03.08.21
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Por muito estranho que possa parecer no mundo hiper-tecnológico de hoje em dia, houve um tempo, ainda bastante recente, em que não bastava agarrar o dispositivo mais próximo para saber informação sobre um qualquer tópico ou produto; pelo contrário, era preciso não só pesquisar como, em certos casos, esperar até que os ditos dados pudessem ser veiculados. Era uma era pré-Internet, em que as revistas, os programas de televisão e outros veículos semelhantes se revestiam de uma importância que o advento dos motores de pesquisa lhes veio retirar.
Era neste mundo, especificamente em Portugal, que, em 1995, estreava um programa destinado a tornar-se um favorito entre o seu público-alvo, precisamente por veicular alguma dessa preciosa e inatingível informação, sobre um dos temas do seu interesse; um programa que erguia um lugar de oração a uma das principais formas de entretenimento dos anos 90, e que se viria a tornar uma parte lendária da grelha programática da época, por uma variedade de razões.
Falamos, claro, do ‘Templo dos Jogos’, o principal magazine de entretenimento informático e digital do Portugal dos 90s. Transmitido pela SIC no horário reservado ao público infanto-juvenil, este programa constituiu, durante muito tempo, única maneira de ver em movimento os principais jogos lançados para as consolas da época, sem estar fisicamente junto a uma delas – o que, numa época em que a única alternativa para os ‘gamers’ eram as algo dispendiosas revistas de jogos, ajudou a assegurar a popularidade do programa.
Nem só de vídeos exclusivos vivia o ‘Templo’, no entanto; havia também segmentos dedicados a truques e dicas para os jogos mais populares da época - mais uma vez, algo que hoje se consegue em matéria de segundos, mas que na altura só era acessível mediante a compra de uma revista, e mesmo assim, em número limitado a cada mês – e críticas aos principais lançamentos do mês, as quais constituíam um ‘meme’ involuntário por serem sempre, mas S-E-M-P-R-E, avassaladoramente positivas. Esta característica era de tal forma exacerbada, que jogos que eram ‘destruídos’ por toda a restante imprensa saíam do Templo com, talvez, vá, 70%, os melhores, nunca abaixo de 80-85%, e notas de 95-100% não eram, de todo, raras. Esta abordagem não era, claro, nada boa para a credibilidade, mas por outro lado, ninguém de entre o público-alvo tinha o ‘Templo’ como fonte credível de perspectiva critica; não era exactamente para isso que se via o programa.
Este jogo não devia ser grande 'espingarda'...
Outro factor que ajudava o ‘Templo’ a destacar-se era a apresentação, bem ao estilo anos 90, com duos de apresentadores masculino e feminina, os quais adoptavam um estilo enérgico, mas sem exageros, e simples, sem ser simplista – exactamente o que o programa e a sua audiência pediam. Assim, não é de estranhar que alguns dos nomes que pregaram no ‘Templo’ tenham tido carreiras honrosas no mundo da apresentação de televisão; neste campo, o destaque vai todo para a atraente Rita Mendes, e para o futuro pivot da TVI, João Maia Abreu.
A mais famosa apresentadora do programa
Em suma, apesar de à luz de 2021 ser um programa quase pitorescamente datado e ‘de época’, à época da sua estreia, o ‘Templo dos Jogos’ foi revolucionário. Foi, afinal, graças a este programa que muitos jovens tiveram pela primeira vez contacto com ‘Super Mario 64’ (o mais famoso 100% da história do 'Templo’), ‘Ocarina of Time’ (o segundo mais famoso) e tantos outros jogos hoje considerados históricos; apesar de, eventualmente, ter sido extinto pela Internet (como tantas outras coisas no virar do Milénio), o programa conseguiu ser marcante o suficiente para ainda hoje ser lembrado com carinho por quem, na altura, o viu. Pela sua junção de valor quando era atual com valor nostálgico, o ‘Templo dos Jogos’ sai do Anos 90 com…100%.