.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Numa era em que tudo está disponível em formato digital e à distância de poucos 'cliques' (ou, alternativamente, sob a forma de eventos organizados) é cada vez mais fácil a qualquer criança ou jovem 'transformar-se' naquilo que sempre sonhou ser, seja como protagonista de um jogo de computador – a maioria dos quais permite um nível de customização impensável para a geração dos seus pais – ou como herói de uma 'fanfic', a infame modalidade de escrita que permite criar novas histórias a partir de personagens ou mundos previamente estabelecidos. Há trinta anos, no entanto – quando os computadores pessoais se encontravam ainda em início de vida e a Internet massificada pouco passava de uma miragem – quem quisesse 'encarnar' o seu herói ou heroína favorito durante algumas horas apenas tinha duas opções: fazê-lo a solo, em privado, ou chamar os amigos e organizar uma brincadeira de 'faz-de-conta'.

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Tal como sucedia com a maioria dos jogos de rua da altura, estas brincadeiras não tinham regras estabelecidas e pré-definidas; regra geral, uma vez acordado o universo da brincadeira e escolhidos os personagens, o único limite era a imaginação. Era possível, por exemplo, fazer duas equipas de propriedades intelectuais absolutamente distintas colaborarem, ou encenar uma batalha que, na realidade, talvez nunca chegasse a acontecer, opondo, por exemplo, os Power Rangers às Tartarugas Ninja; quem tinha mais imaginação podia, mesmo, subverter expectativas e inserir os personagens escolhidos numa situação menos típica ou mais quotidiana, com pouco ou nenhum recurso à acção e aventura pelas quais eram conhecidos. Fosse qual fosse a via escolhida, e mesmo o número de participantes, qualquer brincadeira deste tipo era garantia de uma tarde de Sábado aos Saltos bem passada.

Apesar de, conforme referimos no início deste texto, a progressão tecnológica estar a tornar progressivamente desnecessário o recurso à imaginação, queremos acreditar que o 'faz-de-conta' sobreviva ainda pelo menos mais uma geração, antes de o uso de 'tablets' e programas de televisão logo desde a nascença tornar essa práctica obsoleta. Cabe, pois, à demografia que tem, agora, crianças pequenas fomentar as fantasias e sonhos, para garantir que os mesmos não se perdem no imediato, e que os filhos da 'geração Z' ainda são capazes de se imaginar princesas, piratas, super-heróis ou membros de seja qual fôr o desenho animado 'da moda' na sua época...

03.02.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui anteriormente falámos dos jogos tradicionais de rua, cujas regras e rituais são passados de uma geração para a seguinte quase que como por osmose, não havendo, até hoje, nenhuma 'leva' de crianças que não os saiba, instintivamente, jogar; chega, agora, a hora de falar de uma outra actividade, adjacente embora não pertencente a esse grupo, mas que partilha muitas das características do mesmo – as brincadeiras de roda.

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Embora menos populares do que jogos como as escondidas, apanhada, 'Macaquinho do Chinês' ou 'Mamã Dá Licença' – e embora se encontrassem já em declínio em finais do século XX – os jogos de roda foram, ainda, a tempo de divertir a maioria das crianças da geração 'millennial', que terão tido contacto com uma actividade deste tipo pelo menos uma vez na vida, quer organicamente, quer através de actividades de grupo (era surpreendentemente popular como exercício de aquecimento em grupo em aulas de artes marciais para crianças, por exemplo) ou aulas de Educação Física. E se estas últimas insistiam, muitas vezes, no formato tradicional (excluindo, apenas, as características músicas que se cantariam se a roda fosse feita no recreio), as brincadeiras mais espontâneas tinham, na maioria das vezes, alguns desvios, como a adição de jogos de palminhas em permeio à roda em si, transformando o jogo numa espécie de 'dois-em-um' de brincadeiras de recreio, e tornando-o, assim, automaticamente mais interessante do que as rodas 'à moda antiga' que divertiam os pais e avós das crianças dos 'noventas'.

