Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Quando se fala na Geração de Ouro do futebol nacional, a memória tende a relembrar fantasistas como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto, ou esteios defensivos como Paulo Sousa ou a dupla Fernando Couto e Jorge Costa: no entanto, como qualquer outra equipa, a referida Selecção contava também com uma série de 'coadjuvantes', cujo papel era mais discreto, mas não menos importante nas dinâmicas e organização da equipa. É, precisamente, a um desses jogadores – dono de uma carreira mais do que honrosa, mas significativamente menos lembrado que os seus colegas - que dedicaremos este Domingo Desportivo, no dia em que completa cinquenta e seis anos de idade.
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O jogador ao serviço de Portugal no Euro 2000.
Nascido em Joanesburgo, na África do Sul, Dimas Manuel Marques Teixeira – vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome próprio – voltaria ainda criança a Portugal, onde viria a explorar mais a fundo a sua apetência por futebol. E a verdade é que, apesar de um começo relativamente tardio – tinha já dezasseis anos quando iniciou a formação – o futuro internacional português foi ainda mais do que a tempo de transformar esse gosto numa carreira internacional, vivendo o sonho de muitos jovens ao estrear-se, aos dezoito anos, pela histórica Académica de Coimbra, onde fizera os seus dois únicos anos de formação. Curiosamente (ou talvez não) a tenra idade não impediu que Dimas se afirmasse como peça-chave do plantel dos Estudantes durante as três épocas que ali passou, sendo que apenas na última realizaria menos de trinta jogos, compensando este facto com um recorde de golos que vigoraria durante toda a sua carreira, marcando sete. Ao serviço da histórica agremiação, o defesa conseguiria ainda as primeiras internacionalizações jovens, representando a selecção Sub-21 por duas vezes e a Sub-23 por três.
Esta preponderância, aliada às boas exibições tanto no primeiro escalão como no secundário, após descida, não poderia deixar de atrair o interesse de outros emblemas, e, no início da época de 1990/91, Dimas faria a primeira de muitas transferências na sua carreira, mudando-se para os arredores de Lisboa para representar o Estrela da Amadora, finalista derrotado da Taça de Portugal poucas semanas antes. Ali, continuou a confirmar as boas indicações que deixara no seu clube de origem, com duas épocas em grande nível, sendo 'totalista' na primeira, com trinta e oito presenças, e peça importante na segunda, em que almejou vinte e oito. Sete golos no total das duas épocas (apenas menos um do que marcara em três épocas em Coimbra) punham o corolário nesta fase da carreira do jogador, que rapidamente se viu a rumar a ainda mais um histórico do futebol português, desta feita localizado mais a Norte.
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Com a camisola do Vitória SC.
De facto, a época de 1992/93 via Dimas surgir como nova adição ao plantel do Vitória de Guimarães, responsável por revelar para o futebol muitos e bons executantes, e onde o lateral-esquerdo somaria e seguiria na sua carreira, realizando mais duas épocas como titular quase indiscutível no flanco esquerdo, embora agora com menor veia goleadora, almejando apenas um golo no decurso dos dois anos que passou na Cidade-Berço. Ainda assim, nesta fase da carreira, e com apenas vinte e quatro anos, Dimas era já, mais do que uma promessa, uma certeza do futebol nacional da época, pelo que o 'salto' para um grande era já mais do que expectável – salto esse que viria a acontecer há pouco mais de trinta anos, no início da época de 1994, quando Dimas regressava a Lisboa, desta vez para equipar de vermelho, ao serviço do Benfica.
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No primeiro dos dois rivais da Segunda Circular que representou...
Em termos de notoriedade, o lateral-esquerdo atingiu aqui o ponto alto da sua carreira, sendo pedra basilar da equipa durante as duas temporadas e meia que ali passou (como, aliás, já vinha sendo seu apanágio) e completando quase uma centena de partidas de águia ao peito, durante as quais almejou cinco golos. Terá sido nesta fase do percurso de Dimas que o adepto 'comum', menos atento a equipas que não os três 'grandes', terá tomado conhecimento do lateral-esquerdo, não só pelas suas prestações no Campeonato Nacional da I Divisão como também pela presença na Selecção Nacional AA, com a qual disputou tanto a fase de apuramento para o Euro '96 como o próprio certame, sendo primeira opção para o 'seu' lado da defesa durante todo o torneio. Não é, pois, de admirar que, na temporada seguinte, o lateral tenha sido alvo de interesse internacional, e dado com naturalidade o segundo 'salto' do percurso de qualquer futebolista; o destino era Itália, onde Dimas iria representar o mais lendário clube da sua carreira – a Juventus.
E se a 'aventura' internacional tende a não correr bem a muitos futebolistas, tal não foi o caso com Dimas, que, apesar de nunca conseguir a titularidade absoluta como sucedera nos seus outros clubes, conseguiu ainda assim realizar mais de quatro dezenas de jogos com a camisola listrada da 'Vecchia Signora' antes de rumar à Turquia, para representar o Fenerbahce, enquanto jogador do qual voltaria a representar Portugal no seu segundo torneio internacional, o memorável Euro 2000, onde seria novamente titular na esquerda. Um ano e meio e menos de três dezenas de jogos depois, o lateral rumaria à Bélgica, onde jogaria durante seis meses, contabilizando treze aparições pelo Standard de Liège, antes de rumar novamente a Portugal, e a Lisboa, desta vez para jogar do outro lado da Segunda Circular, no grande rival do seu antigo clube.
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...e no segundo.
Se Dimas esperava relançar a carreira no Sporting recém-coroado Campeão Nacional após jejum de quase duas décadas, no entanto, tal plano saiu gorado após o defesa contrair uma lesão no joelho, que o levaria a perder definitivamente a luta pela ala esquerda com o colega de Selecção Rui Jorge. Ainda assim, duas partidas na sua segunda época (antes de rumar por empréstimo ao Marselha, onde realizaria apenas mais quatro) foram suficientes para dar a Dimas o título de campeão nacional, apesar do papel irrisório que desempenhara nessa conquista. Seria com essa conquista quase 'oferecida' que, no final da época de 2001/2002, Dimas encerraria uma carreira honrosa, que inscrevia o seu nome na lista dos maiores jogadores portugueses de sempre a nível interno.
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No breve período como treinador-adjunto.
Tal como muitos outro nomes que relembramos nestas páginas, no entanto, não terminava aí a carreira do agora ex-lateral no Mundo do futebol, já que Dimas tentaria uma transição para a carreira de adjunto, ao lado de José Morais. No entanto, a mesma não duraria mais do que uma época no Barnsley (que terminou com o duo despedido após despromoção) e dois períodos de poucos meses nos ucranianos do Karpaty Lviv e no Jeonbuk, da Coreia do Sul. Assim, é sobretudo pela sua capacidade física, disponibilidade e ritmo de jogo enquanto jogador de campo que o ex-internacional continua a ser lembrado, e é pela sua preponderância nessa capacidade que merece esta homenagem aquando do seu aniversário. Parabéns, e que conte ainda muitos.