Escusado será dizer que, ao contrário do que aconteceu com alguns dos outros jogos seus contemporâneos, as rodas nunca chegaram a desfrutar de um regresso à popularidade, havendo hoje em dia muito poucas crianças que sequer saibam do que se trata tal conceito; cabe, pois, aos ex-jovens daquela época não deixar cair no esquecimento esta brincadeira nostálgica que, sem nunca ser 'primeira escolha', era ainda assim capaz de proporcionar bons momentos durante um Sábado aos Saltos.

09.12.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Numa altura do ano em que nem sempre apetecia passar a tarde na rua, existiam ainda assim, nos anos 90 e 2000, vários jogos e brincadeiras que se podiam levar a cabo entre amigos, mesmo num espaço interior. De uma delas, o jogo do quarto escuro, já aqui falámos numa rubrica anterior; esta semana, chega a altura de recordar outra, que persiste também até aos dias de hoje, apesar de com menor expressão: o jogo do 'telefone estragado'.

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Conhecido por várias variantes desse mesmo nome – como 'telefone avariado' – o jogo tem mantido, no entanto, as mesmas regras através das gerações: os participantes dispõem-se em linha, e cabe ao primeiro da fila escolher e transmitir uma mensagem que deverá chegar até ao fim da mesma. Para este efeito, cada participante sussurra ao ouvido do seguinte aquilo que ouviu, ou pelo menos, aquilo que pensa que ouviu – sendo este, precisamente, o aspecto fulcral que dá ao jogo o seu apelo. Isto porque, na maioria das vezes, a mensagem que chega ao fim da fila é hilariantemente diferente da original, o que ajuda a realçar os problemas de compreensão e, por arrasto, de comunicação que existem, mesmo entre amigos, e mesmo em proximidade. Mesmo em algo 'dito ao ouvido', existe sempre aquela palavra que 'engana', sendo este erro, depois, transmitido ao próximo jogador, e por aí fora até ao final da linha, resultando na mensagem errónea que o último jogador recebe.

Um jogo simples, que não envolve quaisquer recursos excepto os próprios participantes, e cujo factor de diversão o torna intemporal – afinal, quem não gosta de dar umas gargalhadas à 'custa' dos amigos, ou mesmo de si próprio? É este aspecto que faz crer que o jogo do 'telefone estragado' continue a persistir nos recreios da Geração Z – isto, claro, se não tiver sido substituído por uma 'app' ou serviço de inteligência artificial que tome o lugar dos jogadores e retire toda a 'piada' à brincadeira...

25.11.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Numa edição recente desta rubrica, falámos das competições físicas entre crianças e jovens, normalmente traduzidas em corridas, concursos de pinos, rodas ou cambalhotas, e outros 'malabarismos' vários; no entanto, nessa ocasião, ficou por abordar uma forma de confronto tão popular quanto todas essas, e muito mais próxima do verdadeiro significado da expressão 'medir forças' – o braço de ferro.

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Longe de ser do interesse exclusivo das crianças e jovens, este jogo não deixava, no entanto, de exercer considerável fascínio junto dos mesmos, não só por envolver provas de força e capacidade física – aspectos extremamente importantes para essa mesma demografia – mas também por as naturais diferenças de desenvolvimento, típicas do período formativo infanto-juvenil, adicionarem mais um elemento ao desafio; pior ficavam, como é óbvio, os menos fisicamente pujantes, que tendiam a sair derrotados pelos seus colegas mais fortes ou maduros. Ainda assim, nada que impedisse ou inibisse a sua participação na próxima ronda de confrontos – afinal, nada é impossível, e até o menos fisicamente dotado dos jovens podia sempre conseguir uma 'gracinha'...

Este fascínio pelo braço-de-ferro estava, igualmente, longe de ser exclusivo do território português, tendo o jogo mesmo chegado a servir de tema a um filme com Sylvester Stallone, onde era tratado como um desporto ou arte marcial legítima! E apesar de o interesse por este tipo de competição rapidamente ter esmorecido no panorama mediático, é de crer que o mesmo continue a reter algum atractivo para os jovens actuais; afinal, os conceitos em que se baseia (a competição, o confronto físico e a demonstração de superioridade em relação ao próximo) tendem a ser 'perenes' entre as faixas etárias mais novas. Adicione-se a isso o facto de o braço-de-ferro tão pouco necessitar de qualquer tipo de material (à excepção de uma qualquer superfície onde assentar os cotovelos durante a medição de forças) e estão reunidas as condições para o mesmo reter o seu estatuto como 'jogo rápido de recreio' durante ainda muitas gerações...

 

28.10.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

A infância e adolescência, como fases formativas da personalidade humana que são, trazem consigo certas compulsões e impulsos primários e inexplicáveis, que se vão esbatendo gradualmente à medida que o ser humano em causa se aproxima da idade adulta. Destes instintos, um dos mais conhecidos (e nostálgicos) é aquele que impulsiona à perturbação, ainda que temporária, de uma superfície inerte e simétrica, sobretudo se a mesma for de origem natural; por outras palavras, trata-se da compulsão que leva qualquer criança a saltar a pés juntos para dentro de uma poça de água num dia chuvoso ou, numa tarde de Outono, a lançar-se sobre um monte de folhas caídas que alguém tenha tido o cuidado de recolher do chão.

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Quem nunca...?

De facto, qualquer criança da época atestará que, assim que chegava o Outono, nenhum jardineiro (profissional ou amador) estava inteiramente a salvo de ter as suas meticulosas pilhas de folhas espalhadas aos quatro ventos pelas crianças ou jovens mais próximos, fosse através do salto (algo que é, também, irresistível para a maioria dos cães) fosse simplesmente atirando-as com os pés ou as mãos, quer uns aos outros, quer apenas 'ao ar'. E, ao contrário do que se possa pensar, a grande maioria destes 'putos' não tinha, nesta acção, qualquer intenção malévola ou destruidora; muitas vezes, tratava-se, apenas, de uma expressão da alegria de viver, e de gozar a natureza outonal.

Com a maior sensibilização para a natureza e trabalho alheio da Geração Z relativamente à sua antecessora (bem como o maior pendor para actividades digitais, por oposição a físicas) é de crer que este tipo de 'ritual' de Outono se esbata, ou até desapareça, nos próximos anos; é possível, no entanto, que o mesmo instinto de que falámos no início deste texto ainda se aplique aos 'putos' de hoje em dia, e que um monte de folhas caídas recohidas em monte a um canto continue a representar, para os mesmos, o mesmo 'alvo' irresistível que era para os seus pais...

14.10.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Apesar de a maioria dos tópicos abordados nesta secção serem referentes a actividades em conjunto, as crianças dos anos 80, 90 e 2000 também sabiam brincar sozinhas, mesmo no exterior; e. nessa conjuntura, uma das mais frequentes actividades prendia-se com algo que hoje sabemos ser crueldade animal, mas que, à época, pretendia apenas saciar a curiosidade natural dessa fase do desenvolvimento humano.

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Quem nunca?

Falamos das inúmeras 'brincadeiras' e 'experiências' que tinham como vítima os insectos e outros animais de porte microscópico, como os girinos e peixes bebés; e ainda que algumas destas fossem relativamente inocentes (como apanhar peixinhos, girinos ou 'alfaiates' no balde, na praia, ou num copo ou recipiente, no rio) outros cruzavam, efectivamente, o limiar da crueldade, como o arrancar das asas às moscas, impedindo-as de voar, o agarrar em borboletas pelas asas, o desenrolar forçado de bichos de conta, o desenterrar de minhocas da terra, o esborrachamento de formigas com os dedos ou a inserção de paus ou agulhas de caruma nas cascas dos caracóis para os fazer sair. Não deixa de ser estranho que, entre uma demografia que condenava intrinsecamente outros actos (como queimar formigas com lupas, por exemplo) este tipo de acções fosse tomado como perfeitamente normal, mas era precisamente isso que se passava, não havendo certamente um único membro das gerações 'X' e 'millennial' que não seja culpado de ter feito pelo menos uma destas coisas, pelo menos uma vez - por aqui, por exemplo, esborracharam-se ou desviaram-se do rumo muitas formigas em momentos de maior aborrecimento, e também se perturbaram muitos caracóis para os ver 'correr'...

Felizmente, a sociedade evoluiu desde esse tempo, e actos como os anteriormente referidos são, hoje, activamente denunciados, inclusivamente pela demografia equivalente à acima mencionada – apesar de a existência ainda hoje, no Google, de um jogo para telemóvel intitulado 'Ant Smash', já na terceira edição, indicar que talvez nem tanto tenha mudado desde aqueles anos...

01.10.23

NOTA: Este post é correspondente a Sábado, 30 de Setembro de 2023.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

O título desta rubrica remete a um período em que as crianças passavam, ainda, os dias 'de folga' e com sol maioritariamente no exterior – e em que, apesar da vasta panóplia de apetrechos 'auxiliares de brincadeira', muito desse tempo era gasto em brincadeiras tão simples que mal requeriam equipamento. Dessas, já aqui falámos dos jogos tradicionais, do futebol humano, do 'quarto escuro' (este jogado dentro de portas, mas fácil de inserir na mesma categoria) e dos jogos 'de palminhas' e da 'sardinha'; no entanto, pode ainda ser adicionada a esta lista uma actividade tão simples e divertida quanto os concursos de cambalhotas, de pinos ou de rodas.

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De facto, eram poucas as oportunidades para se 'exibir' fisicamente diante dos seus pares que as crianças de finais do século XX desperdiçavam – e concursos deste tipo (levados a cabo quer na rua, quer no jardim, na praia, ou até mesmo dentro de água, no mar ou na piscina) eram a oportunidade perfeita para o fazer. Pior ficava quem mal conseguia fazer uma roda sem dobrar as pernas, ou um pino sem se encostar à parede; para quem era mais atleticamente inclinado, no entanto, competições deste tipo eram 'ouro sobre azul', já que permitiam superiorizar-se aos colegas e amigos e, quiçá, até deixar bem impressionado o sexo oposto...

Mais - apesar dos recursos tecnológicos terem vindo diminuir consideravelmente a frequência deste tipo de brincadeiras, as mesmas têm um cariz suficientemente intemporal para nunca desaparecerem totalmente dos recreios, pátios e quintais do nosso País, sendo de crer que a Geração Z continue, sobretudo em meios mais rurais, a proceder exactamente aos mesmos trâmites que orientavam este tipo de competição no tempo dos seus pais ou até avós, e a descrever, no asfalto, terra ou relva, rodas perfeitas, cambalhotas e 'mortais' mirabolantes, e pinos (em uma ou duas mãos) de fazer inveja a qualquer ginasta. A diferença é que as referidas 'piruetas' serão, depois, partilhadas no TikTok ou Instagram, impressionando assim não só os amigos, mas todos aqueles que as virem na Internet...

02.09.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Apesar das rápidas mudanças sociais, culturais e tecnológicas verificadas em finais do século XX, o Portugal dos anos 80 e 90 continuava, particularmente nas zonas rurais, a contar com uma série de ligações às décadas transactas, quer a nível de festividades e tradições, quer mesmo de brincadeiras. E se os baloiços de pneu, os jogos tradicionais ou brincadeiras como os berlindes ou o pião ainda contavam com alguma tracção mesmo em ambientes mais urbanos, outros elementos havia que já se cingiam, quase exclusivamente, ao Portugal rural; e, destes, um dos mais conhecidos era o jogo da 'malha', ou do chinquilho.

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Sem qualquer expressão nas escolas, clubes ou comunidades das chamadas 'grandes cidades' portuguesas, esta brincadeira continuava, no entanto, a animar os Sábados aos Saltos de muitos 'putos' noventistas residentes em localidades mais pequenas e, na altura, ainda mais remotas ou menos desenvolvidas. Essa menor presença de tecnologias como os computadores ou as consolas, bem como de outros brinquedos da moda - e, por vezes, até de estruturas como um parque infantil, como nos recordava um lendário anúncio da época -  era, aliás, um dos principais factores responsáveis pela persistência deste tipo de jogo e brincadeira nestes ambientes, por oposição aos das cidades, onde tudo se movia mais depressa e os produtos chegavam mais cedo.

Assim, eram ainda muitos os jovens que, nos anos 80 e 90, passavam a tarde de fim-de-semana acocorados no chão, a tentar derrubar, com pedras (ou 'malhas'), um pino ou prego colocado a alguma distância e semi-enterrado no chão – sendo o vencedor, obviamente, aquele que primeiro conseguisse cumprir este objectivo, ou que, pelo menos, conseguisse fazer chegar a sua 'malha' o mais próximo possível do alvo. Uma fórmula simples, tão simples quanto a de qualquer outro jogo tradicional de exterior, mas igualmente capaz de proporcionar momentos de diversão às crianças daquele tempo mais simples, em que os jogos de computador e de vídeo eram caros, e os 'smartphones' pouco mais do que um 'sonho molhado' de personagens como Steve Jobs.

Ainda assim, não é difícil constatar o porquê de o jogo da malha ter perdido a popularidade de que então gozava; com as suas conotações populares (vem dele o verbo 'achincalhar') e associações a um tempo em que a sociedade portuguesa sofria uma intensa divisão de classes, esta era uma actividade que se prestava, naturalmente, ao repúdio das gerações mais novas – o que, aliado à globalização da tecnologia, contribuiu para tornar o chinquilho um jogo quase exclusivamente desfrutado pelas gerações mais velhas.

A herança e tradição deste jogo não se encontram, no entanto, totalmente perdidas – em Bragança, por exemplo, ainda se joga assiduamente ao 'fito', variante nortenha deste mesmo jogo. O rápido envelhecimento das gerações que conheceram este jogo poderá, todavia, resultar numa extinção a médio prazo desta tradição portuguesa em tempos tão popular; resta esperar que tal previsão não se torne realidade, para que este jogo tradicional com origens no tempo das ocupações romanas não veja terminada de forma tão abrupta a sua História milenar, e para que não se perca ainda mais uma das já poucas ligações ao passado remoto do nosso País.

05.08.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Um dos temas recorrentes deste nosso blog prende-se com a relação directa entre a simplicidade de um brinquedo ou produto e o seu potencial para diversão – um paradigma que ganha a sua máxima expressão com alguns dos brinquedos de exterior que faziam as delícias das crianças noventistas. De tubos que, ao serem girados, faziam eco a simples balões de hélio, passando pelas bisnagas, pelos martelinhos de borracha, pelas rodas e outros brinquedos de empurrar ou puxar, pelos baloiços artesanais ou pelas eternas bolas, são inúmeros os exemplos de produtos que, apesar de simples, eram também capazes de render momentos bem divertidos; e, a essa lista, há ainda que juntar o brinquedo de que falamos hoje, e que qualquer jovem crescido em finais do século XX imediatamente reconhecerá e recordará da sua infância.

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Falamos dos cata-ventos, simples pedaços de plástico multi-colorido retorcidos numa configuração aerodinâmica e 'espetados' num pauzinho, também feito de plástico, pronto a absorverem qualquer aragem que lhes permitisse mostrar o seu 'truque': um efeito giratório que tirava o máximo partido das cores utilizadas, e que deixava deliciado qualquer pequeno da época – especialmente quando a referida aragem era combinada com um movimento rápido, de corrida, que fazia com que o efeito se realizasse com ainda maior velocidade, criando um padrão visualmente espectacular. A única preocupação era, pois, a possibilidade de apanhar vento em excesso, havendo, nesse caso, grandes probabilidades de o plástico ser arrancado do pauzinho e levado por uma rajada, acabando assim com o brinquedo. Mesmo esse caso era, no entanto, de somenos importância, já que os cata-ventos eram não só fáceis de encontrar, como também relativamente baratos, o que tornava simples encontrar um substituto em caso de 'desastre'.

Tal como muitos outros brinquedos e produtos de que aqui vimos falando, os cata-ventos inserem-se naquele grupo de distracções de finais do século XX que dificilmente interessarão às crianças do Novo Milénio, com a possível excepção das muito pequenas; de facto, seria mais provável ver membros da Geração Z a utilizar uma aplicação de telemóvel que simulasse um destes brinquedos do que a correr pelo jardim com um deles na mão; os seus 'antecessores' das gerações 'millennial' e X, no entanto, sabem o prazer único que dava sair à rua com um cata-vento num Sábado aos Saltos de Primavera ou Verão, e esperar que o vento fizesse a sua parte – um daqueles prazeres simples que, infelizmente, parecem cada vez mais perdidos no novo Mundo digital.

16.07.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por várias vezes aludimos ao facto de um brinquedo, jogo ou divertimento não precisar de grandes 'truques' para fazer as delícias das crianças, e de, pelo contrário, os conceitos mais simples serem, por vezes, os que mais sucesso fazem entre a demografia em causa. O jogo de que falamos este Domingo – cuja origem remonta à China antiga, mas que gozou do seu período de maior popularidade em Portugal entre os anos 80 e 90 do século passado – é (mais) um exemplo perfeito desse paradigma, rendendo largos minutos de diversão numa tarde de Domingo sem, para isso, necessitar de regras complexas ou mesmo de grandes acessórios ou apetrechos.

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A tradicional caixa portuguesa do jogo.

Falamos do Mikado, comercializado em Portugal (como a maioria dos jogos e puzzles) pela Majora, e que a maioria da geração 'millennial' conheceu na clássica caixa amarela, com uma ilustração que, hoje, talvez fosse considerada racista, mas que fazia perfeito sentido à época: um jovem chinês, com o tradicional chapéu em 'cone', sentado, bem, 'à chinês' em frente à entrada de um templo, a jogar o jogo dos 'pauzinhos'. Dentro da caixa propriamente dita vinham os referidos pauzinhos, em plástico de diversas cores, e com o único pauzinho branco (objectivo máximo do jogo) a destacar-se dos demais pela sua singularidade, e a habitual folha de instruções; nada mais era necessário para dar início à diversão.

E diversão era coisa que não faltava num jogo de Mikado – a par e passo com a controvérsia. Isto porque o objectivo do jogo (retirar, gradualmente, pauzinhos da pilha, sem fazer mexer os que os circundavam, com o objectivo de chegar à vareta branca, que dava a vitória imediata) era lato o suficiente para estar sujeito a interpretação – nomeadamente, sobre o que constituía 'movimento'. De facto, qualquer criança ou jovem da época que tenha disputado pelo menos uma partida de Mikado se lembrará da eterna discussão sobre se um pauzinho se tinha mexido ou não, ao que também não ajudavam certos movimentos involuntários e ilusões de óptica, que permitiam, por vezes, 'fazer batota' e sair impune e, outras, ser castigado por uma manobra perfeitamente legal. No fundo, uma situação análoga à do Uno, e que causava o mesmo tipo de atrito entre os jogadores.

Ainda assim, as 'brigas' provocadas pelo Mikado eram daquele tipo são, decorrente da competitividade dos jogadores, e que ficavam sanadas antes do início da próxima partida – a qual, na maioria das vezes, tinha lugar imediatamente a seguir à anterior; isto porque, apesar de simples (ou precisamente POR ser simples) o Mikado tinha aquele factor de 'vício', que fazia com que, muitas vezes, se passasse bem mais tempo a jogar do que inicialmente pretendido.

No fundo, o Mikado foi (só mais) um dos muitos exemplos de jogos infantis da 'época áurea' que apostavam na simplicidade e facilidade de aprendizagem como principal atractivo, e que conseguiam 'entreter' tanto a nível competitivo como mental e estratégico. Não é, pois, de estranhar que o jogo 'importado' da China pela Majora tenha adquirido o merecido estatuto de clássico entre a juventude portuguesa de finais do século XX, para quem é mais um de entre inúmeros elementos da memória nostálgica de um certo período de tempo de características únicas e, infelizmente, irrepetíveis.

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